segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Uma pequena maldade de G. Braque


A propósito do seu amigo Picasso, que teria uma extraordinária capacidade para efabular e desenvolver, genialmente, alguma ideia inovadora dos seus confrades, Georges Braque (1882-1963) dizia que:
"Com Picasso é preciso ter cuidado, quando ele abre uma porta, absorve e fecha a porta atrás dele."
(Citado por Adrien Maeght, em Le Nouvel Observateur, nº 2551.)

A par e passo 59


Os actos de alguns homens têm para milhões de homens consequências comparáveis às que resultam, para todos os seres vivos, de perturbações e variações do seu meio ambiente. Como as causas naturais produzem o granizo, o tifo, as epidemias, assim também as causas inteligentes têm repercussões sobre milhões de homens, cuja maioria as sofre, bem como os caprichos do céu, do mar, da crosta terrestre. A inteligência e a vontade afectam as massas enquanto causas físicas e cegas - aquilo a que se chama política.

Paul Valéry, in Regards sur le Monde actuel (pgs. 35/6).

O dia seguinte


Quando acordo, logo de manhã, o denso nevoeiro não me permite, da janela, ver, até muito longe, os contornos definidos do horizonte.
Um factor retive, no entanto, da noite anterior. Talvez por razões de proximidade e confiança local, o peso da abstenção, nestas eleições, estancou a sua tendência vertiginosa e progressiva de crescimento. Se nas últimas eleições presidenciais chegou aos 53%, ontem, nas locais, ficou-se pelos 47%. Magra consolação - dirão -, mas sempre é um sinal positivo.
Pode concluir-se que mais de metade dos eleitores portugueses ainda está viva. E, eles, acordados.

domingo, 29 de setembro de 2013

Comic Relief (74)


Esta gaffe monumental ilustra bem o amadorismo provinciano e a ignorância que grassa no jornalismo português, mesmo quando de referência. E, também, a ausência de revisores esclarecidos e alfabetizados.
Trocar a fotografia do sr. Nikolaos Michaliakos, do partido grego da extrema-direita, pelo sr. Peer Steinbrück, do SPD alemão, além de ser uma afronta indesculpável, é um erro crasso de amadorismo grosseiro. É melhor levar o caso para o riso...
Oxalá, amanhã, esta asnice seja rectificada devidamente na rubrica o "Público errou"...

sábado, 28 de setembro de 2013

Apontamento 21: Boas Notícias



Ao que parece, e ainda bem, é o comércio tradicional a marcar pontos nas escolhas dos consumidores. Embora forçada pela crise, agrada-me a tendência, como início de uma batalha maior, dos consumidores, pela defesa da liberdade de escolha e contra a “unicidade” do gosto, contra o poder excessivo – quiçá mafioso – dos grandes grupos na imposição de preços, prazos de pagamento e modos de produção, aos produtores.
A notícia divulgada hoje num jornal nacional encontra, no meu jornal de referência, DIE ZEIT, algumas reportagens, que tenho acompanhado com muito gosto, sobre a sobrevivência de algumas manufacturas, ditas artesanais, que ainda sobrevivem nos países do Sul da Europa. O mais recente destacava a “indústria vidreira” artesanal em Espanha.
Lembrei-me, obviamente, da indústria vidreira nacional. O depósito da Marinha Grande, na Rua de S. Bento, onde se encontrava tudo e o trabalho dos artífices nos enchia o olho.
Além disso, um passeio pela Rua de S. Bento, a Rua dos Fanqueiros – para ver os tecidos – ou outras ruas da Baixa, não se compara aos “balões fechados” dos “Centros Comerciais e Grandes Superfícies”.

Não tenho dúvida de que, em consciência e com esclarecimento, o homem acabará por defender a dignidade do trabalho do seu próximo, porque lhe reconhece a sua dedicação e o seu esforço que os farsolas dos “Soares dos Santos e quejandos” apenas sabem sugar em proveito próprio.
Post de HMJ

Amanhã

Falemos por parábolas. Há, pelo menos, três comodidades facilmente reconhecíveis: a da juventude, a cegueira mental aliada à paralisia física , e a preguiça natural da velhice. Convém, no entanto lembrar, que há sempre uma palavra a dizer. Para quem ainda possa estar vivo.  

