quinta-feira, 31 de maio de 2012

Citações CI : Jennie Erdal


"Será que a filosofia atrai pessoas infelizes, ou existe alguma coisa na natureza do comprometimento filosófico que conduz à infelicidade?"
Jennie Erdal, in "The Missing Shade of Blue".

Caldos de galinha



A insistência em abordar "temas da actualidade" nada tem a ver com um gosto particular pelo sofrimento. Antes pelo contrário. Os casos de falta de ética vêm ter comigo e provocam uma aversão "matricial" contra determinadas manifestações políticas, empresariais ou quejandas.
Já sabemos que o Senhor Belmiro de Azevedo acha, como outros, que o país deve estar ao seu serviço, rendendo-lhe vassalagem pelos altos serviços prestados. Quando os políticos, os professores e, agora, os deputados, não quiserem comer o "caldo de galinha" que lhes manda comer, ele passa a servir o prato frio, insultando quem se lhe atravessa no caminho. 
No entanto, a sua auto-apreogoada bemfeitoria em prol do país não exclui, como outros distribuidores da ruína da produção agrícola nacional, obviamente, a sábia "colocação" de dinheiro nos sítios "mais apropriados" ao negócio em causa. 
Por outro lado, o Senhor Belmiro queria que os professores fossem empregados seus, acéfalos e obedientes, fornecendo-lhe, sem custos [=Scut's], trabalhadores preparados para um exercício profissional alinhado na sua estratégia, tipo serviço mínimo de pensamento e autonomia.
Ora, para além da receita caseira dos caldos, o Senhor Belmiro nunca foi capaz de desenvolver, nas suas empresas, uma formação profissional exemplar e à sua medida. Não instaurou um serviço de saúde próprio, nem dispõe de complementos de reforma para os seus empregados. Portanto, de bemfeitorias estamos conversados.
Recomendo, pois, vivamente, que o faça. Depois do êxito das suas medidas  implementadas, terá todo o direito e autoridade para falar. Até lá, ficamos com a receita balofa dos "caldos de galinha".

Post de HMJ

O(s) Morgan(s)


A palavra, ou nome, Morgan tinha ainda para mim um encanto infinito. Está ligado à infância e adolescência, através duns folhetos (já aqui falei deles) baratos que eu lia, ou devorava, com imenso prazer: "As Aventuras do Capitão Morgan". Mas, como tudo na vida, as ilusões vão-se perdendo e o encanto, por esse nome, começou a desvanecer-se, irremediavelmente.
Tudo começou há pouco mais de um mês. Um reputado e isento pensador do mundo financeiro avisou e escreveu, preto no branco: "Se estiver numa sala com um homem da J. P. Morgan, fuja imediatamente". Ontem soube que foi a J. P. Morgan que "moscambilhou" as contas gregas, por chorudas prebendas, para que o País viesse a entrar no Euro.
Entretanto, Marc Roche conta a história da Goldman Sachs, a que pertenceu o nosso loiro e voluntarioso António Borges. A instituição financeira não sai nada bem do retrato...
E a Rádio Renascença titula, hoje: "FMI livrou-se de António Borges porque não estava à altura do trabalho". Felizmente, o correlegionário Passos  Coelho arranjou-lhe um lugar para chefiar o processo das privatizações, se não o pobre do homem ia ficar desempregado. 
Com isto tudo, o Capitão Morgan já se foi do meu imaginário. Cada vez se perdem mais heróis, com a idade...

Em defesa da dignidade do ser humano



Em princípio, seria dispensável que um cidadão europeu se sentisse na obrigação de recordar aos seus Presidentes – da Comissão e do Conselho – o artigo primeiro da Carta dos Direitos Fundamentais da UE, que reza assim: “A dignidade do ser humano é inviolável. Deve ser respeitada e protegida.”
Ora, nas recentes Recomendações Anuais de Política Económica e, sobretudo, nas declarações subsequentes da Comissão Europeia sobre a necessidade de “baixar os salários em Portugal” deve ter havido em “esquecimento” relativamente ao princípio acima mencionado.


