Já as crianças loiras tinham partido, quando chegou o Engenheiro e o menino moreno tolhido dos membros, andar trôpego e fala arrastada. Vinham retomar posse da casa e a criança foi dizendo que ia para a garagem, uma espécie de gruta de Ali-Bábá, cheia de ferramentas e alfaias agrícolas. Com ele, assim de perna esquerda deficiente, Vulcano tomava forma infantil, na rectaguarda da casa alta frente ao mar. Cessara, inesperadamente, a chuva de Verão e bagas grossas polvorentas, parara o vento ciclónico e até o calor abafado desse Agosto estranho lusitano. Foi então o tempo de se acertarem as contas, e os últimos partirem. As crianças loiras já iriam longe.
Mas gostei de as ver, à despedida, subir para cima dos marcos da estrada e abrir os braços róseos, jovens e sem rugas, em saudação ao Atlântico, num Ah! uníssono. Pareciam novos nórdicos viquingues, a que não faltou sequer a mãe Valquíria, elegante. Já não respeitavam Odin, mas celebraram a Natureza num clamor de alegria e vibração juvenil. Ao longe, no Oceano, apenas dois barquitos pequenos tinham ousado afrontar as ondas fortes e o vento traiçoeiro. Na casa alta, frente ao mar, ficaram apenas os sinais e despojos da permanência breve e das férias acabadas: sumos a meio, 3 ou 4 talhadas de melão, meio pacote de bolachas de chocolate...
O Luka, quase toda a manhã, afundado por entre as almofadas fofas do divã, deixava apenas ver um olhar triste, observando os adultos a fazer as malas. Ia acordando, lentamente, de um sonho que acabara.
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