segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Pensar 2

 


Durante a leitura do livro de Luís Reis Torgal, Essa Palavra Liberdade ..., o autor refere-se, por diversas vezes e com pertinência óbvia, a Almeida Garrett, o “poeta da Revolução”.

Aliás, a obra ímpar supra reproduzida, modelo espantoso de junção de géneros, exige sempre um retornar à História do Liberalismo para compreender bem a obra e situar o leitor no seu contexto. Caso contrário, a criação magnífica de Almeida Garrett não passa de uma enorme “chatice”.

No entanto, a consulta e leitura de várias obras sobre a época não tem ajudado, em muitos casos, ao esclarecimento, porque, nas palavras de Reis Torgal, “sou já de um tempo em que a história do liberalismo e da república, ou a história contemporânea em geral, não era abordada na Universidade e, se o era no ensino primário e no ensino secundário, pretendia-se, de uma forma expressa ou subliminar, integrá-lo numa lógica corporativa de crítica ao liberalismo individualista, ao demoliberalismo, ao socialismo (democrático ou comunista) ou mesmo ao cristianismo dito «progressista».”

Nesse sentido, Reis Torgal cumpre perfeitamente o que promete no capítulo O Sentido deste Livro, a saber:

“Assumidamente esta obra integra-se nas comemorações do Bicentenário da Revolução de 1820, que se estende pelo menos até 1823, e pretende atrair a atenção do leitor para alguns aspetos que o autor foi estudando, com a maior objectividade a que o obriga a condição do historiador, aspectos que considerou de certa importância e atualidade. Não quis cometer o erro de confundir o presente com o passado, mas também não quis esconder as razões que me levarem a abordar os temas que a seguir são tratados. Num país em que (quase) nada se discute seriamente, não pretendi omitir qualquer ideia, mesmo mais presente e polémica, que justificasse o trabalho realizado e, por vezes, revisto”.

1)Luís Reis Torgal, Essa Palavra Liberdade ..., Lisboa, Temas e Debates – Círculo de Leitores, junho de 2021

Post de HMJ

Pódio





Um conhecido diplomático e bem frequentado blogue proclamava, há dias, embora com o sensato e condicional provavelmente, o São Gião como o melhor restaurante português. Eu teria uma enorme dificuldade em fazer uma escolha destas, até porque a minha experiência é limitada... Situado, improvavelmente, em Moreira de Cónegos (próximo de Guimarães) e desenvolvido e orquestrado sabiamente por Pedro Nunes, o restaurante São Gião é reconhecido pela sua grande qualidade refeiçoeira. Por lá amesendei creio que três vezes, sempre muito bem. Embora, diferentemente.



A disposição pessoal, o tipo de prato, o serviço variam, como é natural. E o agrado também é diferente em cada eventual visita. Puxando pela memória, consegui eleger os melhores sabores gustativos em três locais distintos e com pratos próprios muito bem feitos, de que me lembro, subjectivamente. Dêmos o nome, pelo mais antigo, até ao mais recente:
1. Restaurante Isaura (que mudou de gerência e qualidade), na av. Paris, Lisboa - Pombo Recheado.
2. Clube dos Caçadores, em Viseu - Arroz de Perdiz.
3. Solar do Kadete, ao Cais do Sodré, Lisboa - um simples bitoque, mas magnífico!



Sobre o primeiro, convém acrescentar que o recheio era de foie gras legítimo. Sobre a Perdiz, um tinto Vinha Paz excelente, ajudou. Finalmente, o bife do terceiro restaurante era alto q. b., mas não espesso, tenríssimo e muito bem temperado.
São estas as minhas melhores recordações gastronómicas.



sábado, 28 de agosto de 2021

Tomar o pulso



O antigo Le Nouvel Observateur, hoje renomeado L'Obs, na altura dirigido por Jean Daniel (1920-2020), terá sido certamente a revista estrangeira que eu mais frequentei. Os meus primeiros contactos com o magazine datam de 1968 e até há pouco tempo, embora com interrupções breves anteriores, continuaram. A fraca qualidade presente da revista fez-me interromper a compra sistemática e semanal. Muito embora não resista, por hábito antigo, a tomar-lhe o pulso, de vez em quando, para aquilatar da sua qualidade actual. Foi o que fiz recentemente.
Não me parece ter havido uma melhoria significativa, neste último número. Mas gostei de saber, pelo L'Obs, que Joséphine Baker (1906-1975) ganhou as honras do Panthéon, onde virá a ser inumada a 30 de Novembro de 2021. Será a sexta mulher a ser sepultada no local. E creio que a primeira negra.



