sábado, 30 de junho de 2012
As palavras do dia, antes que o Euro se acabe
As palavras são de José Pacheco Pereira, no jornal Público, de hoje, e num esplêndido artigo intitulado Morte cerebral. Aqui vai um excerto:
"...Eu não sei se estes intelectuais pró-bola percebem o desprezo que têm pelo «povo», cujas exibições de grunhice eles apresentam como genuínas manifestações de ser português, pelo menos no futebol onde somos «grandes», enquanto somos pequenos em tudo o resto. Não, eu gosto demasiado do meu povo para achar que «este» é o meu povo, ou que este é o seu estado mais «natural» e genuíno.
Mas este é apenas o intróito porque o meu ponto é outro: é de que estamos perante uma construção que tem muito de artificialismo, que é gerada essencialmente por uma droga sintética, na qual se movimentam muitos interesses, dos media em crise, desesperados por audiências, por equipas de Mad Men à portuguesa, e pelas empresas de cervejas que procuram um público cada vez mais novo, que beba até ao estado de estupor, mesmo que depois falem gravemente dos malefícios do álcool. (...)"
E Pacheco Pereira termina, assim, o seu artigo:
"...Tudo isto está bem longe de ser gostar de futebol, "vibrar" pela equipa, ver os jogos, entusiasmar-se ou desgostar-se. Está muito para além disso. Isto é lavagem ao cérebro, e está cada vez pior."
Benzedura
De responsos a Sto. António, para encontrar objectos perdidos, ainda me lembro eu de os ouvir na infância, agora de benzeduras para o quebranto acho que nunca as presenciei. Seriam remédio santo, mas nem todos ou todas as saberiam dizer. Esta, que vou transcrever, foi colhida na freguesia da Alagoa, Portalegre. Segue:
de lua e quebranto;
Se tens na cabeça,
valha-te Santa Teresa;
Se tens na cara,
valha-te Santa Clara;
Se tens nos olhos,
valha-te Santo António;
Se tens nos braços,
valha-te o Senhor dos Passos.
Se tens no peito,
valha-te o Senhor do Outeiro;
Se tens na barriga,
valha-te Santa Margarida;
Se tens na espinha,
valha-te Santa Catarina;
Se tens nas pernas,
valha-te Santa Madalena;
Se tens no corpo,
valha-te o Senhor do Conforto."
E, depois desta ladaínha resmoneada, havia que rezar um Pai Nosso e, por três vezes, uma Avé-Maria. Em seguida, num prato com água deitar 5 pingas de azeite e, do lado oposto, deitar outras cinco. Se elas se espalhassem, era sinal de que a pessoa benzida tinha "quebranto"; se não se espalhassem, era porque não tinha.
Não seria caro, este fármaco...
Não seria caro, este fármaco...
Turismo e história
Já por lá passei, e é um castelo bem bonito este dos Condes de Gand (ou Gent, em flamengo), bem defendido porque os ruanos da cidade eram reivindicativos e exigentes, para com os seus senhores. E, diz-me o Amigo que me mandou o postal, que Carlos V por lá nasceu, numas casas próximas e térreas de que já só há memória em gravuras antigas, porque foram deitadas abaixo.
Vale o que vale (3) : os bons e os maus
Não sou fanático, nem excessivamente crédulo em relação a este tipo de conselhos que vão aparecendo, pela imprensa, de tempos a tempos. Porque me lembro, ainda, em 1975, da intensa propaganda a favor do consumo do óleo alimentar, em detrimento do consumo do azeite. Parece que, na altura, havia grandes excedentes de óleo, em Portugal...Por isso, muitas vezes, nestes conselhos alimentares há agendas e propósitos escondidos, em relação aos bons e aos maus alimentos.
De qualquer forma, aqui deixo, directamente de "l'Obs" (2486), e do cozinheiro Thierry Marx, estrelado do Michelin, a lista dos bons e dos maus, segundo ele próprio, com as explicações argumentativas.
sexta-feira, 29 de junho de 2012
O início de um dia perfeito
Uma manhã perfeita, com sol e céu azul, começa com uma ida à Praça da Ribeira para encher o olhar e a alma.
