terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A Sra. Rattazzi


Na temática Portugal visto pelos Estrangeiros, o livro "Le Portugal à vol d'oiseau" (1879), de Madame Rattazzi (1831-1902), tem um lugar à parte, sobretudo, pela polémica que provocou, na época.
A Sra. Rattazzi (Marie-Laetitia Bonaparte-Wise), embora nascida na Irlanda, era sobrinha neta de Napoleão, e o apelido, que usou, pertencia ao segundo marido (Urbano Rattazzi) que foi primeiro-ministro, em Itália. A escritora esteve, por duas vezes, em Portugal (1876 e 1879), e da memória dessas estadias, acrescentadas de alguns factos pitorescos, pequenas fantasias e algumas inverdades, acabou por fazer um livro, em dois volumes sob forma epistolar, que foi publicado em França. Cerca de dois anos passados, a obra foi traduzida para português, tendo provocado algum desconforto, no meio intelectual luso, pelo retrato que ela fez do país e dos portugueses. Aqui ficam algumas passagens:

"A mais activa occupação da realeza em Portugal é a instituição dos títulos." (I, pg. 12)
"Exceptuando a Belgica, Portugal tem sobre todos os paízes catholicos a primazia do carrilhão." (I, pg. 28)
"O portuguez é hispanophogo, e se de tempos a tempos não trinca, sob a fórma de costelleta, o hespanhol que lhe cahe nas unhas, é simplesmente por timidez, e não porque lhe escasseie o appetite." (I, pg. 69)
"Os usos e costumes theatraes em Portugal estão ainda em estado primitivo." (I, pg. 106)
"As casas em Lisboa, como em todo o resto de Portugal, são habitadas, principalmente, de verão por um enxame de baratas (...) Disseram-me que todos acabavam por habituar-se." (II, pg. 19).

Compreende-se, pelo pouco que transcrevi, a presumível reacção indignada de alguns intelectuais lusos, em que se destacaram Antero e, sobretudo, Camilo, que acabou por escrever um pequeno livro de desafronta...

4 comentários:

  1. Este livro lê-se muito bem, descontando o pitoresco, mas por isso mesmo é atraente.

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  2. (Sem qualquer ressaibo patriótico: o livro lê-se bem, de facto, mas tem de início a fim todo um tom muito patetinha, de fidalga diletante,a armar às letras... Quanto ao opúsculo de Camilo, há várias passagens de rir, mas de tão brejeiro chega a estar nos limites do mau gosto; também não seria esse a garantir-lhe a posteridade...)

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  3. É verdade, MR, tem ritmo, cor local e algumas informações curiosas sobre o séc. XIX português.

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  4. A Sra. era politicamente incorrecta, já o primo, Napoleão III, a temia - ao que dizem. Mas a obra vale a pena ser lida.
    Quanto a Camilo, pelava-se, e não conseguia resistir a uma boa polémica...

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