Da leitura (46)



Ninguém diria que apenas 36 anos (1941 e 1977) separam as edições originais destas duas obras. São ambos livros de viagens. Sendo, na minha opinião, de escritas e escritores (Unamuno e Chatwin) datados, até nas perspectivas que perseguem, diferem pelo estilo moroso no espanhol, ágil no inglês. Descritivo em Unamuno, efabulado mas sucinto e, ao que dizem, pouco rigoroso nos factos narrados por Chatwin. Duas boas leituras, porém, que venho fazendo intermitentemente, mas com agrado.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Pinacoteca Pessoal 177



Penso e costumo dizer que uma só obra de um artista pode, eventualmente, valer e justificar toda a sua vida. Richard Parkes Bonington (1802-1828), pintor romântico inglês, viveu cerca de metade da sua curta existência em França. Onde conheceu e veio a ser amigo de Delacroix. A morte de Bonington foi provocada pela tuberculose.
Considero esta marinha (imagem abaixo), que ele pintou (norte de França), uma obra-prima de eleição, o que justifica, para mim, a sua passagem pela Terra. A pintura referida e o seu auto-retrato pertencem ao acervo da National Gallery (Londres).




terça-feira, 24 de agosto de 2021

Retratos (26)

 

Deste poeta, ao que parece repentista, Francisco Manuel Gomes da Silveira Malhão (1757-1809) nascido em Óbidos, e aí falecido, conhecem-se, pelo menos, 2 edições das suas obras (Prosa e verso), distribuídas por  4 volumes, pelo menos a original e primeira (1792/97) . Neles incluiu a obra poética póstuma do seu irmão, António G. S. Malhão, falecido prematuramente. Licenciado em Leis, no ano de 1789, pela Universidade de Coimbra, Francisco Malhão foi árcade satírico, sendo hoje, creio, um autor praticamente esquecido. Não lhe conheço iconografia pessoal mas, a exemplo de Bocage, Nemésio, Alexandre O'Neill ou Ruy Belo, compôs um retrato seu em verso, bem interessante e desapiedado. Aqui deixo o soneto, com a respectiva actualização ortográfica:

Cabelo hirsuto, aonde os lisos pentes
à força furam; testa apoquentada;
sobrancelha, e pestana carregada;
olhos pardos, em alvo globo assente.

Longo, adunco nariz; quebrados dentes;
redonda a barba, a face abochechada;
o colo em conta, a espádua dilatada;
bojuda a pança, os braços concernentes.

Cintura à proporção, coxa roliça,
que quando ao meu espelho me vou pôr
a julgo de argamassa ou de cortiça;

Delgada a perna, por igual teor.
Este o retrato: farte-se a cobiça,
de quem busca o retrato do Autor.

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Circunstâncias

 

Do Bloc-Notes V (pg. 147), traduzindo, reproduzo um pequeno excerto de François Mauriac:

"«Senhor Marechal, não se é mais feliz, na nossa idade.» Foi esta a única objecção do idoso Luís XIV ao velho marechal de Villeroy que acabava de ser vencido e perder tudo em Ramillies."

sábado, 21 de agosto de 2021

Últimas aquisições (32)


A ficção não anda com muita sorte, pelas nossas paragens. Embora revisitemos, por vezes, algum romance das estantes, como foi o caso, para nós ambos, de reler passagens de Os Telles de Albergaria (1901), de Carlos Malheiro Dias (1875-1941), prosador português estimável mas, infelizmente, esquecido. Ora, hoje, lá voltamos à nossa livraria predilecta e de lá trouxemos dois livros, de conhecidos historiadores nacionais.



Eu, uma obra de Pacheco Pereira, saída ainda este mês, de que reproduzo a contracapa, e cujo texto dá uma ideia do teor do conteúdo. HMJ optou por um livro de Reis Torgal sobre o século XIX, centrado nas lutas liberais e viradeira posterior. Creio, ou pelo menos espero, que as leituras nos vão agradar.



quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Mercearias Finas 172

Francamente não me lembro se, na tenra infância, gostava muito de comer fruta. Recordo, porém, que colhi, algumas vezes, maçãs, tangerinas e ameixas (das vermelhas) directamente das árvores, para as saborear à socapa. E não esqueço os morangos naturais e pequeninos, do quintal, que a minha Tia me mandava num bonito açafate pelos aniversários. Para não referir as merendas de praia, poveiras, que, em agostos juvenis, compreendiam uvas, pêras, ameixas, figos, eu sei lá... E das cascas de melão e melancia que os lavradores domingueiros deixavam no mar a boiar e apareciam nas segundas-feiras seguintes, à tona, para nossa irritação natatória.