Para além dos fresquíssimos bifes de atum, a pequena couve penca para o arroz, encontrei a oliveirinha que se apresenta a seguir.
Comprei-a numa bancada de fruta, rodeada de pequenas árvores de fruto. Olhei para os arandos, as framboesas e, depois de meia volta a pensar, resolvi levar a oliveira. Será, porventura, netinha de uma árvore maior que se encontra na varanda outrabandista.
Mas foi a "cereja em cima do bolo" que me encheu as medidas. Enquanto pagava a oliveirinha, pousou um pardal na caixa de cerejas, bicando-as e aproveitando a distracção da vendedeira.
Post de HMJ
Memória 71 : Confluências
Giacomo Leopardi nasceu a 29 de Junho de 1798 e Vittorio Gassman faleceu neste mesmo dia, no ano de 2000. Ambos italianos, já aqui confluiram num poste, em 16 de Abril de 2012, em que Gassman diz o poema " A Silvia". Das mais conhecidas e difundidas obras de Leopardi, "L' Infinito", deu-nos Pedro da Silveira (1922-2003) uma belíssima versão, em português, que se transcreve, em seguida:
O Infinito
Sempre caro me foi este ermo outeiro,
e esta espessura, que por tanta parte
do mais longe horizonte o ver me impede.
Mas sentado e olhando, intermináveis
espaços além dela, sobre-humanos
silêncios, e fundíssima quietude
na mente eu imagino; até que quase
o coração se assusta. E quando o vento
ouço bulir entre as ramagens, esse
infinito silêncio a esta voz
vou comparando: e considero o eterno,
mais as mortas idades, e a presente
e viva, e sua voz. Assim entre esta
imensidade o meu pensar soçobra:
e o naufrágio me é doce neste mar.
quinta-feira, 28 de junho de 2012
Favoritos LXVI : Henri Matisse
É um quadro que, à partida, dificilmente atribuiríamos a Henri Mattisse (1869-1954), porque ainda não tem a marca do seu estilo, nem o despojamento e simplicidade das suas obras de maturidade e velhice. É um quadro de juventude, feito antes de completar 30 anos, e intitula-se "Marine à Goulphar" e, a propósito da sua estadia na região, Matisse referiu que "foi seduzido pelo clarão da cor pura".
Celso Emílio Ferreiro
Pouco antes de morrer
disse ele ao povo:
Deus te dê ira,
que paciência tens de mais.
Nota: esta versão do poema do galego Celso Emílio Ferreiro (1912-1979) é devida a Pedro da Silveira.
Ressaca do quatro a dois
Como ficámos pelo caminho, não houve a ululante gritaria da festa suburbana, a parafrenália das vuvuzelas, a histeria uivante pela madrugada. Apenas um silêncio sepulcral pela noite sossegada. Valha-nos, ao menos, isso...
quarta-feira, 27 de junho de 2012
Vozes
Robert Zimmerman completou, há pouco mais de um mês (24/5/12), 71 anos. E, a 29 de Maio de 2012, o mesmo homem, de seu nome artístico, Bob Dylan recebeu, das mãos do Presidente Obama, a Medalha da Liberdade, a mais alta condecoração civil norte-americana. O Presidente, na altura da cerimónia, referiu que não havia, "na história da música americana, um gigante maior".
Da indisciplinada e bravia voz da Callas, das palavras cantadas, que parecem cair da tripeça (como costumo dizer), de Alfredo Marceneiro, até à trémula e aparentemente enfraquecida voz anárquica de Dylan, pergunto-me: o que fará a magia destas vozes?
E não sei responder.
Amizade, Guimarães Rosa e os cheiros
Dos amigos, mesmo, é não esquecermos do que eles gostam. E, mais ainda, dos verdadeiros amigos, é vermos que, na hora de nos darem um presente, eles resistem à tentação de nos oferecerem coisas de seu próprio gosto, para nos trazerem algo muito do nosso próprio gosto e afeição. Não faz muitos dias, que um Amigo me entregou "Noites do Sertão", de Guimarães Rosa. "Já tenho - protestei - em edição portuguesa!"; e ele: "Mas esta é a edição brasileira!" - retorquiu, convicente. Como é que eu poderia resistir...
