terça-feira, 16 de agosto de 2011

A Pragmática dos provérbios e a hipocrisia do novo-riquismo


O vinho, embora bom, tinha excesso de sabor a madeira. Lembrava-me verniz, infelizmente...
O provérbio era de origem flamenga e veio-me à cabeça, por ideias associadas e travessas, porque também não o conheço em mais nenhuma língua. Reza, mais ou menos, assim: "O verniz gasta-se depressa."
Lembrei-me dos comunistas do 26 de Abril, recordo alguns aristocratas que não de sangue, vi alguns novos-ricos industriais dos anos 60 estenderem-se ao comprido, alguns cristãos-novos serem mais papistas que o Papa. Não me esqueço daqueles  abstémios convertidos frenéticos, agora na condenação, e que foram fumadores compulsivos - vade retro! Tão iguais a rameiras arrependidas que casaram e apregoam a Virtude.
Também sei de quem comprou títulos à Igreja e ao Mercado, roupagens medievais de Ordens secundárias, solares de província, arruinados, para habitar e "épater le bourgeois", cursos universitários em escolas de fim-de-semana. A insuficiência e a mediocridade procuram o excesso com avidez, frequentemente.
O tempo, muitas vezes, se encarrega de dizer que "o rei vai nu". A capa da Ordem de Cristo, ou da Ordem de Malta (ao que parece, agora atribuída a alguns empregados  bancários, maioritariamente), nem sempre dá com o conteúdo (muitas vezes mecânico), porque o verniz estala depressa, sobretudo, com o calor. Mais vale andar mal vestido, do que bem "adornado" - como dizia um catedrático de Geografia, em Coimbra, nos anos 60.
Por isso gosto deste provérbio flamengo, pragmático, que nos avisa, sincero: "O verniz gasta-se depressa."

com agradecimentos a Rosane de Smet. 

2 comentários:

  1. Subscrevo essa máxima do catedrático de Geografia. :)

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  2. Já agora aqui vai a história toda, Miss Tolstoi: esse catedrático de Geografia era pessoa simples mas competente no seu ofício e, no Verão, costumava ir de sandálias (decentes, aliás) para a Faculdade. O director da dita, rigido na sua pompa e circunstância, e cuja esposa parece que o "adornava", mandou-lhe recado por terceiros para que viesse "mais composto". Foi aí que o Geógrafo respondeu ao mensageiro: "É melhor andar mal vestido e calçado do que bem adornado!"

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