Rescaldos, por causa da chuva


Penso que uma das maiores deficiências dos portugueses é a ausência de sentido crítico. As miscigenações sucessivas ao longo dos séculos, apesar da periferia geográfica, terão contribuido para a nossa aceitação de todos, e de ninguém. O cristianismo, na sua piedade cristã, se nos aumentou a alma, terá sido, seguramente, em prejuízo da razão. A falta de educação, a artificial mas drástica fronteira de isolamentos vários, ao longo da História, a atávica ignorância provocada e intensificada pelos Poderes autocráticos, fizeram o resto. Para além de uma natural e inexplicável vontade de agradar a todos, originada, talvez, pela nossa sensibilidade ingenuamente romântica (no pior sentido) que é possível comparar-se a um infantilismo mental, bondoso.
Sobre Joana de Vasconcelos e a sua obra, eu tenho uma opinião cautelosa, embora positiva, que precisa de tempo, para se afirmar mais seguramente. Não a confundo, evidentemente, com adílias lopes nem hugos mãezinhas, por muito que pareçam assemelhar-se. Porque, à partida, há uma coisa que os une: não fazem mal ao Regime.
De algum modo, não fiquei surpreendido com o sucesso e recorde de visitantes ao Palácio da Ajuda, aquando da exposição magna e régia de Joana de Vasconcelos. Tenho a certeza que a grande maioria das visitas foi lá, não porque conhecesse e apreciasse a obra da Artista, mas para poder bisbilhotar depois, a bem e a mal. E porque seria uma vergonha, para as pobres almas, dizerem aos amigos que não tinham visto.  

Os elementos e a paisagem da manhã


Como ontem, as nuvens vão céleres, vertiginosamente cinzentas para Nordeste, fazendo esquecer e rasurando o azul de há poucos dias. O rio e o horizonte outrabandista vão a preto e branco, quase baços, como nas primitivas e clássicas fotografias de outrora.
Tirando o magnífico e nítido arco-íris de ontem, as primeiras chuvas de Outono, se vamos sair, criam-nos a incomodidade da dúvida, sobre os artefactos e o que havemos de vestir: camisa de manga curta ou comprida? Casaco? Guarda-Chuva?
E, ontem, o vento de que tanto gosto normalmente (apreciado raramente pelo sexo feminino) excedia, pela violência tonitroante, a minha capacidade de afecto. Talvez a mesma violência com que os americanos andam a escavar os seus Estados, em busca do gás de xisto - lá se vai o solo e as águas...
Dizem, com propriedade, que ainda neste século as temperaturas, na Terra, vão aumentar, em média, 4º e os Oceanos hão-de subir 80 centímetros.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Sem apelo nem agravo, um conselho


Antes que se entre no periodo de reflexão, aqui vai um conselho autárquico amigo:
não votem nas rotundas, que é perigoso! Prefiram antes exercer o direito de cidadania numa escola sossegada, sem criancinhas ululantes, de preferência.

Pinacoteca Pessoal 59 : variações


Tirando as múltiplas (cerca de 30) versões da Catedral de Rouen, pintadas por Claude Monet (1840-1926), às mais diversas horas do dia, aproveitando os diversos tipos de luz solar, entre 1892-4, creio ser Vincent van Gogh (1853-1890) o pintor que mais variações tem, sobre um mesmo tema. Augustine Roulin, mulher do carteiro de Arles, foi retratada, obsessivamente, pelo pintor holandês. Dos vários quadros que a ela dedicou, há cinco telas, pelo menos, em que a senhora Roulin é retratada, pouco depois do parto, com o título: La Berceuse - pintadas entre Março de 1888 e inícios de 1889. Não se vê o berço do recém-nascido que ela embala, apenas a corda que segura entre as mãos. E as variações são mínimas: de algumas cores, do cenário de fundo, da posição das mãos, e pouco mais.
Segundo especialistas, cronologicamente, as telas existentes pertencem aos seguintes acervos:
1. Rijksmuseum Kröller-Müller, Otterloo.
2. Colecção particular da família Annenberg (Califórnia).
3. The Art Institute, de Chicago.
4. Museu Stedelijk (Amesterdão).
5. Fine Arts Museum, em Boston.
Reproduzem-se em imagem o quadro existente em Boston e, na segunda posição, a tela pertencente à família Annenberg.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Citações CLIII


Os amores são como os cogumelos. Não se sabe se eles pertencem à boa ou à má espécie, e só o sabemos quando é demasiado tarde.

Tristan Bernard (1866-1947).