Já o disse aqui, no Blogue, que cheguei a Rosa, por conselho do Eugénio que, quando eu lhe disse que ia para a tropa referiu, em carta: "Leia o Guimarães Rosa, talvez ajude..." E ajudou, realmente. Pois, hoje, passa mais um aniversário do grande prosador brasileiro, nascido a 27/6/1908, em Cordisburgo. E, como lê-lo é lembrá-lo, aqui vai um cheirinho de "Noites do Sertão" que eu li, pela primeira vez, no já longínquo ano de 1970. Segue:
"...Do cheiro, mesmo, de Doralda, êle gostava por demais, um cheiro que ao breve lembrava sassafrás, a rosa mogorim e palha de milho viçoso; e se pegava, só assim, no lençol, no cabeção, no vestido, nos travesseiros. Seu pescoço cheirava a menino novo. Ela punha casca-bôa e manjericão-miúdo na roupa lavada, para exalar, e gastava vidro de perfume. Soropita achava que tanto perfume não devia de se pôr, desfazia o próprio daquela frescura. Mas êle gostava de se lembrar, devagarinho, que estava trazendo sabonete. Doralda, ainda mal enxugada do banho, deitada no meio da cama. Tinha ouvido contar da casca da cabriúva: um almíscar tão forte, bebente, encantável, que os bichos, galheiro, porco-do-mato, onça, vinham todos se esfregar na árvore, no pé... Doralda nunca o contrariava, queria que ele gostasse mesmo do seu cheiro: -«Sou sua mulher, Bem, sua mulherzinha sòzinha...» A cada palavra dela, seu coração se saía. ..."
terça-feira, 26 de junho de 2012
Os meninos incontinentes
Parece que há dúvidas sobre qual dos meninos exerce a sua função pública há mais tempo. Os de Grammont dizem que é o seu, e não o Menneken Pis de Bruxelas, que iniciou a sua actividade fisiológica apenas em 1719. Seja como for, os meninos mijões são belgas e célebres.
com agradecimentos a A. de A. M..
segunda-feira, 25 de junho de 2012
Já só falta S. Pedro...
...mas a criatividade e a sardinha, portuguesas, continuam...
As 193 propostas da temática "Sardinha" podem ver-se na Galeria Millenium (Rua Augusta, nº 96, Lisboa), em exposição, até 20 de Setembro de 2012.
Motivos de orgulho
Não é todas as semanas que um conceituado jornal literário fala de Portugal, neste caso, o TLS (The Times Literary Supplement), que traz no seu último número (5699) referências e destaques, com iconografia alusiva a 2 artistas portuguesas. Precisamente, a Joana de Vasconcelos, a propósito da sua exposição em Versailles (de que aqui falámos, muito recentemente), e a Paula Rego.
Felizmente, nem tudo são agruras...
domingo, 24 de junho de 2012
Fragmentos
Depois de Valéry, vendo passar as aves, já é tempo e horas de regar as plantas.
A vida é, em si, uma sucessão de capítulos desirmanados, quando não é de fragmentos de acaso e tarefas pontuais de obrigação, com alguns intervalos de prazer a que, por vezes, nos podemos dedicar. Interligados por um corpo, pontualmente, acrescido de um espírito.
E os portugueses são mestres a defrontar o imprevisto e a abandonar-se ao fragmentário. Mesmo aqueles que, dotados de talento, se dispersaram em obras menores, delapidando a qualidade que teria podido produzir uma obra maior, mesmo que fosse a única. Talvez por isso somos um país de poetas e não de coerentes romancistas. Mas não somos os únicos.
Abordemos três casos estrangeiros, para vermos o tema mais a frio. Três nomes: Alain, Paul Valéry, E. M. Cioran. Cronologicamente: a paciência, a intensidade, a provocação. Porque também o que ressalta é o fragmentário das suas obras. E se é estimulante lê-los!... No entanto, nunca farão o corpo perfeito dos "Essais" de Montaigne (pese embora um pendor fragmentário), ou microcosmo do absoluto e universal que encontramos em "O Leopardo" de Lampedusa.
