domingo, 31 de janeiro de 2016

Apontamento 78: É sempre bom saber ...



A existência de ideias fixas ajuda, por vezes, reencontrar o que parece mais adequado e se revelou acertado ao longo de uma vida. Tenho por mim que “nem toda a criação tem o selo de inocência”.
A História da Alemanha, sobretudo no período após o Nazismo, tinha uma versão oficial, até com cambiantes ideológicos para todos os gostos, sem, no entanto, revelar tudo sobre a postura de determinadas figuras públicas, tanto da área de política-social como de cultura.

Sucede que me deram a conhecer, no ensino oficial, alguns artistas e escritores, olvidando, de forma inocente ou premeditada, a sua afeição, convicção ou até colaboração com o “Terceiro Reich”. Ora, quando descobri o engano, não gostei, como não gosto de logros de qualquer espécie. Daí que comecei a ligar mais à biografia dos criadores, numa dúvida metódica quanto à sua inocência relativamente ao seu perfil ideológico, designadamente na sua vertente cultural e social.

Tudo isto me veio novamente à memória no dia em que descobri mais uma pista, porventura cheia de enganos. Tal como Heidegger, parece que a “filosofia alemã” continua a alimentar a extrema direita. Actualmente, a criatura em imagem acima, é o filósofo que orienta a sua versão considerada “mais civilizada” e que dá pelo nome de AfD [= Alternative für Deutschland, i.e.: alternativa para a Alemanha], com uma crescente aceitação devido à sua postura xenófoba e profundamente troglodita.
Ora, o “filósofo” Marc Jongen parece que já foi assistente do professor Peter Sloterdijk. Vieram-me, novamente, à memória todas as minhas dúvidas metódicas sobre a “inocência” da criação e, sobretudo, a necessidade de uma permanente vigilância relativamente aos “criadores”.

Por enquanto, não encontrei, ainda, nada que me fizesse rejeitar o professor Peter Sloterdijk, embora o censure pela escolha do seu assistente. Deixo, para finalizar parte de uma texto de Sloterdijk, naquilo que considero um olhar oportuno sobre o mundo em que vivemos:

“According to his diagnosis, the human beings of our time are basically bored. And to be bored means that if you look into yourself, what you find is the profound absence of a driving conviction.”

Post de HMJ

As cidades e as serras


A actual ficção portuguesa é, retintamente, urbana. Talvez pela negativa. Houve tempo em que eu pensava que, prosa e poesia, lusas, seriam eternamente bucólicas, campestres, verdejantes ou acastanhadas pelo Outono. Mas o neo-realismo excedeu as medidas, saturou, numa obrigação ideológica que pouco tinha de natural. Entretanto, as populações foram abandonando o campo e as serras interiores, para os trocarem pela terra prometida das cidades. Seminários e Escola do Exército (Academia Militar) forneciam, também, o trampolim necessário ao desígnio dos mais ambiciosos e inteligentes, embora fatidicamente pobres: assim, Aquilino, assim, Vergílio Ferreira...
Ficaram, no entanto e actualmente, em alguma da literatura portuguesa, vestígios residuais: um lado muito provinciano de ver a vida, um apetece-me estar em paraísos artifíciais, uns piercings caracterizantes de mais nada, um ronceiro hábito de cafés cosmopolitas, uma fome de séculos, uma miopia de civilização natural, um lado patego e irreal de imaginar as metrópoles mais emblemáticas. E uma enxúndia barroca de palavras que ainda cheira a estrume e folhas mortas, na sua origem, agora artificial, irrealista, irrelevante. Porque não era assim, dantes, nem lembrava o falso, quando de cenários se falava, ou de viver se escrevia.

Uma fotografia, de vez em quando (78)


Até 21 de Fevereiro de 2016, o Museu Alberto e Victoria (Londres) leva a efeito uma retrospectiva da obra de Julia Margaret Cameron (1815-1879).
Pioneira da arte fotográfica, e nascida na Índia (Calcutá), a partir de 1860 radicou-se na ilha de Wight, com o marido, advogado, e seis filhos. A oferta de uma máquina fotográfica, por uma das filhas, despertou-a, com um entusiasmo persistente e consistente, para esta actividade recente, na altura, que veio a cultivar até à morte, com sucesso público justificado.
Interessava-lhe sobretudo o retrato e, particularmente, o rosto dos modelos que abarcaram desde empregadas e criados de casa, até celebridades da época: Charles Darwin, Alfred Tennyson, entre outros. Menos preocupada com o perfeccionismo técnico do que com a encenação simbólica dos instantâneos, a obra da fotógrafa inglesa é vasta e ainda hoje muita apreciada.
A última fotografia, em imagem, teve como modelo a criada Mary Hillier, protagonizando uma encenação da poetisa grega Safo, e foi tirada em 1865.