Traduzindo a revolta subjacente perante uma ofensa tão descarada, dir-se-ia que tanto o Presidente da Comissão como o seu Comissário Olli Rehn não sabem o que significa viver com o salário mínimo nacional em Portugal. 
Falar em reduzir ainda mais o sustento a uma larga parte da população portuguesa, é uma violação do direito à dignidade do ser humano. Não será, certamente, para aqueles que construíram a sua carreira política nacional e europeia à margem de um qualquer trabalho produtivo, ou para  os  “Kaufmänner" [= homens de compras, sic] que, como ontem, invadiram o país à procura das pérolas portuguesas para comprar.
Perante o exposto, e no pleno direito à liberdade de expressão, endereço ao Presidente e o Comissário uma Recomendação:
- em defesa da dignidade do ser humano, no espaço europeu, estabelecer, como pretende o Presidente da República Francesa, o máximo de 20 salários para os CEO’s;
- implementar uma “reforma estrutural” que impeça, de vez, a fuga de capitais, de impostos e o “negócio” obsceno dos especuladores que vivem da sangria dos cidadãos.
Remate final: não tenham receios, os CEO’s não emigram, porque não existem tantas vagas lá fora como dentro do país, por enquanto.

Post de HMJ

Gentilezas, na manhã


Eu devia vir, ainda, com um olhar alumbrado ou perdido, porque o Segurança amável, já depois de eu me ter aviado num balcão dos CTT dos Restauradores, quando me dirigia para a porta de saída, me perguntou, solícito e prestável: "- O Senhor já foi atendido?" Respondi-lhe que sim, agradecido. Mas o meu olhar, provavelmente confundido, vinha de trás, no tempo e no local. Foi na rua Garrett.
A meio, vinha eu a descê-la, alguém me interrompe o passo decididido, com um "Olá!" amigável, em voz melíflua. Olho o rosto, em frente, e acho-o parecido com aquele corpanzil das Secretas, megalómano (Pedro Lomba dixit), que passou informações a Relvas e que, agora, passa todos os dias nos telejornais, como em tempo de seca costuma passar aquela vaca (sagrada) morta e esquálida, do Alentejo. Ora, aquele rosto, à minha frente, eu não o identificava de lado nenhum, por isso, perguntei: "-Conhecemo-nos?"
O homem, com cerca de 40 anos, resmoneia qualquer coisa rápida, como: "Bes...Millenium..." E, a páginas tantas, eu já tenho, na mão direita, um relógio reluzente com pulseira metálica dourada, e ele a continuar: "- ...sobrou da promoção e, como é cliente..." E eu, estupefacto, recebo também na mão um cartão de visita, que o homem tirou do bolso, num instante. E ele a continuar, sedutor: "- Depois vai pagar ao Banco, não se preocupe, se não quiser ou puder pagar-me a mim..." Um minuto depois, enquanto, vou recusando timidamente ("já tenho um Tissot e um Longines, não preciso de mais relógios!"), o "bancário de rua" acrescenta-me mais um relógio (desta vez, prateado), na minha mão direita. Acrescenta: "-São só 40 euros, porque sobraram da promoção do Banco." Como eu continuo a recusar, reforça: "- Faço-lhe 20, mas se não tiver, aí, o dinheiro, pode ir pagar ao banco..."
Quando me consigo libertar do assédio, na rua Garrett, a frio, começo a pensar que o homem, parecido com o Silva Carvalho (em corpanzil) das Secretas, queria que eu tirasse a carteira do bolso, para ma roubar e fugir. Deixando-me com 2 relógios na mão e um cartão de visita, falso. Irra!...
(Fica o aviso: rua Garrett, relógios - a história é verdadeira.)

O silêncio é de ouro


Falaremos demais, nós portugueses?
Para quem é obrigado a escutar, na rua e nos transportes públicos, intermináveis conversas da treta, direi que sim, e excessivamente. Ao que parece, falando por falar, para passar o tempo, para ocupar o vazio. Ou dissipar a solidão? Seja por que motivo for, esta parlapatice de telemóvel, tem preço:
os jornais, de hoje, noticiam que, nos Tribunais as acções judiciais, postas pelas empresas operadoras de comunicação, contra os utentes devedores, já ultrapassam os 400 milhões de euros.
Apetece dizer, como disse o rei de Espanha, para Chávez: "por qué no te callas?"

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Memória 70



Na noite de 30 para 31 de Maio de 1942, a cidade de Colónia, Alemanha, foi alvo de um bombardeamento, por parte das forças aliadas, numa operação chamada "Millenium". 
No meio da destruição, a Catedral ficou em pé, como se pode ver pelas imagens.


Aqueles que ainda se lembram, aos 87 anos, do ataque aéreo asseguram que as imagens se gravaram, para sempre, na memória e que os pesadelos permanecem.
Oxalá que sejam, também para sempre, um incentivo para a defesa de uma Europa de paz.