Creio que falta, muitas vezes, ao talento a estratégia que pode produzir o génio.
Livrinhos 10 : Teatro
Não sendo muito frequente, acontece, por vezes, aparecerem à venda, em alfarrabistas, livros cujo carimbo de posse remete para bibliotecas públicas ou identificadas. Pode haver várias razões para o facto. A mais frequente é essas bibliotecas terem acabado e, sendo desfeitas, dispersaram-se por compradores diversos, como foi o caso, aqui há uns bons 20 anos, de um acervo de volumes em língua inglesa que pertencera a um convento (?) ou comunidade religiosa de frades irlandeses, em Lisboa. Comprei 2 ou 3 livros desses, que tinham o respectivo carimbo de posse. Mas, outras vezes, as obras são mesmo desviadas, por leitores pouco honestos, e depois vendidas, chegando assim ao mercado alfarrabista.
Será o caso (?) deste voluminho que me ofereceram, há anos, e que ostenta o carimbo da Biblioteca Damianeum (terá por patrono S. Damião), da localidade holandesa de Simpelveld, no Limburgo, que terá hoje cerca de 11.000 habitantes, pelo que apurei. Por breve investigação fiquei também a saber que esta Biblioteca, criada no séc. XIX, ainda hoje existe e funciona. O livrinho (7,5 x 11 cm.) é que viajou muito... Impresso em Bielefeld (Alemanha), no ano de 1849, em língua francesa, terá sido adquirido (ou oferecido) pela referida Biblioteca holandesa e, depois, alguém o terá "desviado" para Portugal. Recebi-o de presente, há cerca de 5 anos. O livrinho é de Teatro e tem peças de Moliére, Musset e outros escritores franceses.
para MR, que iniciou esta temática, no Prosimetron.
Instabilidade
É por esta e por outras que os menos avisados, como a sra. Merkel, consideram os portugueses uns preguiçosos... Agora, imaginem o que vai ser desta coluna vertebral, quando o homem chegar aos 60 anos.
sábado, 23 de junho de 2012
Luz
Quando começo a ouvir sussurros de novas (?) austeridades (Quosque tandem, Catilina, abutere patientia nostra?), a única coisa que ainda me consola é esta luz portuguesa, tão singular e tão bela, que nos é dada. E que me permite poder ler, em Junho, depois das 9 da noite, na varanda - já o sol vai quebrado.
E, no entanto, tão pouco falamos dela!... Teixeira Gomes tem páginas, por ela, iluminadas, mais a sul; Sequeira teve fulgurações dela, nos seus quadros e Vieira da Silva, longe, tentou recuperá-la, por saudade, decerto. Pouco mais... Sejamos justos: o azul de Maluda tem, também, essa luz lisboeta. E Eugénio fala dela como, só ele, podia falar: "...e a luz / impura, até doer."
Filatelia L : as Alemanhas
Comecei por coleccionar os selos da República Federal Alemã (1946/90), pela beleza e sobriedade do traço, pela austeridade das cores: até quase 1957 eram monocromáticos. Depois, porque a oferta era muita e os correspondentes filatélicos, também, iniciei o ajuntamento de selos da República Democrática Alemã (DDR). Eram um pouco mais berrantes (vermelho a predominar, naturalmente), mas também bonitos. Só muito tarde na vida me comecei a interessar pela filatelia dos ditos antigos Estados Alemães. Da barroca Baviera à comercial e hanseática Hamburgo, dos clássicos e austeros selos da Prússia aos pouco imaginativos de Württemberg. Foi por aqui que comecei a perceber que há várias Alemanhas...
para HMJ.
Antevisão
O Verão anda no ar, que a temperatura subiu, finalmente. E, no ar, também se cruza a miscigenação desordenada de que fomos feitos: de pontos diversos, a música das marchas joaninas, a morna e a marrabenta coexistem num medley improvável. Se por aqui ficar, na varanda, ainda hei-de ouvir fado, e a música pimba há-de abafar o tímido cantar dos pássaros e o arrulhar das rolas.