sábado, 30 de janeiro de 2016

Divagações 107


Tem vindo o Google, muito recentemente, a propor sob o seu logotipo figuras e acontecimentos, dia após dia, à memória e à devoção dos seus utilizadores. Nesse seu tique, muito regionalista e provinciano, de que o que é bom para a América, é bom para o mundo... Na minha grande ignorância, uma boa parte desses episódios e figuras célebres, não os conheço de lado nenhum. Em última instância, deixam-me indiferente, ou melhor, não mexem sequer um milímetro com a minha emoção e sensibilidade. Hoje, é proposta à devoção, pelo Google, uma vaga pintora Amrita Sher-Gil (1913-1941), filha de pai indiano e mãe húngara, judia.
Assim se passa também com acontecimentos históricos que não vivemos e de que não tomámos parte, ou até mesmo que ocorreram longe de nós, como se de outro mundo se tratasse, ao terem acontecido. Bem como a dilação no tempo provoca o distanciamento emocional e a frieza do conhecimento, sobre eles. Posso, por herança cívica e transmissão histórica, passar aos meus filhos a minha experiência sobre o 25 de Abril, mas devo ter em conta que a sensação deles será quase nula. Ouvir-me-ão, apenas, afectuosamente, com alguma atenção. Grande parte destas coisas são pessoais e intransmissíveis.
A ténue emoção com que vivi a queda do Muro de Berlim, porque distante, é outro exemplo significativo do que acabei de dizer. Hoje, é apenas um dado histórico. Nem sequer aureolado da bondade de que se rodeou ou foi incensado pelos meios de comunicação. Pergunto-me, muitas vezes, se a Guerra Fria, com o seu equilíbrio de mentores e pastores, não era um tempo e um mundo muito mais  tranquilo e pacífico para os seres humanos. Como me questiono sobre a utilidade prática das Primaveras Árabes, a médio prazo, que os media tanto aplaudiram, acriticamente.
Vivência, emoção e conhecimento, tudo deve ser pesado ao milímetro. Com prudente e saudável cepticismo. É um mau princípio embarcar logo na corrente dominante.
Só a Música, a verdadeira música, escapa ao crivo da razão. E, aí, não há nada a fazer...

Da leitura (9)


Esta fase da minha vida, no que diz respeito a leituras, tem-se caracterizado por um grande fastio em relação à ficção. Para ser exacto, no entanto, terei de dizer que encetei, há dias, com agrado a novela O Cisne Negro (Estúdios Cor, 1957), de Thomas Mann. Não sei se o interesse se irá manter até ao fim, veremos.
Alberto Manguel, em Uma História da Curiosidade (Tinta da China, 2015), usa, para itinerário dos seus discursos capitulares, passagens de A Divina Comédia, de Dante. O livro parece-me irregular: capítulos interessantes alternam com outros menos agradáveis, talvez demasiado prosaicos, eruditos e com abundantes citações. Num dos capítulos, de que gostei particularmente, o escritor argentino fala de um professor (Lerner) que teve um efeito benéfico e influência grande, no aconselhamento de obras e autores que ainda hoje o fascinam. Vou transcrever uma pequena parte desse capítulo:
"...Quando somos adolescentes, somos únicos; quando crescemos, percebemos que o ser singular é, na verdade, um mosaico composto por outros seres que, em maior ou menor medida, nos definem. Reconhecer essas identidades espelhadas ou aprendidas é uma das consolações da velhice: saber que certas pessoas há muito transformadas em pó continuam a viver em nós, tal como nós viveremos em alguém cuja existência talvez nem conheçamos. Compreendo agora com 66 anos, que Lerner é um desses seres imortais. ..." (pg. 61)

Ao longo da minha vida, tive também pessoas que me aconselharam livros e leituras. Recordo duas, especialmente. A primeira foi um professor de Inglês, de nome Fabião, no meu 4º ano de Liceu, que me abriu caminho para Somerset Maugham, aconselhando-me a ler The Moon and Sixpence. Vim a encontrá-lo mais tarde, na Faculdade de Letras de Lisboa, onde era leitor de neerlandês. O segundo conselheiro foi Eugénio de Andrade que me recomendou João Guimarães Rosa, na altura da minha ida para a tropa. E, porque falava muito de Juan Ramón Jiménez, acabei por vir a ler, também, o poeta do Moguer, com grande entusiasmo. São três autores recomendados que ainda hoje me dão prazer de leitura.


sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Curiosidades 52


Que salário (ordenado) vem do latim salarium, muita gente saberá, porventura. O que eu não sabia até há pouco tempo, é que, no Império Romano, o pré dos soldados era pago, no todo ou em parte, através de sal. Que era necessário para a conservação da carne e outros alimentos. Daí o significado de ordenado, com o referente do pagamento em espécie.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Bibliofilia 131


Quase poderia dizer que descobri Vergílio Ferreira (1916-1996) através de "Manhã Submersa" (1954), primeiro livro que li do escritor português, e ainda hoje uma das obras dele de que mais gosto. Li-o pela primeira edição, que um amigo me emprestou. Por isso, só muito mais tarde, vim a comprar o romance e a relê-lo, com o mesmo agrado inicial, aliás.
É apenas a terceira edição, de 1968, esta que tenho, mas pertenceu a Ruben A. (1920-1975), tendo a particularidade de ter uma afectuosa dedicatória de Vergílio Ferreira, que só enriquece o volume. Por aqui fica, em imagem. Hoje, dia em que se completa o centenário do nascimento do Escritor.




para MR, em geminação com o Prosimetron.