Post de HMJ

Aquilino sobre o amor


Já aqui falei e transcrevi um pequeno excerto de Aquilino Ribeiro descrevendo Aljustrel, da obra "Brito Camacho", que escreveu em parceria com Ferreira de Mira. Sobre o político alentejano, Aquilino diz-nos que teve vários amores, que casou e teve uma filha que morreu cedo, bem como a Mulher. E voltou depois a enamorar-se, mas de outra maneira. Mas para falar das idades do amor, será melhor dar a palavra, de novo, a Mestre Aquilino:
"...Talvez que o melhor da sua crónica amorosa date da época juvenil, já que todos os encantos se associam na primavera. Os primeiros amores do homem, exercidos em obediência a mandato, não têm história; podem ser profundos, mais ou menos espontâneos, mas não são nada complicados; não há língua que os exprima dignamente, a não ser o assobio do melro. Nessa idade têm-se belos dentes, bom estômago, e em pequeno grau o sentido olfativo. Da mesma maneira que se come sempre com apetite um bom pitéu, sem se ligar importância à baixela, ama-se aqui e além, em qualquer latitude, sem atender a se é loira, morena ou consoante o divino modêlo dos nossos sonhos. Ama-se sem grande afêrro sentimental, embora brigue com os juramentos trocados, porque no fundo não se ama uma mulher, ama-se simplesmente a mulher. Desenganos e mágoas de amor voam depressa e aos quatro cantos como as pétalas do bule-bule. Passam os anos, acaba por amortecer o instinto da espécie, a imaginação inflora, como as árvores que ao fim dum outono benigno se julgam na primavera, e acontece virem cantar nela os ledos e amorosos pássaros da mocidade. Ah, mas o aroma que exala é a cadaverização dos verdadeiros eflúvios e o frescor que derrama todo de ocaso! Mas deixá-lo, sobrevive, enfeita-se de gomos, enfolha, a sua sombra banha a alma como um crepúsculo suavíssimo e chama-se saudade. ..."

Denúncias e Desafios


Do jornal "El Pais" de ontem, 29 de Maio, destaco dois temas, aí tratados, bem interessantes.
1. O periódico noticia a descoberta de um manuscrito de Gongora, em que este denuncia um ex-amigo, ao Santo Ofício, pela sua conduta indecorosa  (o visado era clérigo) de costumes, com uma senhora, de nome Maria de Lara.
"No melhor pano, cai a nódoa" - diz o povo. Porque o nosso poeta Andrade Caminha também fez denúncias, embora não de carácter sexual, à Santa Inquisição. Donde podemos concluir que é preciso cuidado com os poetas...
2. O jornal espanhol lança, também, aos leitores um desafio singular, encimado por uma imagem do filme "The Great Gatsby" , baseado no romance homónimo de Scott Fitzgerald. A pergunta é a seguinte: "Em que livro gostarias de viver?" A resposta parece-me difícil, do meu ponto de vista. Em "Le Petit Prince"? N'"A Casa Grande de Romarigães"? N'"Os Lusíadas"?...
(Se algum dos meus amigos ou visitas quiser responder, esteja à sua vontade... que eu agradeço.)

terça-feira, 29 de maio de 2012

Voltar atrás?

Fiquei perplexo, hoje, ao saber que, nas costas marítimas portuguesas  e nos últimos dez anos, os cardumes de sardinhas diminuiram 55%. Não é só na Terra que o sistema está errado, mas o Mar acusa, também, o seu uso desproporcionado e a diminuição assustadora das espécies que o povoam. Por isso, este belo vídeo, onde aparecem aves que não voam (creio que se trata de pinguins-imperador), mas nadam e comem peixes pequenos e krill (penso que não comem sardinhas), nesse tal "Paraíso Branco" cantado pelas jovens e frescas vozes dos Vox Angeli.