O Verão, quanto a fruta, é habitualmente pródigo, sobretudo nos meses de Julho e Agosto. E, este ano, temo-nos abastecido em variedade e qualidade, para além das sobremesas fora, em que temos privilegiado os frutos. Assim, às espécies em imagem hoje, haveria que acrescentar duas belas pêras bêbadas que comi, anteontem, com imenso gosto e proveito, num restaurante modesto, à beira-mar, que tem uma cozinha caseira e muito bem apaladada. Coroaram lindamente um pato assado no forno, com arroz de miúdos. O vinho branco, da casa, pelo sabor frutado, teria no lote, com certeza, a casta Fernão Pires, que, como se sabe, na Bairrada, muda de sexo para se chamar Maria Gomes...


com envoi para Paula Lima, cordialmente.

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Desabafo (65)

Que me desculpem as fiéis visitas, que, diariamente, frequentam o Arpose, mas 7 visitantes até ao meio-dia e vinte minutos, não dão para a gasolina, nem para o trabalho... O melhor será eu também entrar de férias, descansadamente.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

arte menor (33)


Ela vem, a porta sobranceira
no movimento inclinado,
derradeira a fechar-se,
que a vida não tem retorno 
nem regresso
- é um processo acabado. 



Sb., 14-16/8/2021.

domingo, 15 de agosto de 2021

E o melhor título da Silly Season vai... para o jornal Expresso

 

Receita para o fim da crise global de solidão, tão prejudicial para a nossa saúde como fumar 15 cigarros por dia

14.08.2021

Só fiquei intrigado e curioso por saber como é que eles terão feito as equivalências... 

E o que é que pode acontecer se fumarmos um maço de cigarros inteirinho, diariamente?!

sábado, 14 de agosto de 2021

Bibliofilia 191



É livro raro esta La Diana de George de Monte Mayor, reimpresso em 1624 por Pedro Craesbeeck, em Lisboa. A primeira edição portuguesa data de 1565, mas a original é de Valladolid, do impressor Joan Mey, que provavelmente a editou em 1559. Lourenço Craesbeeck, na dedicatória a D. João de Almeida, logo de início refere: Prohibirão em Portugal as obras de Jorge de Monte Mayor, parece que em castigo de dar a Reynos estranhos o que devia a este onde nascera, da qual desculpa, sendo arguido, respondeo, que não seria muyto que hum filho fosse ingrato, poys Portugal o tinha sido a tantos filhos:...



Realmente, Jorge de Montemor (1520?-1561) escreveu o seu romance pastoril em castelhano, embora existam  versos portugueses no livro Sétimo (pgs. 230, 231, 233). La Diana foi um grande sucesso no século XVI, contando mais de uma dezena de edições, em Espanha e no estrangeiro, que continuaram pelo século seguinte e a ser um best-seller. Em França, a obra teve edições em 1603, 1623, 1633 e 1646. Alonso Perez juntou, ao texto original, uma 2ª parte, dado o extremo sucesso do livro. Acrescento esse que consta já da edição craesbeeckiana de 1624.



O meu exemplar, encadernado e em bom estado, foi adquirido no leilão nº 51 de José Manuel Rodrigues (lote 812), a 29/4/1998. Que me tenha apercebido, até hoje, só apareceu mais uma obra igual à minha, num leilão do Silva's (lote 569), em Maio/ Junho de 2000, e que foi arrematada por Esc. 100.000$00.

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Morte anunciada...



 ... de um pobre e minúsculo insecto, provocada por uma andorinha glutona.

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Apontamento 142: Investigações recentes

Na sequência do Apontamento anterior com o número 141, com data de 22.6.2021, em que aguardávamos o envio do Gutenberg-Jahrbuch de 2021 [= Anuário de Gutenberg], já tivemos ocasião e tempo para ler o conjunto das contribuições deste ano.

Acontece, no entanto e como em todas as publicações do género, que os artigos nem sempre concitam o nosso interesse, parcial ou totalmente. No entanto, como a organização dos artigos se orienta tanto por épocas como por temas, encontramos sempre, sobretudo na secção dedicada às investigações sobre o Livro e a Imprensa dos século XV e XVI, algo que nos prende a atenção.

