My Parents
Os meus pais protegeram-me das crianças que eram rudes,
que lançavam palavras como pedras e que usavam calças rotas,
deixando ver as pernas p'los remendos. Elas corriam pelas ruas
e subiam os penhascos, como nadavam nuas pelas correntes.
Eu receava mais que os tigres os seus músculos rijos como aço,
suas mãos poderosas, os seus joelhos pisando os meus braços,
como temia que me apontassem a dedo pelas ruas
arremedando cruelmente o meu falar baixinho.
Porque elas eram flexíveis e saltavam sobre as sebes
como cães a ladrar contra o nosso mundo. Atiravam-me lama
e eu olhava para o outro lado, fingindo sorrir. Demorei
muito tempo a perdoar-lhes, mas nem assim elas me sorriram.
Quando era criança fui demasiado vítima do chamado bullying (na altura era considerado normal e aceitável) para conseguir achá-lo romântico ou poético - daí a minha estranheza perante este poema. Que coragem! Bom dia!
ResponderEliminarConcordo com o teor do seu comentário.
EliminarEstas coisas são sempre difíceis de revelar...
Bom dia!
APS
Infância infeliz, já vi. Mas trata-se das palavras de um jovem feminil ou apenas um menino rico que não compreendia a raiva dos rapazes do povo?
ResponderEliminarSobre a infância, não sei, mas Spender teve até determinada altura da vida, uma sexualidade pouco definida.
EliminarMas, depois de Pessoa, a sinceridade dos poetas é de aceitar sob reserva...