Seja como for, o subúrbio saracoteia-se e, nisso, seremos mais uma vez pioneiros: as previsões apontam para que, em meados deste século (2050?), a Europa seja um continente, maioritariamente, mestiço.
Vale o que vale (2)
Já aqui coloquei (26/5/2010) um postal com o mesmo tema e a que dei o mesmo título de poste. Mas as características dos dias do nascimento são totalmente diferentes, se não antagónicas, entre eles. Compreende-se: quem os oferecer ou enviar, poderá escolher as que se aplicam melhor ao aniversariante.
Por isso, vale o que vale...
sexta-feira, 22 de junho de 2012
Recomendado: vinte e oito - uma opinião sobre política cultural
O subtítulo deste poste esteve para ser: Sobre a inexistência ou irrelevância do comissariado da Cultura; ou ainda - A penumbra tutelada da Cultura portuguesa. Mas preferi dar o seu a seu dono, objectivando um magnífico artigo de opinião de António Pinto Ribeiro, especialista da matéria, que vem no suplemento ípsilon do jornal Público, de hoje.
Para quem vai acompanhando, minimamente, este tema, é líquida a indigência que atravessa este sector. Bem como o desnorte, muitas vezes, por omissão. Vários representantes da Cultura, em Portugal, se têm feito eco do estado comatoso em que ela se encontra, mas esta opinião de quem está dentro do assunto (António Pinto Ribeiro) é mais vasta, objectiva e racionalmente pertinente. Deve e merece ser lida.
Do artigo de opinião, três breves citações, que não dispensam uma leitura integral:
1. "...a opção não está entre investir nestes sectores (artísticos e culturais) ou insistir na compra de submarinos, abrir excepções permanentes nos salários de gestores de empresas onde o Estado participa..."
2. "Porque a decisão da desvalorização da actividade artística não é financeira, é política."
3. "Ora assim se explica como, quando 24 dos países da EU têm um Ministério da Cultura, Portugal tivesse deixado de o ter, ao contrário do que acontece em todos os países da América do Sul, nos países africanos, asiáticos..."
com a devida vénia a A. P. Ribeiro e ao jornal Público.
Máxima (e, por isso, comprida e sem imagem)
É por isso que eu já não consigo gostar de futebol.
O entrecosto estava óptimo, o ar, leve, e a luz de Verão insinuava-se feliz na esplanada outrabandista.
Mas, depois de uma vitória da selecção nacional, é impossível, num restaurante mediano e popular, pensar se estivermos sozinhos, ou dialogar, se acompanhados. A menos que se grite, porque todos berram, alguns até de mesa para mesa, tentando fazer prevalecer a sua sabedoria de treinadores de bancada e exímios conversadores da treta. Não há remédio: ninguém se lembra da crise, e Salazar sabia-la toda, com a sua estratégia dos três eFes. Mas isto, agora, está muitíssimo pior...
Tive que comer a torta de laranja à pressa e afastar-me, rapidamente, da Babel.
Tive que comer a torta de laranja à pressa e afastar-me, rapidamente, da Babel.
APS, in 22 de Junho de 2012 ( no dia seguinte à vitória sobre a selecção da República Checa, por 1-0).
P.S.: que acosta, no seu lídimo "O Linguado", me desculpe, mas há coisas superiores ao meu desportivismo democrático.
quinta-feira, 21 de junho de 2012
Insólito, espanhol e interventivo
Não sei se este tipo de acções conseguirá atingir resultados práticos, mas é como se fosse um grito de denúncia no coração do escândalo. E ainda não desesperei de um dia ver nas Agências de ratos (Rating agencies) algumas intervenções "musculadas" da Juventude mais esclarecida...
Esta intervenção de "Indignados" espanhóis foi feita numa dependência de Sevilha (?) do Bankia que, mal gerido, veio a provocar o pedido de resgate, por parte do governo de Espanha.
com agradecimentos a AVP.
Curso breve, mas intensivo...