E. de A.


Outono - pássaro de melancolia
num céu sem cor que não promete nada;
mar de insónia onde o teu corpo paira
como o perfume da terra molhada.


Eugénio de Andrade, in Os amantes sem dinheiro (1950).

Música e ruído


Creio que foi Camus quem disse que: a relação privilegiada é a dois - e não se referia, apenas, ao foro dos sentimentos afectivos.
Não sendo tão draconiano, eu diria que até 5 ou 6 elementos humanos, em grupo, o triálogo em duplicado talvez seja ainda possível, mantendo, porventura, alguma elevação, harmonia e seriedade nos temas ou assuntos debatidos.
A partir daí - parece-me - é sempre uma polifonia dissonante. Uma espécie de frioleira feicebuquiana.  

Recomendado : quarenta e dois


No jornal Público de ontem (25/9/13), António Guerreiro assina dois artigos amplos, de indiscutível qualidade e penetrante argúcia. Um, dedicado à obra e pessoa de António Ramos Rosa, outro, historiando a evolução das relações entre a França e a Alemanha (França-Alemanha / Afinidades electivas, perigosas relações), bem como as suas implicações na Europa, ao longo dos últimos três séculos. Na dificuldade de escolha, optaria por recomendar, francamente, a leitura deste último.   

Uma fotografia, de vez em quando (16)


Brassaï (1899-1984), pseudónimo de Gyula Halász, é um dos mais célebres fotógrafos do século XX. Húngaro nascido na Roménia, viveu e ganhou prestígio, sobretudo, em França. Os seus temas abordam a noite e a vida boémia parisiense, preferencialmente.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Apontamento 21: Populismo económico



Recomendo, mais uma vez e vivamente, um artigo do DIE ZEIT, de Mark Schieritz, que me ensinou a palavra em epígrafe, indo ao encontro daquilo que já sentia há muito. Já estou cansada destes pretensos “cientistas em economia”, i.e., de contabilidade caseira, que, na Alemanha e por cá, nos tentam “fazer a cabeça” perante a “solução única e final”.
Uns, na Alemanha e alguns alemães tresmalhados por cá, alinhados com o jornal ligeiro de referência, o DIE WELT, outros por cá, como a RENASCENÇA, tendo como cabeça de cartaz umas “excelentes senhoras” como Graça Franco, não conseguem sair do mesmo. Ou seja, concentram-se nos coitados dos pensionistas ou “aforradores” alemães que, embora cada vez mais ricos, andam a perder dinheiro com o apoio, sustentado pelo Banco Central Europeu, aos países “preguiçosos e sem remédio” do Sul da Europa. Como diz o jornalista do DIE ZEIT, relativamente aos objectivos e à acção do BCE, tudo não passa de “populismo económico” para enganar os incautos.
Ora, os jornalistas da RENASCENÇA, como “trabalho jornalístico” de cobertura das eleições alemãs de Domingo, ainda conseguiram fazer melhor. Deram cobertura a um novo partido, o AfD [Alternative für Deutschland = Alternativa para a Alemanha], que “aconselha” – veja-se a postura (!) – os Portugueses a sair da zona Euro. Sucede que o tal “partido”, com um invejável painel de 300 (!) economistas, não passou a barreira dos 5 % para entrar no Parlamento alemão.

Das duas uma, ou os Alemães são parvos, deitando para fora tanto cientista, ou os encartados académicos eram, de facto, muito fraquinhos. E por cá também temos “Helderzinhos” semelhantes.

Post de HMJ, em defesa de uma imprensa esclarecida

Em jeito de paradoxo


Haverá sempre pessoas lineares e, também (embora menos), tridimensionais, como Pessoa.

Woody Allen, em recente entrevista a "Le Nouvel Observateur"


Le Nouvel Observateur: Il parait que le Brésil veut vous produire...
Woody Allen: Sim, mas eu não tenho cenário para o Brasil! Não tenho um classificador com as rubricas «Argentina», «Israel», «Azerbeijão»...

T. S. Eliot, sobre Poesia


"Maus versos poderão ter uma voga transitória, enquanto o poeta reflectir uma atitude popular momentânea; mas a verdadeira (poesia) sobrevive, não só a uma mudança de opinião popular, mas ainda ao desaparecimento de todo e qualquer interesse à volta das questões que motivaram o arrebatamento do poeta."