As gentilezas da democracia


Teve pouca divulgação mediática, pelo menos por cá, e ainda menos repercussão comentada, a notícia de que as autoridades italianas tinham decidido mandar tapar uma parte das estátuas de nus, em Roma. Este pudor gentil e amorável, muito caridoso e cristão, destinava-se a não chocar S. Eminência, o presidente do Irão, na sua visita à capital italiana, quando passasse por esses locais.
O incauto e não informado turista, que por lá andasse, haveria de pensar que se tratava de mais uma instalação ou intervenção do artista búlgaro Christo (1935) que, no passado, já tinha embrulhado o Reichstag, em Berlim, e a Pont-Neuf, em Paris. Porque, se estivesse ao corrente das verdadeiras razões, teria de concluir que o ditado "Em Roma, sê romano!" deixara de fazer qualquer sentido. Graças às gentilezas italianas da democracia.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Uma louvável iniciativa (48)


De Belas (19/20), que me convoca, histórica e cronologicamente, D. Pedro I, D. Duarte e António Nobre, para não falar da extinta romaria do Senhor da Serra, na Quinta dos Marqueses da dita vila, até à "piscosa" Sesimbra (10/20) que acabou a referenciar uma edição de "Os Lusíadas", passando pela suburbana Damaia (7/20) de pouca beleza actual e desordenada arquitectura, por aqui anda margem para lendas e sonhos de terras portuguesas. Que raramente excluem o amor, das narrativas. Pretexto que foram para o exercício da imaginação popular, na arte de contar, e que o Café Chave d'Ouro registou, e muito bem, em pacotinhos de açúcar.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Retratos (16)


Eram figuras típicas de uma Guimarães antiga, dos anos 50. Invariavelmente, faziam o périplo do centro histórico vimaranense, várias vezes durante a tarde, palrando alegremente. Do que falavam, não sei.
O João S., solteiro inveterado, terratenente de várias quintas no minifúndio minhoto, apascentava também uma vaga carteira de seguros, onde predominava a L'Urbaine, companhia gaulesa de créditos firmados; o Coimbra, viúvo e sempre vestido de fatos pretos, que tinha voz metálica e grossa, e o cabelo cortado à escovinha, creio que tinha várias casas, que alugava. O Martins Chapeleiro (o segundo apelido era alcunha), casado, era o mais velho dos 3, mas parecia o mais menino e frágil, com o rosto enfezado de grão-de-bico e as lentes garrafais dos grossos óculos. Também usava chapéu, normalmente cinzento. E era o único que tinha loja aberta: uma retrosaria fantástica, como já não há, com milhares de botões, elásticos, meias, lenços, fitas de nastro, carrinhos de linha, novelos de lã das mais diversas cores, cintos, incontáveis chapéus...
Era vê-los, ao bater das 14, a entrar no Café do Toural e a ocuparem lugar na sua mesa reservada, sempre. E, cerca de meia hora depois, a sairem para a rua, em amena cavaqueira. Ao que parece, era o Martins que dava as notícias mais recentes, provindas da loja, muito frequentada, sobretudo por senhoras freguesas da cidade. A boa disposição dos três era proverbial, nos passeios intermináveis em círculo, pela cidade e que duravam, sobretudo no Verão, até cerca das 19h00.
Uma coisa os unia, talvez na felicidade: eram os únicos vimaranenses, que eu conhecia, que viviam dos rendimentos...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

À guisa de explicação


Comecei a notar, de uns tempos a esta parte, que, em 100 visitas ao Arpose, cerca de 80% se dirigiam, invariavelmente, a postes antigos do arquivo do Blogue, sobretudo dos anos de 2010, 2011 e 2012. Antiquíssimos, portanto, tendo em vista a idade do Arpose, e a duração média de vida dos blogues na net.
Depois, se as as visitas são numerosas, q. b., a quase totalidade não tem voz. Ou opinião...
A constatação do facto deu-me uma inefável tranquilidade de espírito e dei-me também a pensar que poderia viver dos rendimentos, no futuro. Sem grandes trabalhos e preocupações de maior.

Pinacoteca Pessoal 108


Não tendo a magnitude estética, nem a seriedade clássica de "O Grupo do Leão" (1885), pintado por Columbano, nem sequer se aproximando dos murais de "A Brasileira", esta obra de Rainer Ehrt (1960), muito menos ambiciosa, que fez capa do penúltimo TLS (nº 5885), surpreendeu-me agradavelmente. Do pintor e gráfico, apenas sei que é alemão e que também pratica o cartunismo. O seu traço não terá a graça satírica de David Levine, mas a similitude dos retratados parece-me excelente.
Poderemos, facilmente, identificar os irmãos Mann, Bertolt Brecht, Joseph Roth, Anna Seghers, Walter Benjamin. E, prováveis, o pintor japonês Foujita, Stefan Zweig e Alfred Döblin. Não descortinei os restantes... Rainer Ehrt reuniu-os numa improvável e inexacta sincronia temporal (com data imaginária: 1933). Todos eles expatriados, alguns judeus, que passaram por França, entre os anos 20 e 50 do século XX. Muitos deles fugindo ao nazismo, e alguns que se fixaram em Paris, para sempre.
O título da obra é bilingue, apropriadamente: Café des Exilés ou Der Engel der Geschichte. Seja, em português, Café dos Exilados, de um francês pragmático, ou O Anjo da História, num alemão mais simbólico.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Apontamento 77: Regresso ao Passado


Curiosamente ou não, nos últimos tempos, vieram-me à memória as imagens do país cinzento e culturalmente uniformizado que conheci nos inícios dos anos 70 do século passado.