 


Sucede, contudo, que, na secção acima referenciada, surgiu este ano um artigo interessantíssimo, de um investigador italiano chamado Riccardo Olloco, dedicado ao estudo dos tipos romanos, usados em Veneza no século XV. O interesse da investigação de Riccardo Olloco prende-se, sobretudo, com a abordagem minuciosa e metódica bem como com o registo visual do parque gráfico em uso, lançando as bases para uma micro-análise das várias sortes que nos enchem a medida da nossa curiosidade.

E como cereja em cima do bolo, ficámos a conhecer a tese de doutoramento do investigador italiano, publicada em 2019.

 Ora, esse tesouro de investigação nos chegou ontem com algum atraso, mau grado os péssimos serviços de algumas empresas de entregas, tipo dpd’s e companhias, que nem sabem ler correctamente as etiquetas com as moradas.

O que interessa, agora, é que chegou e aqui fica a imagem do livro que, certamente, me irá encher o universo dos “meus murganhos” nos próximos tempos.

Por fim, fica a notícia da editora italiana, dedicada a publicações ligadas ao estudo das letras, juntando, para o efeito, os marcadores que acompanhavam o livro.

 

LAUS DEO !

Hmj

Ornitologia matinal



As gaivotas, de tantas, acabam por ser irritantes, as pombas impertinentes e chegam a ser atrevidas por já não terem medo dos seres humanos - têm a cobertura sempre inefável do PAN. Os pardais já foram mais (para onde terão ido?) mas também não temem os homens. Guardo a minha simpatia para as andorinhas e para os melros, estes com os seus saltinhos divertidos e passos miúdos que fogem, nervosos, da vizinhança humana.
Agora, uma poupa, na sua beleza e crista, é que eu nunca tinha visto tão de perto, talvez a pouco mais de 1 metro, no relvado do canteiro, junto ao café, fechado para férias, quando eu ia comprar o jornal. Que se afastou ligeira, mas discreta, logo que eu me aproximei e fixei a vista. Visão matinal de beleza, que me deu alegria. Acima fica a sua classificação e  descrição, constante do Guia de Campo das Aves (1994).

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

terça-feira, 10 de agosto de 2021

Evidência



A fotografia de Pauline Askin (Reuters), que ilustra um artigo no jornal Público de hoje, traduz exemplarmente a situação dramática a que nos têm levado as alterações climáticas provocadas pela irresponsabilidade humana de várias gerações.

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Um vinho nobre




Dos Arrochela, que teriam vindo, de França (La Rochelle), com o Conde D. Henrique (1066-1112), e habitado a Praça de S. Tiago, em Guimarães, creio não existirem senão os vestígios, materializados pelo Palácio de Vila Flor, muito mais tarde (séc. XVIII) comprado ao fidalgo Luís A. C. Fonseca e Camões, que o mandara construir, e a estreita viela d'Arrochela (de traça medieval) ou viela dos Caquinhos, como é popularmente chamada. Foi D. Maria II que nobilitou Nicolau de Arrochela Vieira de Almeida Sodré, em 10/11/1852, como 1º Conde de Arrochela, título que hoje vai em quarta geração. Os Arrochela é que, agora, creio que já não moram em Guimarães. Mas serão os produtores do Vinho Grandes Quintas, do Douro. Que, como o rótulo indica, é engarrafado pela Sociedade Agrícola Casa d'Arrochela, em Vila Nova de Foz Côa.



Pois foi da colheita de 2014, vinho branco (Malvasia Fina, Síria e Gouveio, quanto às castas do lote) com 13º equilibrados, que provámos, para acompanhar umas gambas grandes (ou camarões tigres?) saborosas que HMJ arranjou, para celebrar uma efeméride doméstica. O vinho dos Arrochela convém destacar que estava excelente. E portou-se muito bem, com a devida nobreza.




domingo, 8 de agosto de 2021

Pensar - 1

 

Embora gostando de algumas palavras pelo efeito sonoro, como é tagarelar, não aprecio, no caso em apreço, o sentido do termo pelo facto de se enquadrar, na perfeição, neste mundo oco e pouco dado a exercícios mentais mais consistentes.

Assim, e querendo registar – porventura para memória futura – alguns pensamentos que se me vão surgindo nas leituras, escolhi a palavra pensar que, no seu sentido infinitivo, se afasta cada vez mais da nossa vida quotidiana. Infelizmente.