O postal é belga, mas a linguagem acaba por ser universal, embora originária da China. E é um ponto de partida para quem queira ensinar, ou entreter crianças pequenas sobre as virtualidades da luz/sombra e das mãos humanas. Já não é pouco...
Um abraço fraterno e grato para o António.
Adagiário XCV
Este ditado, ouvi-o a um amigo e, consultados os meus rifoneiros, não o achei registado. Como o acho bem apanhado, aqui fica para que se não perca:
"A estopa ao pé do lume, até o diabo lhe assopra."
Pinacoteca Pessoal 32 : Hubert e Jan van Eyck
Encomendado por um rico burguês flamengo (Joost Vidgt, que está representado na pintura), este magnífico políptico iniciado por Hubert van Eyck, foi acabado em 1432, pelo irmão, Jan van Eyck. Composto por 24 painéis, encontra-se na Catedral de Gand, e é considerado património mundial.
Sendo, como é, uma obra-prima dos primitivos flamengos, esta "Adoração do Cordeiro Místico" não justifica mais palavras, mas uma admiração silenciosa. E atenta.
com os melhores agradecimentos a A. de A. M..
quarta-feira, 20 de junho de 2012
Como cozer a lagosta
A protecção e defesa dos animais, por parte dos ingleses, que marca fortemente a sua cultura, pode explicar o que se conta a seguir e que, ao longo de vários números do TLS, quase assumiu um lado polémico, através de algumas cartas de leitores.
Há pouco mais de um mês, uma recensão crítica, a um livro sobre lagostas, referia o método clássico (como também se usa em Portugal) de mergulhar o animal em água fervente, ainda vivo, para o matar e cozer. As cartas à redacção do TLS dispararam, sublinhando e insurgindo-se contra o método cruel e desumano da operação. Algumas delas referiam que seria mais aceitável que se mergulhassem as lagostas em água fria, aquecendo-a gradualmente...
E a troca de palavras e soluções foi continuando, até que no último TLS (nº 5698), um leitor americano do Massachusetts avançou com uma solução curiosa, que talvez seja a mais benigna. Diz ele que se poderia fazer, como se faz nas praias do sul de New England, com os caranguejos. Assim: colocam-se os caranguejos num recipiente, com muitos cubos de gelo. Os caranguejos, julgando ter chegado o Inverno, hibernam ou adormecem. Quando deixarem de mexer, colocam-se rapidamente num panela de água fervente, e eles em 2 ou 3 segundos morrem a dormir...
Ainda Escultura
Até 28 de Junho, na Rua do Alecrim, ainda se poderá ver esta exposição de Cornelis Zitman (1926), holandês que reside na Venezuela. Vale a pena apreciar estas obras, algumas de pequeno tamanho, com uma estética muito singular, a meio caminho entre o volume de Maillol e o movimento de Giacometti. A entrada é livre e o espaço, embora pequeno, é agradável.
3ª Bienal de Nantes
No mínimo espectacular, esta escultura de alumínio, criação do chinês Huang Yong Ping (1954), a residir em França. Criada para a 3ª Bienal de Arte Contemporânea, a iniciar em Julho de 2012, a peça escultórica "Le Serpent d'océan" está colocada no mar, mas muito próxima do estuário do rio Loire. Só na baixa-mar fica a descoberto. A fauna e flora marítima virão a colonizá-la, com o tempo.
Códigos
Se, na floriologia, as rosas vermelhas significavam o amor-paixão, as rosas brancas, virtude, e as amarelas, amizade, esta linguagem das luvas tinha que se lhe diga e era um código mais sofisticado, particular e minucioso. Mas teria, talvez, melhores recompensas, para os felizes iniciados. Creio que atingiu maior importância no séc. XIX e terá decaído logo no início do séc. XX. Desenvolvido na França, e parisiense, sem dúvida. Hoje, é tudo muito mais directo e simples...
terça-feira, 19 de junho de 2012
Miscelânea, sem imagens
Há pequenos pormenores em que nos perdemos, sem remédio, num dissipação efusiva, mas contente.
Recapitulando: três narizes aduncos que falam francês; cinco ou seis manequins decepados onde nem sequer podemos adivinhar os sentimentos; vários encontros felizes, de todo imprevistos.