Com a reserva e a estima pelas pequenas ilhas de pensamento elaborado e de cultura – universal e popular – que se respirava em casas de Águeda, Lisboa e Almada que me acolheram logo nos primeiros anos, confesso que guardei, quanto ao resto, a lembrança de um certo “mofo” intelectual, físico e vivencial.

Talvez, por metáfora abrangente da uniformização do pensar, viver e agir, de uma certa classe média do regime, com frequentes ligação ao chamado “Ultramar”, sirva uma imagem de decoração mais expressiva, a saber, a “mesa credência” em talha dourada no “hall” de entrada, reproduzida na imagem.

Ora, no “regresso ao passado” existem figurantes que, de repente e com roupagens novas, vão surgindo e, curiosamente, activam uma memória que se julgava adormecida, até pelos lugares e conivência que escolhem pela representação. Curiosamente recuperam a mesa de credência há muito esquecida.


No entanto, a memória teima em não querer apagar o sentido de gestos e posturas matriciais de determinados actores, até um Martinez (de Direito) renovado e em segunda geração.

Post de HMJ

Uma coutada, na Faculdade de Direito de Lisboa


Depois da eventual avalanche, o que vou escrever é um mero pormenor. Mas significativo e que pressagia equívocos futuros, do meu ponto de vista.
O uso de uma Faculdade de Direito (?), por parte de um candidato a PR, como se fosse uma sede de campanha, para aí aguardar os resultados eleitorais e ouvir as ovações finais, indicia uma instrumentalização espúria de uma instituição pública ao serviço de interesses privados. Que anuncia um oportunismo de intenções e equívocos maiores. E outros abusos prováveis e futuros.
Glosando um lugar comum, terei de acrescentar, humildemente, que: em democracia, cada povo tem os chefes que merece.

A parte pelo todo


Foi moda, por cá, a partir do último quartel do século XX, começarem a aparecer obras completas de alguns poetas, que se encontravam ainda em pleno exercício da sua arte e a meio da vida. Nem Herberto Helder escapou a esta tentação, e andam por aí as suas Poesia Toda, que ciclicamente ia editando...
Não sei se haverá muita afinidade entre Política e Poesia, para além de serem uma vocação humana estimável. Mas é verdade que, ultimamente, vários políticos juniores portugueses se afanaram e esfarraparam em contribuir para a publicação das suas autobiografias, cujo interesse não deve sequer alcançar a região dos seus fregueses... Ânsia de protagonismo, com certeza.
Mortos, provavelmente, não inspirarão decerto nenhum posterior biógrafo autorizado e competente, até porque as suas vidas terão sido excessivamente rasteiras e desenxabidas, para deixar rasto e interesse. Quase nenhum  se aproximou sequer da altura política e da qualidade literária do autor de A Abelha e o Arquitecto, por exemplo. Mittérrand, quero eu dizer.

sábado, 23 de janeiro de 2016

Descobrimentos...

Uma vez por outra, somos pioneiros.
Será que a Espanha vai seguir o exemplo português?
Não será a primeira vez que nos imita: já nos descobrimentos nos seguiu...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

De vez em quando, faz bem pensar...


Desenganem-se os malévolos primários e coscuvilheiros, que eu não vou votar na Marisa. Embora me pareça uma candidatura dignificante, mesmo com a sua juventude e voz rouca, capaz...
Apesar de tudo, não deixo de ser um conservador esperançado na segunda volta das presidenciais.

Citações CCLXXVII


Aos 50, cada um tem a cara que merece.

George Orwell (1903-1950), in Notebook.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Recuperado de um moleskine (20)


Este desapego do tempo à nossa conveniência: quando mais precisávamos da sua compreensão e conforto, mais ele se revela arredio e selvagem, nas suas manifestações.
Insensivelmente, fomos substituindo, neste esperanto de cosmopolitismo cego e saloio, a samarra pela parka, sem pedir licença a ninguém. É, realmente, a ela que me aconchego, em protecção do vento e da chuva, que se mantêm insistentes e inóspitos, pela rua.
E só me apetece chegar a casa. Ao borralho doméstico, materno, imemorial. Às palavras, enfim, que nunca mudaram de nome, desde a infância.

A par e passo 158


Advirto que é preciso ter atenção aos primeiros contactos com um problema que surge no nosso espírito. É necessário ser cuidadoso com as primeiras palavras que parecem identificar-se com uma questão do nosso pensamento. Uma nova questão aparece em nós de forma pueril; balbucia: não encontra senão termos estranhos, todos eles carregados de valores e de associações acidentais; sendo obrigada a pedi-los de empréstimo. Mas, por isso mesmo, altera insensivelmente a nossa necessidade verdadeira. Renunciámos assim, e sem dar por isso, ao nosso problema original, e acreditámos ter optado por uma opinião pessoal muito nossa, esquecendo que essa escolha não se exerceu senão sobre um conjunto de opiniões que fazem parte da obra, mais ou menos cega, do resto dos homens e do acaso. Assim se passa também com os programas dos partidos políticos, dos quais nenhum é (e não poderia ser) aquele que corresponde exactamente à nossa sensibilidade e aos nossos interesses.

Paul Valéry, in Variété V (pg. 131).