1 tema com 3 andamentos


1. As idiossincrasias de cada um têm destes caprichos: de tanto ler dois ou três cronistas do JL (quando o comprava, regularmente), agora que eles são escritores badalados, não os consigo já ler - saturei, absolutamente. Mas também porque a arquitectura da sua prosa é frágil, com truques repetitivos e expedientes para agradar, na transversal. Por debaixo do casaco distinto, nota-se a camisa rota... Mas é bem verdade, o que o povo diz: "Mais vale cair em graça, do que ser engraçado."
2. Há dias, Pacheco Pereira referia as dezenas de livros (inúteis) de autores desvalorizados pelo Tempo e sem o mínimo interesse de leitura (Ponson du Terrail, Paul de Kock...) que juncavam a biblioteca familiar, que herdou. É verdade, estes autores de sucesso, aqui há 70/ 80 anos, aparecem aos pontapés, nos alfarrabistas, agora, e são agrupados, em leilões, por lotes de 20 ou 30, a ver se tentam algum licitador que olhe mais à quantidade do que à qualidade do que compra. Mas, a maior parte das vezes, são retirados de praça, sem se venderem.
3. Um escritor meu amigo costumava dizer que: passava bem sem a glória póstuma, queria era o reconhecimento no Presente, enquanto vivo. Parece que, neste particular, Walter Scott (1771-1882) foi um homem cheio de sorte. Ganhou bom dinheiro com a escrita, foi best-seller constante e houve até uma scottmania (segundo o TLS) que ainda chegou ao séc. XX. O aeroporto de Edimburgo tem o seu nome, nos Estados Unidos há 22 vilas e cidades denominadas Waverley (título duma das suas obras), para não falar no incalculável número de ruas Walter Scott, que existem por toda a Commonwealth.
Ficou o nome, ficaram os mitos que criou (o "ogre de Oslo" referia-se muito a Ivanhoe), ainda se vende, mas quase ninguém o lê. Saturou.

Uma sociedade desequilibrada


Dos jornais, e sem comentários:
1. - "Um terço das crianças portuguesas entre os 6 e 9 anos tem excesso de peso..."
2. - "Unicef revela que mais de 27% das crianças portuguesas são carenciadas..."

Uma louvável iniciativa (9)


Mais 4 embalagens de açúcar, da série de 30, dedicada a "Expressões Populares" da  Língua Portuguesa, com a sua respectiva origem e explicação do uso.
1. "Levar um puxão de orelhas" (nº de série 3/ 30), expressão que reporta às Ordenações Afonsinas.
2. "Dar/ Receber luvas" (nº 6/ 30), que vem do tempo dos Habsburgos, em Espanha.
3. "Salvo pelo gongo" (10/ 30), oriunda de um costume inglês.
4. "Engolir sapos" (30/ 30), expressão que tem origem nas Pragas do Egipto, que a Bíblia refere.

para MR, que teve a ideia inicial.

Uma Galeria a meu gosto (3)


Desta vez, 2 autores americanos e 1 britânico. Da esquerda para a direita: Raymond Chandler e o seu gato, Allen Ginsberg, jovem e informal, e o inglês Malcom Lowry (Under the Volcano), engravatado, ainda.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Évora e o Cicioso


Sempre gostei de monografias, sobretudo, quando o tema é do meu agrado. Já o expliquei, aqui, no Blogue, principalmente, por causa da pequena história. Por outro lado, Évora é uma das minhas preferidas cidades portuguesas. Há ainda um outro aspecto que me fez comprar este livro de José Manuel Queimado, editado no ano quente de 1975. Que é a toponímia eborense, curiosa e interessante: Travessa dos Beguinos, Rua do Tinhoso, e por aí fora, porque os alentejanos têm uma imaginação prodigiosa para nomes e alcunhas.
Saí um pouco defraudado das explicações de nomes, no livro. Um dos que mais me intrigava, era o da Rua do Cicioso, bem comprida e não muito larga. Ora, segundo a monografia, a origem do nome virá de João Mendes Cicioso, eborense que foi vereador, comerciante e procurador às Côrtes. Terá vivido durante os reinados de D. Afonso V, D. João II e D. Manuel I, e chegou a ser preso, talvez por especular com o preço e venda de trigo. Pouco mais acrescenta a monografia, sobre o homem.
Consultado o Dicionário de Morais, este informa que "cicioso" é um "indivíduo que tem o defeito de falar ciciando (ou sussurrando)". Prefiro imaginar, por isso, como já fazia antes de ler este livro que o João Mendes era um comerciante de "falinhas mansas", ou que falava "achim", ou tipo "sopinha de letras"...o que é muito mais interessante, convenhamos.

A propósito do Festival de Cannes


A notícia, em "Le Nouvel Observateur", vem recheada de ironia, a propósito da apresentação, em Cannes, do novo filme-documentário "Serment de Toubrouk", de Bernard-Henri Lévy (1948), filósofo francês, de origem judaica, nascido na Argélia. A referida película é, no dizer da revista, um documento de auto-glorificação do seu próprio autor, através de filmagens efectuadas na Líbia, por altura da recente revolução, em que Lévy tomou parte e apoiou. O filme é referido como "documentário lírico" e o filósofo francês apelidado de "guerrilheiro caviar".
A cereja em cima do bolo, quanto a mim, é uma afirmação atribuída a Michel Audiard, que diz: "Um filósofo que anda vai sempre mais longe do que dois comentadores políticos, sentados..."