T. S. Eliot (1888-1965), in A Função social da Poesia (trad. por J. Monteiro-Grillo).

Interlúdio 37 : plagiando as "Pussy Riot"...

Nos aplausos unânimes, o vídeo fez-me lembrar o antigo Soviete Supremo. Não há nada a fazer, todos os impérios têm tiques semelhantes...

os melhores agradecimentos a AVP.

Retiradas do "Público" de hoje : 2 certeiras e 1 bacoca


"Temos um Rolls-Royce a apanhar ferrugem, sem gasolina ou mecânico"
Alexandre Delgado sobre o Teatro S. Carlos.
...
"Ele (A. Ramos Rosa) foi inteiramente poeta, exasperadamente poeta (mas não no sentido depreciativo e kitsch que a palavra pode ter), inapto para a vida pragmática de funcionário, como observou o seu amigo Vergílio Ferreira."
António Guerreiro sobre Ramos Rosa.
...
"Portas fez «contacto prévio» com equipa de Woody Allen em Nova Iorque"
Título de artigo de Joana Amaral Cardoso.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

O que eu soube sobre lentilhas


Tirando o Alentejo, onde até algumas das mais humildes ervas são usadas na gastronomia, nem sempre aproveitamos bem aquilo que temos. E parece que a lentilha se dá bem em todo o território nacional. E afirmam que é uma leguminosa rica em fósforo, ferro e vitamina B.
A primeira vez que as comi, foi numa sopa Campbell, americana, e gostei. Mais recentemente, voltei a prová-las, numa sopa caseira enriquecida, que estava muito apaladada e saborosa. Hei-de bisar.
Ao que parece, os franceses é que as consomem (35.000 toneladas/ano) com regularidade, e chamam-lhe o "caviar dos pobres". Das duas qualidades (amarela ou castanha e verde), esta última é a mais apreciada e até há um chefe (Guy Savoy) que criou uma receita de "Ragoût de lentilles à la trufe noir". Outro (Jacques Marcon), talvez mais requintado, imaginou "Le cassoulet de homard aux lentilles vertes".
Estas últimas notícias li-as no "Le Monde" de 16/8/13.

Sem garantia absoluta...


Sendo, como é, tão escassa a nossa iconografia, sobretudo dos reis da primeira e segunda dinastia, fiquei surpreendido com este quadro, que eu não conhecia, retratando D. Manuel I (1469-1521). A imagem vem no último "Obs.", ilustrando um artigo sobre a expulsão dos judeus, no reinado do rei Venturoso.
Infelizmente, não há qualquer indicação sobre a proveniência ou autor do retrato, mas quis deixá-lo no arquivo virtual do Blogue, mesmo sem a certeza de ele personificar o monarca.

Idiotismos 24


Não posso dizer que tenha sido grande apreciador do Latim, nos cerca de dois anos em que o frequentei e estudei. Mas, com a idade, deu para perceber que esses rudimentos me foram e são de alguma utilidade, sobretudo, para entender a genealogia de algumas palavras portuguesas.
Está em causa, hoje, a expressão popular: não perceber patavina. Que tem um significado próximo de: não entender nada. Mas o busílis reside, fundamentalmente, na palavra - patavina. Que um dicionário banal regista como coisa nenhuma. Coisa pouca, para se entender...
Mas Antenor Nascentes, no seu Dicionário Etimológico, vai mais longe, explicando que patavina vem de Pádua (em latim, Patavium). Ora, o historiador Tito Lívio (59-17 a. c.), nascido nessa cidade, usava, nos seus escritos, muitos regionalismos de Pádua (patavismos) que tornavam a compreensão dos seus textos complicada, para quem não fosse da região. Criticavam-no por isso porque, muitas vezes, os leitores não percebiam patavina...

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

António Ramos Rosa (1924-2013)


Quando se apaga no punho
a vibração
- quando a mão suspende o gesto
e o silêncio não fala

todo o diálogo se perdeu

- ninguém viu a flor
ou ela está ausente


António Ramos Rosa, in Estou vivo e escrevo sol (pg. 21).

A par e passo 58


Nos tempos modernos, não há uma potência, nem um império na Europa que tenha conseguido permanecer na sua supremacia, dominar à sua volta, nem mesmo manter as suas conquistas, mais de cinquenta anos. Os maiores homens falharam nesse ponto: Carlos V, Luís XIV, Napoleão, Metternich, Bismarck, duração média: quarenta anos. Sem excepção.