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Memória (106)


Não bastava a morte do político e democrata Almeida Santos (1926-2016), mas a morte sôfrega colheu ainda o decano dos arquitectos portugueses, Nuno Teotónio Pereira (1922-2016). Deixámos, em lembrança e imagem, duas das suas obras mais emblemáticas: o prédio "Franjinhas" e a igreja do Coração de Jesus, ambos em Lisboa.


Divagações 106


A fidelidade, tão frágil em si, no seu aspecto mais amplo, descomprometido, desinteressado. No entanto, cimento de alicerce nas amizades - que tantas perdemos ao longo da vida! Umas por conforto, outras por simples contas de deve e haver, ainda outras por orgulho. Porque, às vezes, a fidelidade é um caminho de cabras: íngreme, estreita vereda sinuosa, agreste e incómoda. Dito de outro modo, Virginia Woolf referia: "Perdi amigos, alguns deles, por morte...outros por mesquinha inabilidade de atravessar a rua." (Arpose, em 5/8/2015)
As coisas passam de moda: esquecemo-nos, esquecemo-las, na poeira dos dias. Às vezes, tinham sido tão próximas, tão essenciais para nós, que jurámos por elas uma fidelidade eterna. A verdade é que os sentimentos também se esgotam.
O remorso, no entanto, surge inesperado, uma ou outra vez, bate forte, interrompe a cegueira, rasga violento o esquecimento dos dias. Deixa perguntas sem resposta suficiente, abre um clarão de luz aguda que parece atingir o coração. E não há remédio: já é tarde demais, no tempo.

Pessoal e intransmissível


As palavras têm uma origem própria, uma semântica. Mas no plano pessoal e mais íntimo podem também possuir uma (segunda) paternidade: daquele ou daquela a quem as ouvimos pela primeira vez - se nos lembrarmos disso. Finalmente, depois de muito gastas e mecanicamente usadas, podem ressurgir ou renascer, com novo vigor, por um acontecimento fortuito.
Por vezes, acontece que uma simples palavra ganha presença, destaque e um carácter novo, pela posição que ocupa num poema. Adquire perspectiva, mais ampla, dimensão diferente e autónoma. Distancia-se do contexto e significação com que a utilizávamos no dia a dia, anteriormente. Ganha vida.
Lembrei-me, hoje, disso ao preencher, nas palavras cruzadas, os quatro rectângulos do vocábulo lume. Aqui há 50 anos atrás, em autógrafo de Eugénio de Andrade (1923-2005), ao lê-la, essa palavra ganhou uma nitidez independente e uma força nova, imprevísivel antes, para mim. E assim continua...



Nota: Eugénio de Andrade nasceu a 19 de Janeiro de 1923, na Póvoa de Atalaia (Fundão).

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

A opinião dos outros ( E. M. Cioran )


26 de Janeiro de 1970

Acabo de receber uma carta de Yvon Belaval em que ele me diz ter gostado do meu artigo sobre Valéry. A carta é extraordinariamente simpática. E convenceu-me. Acabei por reler algumas páginas do meu texto. Milagre! pareceu-me bom e acertado.
Até que ponto os nossos julgamentos sobre os outros e sobre nós mesmos dependem de sugestões exteriores e das circunstâncias!

E. M. Cioran (1911-1995), in Cahiers / 1957-1972 (pg. 788).

Em homenagem à corrente dominante



Modo de usar:

substituir N por D e S por E. Os renascentistas vão sendo cada vez mais raros e os camaleões estão quase confinados aos jardins zoológicos e à pequena mata de Monte Gordo (Algarve), em Portugal.

com os melhores agradecimentos a AVP.

Mercearias Finas 109


Ainda as bancas se compunham, porque chegámos cedo, pouco depois das 8.
As amêijoas brancas e pretas buliçosas espirravam esguichos salgados, como caladas e serenas estavam os perceves (a 23 euros o quilo) que, do róseo pedicular ao negro da unha, juncavam o tabuleiro de metal esbranquiçado. A banca mostrava ainda búzios, camarões rosados e carabineiros, caracóis, sapateiras e mexilhões, num mar pequeno de cheiros oceânicos, e domésticos entre as paredes do Mercado.
Perdoe-se às lagostas não terem vindo, nem as ostras do Sado. Mas, para matar saudades do mar, já me bastava. E o Espadeiro minhoto, no seu rubi clarinho e puríssimo, a esfriar no frigorífico, há-de esperar pelo meio da tarde, para acompanhar a sapateira e as tostas apropriadas, na merenda de amigos.

sábado, 16 de janeiro de 2016

Politicamente incorrecto


Algumas Senhoras não irão gostar daquilo que eu vou dizer.
Durante toda a minha vida activa profissional, em empresas privadas, nunca vi com bons olhos, ou aceitei, que algum dos pais levasse para o seu local de trabalho o(s) seu(s) filho(a/s). A não ser, em circunstâncias excepcionais, ou de emergência.
Mas há, certamente, pontos de vista diferentes. Como há antecedentes notórios e exemplos recentes insólitos.
Soube, há pouco, que o falecido ex-governador de Moçambique, Baltazar Rebelo de Sousa, que também foi ministro do Ultramar, costumava levar para os lanches, ao sábado de tarde, no restaurante A Choupana, o seu jovem rebento (que teria então 10/12 anos) Marcelo, para assistir aos diálogos. Estes lanches destinavam-se a preparar o futuro político de Marcelo Caetano, que presidia a estas merendas conspirativas, no tempo em que Salazar ainda era vivo.
Há dias, surpreenderam a Europa as imagens da deputada Carolina Bescansa, do Podemos, com o seu filho ao colo, nas Cortes espanholas. Dir-se-á: mas "de pequenino é que se torce o pepino". Acho mal. Ainda para mais porque o Parlamento espanhol tem, no seu próprio edifício, uma creche para os filhos dos deputados e funcionários das Cortes. Exibicionismo deslavado, aproveitamento tosco? Não sei.
Em qualquer dos casos e como sequela de ter cumprido o serviço militar, remato com a máxima corporativa, então em voga: "serviço é serviço, conhaque é conhaque"...

