Acontece que, ontem e por mero acaso, em cerca de uma hora de leitura se me acasalaram, no tempo e local, cerca de 15 páginas do romance (?) de um bento plumitivo luso, mas recente ave de arribação islandesa, que nidifica nas Caxinas, e um diálogo soberbo entre António Lobo Antunes e George Steiner, em Cambridge, acontecido em 2011, creio. Entre a vacuidade da noveleta provinciana paupérrima, de que nada restou na minha memória, e o frutuoso diálogo entre os dois pensantes humanos, que marcou e irradiou para o meu dia, há a diferença entre o tudo e a coisa nenhuma. Aqui dou uma pequena amostra, possível, da leitura desse diálogo:
" (...)
" (...)
G. S. - Mas o poema, podemo-lo aprender de cor. É isso.
A. L. A. - É isso.
G. S. - E aquilo que aprendemos de cor, com o coração e não com o cérebro...
A. L. A. - Isso, saber de cor.
G. S. - É uma expressão importante, de cor. Porque aprender prosa de cor é difícil. Mas poesia, um poema, é possível, e levámo-lo connosco. É esta a bagagem essencial da alma, a pequena mala que levamos connosco, o poema. (...)"
Gostei bastante. Eu tenho alguns poemas na minha bagagem da alma. Boa semana!
ResponderEliminarAinda bem. Quem gosta de Poesia, leva sempre companhia, consigo...
ResponderEliminarRetribuo os seus votos, Margarida.
Introdução atrevida, pela qual espero ser perdoado: Das Caxinas ou de outro lado qualquer, adoramos os nossos odiozinhos de estimação, que não devemos descurar, sob pena de definharem! Mas não deixo de realçar as réplicas do A.L.A (ah! como eu detesto essa figura!), destinadas, num assomo inesperado de humildade, a fazer brilhar o interlocutor. "É isso". "Isso, saber de cor". Porém, a pose, na fotografia, não engana. Steiner é, ali, o que debita vacuidades, enquanto o nosso génio lucubra páginas imortais (infelizmente para ele, em prosa, que ninguém se dará ao trabalho de recordar, quanto mais decorar...).
ResponderEliminarMais a sério: é curioso, este trecho de conversa. Porque recorda a ideia (ou o facto?) de que a poesia teve origem verbal, e não escrita. A forma poética, como alguns sugerem, terá sido anterior à própria escrita, e facilitava a memorização e a transmissão oral nas sociedades pré-históricas e antigas. Seria interessante ter um dramaturgo a participar nesta conversa (em vez, por exemplo, do A.L.A...). O escritor de teatro (ou cinema) escreve textos que, para serem plenos, precisam de ser decorados pelas atrizes e pelos atores.
É evidente, como aliás refere, meu caro Artur Costa, que os ódios de estimação, tal como os amores, têm que ser continuamente alimentados, para durar... Mas diga-se, em abono da verdade e de um sentido crítico mínimo: "A máquina de fazer espanhóis" é palha pura, com alguns laivos cristianíssimos, que poderão fazer chorar donzelas implumes. Lido, aos quinze anos, poderá ter a qualidade de alguns romances de Namora, hoje, imprestáveis.
ResponderEliminarDepois de colocado o poste, apercebi-me que tinha sido injusto para com A.L.A., pelas deixas pobres da citação que fiz. Não é, definitivamente, um prosador da "minha família" (li-lhe os 3 primeiros livros, e não reincidi...), mas, neste diálogo, A.L.A: tem réplicas interessantes sobre Céline, Tchekov, Tolstoi - há que ser justo.
Registo as suas observações pertinentes sobre o início oral da Poesia, e a importância (que seria curiosa), neste diálogo, da palavra de um dramaturgo, que lhe poderia criar, talvez, outra densidade.