Paul Valéry, in Regards sur le Monde actuel (pg. 31).

Memória (82)


Colhida do Blogue Memórias de Araduca (sobre Guimarães), esta fotografia, provavelmente dos anos 40, testemunha a amplitude deste exercício-exibição anual do corpo de Bombeiros Voluntários de Guimarães. Inicialmente tendo por cenário o prédio dito do Luizinho das Máquinas, na Praça do Toural, posteriormente viria a ter lugar no próprio Quartel dos Bombeiros, da cidade.
Era um exercício espectacular, com várias fases, que compreendia até um simulacro de incêndio e a que eu assistia imprescindivelmente, na infância, com um sentimento de heroismo admirativo por estes soldados da paz, e onde se misturavam as emoções da epopeia. Hoje, infelizmente e sobretudo neste ano pesado de fogos, é o sacrifício que tem presidido à nobre tarefa dos Bombeiros portugueses. E a tragédia.
De algum modo este poste é uma homenagem à sua actividade solidária.

domingo, 22 de setembro de 2013

Apontamento 20: Max e Moritz



Os apelos à concórdia nacional surgem, como todos já perceberam, quando o "professor de Belém" e o "menino de S. Bento" andam aflitos. Infelizmente, no "serrim" das suas cabeças não se encontra grão que possa vingar. E o "menino do Rato", qual Max e Moritz, não quer brincar com o "menino de S. Bento", porque são muito semelhantes nas suas travessuras.


Ora, quando o PM, passados quase dois anos e meio de "des"governo, "duvida que Portugal regresse aos mercados com os juros da dívida - outra vez - nos 7%", o povo quer saber onde está o colchão - e a quem pertence - que guarda, por debaixo, tanto dinheiro tirado aos necessitados. 

Os outros, ainda construíram estradas para passearmos e olharmos para os novos "moinhos de vento" no Oeste. Agora, com o país parado, sem perspectivas nem estratégia, pergunta-se por onde andam tantos milhões.

Post de HMJ

Divagações 56


A visão do mar leva-me, quase sempre, para longe.
Os naufrágios de família que, às vezes, sepultamos sob escombros, inesperadamente e sem querermos, podem voltar à tona.
Nesta incomodidade, é talvez útil reavaliarmos o peso, a justeza de decisões que foram tomadas, as consequências. Embora saibamos, de alma, que já não podemos mais voltar atrás.
Depois, com racional crueza, é melhor fecharmos, outra vez, a porta do porão no navio submerso.

para H. e H. N., afectuosamente.

Os bons dos americanos, e a propósito da Síria.


Em prol do rigor e para colmatar a habitual e crassa ignorância geográfica dos americanos, há que corrigir o gen. Clark, quando diz, indirectamente, que não há petróleo em África...
Então a Nigéria e Angola, ó meu General?!...

os melhores agradecimentos a AVP.

Livrinhos 20


Seria de pouca altura (como o livrinho, aliás) e muito magro, este castelhano e fidalgo Don Jerónimo de Cáncer y Velasco (1599?-1655), mas de feitio alegre e chistoso. Poetava maviosamente, mas também com espírito e graça, de tal modo que lhe publicaram esta edição (3ª ibérica e 1ª, em Lisboa) póstuma, por cá, em 1675. Teria, com certeza, admiradores portugueses. Edição maneirinha, de 7 por 12cm.
O exemplar é raro e contam-se apenas 7 exemplares em Espanha e, segundo Viterbo, existiam 3, em Portugal (Ajuda, BNP e BPP). Este meu simpático exemplar, foi comprado nos idos de 90, já encadernado em pergaminho, mas teve que ser restaurado, com atenção e carinho, por HMJ. Tem pequenos defeitos que atingem (pouco) o texto, nas páginas 221 a 224. Palau regista-o sob o nº 41859.

sábado, 21 de setembro de 2013

NSA, o irmanzão ou a grande coscuvilheira


Na galeria sinistra da História, é garantido que o general Keith Alexander, patrão-mor da NSA, ficará na boa companhia dos Beria, dos Silva Paes, de Joseph MacCarthy. Não ficarão isentas, todavia, as almas cândidas que os permitiram: Estaline, Salazar, Eisenhower, Obama.
A NSA, ultimamente, voltou a conspurcar, na sua paranoia doentia, este nosso Blogue, em visitas frequentes que repudiamos. A forma mais soez sob que se apresenta, é via Colorado, Colorado Springs, através da adelphia net, com a IP Adress 69 171 235 - ficam a saber.
Mas há ainda outras formas dissimuladas de vir coscuvilhar os Blogues. Aqui vão mais algumas IP Adress, com que se denuncia:
173. 252. 73
173. 252. 106
31. 13. 97
31. 13. 99
31. 13. 100,
e há mais...
Não as lancei todas, porque é provável que a NSA, ao registar este poste, se travista, disfarçadamente, de outras identidades, para continuar a fazer o seu sujo e nojento trabalho doentio.