Filatelia CX


Vê-se, pela forma atabalhoada, como os selos foram colados sobre os envelopes que, quem disso se encarregou, não seria, decerto, pessoa muito arrumada e, com certeza, não era um filatelista...
Uma das temáticas iniciais da Filatelia foi a do Correio Aéreo. Creio que ainda hoje terá muitos cultores fervorosos. Porém, em Portugal, só em 1936(-1941) foi emitida a primeira série inclusivamente dedicada ao correio aéreo: com desenho alusivo e estilizado (os chamados selos tipo "Hélice") de Almada Negreiros e gravura executada por Guilherme Santos.

Voltando aos envelopes circulados da primeira imagem, há que referir que o que foi enviado do Porto para Birmingham, em 1941 e durante a II Grande Guerra, foi aberto pela Censura britânica, tendo no seu canto superior esquerdo o rótulo identificativo do facto. Da Administração do Concelho de Chibia (Angola) veio para Lisboa, em 14/1/1947 (há 69 anos, portanto), por via aérea, uma carta dirigida a um Professor do Instituto Superior Técnico. Acresce o carimbo losangonal e a indicação de que seguiu no primeiro voo (inaugural) da Linha Aérea Imperial Luanda-Lisboa.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Palavras do dia (20)


Esta campanha para as eleições presidenciais tem-me causado algum desconforto. E não é só pelos 4 ou 5 pretendentes que, sedentos de fama (pela via mais barata) ou pobres de espírito (político) vieram, com a sua excessiva megalomania e auto-estima, re-baixar e enlamear um debate que até poderia ter sido interessante. E que não está a ser.
Lateralmente às minhas razões, que não vale a pena aprofundar sequer, António Guerreiro acrescenta alguns elementos importantes ao assunto, no remate da sua crónica (A ciberdemocracia), na ípsilon, de hoje, do jornal Público. Porque a sua leitura pode ser útil, vou transcrever, a seguir, a parte final da crónica referida:

"...A campanha presidencial a que estamos a assistir mostra bem o que significa uma democracia plebiscitária em que tudo se reduz à teatralização da esfera política. O ciberespaço revela-se assim na sua dupla face: factor de novas emancipações, ao mesmo tempo que promove alienações e patologias sociais inéditas. Os paradoxos desta nova condição do espaço público na época da «ciberdemocracia» podem ser apreendidos no exemplo dos comentários que os leitores escrevem no espaço que lhes é reservado nas páginas on-line dos jornais. Não há nada de mais democrático e interactivo, uma contínua discussão crítica estava assim prometida. Mas o que ganhou preponderância foi o insulto e a tagarelice. Aquele espaço de discussão, na maior parte das vezes, anula-se nos seus objectivos. Em vez de ser um factor de correcção das «patologias» mediáticas, é uma acentuação das suas perversões patológicas. De tal modo que muitos, os mais aptos a contribuir para o alargamento de um espaço público esclarecido, se afastam."

Adagiário CCXLIV


Lenha de figueira, rija de fumo, fraca de madeira.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Paternalismo por via administrativa


A notícia faz capa no jornal Público, de hoje.
As cafeeiras portuguesas embalam os pacotinhos com 6, 7, 8 e 9 gramas de açúcar para acompanhar a venda do café, consoante a torra, da sua marca, é mais carregada (à espanhola, como a Delta) ou mais leve (à portuguesa, como a Nicola). Pois agora a DGS, talvez porque não tem mais nada que fazer, decidiu propor ao governo uma redução para metade do açúcar nas saquetas... Exorbitou, quanto a mim, nas suas competências, por bizantinice.
Do meu ponto de vista trata-se de um paternalismo inqualificável e que revela uma visão infantilizada dos utentes. Uma autêntica ditadura administrativa sobre os consumidores de açúcar, e é por estes sinais que se vê como estes pequenos tiranetes burocráticos procuram formatar tudo à sua volta. Como se os utentes não tivessem vontade, nem cabeça ou tino. Ou não pudessem pedir 2 saquetas, no futuro, em vez de uma. Arre!, que são burras e pernósticas estas directorias-gerais.


Em post-scriptum e para desanuviar, aqui fica mais um pacotinho de açúcar, com a lenda de Coimbra (2/20), da série do Café Chave d'Ouro.

Agatha Christie, em geminação com o Prosimetron


Na portuguesa colecção Vampiro policial, Agatha Christie (1890-1976) está representada por 67 obras, sendo apenas ultrapassada por Geoges Simenon (1903-1989), com 73 livros. Na primeira vintena de Vampiros, a escritora inglesa tem 5 obras e Ten little Niggers (Convite para a Morte) ocupa a décima oitava posição.