Martelando a realidade: os quiosques da Catarina ( Portas) não vendem cerveja, mas têm vinho modesto para turistas sequiosos - acho que chega; as atendedoras são poliglotas e simpáticas, embora distraídas.
Geografia: do Jardim da Estrela ao Chiado.
Geografia: do Jardim da Estrela ao Chiado.
Há dias tão cheios que não se podem contar, nem resumir. É deste modo que se cheira a eternidade.
Pena que Cesariny ou O'Neill já não possam glosar estes fragmentos lisboetas...
(Comentário: a modéstia, hoje, não será o meu forte.)
(Comentário: a modéstia, hoje, não será o meu forte.)
Vem tarde
Às vezes, as coisas chegam um pouco tarde, mas também acontecem convergências felizes, tantas vezes inesperadas. Ostende não é a minha praia do Mar do Norte, ou da sempre simpática Flandres que, curiosamente, sempre foi acolhedora para com os portugueses. Da Bélgica, retenho de memória Blankenberge e um frio cortante, em Agosto.
Depois da magnífica canção de Léo Ferré, esta imagem de Ostende fazia todo o sentido. Virá tarde, mas sempre a tempo de a acompanhar, de perto, no Blogue.
com agradecimento fraterno ao António.
Natureza Morta
A temática Natureza Morta, em pintura, parece estar na agenda artística ou colher e coincidir no interesse actual de curadores e museus europeus. Depois da magnífica exposição, em duas partes, no Museu Gulbenkian, recentemente, é a vez da Tate, com a mesma temática, apresentar a Dead Standing Things: Still life painting in Britain, 1660-1740 até 16 de Setembro. Os sub-temas da mostra incluem: arranjos de flores, baixelas de prata, , vanitas, pinturas trompe l'oeil...
Embora eu não seja um apreciador incondicional deste tema, em pintura, não posso deixar de admirar algumas obras, bem conseguidas, como por exemplo, o quadro, em imagem, intitulado Trompe l'oeil com objectos escritos (cca. 1702) de Edward Collier, pintor flamengo que viveu na Inglaterra alguns anos.
segunda-feira, 18 de junho de 2012
Brel
Várias razões pessoais para incluir esta, e não outras, canção de Jacques Brel. E ainda mais um motivo: numa entrevista antiga (1977?), François Mitérrand destaca, do último disco de Brel, a canção "Jaurés".
Para quem queira ouvir as palavras de Mittérand: Youtube - "François Mitérrand, l´homme de lettres parle de Jacques Brel, le poéte".
Mercearias Finas 54 : Rojões minhotos
Ouvi, ontem, Ricardo Araújo Pereira dizer, numa entrevista televisiva, que decerto tinha chegado ao 1m93, de altura, por causa dos muitos rojões à minhota que comeu em casa da avó, em Viana do Castelo. Pelo menos, devem ter contribuido - penso eu -, pois são um prato muito substancial, pela variedade de componentes que se lhes juntam no Minho. Na receita canónica do Norte, os picles são espúrios, embora, muitas vezes, em Lisboa, sejam adicionados. Mas o que não pode faltar, nos Rojões à Minhota, são 2 componentes: o sangue de porco bem apaladado de cominhos, e as tripas enfarinhadas. O fígado de porco, nem sempre aparece, e ainda mais raro é o redanho que tem que ser bem "rojoado" para ficar estaladiço. Para quem não saiba, é uma dobra de gordura que está ligado ao intestino do porco.
Dito isto, os últimos clássicos Rojões à Minhota, que comi, foi no Restaurante Tanoeiro (passe a publicidade, porque o recomendo), no princípio deste mês, em Vila Nova de Famalicão, na praça principal, muito próximo do Mercado. A casa refeiçoeira tem uma magnífica carta de vinhos e a dificuldade é escolher um, entre tantos. Veio um Dão Duque de Viseu, tinto de 2004, que tinha já atingido a maioridade, mas que mesmo assim manteve alguma dignidade com os magníficos rojões.