Em tempo: 4 minutos e 9 segundos depois de ter sido publicado este poste, a NSA veio registá-lo...

Citações CLII


Pouco importa que um gato seja branco ou preto, desde que ele cace os ratos.

Deng Xiaoping (1904-1997).

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Os nóveis nautas lusos


É o que está a dar!
O Gonçalo, pioneiro, foi à Índia. O Peixoto, melífluo mas ousado, à Coreia do Norte. E o hugo mãezinha, mais atávico por causa da Família, ficou-se por mais perto: aproou à Islândia, que ainda fica na Europa.
E, depois, todos fizeram, em verso ou prosa, relatórios detalhados das suas navegações.
É comprar, meus senhores, é comprar!... 

Ervas daninhas


Quando vejo alguns arquitectos abandonarem a profissão, para que estudaram, e adoptarem o ofício de comentadores políticos, fico de pé atrás, desconfiado. Se não se sentiam capazes de projectarem casas, como é que se sentem suficientes para pensar o futuro de um país?
Há, por aí, 2 abortados arquitectos (um deles ex-) directores de jornais que, decerto, estudaram para construtores civis metafísicos, mas cedo abandonaram a vocação. Um deles, que ainda é director de um semanário, rendeu-se às benesses da alta cleptocracia angolana; o outro, mais gorducho, que já não é director de um jornal diário, mais ainda lá escreve, periodicamente, faz a sua vidinha à sombra de uma fundação (portuguesa) offshoreanamente holandesa. Que lhes faça bom proveito terem trocado de alma.
Os miguéis de vasconcelos sempre estiveram entre nós. Mudam é de roupas e de máscara.

Colheita da manhã : algumas palavras


"...O «pensador» - a categoria portuguesa com este nome - está cheio de visões do mundo, mas falta-lhe aquilo que desde sempre sobra no filósofo: uma visão da linguagem, uma interrogação sobre o significado das palavras. Daí a ilusão de transparência que transmite, que é uma transparência ingénua, semelhante à dos poetas que têm muita coisa para dizer e muitos sentimentos para exprimir. São, à sua maneira, realistas alucinados."

António Guerreiro, in "Pensadores e filósofos" (ípsilon, jornal Público, de 20/9/13).

Comic Relief (73)


A culpa não será do candidato, mas seguramente da patronímia...

com agradecimentos a AVP.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Apontamentos 19: Coincidências




Num dia em que circulava pelas luminosas avenidas de Lisboa, apreensiva com as últimas façanhas que os “Helderzinhos” da nossa praça andam a congeminar, cruzei-me com um antigo ministro das finanças – efémero e transmigra – embora ostentando mais “gordura de estado”, como o outro nogueira “saltitão”, andava cabisbaixo, tentando, porventura, esconder a face para não ser reconhecido.
A triste figura deu para eu pensar na minha suposta ignorância “económica” – ou economicista – perante o “vulto” com que me cruzei. Confesso que o inesperado encontro não deu para afastar as minhas últimas suspeitas, declarando que não sou propícia a “universo de conspiração”. Mas, como diz o ditado: “Que as há, há”, e grandes.
Ora, vejamos. No dia em que chegaram os “troikanos”, disfarçados em simples ouvintes, porque não “tinham tido tempo para se prepararem” (!) – diriam, de nós, INCOMPETENTES, caso fôssemos para um centro de decisão sem preparação – uma “agência de ratos” ameaça Portugal com uma descida de “rating” numa óbvia tentativa de subjugar a vontade e determinação de uma nação independente. Curiosamente, o suposto “presidente de todos os Portugueses” já se tinha adiantado ao repto de se declarar indigente perante as altas “sumidades” internacionais.
Mais surpreendente, ainda, que vários jornais, duvidosamente neoliberais alemães, enalteciam, hoje, a recuperação da zona euro, com especial destaque para a Irlanda e, com reservas, para a Grécia. O partido da Senhora Merkel precisa, com certeza, de algum conforto para as eleições de Domingo. Escolheram-se, à sorte, os dois países no “ranking” positivo, em detrimento de Portugal e silenciando a Espanha e o escândalo da “figura de cera” italiano.
As “altas instâncias internacionais” enganaram-se novamente, porque não sabem avaliar as consequências das suas medidas na destruição da paz na Europa e perante o avanço das forças neo-nazis, na Grécia e na Alemanha.
Não sou, de facto, formada em Economia, mas acredito na Ciência – com maiúsculas – seja qual for o seu ramo e desde que se centre no essencial, i.e., o bem-estar e a paz da Humanidade.