Tirando livros de temática religiosa (Bíblia, Alcorão...), as obras de Agatha Christie são daquelas que mais se vendem em todo o mundo, o que atesta também a popularidade dos livros policiais. MLV, no Prosimetron, destacou ontem a passagem dos 40 anos da morte (13/1/1976) da autora britânica, referindo Ten Little Niggers (1939), com mais de 100 milhões de cópias vendidas. E, hoje, MR, no Prosimetron, faz uma adenda, convocando o Arpose para um desafio...
Aqui ficam, por isso, imagens do meu exemplar da colecção Vampiro, para uma geminação cordial.


Pinacoteca Pessoal 107


Não poderei dizer que sou um entusiasta da obra expressionista do pintor austríaco, naturalizado britânico (1946), Oskar Kokoschka (1886-1980). De algum modo, parece-me haver algumas afinidades, nas suas telas, com outro pintor que eu admiro - Chaim Soutine. E, em ambos os casos, a vida acidentada os tenha marcado negativamente. Pese embora alguma tranquilidade que Kokoschka experimentou nos últimos anos da sua longa vida, ao contrário de Soutine, que morreu relativamente jovem e em circunstâncias infelizes.
Destaco, no entanto, os trabalhos que Kokoschka executou nas primeiras décadas do século XX. Não tanto as paisagens, que pouco me dizem, mas alguns retratos que pintou, como o do Marquês Montesquieu-Fezensac, de 1910, ou o simbólico "Cavaleiro Errante" de 1915, que deixo em imagens. 



quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Citações CCLXXVI


Não se reeducam os sonhos.

( algures e de autor ignorado.)

Vai fazer toda a diferença...


Ainda há dias me lamentava das saudades que me deixaram Joaquim Letria e Maria Elisa ao desaparecerem dos ecrãs da televisão. Mas havia, porém, uma sucessora digna: Ana Lourenço, jornalista da SIC-Notícias (jornal das 22h00), que eu ouvia com especial agrado. Equilibrada, discreta, competente, dominando os assuntos, perguntando com jeito aos entrevistados, conseguindo diálogos interessantes e esclarecedores. Considerava-a a melhor jornalista da televisão portuguesa.
Durante todo o mês de Dezembro estranhei que não aparecesse na SIC, pensei que estivesse de férias. Mas não, demitiu-se, simplesmente - soube hoje. E, embora eu não saiba as razões, tenho muita pena.

Nota: a confirmação veio-me do Blogue duasoutrêscoisas. Creio que, por lá, o sentimento é o mesmo...

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Apontamento 76: Leituras sobre a Dignidade Humana



Os efeitos profundos e nocivos do discurso demolidor dos últimos anos contra a “população inactiva”, i.e., e sem rodeio, OS VELHOS, ainda estão por contabilizar, se nos quisermos limitar a uma linguagem económica condizente.

Talvez pela falta de afecto dedicado aos “séniores” nos últimos anos sucede que, actualmente, anda por aí uma pessoa muito empenhada em visitar os velhos nos lares.

Pela transmissão da sua imagem indefesa, que algumas pessoas expostas já não conseguem defender e acautelar, exigia-se, no mínimo, aos directores dos respectivos lares que defendessem a dignidade da pessoa humana.

Um lar não é um circo e a exposição pública tem regras, sobretudo quando existem pessoas que, por falta de ética, abusam da fragilidade  e não respeitam a dignidade humana.

Recomendo, pois, a leitura de alguns textos.

Post de HMJ

Comic Relief (120)


Camaleão excelentíssimo... ou, transforma-se o amador na coisa amada.

agradecimentos a C. S..

Os Trabalhos e os Dias 9: Educação e formação do bom gosto





Há temas que, mesmo “posta em sossego”, continuam a despertar o meu interesse, embora, no presente, seleccione com mais parcimónia livros dedicados ao título em epígrafe. Aliás, prefiro obras que se situam numa perspectiva histórica da educação, como os dois exemplares que se reproduzem acima.

Cobicei-os, em primeiro lugar, pelo apelo ao bom gosto presente na encadernação e impressão e de uma época artística que, na imprensa alemã, fez surgir livros belíssimos. De seguida, foi o conteúdo que me despertou interesse. Trata-se, pois, e como sugere o título, de um tratado sobre a “cultura moderna”, concebido como um “vademecum” para a formação humana e o aperfeiçoamento do bom gosto.

Ora, o que hoje seria impensável, os livros de 1907 dão indicações e transmitem preceitos tão amplos como a escolha e organização da casa, a higiene pessoal, a civilidade nas diversas relações sociais e profissionais para, num segundo volume, se centrar mais nos aspectos culturais e de formação de gosto, nas leituras, nas artes e na música. Por acaso, só reparei depois de me terem oferecido os livros, que a matéria dedicada à leitura e aos livros tem a assinatura de Hermann Hesse.

Digo que a existência de livros semelhantes é hoje impensável pelo facto de termos abandonado essa vertente, assumida, da “educação burguesa” que  entendia a transmissão de valores e de cânones culturais como orientação para a formação do bom gosto. Tal ausência de tratados abrangentes foi, no entanto, mal preenchida com publicações de má apresentação e paupérrimo conteúdo, contribuindo para secções cada vez mais amplos nas livrarias, com os chamados livros de “desenvolvimento pessoal e espiritual” !