Schubert/ Richter/ Fischer-Dieskau

Não tivesse falecido há poucos dias atrás, e Dietrich Fischer-Dieskau teria completado, hoje, 87 anos.

Um bom exemplo - Manuel de Oliveira


Embora se soubesse, a notícia vem, hoje, documentada no jornal Público. Com 103 anos, Manuel de Oliveira continua a filmar. Desta vez por encomenda de Guimarães, Capital Europeia da Cultura, o cineasta prepara uma curta metragem que tem como cenário o Centro Histórico, com duração de 20 minutos.

Processo (2)


A frase de Rui Tavares, no jornal Público de hoje, resume, concretamente, a situação que todos conhecemos e vemos, com escândalo: "...o jogo está neste momento tão viciado que a justiça se tornou uma simples ferramenta de execução e reforço das desigualdades. ..." E, depois são citados 3 exemplos mais do que comprovativos da vergonha que é, hoje e de uma forma quase total, a Justiça, em Portugal. Seguem:
a) "O Tribunal da Relação de Lisboa condenou o advogado Ricardo Sá Fernandes por este ter gravado e denunciado uma tentativa de corrupção e de ter colaborado com as autoridades na investigação da mesma, dando assim mais protecção ao corruptor do que à descoberta da verdade."
b) "Um tribunal ordenou que o movimento Precários Inflexíveis apagasse, no seu blogue, comentários que denunciavam práticas ilegais de recrutamento e utilização de mão de obra porque a empresa em questão se sentiu «atingida na sua honra». O tribunal não quis averiguar se os factos relatados por pessoas que diziam ter sido vigarizadas por esta empresa eram reais ou não."
c) O terceiro exemplo prende-se com um ministro deste governo e as dúbias, promíscuas trocas de informação que terá havido com um ex-elemento das Secretas, que aí deteve o cargo de nº 2. Além de outras acções vergonhosas que lembram os processos pidescos de antigamente.

Obviamente, parece-me que chega.

Processo (1)


Se o infeliz utente não tiver, ou tiver perdido o seu Médico de Família, o procedimento a levar a cabo, é mais ou menos este:
a) Dirige-se ao Centro de Saúde, em que se integra, e faz uma inscrição; ser-lhe-á marcada a data de uma consulta para cerca de um mês e meio depois - dando-lhe um papelinho comprovativo. Informam-no, na altura, para que no dia aprazado chegue um pouco antes das 8h00 da manhã, para efectuar uma reinscrição.
b) No dia aprazado, o utente chega 15 minutos antes, mas já há cerca de 40 companheiros, aguardando, no vestíbulo de entrada e na rua, em fila desordenada. Metade terá mais de 60 anos, mas há apenas um banco de madeira com quatro, sentados. Dois ou três folheiam o jornal que compraram, alguns contemplam os azulejos do séc. XVIII, nas paredes, que representam movimentadas cenas de caça (veados, javalis, lobos...) da época. É preciso dizer que este Centro de Saúde está instalado num velho palácio lisboeta que já conheceu melhores dias...
c) Dois minutos antes das 8h00, um Segurança fardado desce as escadas, com um rolo numerado nas mãos. Outro Segurança acompanha-o, na rectaguarda - talvez seja guarda-costas... Os utentes aproximam-se, nervosamente, como pombas a quem vai ser dado milho ou migalhas de pão. Recebem, então, os papelinhos afortunados.
d) Na posse do precioso número, o utente sobe as escadas e dirige-se para a Secretaria a fim de efectuar a nova inscrição. Mas o computador não pega e o burocrata, atrás do balcão, começa a impacientar-se, enquanto o utente espera, calado e resignado. Finalmente, cerca de 5 minutos depois, o computador começa a trabalhar e a inscrição é feita. Mais um papelinho, pedem-lhe 5,00 euros e revelam ao paciente o misterioso nome do médico que o irá atender mas...só 5 horas, depois, ou seja, às 13h00. E dizem-lhe para chegar um bocadinho antes. Vamos a ver...como diz o cego.

domingo, 27 de maio de 2012

Bibliófagos


Recentemente comprei mais um livro incompleto. Mais propriamente um fragmento de um Flos Sanctorum, do Frei Diogo do Rosário. Sem portada, nem cólofon, ingressará na "lista de espera" dos doentes a aguardar um diagnóstico precoce quanto à paternidade. Neste caso, da paternidade da impressão.
Juntamente com o volume encadernado, embora incompleto, veio uma pastinha com outros fólios e, desgraçadamente, com folhas cortadas, obra de um bibliófago feroz. 