Post de HMJ

Curiosidades 77 : de alguns insectos voadores


Do meu desamor por alguns insectos nomeio, por ordem decrescente, os meus ódios de estimação: moscas selvagens, melgas e mosquitos teimosos. Apesar de tudo, até tenho alguma simpatia pelas vespas, mesmo quando agressivas. Lá terão as suas razões de animosidade, porque eu, na infância, as cacei muitas vezes com aquelas enormes caixas de fósforos de cozinha, abrindo e fechando rapidamente a caixa, quando elas pousavam, com demora, sobre algumas flores - assim morreram algumas, mas agora deixo-as em paz.
Em relação às minhas preferências, vem à frente as libélulas. Mas as laboriosas abelhas e os grandes besouros, onomatopaicos de nome (pelo menos, no Norte), seguem-nas de perto, na minha estima. O que eu não sabia, até há pouco, é que existem no mundo cerca de 250 espécies de abelhões ou besouros, de que o Bombus hypnorum (em imagem) é apenas uma. São grandes polinizadores e quase imprescindíveis nos tomateiros, para eles darem fruto. De tal forma, que são introduzidos, pelos humanos, nas estufas, pela sua eficácia.
Simpáticos, à vista, reconhecíveis pelo seu bzz característico e forte, tem solidariedade grupal quer na defesa, quer na alimentação colectiva. Mas, como não há bela sem senão, são também considerados regicidas (matam o chefe, algumas vezes) e incestuosos. Por outro lado as famílias, e até algumas das espécies, têm diminuido e há 3 ou 4 em vias de extinção. Na Inglaterra, por exemplo, as flores diminuiram drasticamente depois da II Grande Guerra e os besouros sofrem com isso. Para o efeito foi criado, em 2006, o Bumblebee Conservation Trust que, todos os anos, planta milhões de sementes de flores variadas, pelas florestas e campos maninhos.
E por cá?

Um pequeno poema de Gerardo Diego


Guitarra

Haverá um silêncio verde
todo feito de guitarras desatadas

A guitarra é um poço
com vento em vez de água


Gerardo Diego, in Imagen.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Bibliofilia 87


Estas edições iniciais, com as capas em imagem, de "Uma Abelha na Chuva", de Carlos de Oliveira (1921-1981), não são muito frequentes em aparecer à venda - quem as tem, chama-lhes suas... Porque, além do Escritor fazer grandes revisões aos textos, foram ilustradas por dois dos maiores capistas portugueses. 
A 1º edição (1953), impressa na Coimbra Editora, tem capa de Victor Palla. A segunda edição, de 1960, publicada pela Editora Ulisseia, foi ilustrada por Sebastião Rodrigues sobre fotografia de António Sena da Silva. A terceira capa, a vermelho e dourado, pertence a uma edição especial de 1.600 exemplares ( o meu, assinado por Carlos de Oliveira, tem o nº 1.546), editada pela Limiar (Porto), em 1976, com 6 guachos de Júlio Pomar, concebidos para o efeito.
A título de curiosidade, lembro que Fernando Lopes (1935-2012), em 1971, realizou um filme homónimo, baseado nesta obra de Carlos de Oliveira.