 Lembrei-me logo do livro Pensar, de Vergílio Ferreira, a propósito da minha escolha do tema para registar, oportunamente, algumas máximas ou pensamentos estimulantes. Do autor citado, segue uma frase com que abre o seu livro: “Não se pode pensar, fora das possibilidades da língua em que se pensa.”

Acrescento meu: dominando várias línguas, aumentam, sem dúvida, as possibilidades e variantes de pensamento.

 Para o início desta secção dos meus contributos no Arpose, encontrei uma observação de Jorge de Sena, sobre o Romantismo e o Modernismo Brasileiro que não queria perder. Aqui vai:

 “Os modernistas (...) apelavam para uma quebra de todas as tradições e para uma renovação com algo mais fundo e mais verdadeiro para com a vida do que qualquer tradição. É esta a essência do espírito modernista. E devo apontar que só à primeira vista é possível achar que o Romantismo pode ser definido quase nos mesmos termos. A diferença está na qualidade: o Romantismo era tudo isto como maneira de ser: o Modernismo não foi nunca uma maneira de ser mas uma maneira de entender o nosso ser.”

[sublinhado meu da máxima que tirei do artigo de Jorge de Sena, com o título, «Modernismo Brasileiro: 1922 e Hoje», in Estudos de Cultura e Literatura Brasileira, Lisboa, Edições 70, 1988]

 HMJ

Filatelia, Espanha e geminações



Cada filatelista terá um tipo de relação e opinião sobre os selos dos países que colecciona ou temáticas que vai desenvolvendo na sua colecção. Se os meus interesses iniciais, para além de Portugal naturalmente, se inclinaram para a Hungria, hoje, centralizam-se nos selos portugueses e das ex-colónias, bem como na Inglaterra e na Alemanha, países cujas emissões filatélicas são cuidadas, de bom gosto e inovadoras. Pelo contrário, nunca apreciei os selos de países da América do Sul e, na Europa, os da Bélgica e de Espanha. Para não referir os dos países do Leste europeu, normalmente berrantes no colorido, mas banais no desenho, e de mau gosto.



Num comentário a um poste (com imagem de 2 selos espanhóis) de MR, no blogue amigo Prosimetron, expliquei as razões do meu desagrado pela fraca qualidade do papel (muitas vezes couché e quebradiço), iconografia algo tosca e denteados (até meados do século XX) grandemente imperfeitos. Mas prometi eventualmente geminar o tema, aqui. Tentei seleccionar estampilhas, ao contrário do habitual, com alguma qualidade. A imagem acima começa com o selo nº 1 (emitido em 1851, com o perfil de Isabel II), contém um selo gravado celebrando Rosalía e reproduz pinturas de Goya e Velásquez, além doutros motivos.



Não queria deixar de referir o bom trabalho de investigação e classificação que representa o catálogo especializado castelhano Galvez, de que deixo imagens (1ª e 3ª). A última imagem  representa, finalmente, alguns selos da República Espanhola, que se inspiraram em quadros de Goya. E ainda outros, diversos, todos do correio aéreo.




Para MR, no seu Prosimetron, e em geminação cordial.

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Desabafo (64)



Legenda comum sugerida por um conservador reaccionário, para estas 2 imagens da ípsilon de hoje:

Quanto mais palermas parecermos, mais atenção concitaremos, por parte dos bimbos bem-pensantes.


Será este tipo de iconografia um bom e caridoso exemplo da democratização da arte, tornando-a acessível  ao entendimento de qualquer bicho-careta?



Antologia 3



Numa das últimas páginas (560) do volume IV do Bloc-notes, cuja leitura terminei ontem, François Mauriac (1885-1970) refere que: La veillesse est le contraire du dessèchement, c'est le désespoir dominé et vaincu mais qui renâit d'un seul coup, d'une phrase comme celle-là que... Com o avançar dos anos a obra vai ganhando um tom mais pessimista e amargo que acompanha os últimos tempos do escritor francês. Provavelmente, o último livro (V) da obra acentuará esta desesperança humana. A ler vamos...
Mas não queria de deixar aqui registados, para eventualmente os relembrar, dois excertos significativos, que traduzi, do livro acabado de ler ontem:

"Na verdade, eu não me fico apenas por aí: as recordações na idade avançada são como formigas cujo formigueiro foi destruído: o olhar não pode seguir nenhum bem durante muito tempo. O que subsistia deste pequeno mundo destruído, eram os meus devaneios. Tudo vai assim desaparecer comigo: até estes criados com sorrisos dóceis que me tomavam nos seus joelhos, e eu volto a dizer os seus nomes numa espécie de litania que me vai embalando como..." (pg. 495)

"É importante para Sartre não ter smoking. André Maurois, bem como Paul Valéry não foram dominados por este esnobismo ao inverso. Ambos amaram o mundo, mas por razões diferentes. Valéry falava com deleite num ambiente de luxo, diante de senhoras em êxtase de que ele nem sequer esperava que fossem capazes de lhe devolver a bola. Maurois, esse, depois de um dia de trabalho que, para qualquer um, teria sido muito pesado, relaxava-se ao fim do dia sentado a uma mesa de amigos." (pg. 520)

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Osmose 121

De há uns  tempos a esta parte, tenho tido no Arpose a visita cíclica, mas persistente, de um hacker muito próprio. Esta rémora, que está sediada em Kiev, para disfarçar (?), por vezes, dispara do sul da Alemanha, outras vezes simula uma falsa origem marcana ou inglesa. Dedica-se a pôr, sempre no mesmo poste do Arpose (de 5/8/2016), e no local dos comentários, em caracteres cirílicos, anúncios e publicidade para vendas muito diversas e também para investimentos financeiros*, se calhar à maneira de Madoff. Não sei o que ele ganha com isto, mas faz-me pensar em outras situações que considero estranhas, embora com alguma semelhança...

Não tenho ideia, actualmente, se um professor universitário ganha pouco ou muito, mas decerto não ganha o suficiente. Há duas professoras universitárias, uma delas já reformada, que nos seus blogues inserem publicidade, normalmente surreal, quando não disparatada e nada consentânea com os temas que tratam. O que recebem desta acção venal deve ir dando para os seus alfinetes... Deus lhes perdoe a gula e a ganância.

* claro que, logo que os detecto, são colocados como spam e eliminados por mim.


Idiotismos 48

 

Não estou seguro de que o termo idiotismo se aplique com inteira propriedade a este poste.
Acontece que provámos, há dias, as primeiras rainhas-cláudias deste ano. Dulcíssimas e muito boas, este pequeno fruto é chamado, no Norte, também e de forma menos aristocrática - ameixa-carangueja. Não é caso único esta variação geográfica que tem nomes diferenciados. Se os pastéis de nata (ou de Belém) assim são chamados em Lisboa, no Porto são conhecidos por tigelinhas.




E há ainda outro caso ainda mais insólito. Creio que toda a gente conhece, no Sul, e quase todos apreciam as nêsperas que, na zona vimaranense e até no Porto, por vezes, são chamadas magnórios, enquanto que nêsperas, fruto autóctone (?) minhoto, é um fruto escuro ligeiramente ácido, um pouco farinhento, que costuma amadurecer por Novembro, e com este aspecto:


E posso acrescentar que não é muito apetitoso, nem tem grande sabor...

terça-feira, 3 de agosto de 2021

Uma fotografia, de vez em quando... (150)



Falecido recentemente (23/7/2021), com 95 anos, o fotógrafo alemão Fritz Christian Gundlach distinguiu-se sobretudo pelo seu empreendadorismo dinâmico, que o levou a criar a Casa da Fotografia, em Hamburgo, bem como por uma vasta obra de fotografia de moda. Nesse particular, foi colaborador da revista Film und Frau, durante largos anos.



As duas fotografias, acima, datam do ano de 1955. A primeira delas foi tirada em Roma.

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Divagações 172




Possivelmente, terá sido a leitura continuada dos Bloc-notes, de François Mauriac (1885-1970) - considerado, como se sabe, um escritor católico - que me fez pensar que a fé talvez seja uma forma não material da vontade humana.

domingo, 1 de agosto de 2021

Interlúdio 79


Um clássico, de 1967, talvez um pouco esquecido. Numa nova versão e por uma dupla improvável, mas de qualidade: Maurane (1960-2018) e Salvatore Adamo (1943). Para recordar...

Contabilidade matinal



Na manhã, cedinho, na minha ida e volta ao Mercado, cruzei-me com 5 cães a passear os seus donos. Destes, apenas um levava máscara no rosto, mas, dos cães, 2 tinham o açaime posto. Parece que o PAN tem feito relativamente bem o seu trabalho de sapa, preventivo.

Adagiário CCCXXV

 


Trovoadas em Agosto, abundância de uva e mosto.