Leonardo Sinisgalli
Chamaram-lhe "poeta-engenheiro", porque se licenciou nesta área mas, provavelmente também, porque gostava de teorizar, a exemplo de Melo Neto (também do mesmo ramo), sobre a criação poética, como aliás faz nos dois poemas que irei traduzir. Nascido em Itália, Leonardo Sinisgalli (1908-1981) foi amigo de Saba, Ungaretti e Quasimodo. As duas versões portuguesas, que se seguem - em 3ª mão - foram feitas sobre a tradução francesa de Thierry Gillyboeuf.
O papel recusa as ninharias
as subtilezas os fastos
as poesias escritas de memória
escritas nos sonhos escritas
a cavalo.
A Memória fatigada
Bato à porta da memória
mas ela não abre.
Acontece eu insistir.
Ponho-me a divagar.
Alinho finalmente oito letras,
Escurial.
Mas tenho de atravessar
um soneto de Nerval
para ter a estrada livre.
Saramago morreu há 2 anos
"...O mais curioso é que nesta altura da vida - daqui a 15 dias faço 69 anos, estou quase septuagenário...- tenho uma grande serenidade de espírito, por ter uma vida a que se pode chamar feliz. Tenciono viver os anos que ainda tiver para viver, poucos ou muitos, com o meu trabalho e a minha mulher, serenamente. Às vezes digo que quem morre com 20 anos morre na sua velhice e não sabia. Se podendo ter morrido aos 20, eu puder acrescentar pelo menos mais 50, é quase uma eternidade."
José Saramago (1922-2010), entrevista ao JL, de 5 de Novembro de 1991.
domingo, 17 de junho de 2012
Ao fim do dia
Não fossem os gritos selváticos das hordas ululantes e o buzinar orneante das vuvuzelas estridentes ( muito piores que o arrulhar das rolas, nestes dois últimos dias), e o dia de hoje teria sido bom e positivo. Os dois golos de Ronaldo contra a Holanda e o reforço da esquerda em França, são de registar. Só na Grécia é que quase houve um empate técnico-politico que não faz prever um futuro europeu de soluções fáceis.
Pequena história (13) : o estilo de Darwin
Embora o livro "On the Origin of Species", de Charles Darwin (1809-1882), tenha colhido a admiração e surpresa do meio intelectual e científico quando foi publicado, em Novembro de 1859, e se tenha esgotado em poucos dias, também foi objecto de críticas ásperas pelo seu estilo de escrita. O TLS (nº 5697) refere que Friedrich Engels, em carta a Karl Marx, o achava escrito num "desajeitado método inglês". George Eliot considerava-o, simplesmente, "ill-writen" (mal escrito) e Thomas Hardy dizia que o seu argumentário parecia um "obituário de jornal". Mais tarde, T. H. Huxley escreveu que a "exposição científica não era, de todo, o forte de Charles Darwin".
Parece que Darwin era um leitor compulsivo de novelas policiais e, curiosamente, Conan Doyle é talvez o único contemporâneo que lhe gaba o estilo, referindo: "Nunca houve um espírito compreensivo, assim. Nunca ninguém foi tão minucioso e pequeno e, ao mesmo tempo, tão grande na sua atenta observação".
Divagações 26
Quando a voz parece inclinar-se, definitivamente, para o épico, que poderia ser sinal de júbilo, eis que uma súbita mudança de tom, nas palavras, lhes acrescenta uma suspeita trágica, ou mesmo um ritmo de elegia. Nunca se adivinham estas inflexões subtis do pensamento onde a voz se quebra e os vocábulos mais simples se podem tornar trémulos e frágeis.
Pode haver, no rosto, uma leve crispação, ou um gesto suspeito que o anuncie mas, quase sempre, imperceptível, e o resto do corpo é opaco, inexpressivo. Pode acontecer que, no crescendo das frases, a transformação do ritmo - mais pausado, mais lento, como se fora reflectido, palavra a palavra - seja um seguro sinal. Nestes casos, porém, não se deve perguntar: " - Que tens?"
A mão suave tocando no braço, sem pressão nenhuma, pode ser, afinal, um gesto de companhia. Um entendimento cúmplice, um suficiente movimento de ternura.