Normalmente, associam-se à ideia de bibliófagos aqueles bichinhos que atacam os livros. Como os animais são seres desprovidos de cultura e pensamento, ainda podemos aceitar semelhante façanha cega à procura do alimento no papel, embora nos cause uma tristeza profunda olhar para as galerias furadas do tamanho do bicho.
Quanto à espécie humana que ataca os livros, à procura do alimento monetário fácil, o assunto muda de figura. Esta espécie de bibliófagos causa-me uma repulsa profunda.
Com efeito, ficam as imagens para acusar o assassino !

Post de HMJ

Uma Galeria a meu gosto (2)


Desta vez, totalmente feminina, e muito bem representada: Virginia Woolf, Katherine Mansfield e Françoise Sagan.

Quase noite


Há um fogo ao longe, na margem do rio, que parece Turner. O friozinho do começa da noite não distrai o melro invisível que, mesmo assim canta, como que se afogueado. E as andorinhas volteiam num bailado inacabado, mas perfeito. O azul vai desmaiando de cor, entregando-se pouco ao pouco ao escuro do sossego, enquanto eu ouço Codax numa voz fresca, inesperada. Olhando o rio, mesmo que sem as ondas do mar de Vigo.

O Paraíso reinventado, ou confundir o desejo com a realidade


Era uma vez...
Daqui a muitos anos, quando já nenhum de nós for vivo, a Galiza amiga voltará a reunir-se com o Portucalense condado, e tudo voltará ao início. Biblicamente, ao princípio voltará a ser o verbo.
Rosalía, comovida, terá longos diálogos com o bom do velho Sá, em Amares. Julio Camba vai cozinhar a 4 mãos com Couto Viana e a irmã do poeta, cantarolando entretanto, há-de ir descascando as batatas. Os pimentos Padrón vão alinhar, gulosos, na mesa de Assis Pacheco e Camilo José Cela, e não haverá esquerda nem direita, mas apenas fraternidade. Até Fraga Iribarne, emocionado mas convivial, há-de partilhar um bom cozido à portuguesa, com Santos da Cunha e com Rui Rio que, bastante menos economicista e, embora liberal, vai apoiar a Cultura, com generosidade e alegria.
A troika será uma infâmia impossível e a moeda não terá circulação, nem será precisa. Poderão trocar-se diospiros por cebolas, ou chouriços por um frango, intermediados por um sorriso amigo, leal e confiante. Martim Codax há-de dizer um poema, acompanhado por adufes, flautas e sacabuxas harmoniosas. Afonso X irá presidir, e o neto Dinis, ainda criança, vai bater palmas, entusiasmado. Acídulo e fresco, um Albariño das Rias baxas refrescará as gargantas. E a noite virá de mansinho para não estragar a alegria do reencontro fraterno e sem fronteiras. E outros países virão juntar-se à festa, trazendo wurst, krakauer, camembert, tokay, pesto...eu sei lá!, para partilhar entre si.

Os dois jacarandás


Nunca tinha dado por eles, ali. Mas vale a pena descer a Av. D. João V, só para os ver. Pouco antes de virar para o Largo do Rato, à direita, é uma aleluia de azúis e violetas, em dois copadíssimos e celestes jacarandás. Nem esperaram por Junho, e estão muito mais densos do que a foto, neste poste, deixa supor. Plenos de floração e beleza cromática. Há mais, depois, ao longo das ruas da Escola Politécnica e D.Pedro V, mas não são tão bonitos, nem tão densos.

De Tunes, para Columbano


Da cidade africana, em 11/12/1926, escrevia Manuel Teixeira Gomes (1862-1941), dizendo:
"...Pela vida fora pouco me tem atormentado a saudade, sentimento que, afinal, não é exclusivo de portugueses mas ao qual o português, mais choramingas que os outros povos, se pega como se fosse a guitarra. O presente sempre me trouxe entretido e enlevado e, se dele desviava o pensamento, era para prever e fantasiar o que seriam os encantos do futuro. Sinto-me morrendo lentamente com esta constante evocação do passado; demasiado me comprazo em olhar para trás: é a impotência de quem nada tem já a criar. No dia em que se me acabar a curiosidade do futuro, (que mais não seja do dia seguinte) e eu não tiver olhos, nem pensamento, senão para o passado, estará consumada a minha verdadeira morte, e não serei mais do que um cadáver ambulante...Como vê não estou hoje nos meus dias cor-de-rosa! ..."