Mercearias Finas 77


De fritas, não reza a história. Porque a História é feita, habitualmente, de grandes acontecimentos, de duques, reis e condes, omitindo os pequenos artífices, como a borboleta que, na China, batendo as asas, inocentemente, vai provocar, por um milagre gradual, um vendaval devastador, no outro lado do mundo.
As fritas são, como as azeitonas, um acompanhamento ou entrada, modesto, e, como não conseguiram, por rusticidade ou timidez, integrar-se na nouvelle cuisine, não é de bom tom falar delas. Mas, se tivessem ambição, quase poderiam ser crepes. Infelizmente, não foram estudadas para tanto, e são muito mais estaladiças.
Pois, aos anos que eu não como fritas, como se faziam em minha casa!... Que me lembre, levavam apenas farinha, sal e água mas, se bem frigidas, em lume lento e brando, ficavam deliciosas e tostadas com pequenas manchas mosqueadas de castanho claro. E, tirando as batatas fritas, eram para mim o melhor acompanhamento de um bife de alcatra ou de vazia.

Obs.: um agradecimento especial à Monika, em cujo acervo iconográfico encontrei a única imagem de fritas. Ou, pelo menos, parecida.

Divagações 55


Não basta o bom do Rousseau, para definir o futuro, nem as suas perspectivas - o presente é muito mais complicado, porque as circunstâncias são outras...
O passado, até há pouco mais de 10 dias, por aqui, era campestre. Eram murmúrios suaves, palavras sossegadas, ouvidas ao longe; é certo, também, que um ou outro grito, mas espaçados e com pausas descansadas. Era o canto melodioso de pássaros silvestres a que, às vezes, se juntava o pio desagradável de uma gaivota dissonante. Havia harmonia e silêncio bastantes.
Entretanto, os jardins de infância suburbanos abriram, aqui à volta. E agora o que predomina são os grunhos, os guinchos, os gritos, os clamores estrídulos de criancinhas ululantes. Que, decerto, já se vão preparando, na maioria dos casos, para a selva adulta que os espera...

Regionalismos transmontanos (7)


1. Andarego - que anda bem. Ligeiro.
2. Andeja - vagabunda.
3. Andorinho - indivíduo leviano.
4. Angelco - tolo, pateta, simplório.
5. Apajar - cortejar, acompanhar. Lisongear.
6. Aperrear - insultar, enxovalhar, caluniar.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Pequena história (24)


No início de Novembro de 1963, diversas suites do Hotel Texas, em Forth Worth, próximo de Dallas, foram reservadas para a comitiva presidencial americana lá pernoitar, de 21 para 22 desse mês. A melhor suite do Hotel, por não oferecer tanta segurança, foi destinada ao vice-presidente Lyndon Johnson e mulher; a suite 850 foi reservada para o casal Kennedy. Para compensar o facto, as forças vivas de Dallas resolveram fazer uma surpresa ao Presidente e, com a ajuda dos museus regionais e de alguns coleccionadores particulares, projectaram decorar, régia e artisticamente, os três aposentos da suite 850.
Foram assim seleccionadas 16 obras de arte, onde se incluiam uma escultura de Picasso (A coruja zangada) e outra de Henry Moore, telas de Van Gogh (Estrada com camponês de sachola ao ombro), de Monet (Retrato da neta do Artista) e de Raoul Dufy (Baía de Deauville). Sendo as restantes obras de artistas americanos modernos: Thomas Eakins (Swimming), Marsden Hartley (Sombrero with gloves), entre outros quadros, bem como pequenas esculturas de Jack Zajac. Nenhuma destas obras tinha, na altura, mais de cem anos.
O casal presidencial Kennedy chegou à suite, cansado, pouco antes da meia noite, e ninguém sabe se apreciou, devidamente, a surpresa. O que sabemos é que foi a última noite dormida, com vida, por John Kennedy. A 22 de Novembro de 1963, seria assassinado nas ruas de Dallas.
O Museu de Arte de Dallas decidiu, recentemente,  comemorar a efeméride e o facto, inaugurando, nas suas instalações, uma exposição que reagrupa, de novo, as obras de arte que estiveram na suite 850 do Hotel Texas de 21 para 22 de Novembro de 1963. Só faltavam o retrato da neta de Monet e a paisagem marítima de Dufy.

Uma fotografia, de vez em quando (15)


Provavelmente, o fotógrafo chileno mais conhecido, Sergio Larraín (1931-2012) teve, no entanto, um exercício profissional bastante curto. Da sua integração na Agência Magnum, em 1959, até ao abandono gradual da actividade ao longo dos anos 70, deixou pelo caminho importantes contribuições para a fotobiografia do poeta Pablo Neruda e alguma inspiração para o "Blowup", de Antonioni, bem como uma galeria impressiva de retratos das gentes do povo chileno.