Verifica-se, pois, que a formação humana, no sentido da sua autonomia, ficou reduzida à sua preparação para a “vida activa” do trabalho, aliás pouco exigente e, assim, liberta do peso – desnecessário – de cânones literários e quejandos.


O vazio que se foi instalando será, certamente, preenchido por outros valores. A ausência de noções mínimas de civilidade já contribuiu para uma degradação do espaço público e consequências desagradáveis para a convivência social.

Post de HMJ

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Uma louvável iniciativa (47)


Das terras e lendas de Amor e Segodim (6/20), em que entra D. Dinis, aos mouros de Abrantes (3/20), passando por Mumadona ou Dona Muma vimaranense, que teria vivido com seus filhos em Penafiel (4/20), tudo sai explicado, sucintamente, destes pacotinhos de açúcar. E deixei para o fim a lenda mais bonita, a de Machico (12/20), na Ilha da Madeira, com os seus dois apaixonados fugitivos, Ana d'Arfet e Robert Machim, ingleses. História que deu a Francisco Manuel de Melo (1608-1666) motivo para a sua terceira narrativa temática, ou Epanáfora Amorosa.
Um efusivo aplauso a estes pacotinhos de açúcar do Café Chave d'Ouro!

Mais 1 haikai de Inverno


Gelo nocturno:
acordo, que o meu cântaro
de barro estala. E racha.


Matsuo Bashô
(1644-1694)

domingo, 10 de janeiro de 2016

Domenico Zipoli (1688-1726)


Esta gravação, em vídeo, da obra (Adagio para oboé, violoncelo, órgão e orquestra) do Jesuíta italiano Domenico Zipoli, que missionou na América latina, não é perfeita. Mas a obra musical, em si e para mim, é.

Curiosidades 51 (miscelânea)


O tema de algum modo é o desperdício (ou poluição) e os números colhi-os em L'Obs. Assim:

1. Cerca de 2 milhões de brasileiros festejaram a passagem do ano na praia de Copacana. A limpeza da praia (lixo, detritos e dejectos...), no dia seguinte, saldou-se por 247 camiões carregados com 315 toneladas de lixo que juncavam o celebrado areal do Rio de Janeiro.

2. Em França, a publicação de livros bate recordes. Em 25 anos, a edição de obras duplicou, embora representem apenas 1% dos manuscritos propostos por autores às editoras. A tiragem média é de 6.000 exemplares. Mas, atenção!, apenas se vendem, também em média, 4.000 exemplares...

sábado, 9 de janeiro de 2016

A propósito do próximo leilão de livros


Como em qualquer sociedade secreta, a iniciação na atmosfera específica de leilões, sobretudo de livros antigos, raros e usados, cria no neófito alguma incomodidade, uma prévia timidez de não estar à altura destas cerimónias nem das suas regras ortodoxas, bem como uma certa insegurança, pelo menos, da primeira vez. Senti tudo isso, quando em 1976 (passam 40 anos, no mês de Maio próximo), decidi ir ao primeiro leilão de livros promovido por Arnaldo Henriques de Oliveira, ali para as bandas do Príncipe Real. Fui confrade iniciático, independente e sem ligação, é certo, se bem me lembro e mais ou menos por essa altura, com Helena Roseta, Jorge Couto (ex-director da BNP), Marcelo Rebelo de Sousa, Ferreira do Amaral (o volumoso ex-ministro cavaquista) e Pedro Roseta, que tinha sido meu colega de tropa - como diria Pessoa: "...tão jovens, que jovens eram..."
Desenganem-se os não experimentados, que basta ser prudente, observar as regras, dominar a emoção nos lances, para não cometer asneiras. Devo confessar que cometi algumas leviandades ingénuas, por amor aos livros... mas são erros passados de que pouco me arrependo. Que as obras ficaram comigo, até hoje.
Anuncia-se, para breve (1, 2 e 3 de Fevereiro de 2016), no Palácio da Independência (às Portas de Santo Antão), em Lisboa, mais um leilão de livros, manuscritos e gravuras, promovido pelo competente livreiro-alfarrabista José Vicente, com um rico acervo de várias proveniências. Enchem-me os olhos duas edições mirandinas que, felizmente, possuo: a 2ª edição (1614) de As Obras (lote 928) de Sá de Miranda (com uma estimativa de venda entre 1.000 e 1.800 euros) e a impressão Rolandiana de 1784, em dois volumes pequenos, com previsão de venda entre 50 e 100 euros, ambas encadernadas. Mas há mais que, por gosto pessoal, queria destacar, por lotes e preços previstos:
- 108. Azevedo, padre Torquato Peixoto d' - Memórias Resuscitadas da Antiga Guimarães, na sua edição primeva de 1845, feita no Porto, com uma indicação entre 40 e 80 euros.
- 668. Helder, Herberto - Poemacto, da Contraponto, edição original e rara (1961): 120/ 200 euros.
- 1169. Régio, José - Os Poemas de Deus e do Diabo (1925), na sua impressão inicial, com uma previsão de venda entre 800 e 1.600 euros.
Mas também há obras muito em conta, para neófitos. Não tenham medo!, pelo menos, de ir e assistir...