Nota: Manuel Teixeira Gomes nasceu em 27 de Maio de 1862. Exactamente, há 150 anos.

sábado, 26 de maio de 2012

Para agradecer aos que se lembraram


Quando a 21 de Maio passado, alguém, estimado, me perguntou se eu me tinha esquecido do "amigo Dürer", eu respondi que não. Mas que, como já havia muito de Albrecht Dürer (1471-1528) no Blogue, preferia lembrar o Douanier Rousseau que também nascera no mesmo dia do mês, embora num ano diferente.
Ora, hoje, entre várias coisas que me vieram à mão, surgiu também a reprodução de uma gravura do Pintor alemão, que ele fizera em 1513, intitulada "Cavaleiro, Morte e Diabo" que dizem ser inspirada pelo Salmo 23 do rei David. E que não é muito frequente ver-se. A Christie's leiloou um exemplar, em Dezembro de 1985. E, em Hamburgo, no ano de 2007, apareceu outra à venda - que não sei se seria a mesma.
Aqui fica, em imagem, a encimar o poste.

Açúcar


Começa a canção de Chico Buarque, assim:

Com açúcar, com afecto fiz seu doce predilecto
p'ra você parar em casa, qual quê...

Mas nem tudo são rosas e doçura na história da cana sacarina e do açúcar, planta autóctone da Nova Guiné, que se foi espalhando pelo mundo, sobretudo, a partir do séc. XVI: Madeira, Brasil, Barbados, Cuba...
Domesticada pelos espanhóis, cultivada em larga escala pelos portugueses (o açúcar produzido na ilha da Madeira e enviado para a Flandres era pago, parcialmente, por pintura flamenga...), plantada pelos ingleses nas Índias Ocidentais (Jamaica, Barbados) e produzido o açúcar através de tecnologia holandesa, a cana sacarina foi também responsável, indirectamente, por enormes levas de escravos africanos, para trabalharem no Novo Mundo.
Reverso da medalha: pela sua excessiva utilização nos alimentos, em grande parte dos países ricos, hoje, um em cada quatro dos seus habitantes é considerado obeso, clinicamente.

Favoritos LXV



Aqui a predilecção vai toda para a singularidade do quadro, embora o Pintor seja de estima.
Philippe de Champaigne nasceu na Flandres, a 26 de Maio de 1602, e foi um retratista de mérito. Pintou, pelo menos, dois retratos do Cardeal Richelieu, um dos quais bastante original por figurar o retratado sob 3 perspectivas (não sei se há pinturas anteriores, semelhantes). Muito embora por uma razão prática e pragmática: o quadro foi enviado para Itália, a fim de servir de modelo ao escultor Francesco Mocchi, para o artista fazer um busto de Richelieu. 
Philippe de Champaigne morreu em 1674.

Divagações 25


Havia cravos e rosas, do quintal, que enfeitavam a mesa. Os morangos vinham de fora. Muito pequenos, rústicos, num cesto de vime, que tinha retorno à procedência afectuosa da lembrança.
As festas foram sempre muito raras, numa expressão sóbria de alegria, que reinava em casa. E nem os telegramas eram precisos. Nessa correria dos anos mais tenros, a estrada era bem larga e comprida, para que alguém fizesse falta.
A ternura, em si, era uma esperança.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

A Vergonha da Europa



Felizmente, têm surgido algumas vozes da cultura, tanto no panorama nacional como europeu, na defesa da Cultura, da História e da Ética, contribuindo para a elevação do pensamento e em confronto com o lugar comum do discurso financeiro e económico sem rumo nem saída.
Reproduz-se, sem tradução, o recente poema de Günter Grass, noticiado pelo jornal DIE ZEIT e publicado, na íntegra, pelo SÜDDEUTSCHE ZEITUNG. 

O título sugestivo revela, sobretudo, o sentimento profundo dos cidadãos europeus que não se identificam nem com a ignorância nem com a sobranceria relativamente ao berço da Cultura Europeia. 

Post de HMJ

Luís Miguel Cintra : as palavras justas

Eu sei que as visitas ao Arpose, em média, só se demoram cerca de 3 minutos. É a "Mad Rush" de que Philip Glass fala, e de que fez música. Mas para quem goste de pensar ou reflectir, recomendo vivamente este vídeo, e que o veja até ao fim. Que diabo!, já estamos em fim-de-semana, e há mais tempo livre...

