Crônica de Gerações
Silêncio. Morreu o Comendador.
Merecia ser eterno
com seu poder, seu gado, suas minas,
seu dinheiro na burra.
Então morre - silêncio - o Comendador
e não desabam as montanhas
e o mundo, já vazio, não acaba?
Injusto ele morrer - o filho exclama.
Por que, em seu lugar,
o Senhor não chamou seu netinho enfezado,
esse menino aí, fracote, feio?
O menino ouve e come estas palavras,
assimila-as no sangue, e cresce e é forte
e poderoso mais que o Comendador.
Nasce-lhe por sua vez um filhinho enfezado
mas este
cresce sem maldição, fica por isso mesmo.
Nem sempre o Senhor chama. Ele às vezes esquece.
Carlos Drummond de Andrade, in Boitempo (1968).
para H. N., que me lembrou Drummond.
É sempre muito bem lembrado.
ResponderEliminarVamos lá a ver se estamos mesmo no planalto.
Bom domingo!
Disse-me, quem sabe, que as próximas 2 semanas vão ser de pico e sem sintomas aparentes - período mais traiçoeiro e perigoso. Convém não sair, mesmo.
EliminarDrummond continua a ser um dos grandes do mundo. Da Poesia, com letra grande.
Boa tarde dominical.
Um dos que admiro na poesia (arte de escrita que não aprecio, ao contrário do jovem cá de casa)
ResponderEliminarAcontece...
EliminarMas ela surge, mesmo em coisas imperceptíveis, como o ponto de cruz, por exemplo..:-)
Boa tarde.
Poeta que muito admiro.
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