Alcunhas e cognomes


Um cognome acaba, muitas vezes, por historicamente marcar um carácter, para a posteridade, muito embora não seja exacto ou não corresponda à maneira de ser do assim nomeado. Tudo depende da perspectiva de quem o alcunhou. O nosso rei D. Pedro I é um bom exemplo deste facto, até por lhe serem aplicados 2 cognomes, opostos: o cru, ou o justiceiro - consoante o ponto de vista que se possa ter das suas acções humanas. Também a católica rainha inglesa Maria I foi apelidada de "bloody (sanguinária)" pelos britânicos que, entretanto e maioritariamente, se tornaram protestantes. Tivessem eles mantido a religião católica e, se calhar, o cognome da rainha teria sido: piedosa...
O imperador do Sacro-Império germânico Frederico I (1122?-1190) tem ligado ao seu nome o apelido de "Barbarossa", que não é verdadeiro. Segundo testemunhos coevos, a barba do imperador era loura, bem como o cabelo, e não ruiva ou roxa... A alcunha foi-lhe posta, já postumamente, pelos seus adversários italianos, para sugerir um temperamento colérico - que ele não tinha, apesar de ter sido um valente guerreiro. Terá passado grande parte da sua vida, não em palácios, mas em tendas de campanha de batalhas. Também fez Cruzadas. Mas tinha, ao que parece, uma índole equilibrada e um modo sereno. Dando fé aos seus contemporâneos era um "homem bem parecido, de altura média, nariz proporcionado e dentes brancos".

AdagiárioXCIII


Mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo.

Os Fariseus


O jornal Expresso online titula, hoje: "Pingo Doce: produtores pagam a fatura do 1º de maio".
Seguem-se declarações de João Paulo Girbal, presidente da Centromarca - Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca, prestadas numa entrevista à TSF, dizendo que o PD começou a "negociar" com os produtores um abaixamento de preços entre os 2% e os 3,5%, nas compras. Forma encapotada, segundo J. P. Girbal, de pagar "as promoções" caridosas do 1º de Maio de 2012, à carenciada população lusa.
Entretanto a Autoridade da Concorrência, recebido oportunamente o relatório da A. S. A. E., do alto da sua torre de marfim, aos costumes não disse ainda nada... Mas que grandes cómicos. Ou Tartufos, como lhes chamava Moliére. Acabo com Fernando Assis Pacheco: "Não posso com tanta ironia..."

De Eugénio de Andrade, "To a Green God"


Trazia consigo a graça
das fontes, quando anoitece.
Era o corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens, quando desce.

Andava como quem passa,
sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos,
cresciam troncos dos braços
quando os erguia no ar.

Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo que lhe tremia
num ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar.

E seguia o seu caminho
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via,
enleado na melodia
duma flauta que tocava.

Nota: este poema está incluído no livro "As Mãos e os Frutos" (1945-1948). Na sua extrema simplicidade e no seu poderoso movimento rítimico, é, para mim, um dos grandes poemas de Eugénio de Andrade. E de toda a poesia portuguesa.

A expressão dos sentimentos, segundo Valéry


Um pouco na corrente pessoana da frase "Todas as cartas de amor são...", Paul Valéry (1871-1945) aborda o tema, mas cria uma alternativa. Passemos a transcrever, traduzindo, a ideia:
"A expressão do sentimento verdadeiro é sempre banal. Quanto mais se é verdadeiro, mais se é banal. Porque é preciso procurar não o ser.
Sempre que um ser é verdadeiramente inculto, ou se o sentimento é demasiado forte para nos fazer soçobrar na banalidade, até à lembrança do que convém vulgarmente à circunstância, então, este tactear cego pela linguagem pode levar, por acaso, até palavras que poderão ser belas."

O costume (para variar) : aí vão mais 3...


1. Indicação, via search words do visitante: "marnal testival de enrugo riadas" (sic).
Pista de consulta dada pelo Google: "Memória 39 : Francisco Quevedo y Villegas", de 15/9/2010. 
(Comentário: é o que se poderá chamar uma resposta "pelas vogais" e muito fonética...)
2. Search words da visita: "o significado de hollande teresa de sousa".
Resposta esclarecedora do Google: poste do Arpose - "Alguns arabismos", colocado a 3/5/2012.
(Comentário: eis um casamento de inconveniência...)
3. Indicação do cibernauta para pesquisa: "propaganda de cigarrilha du murrie".
Solução dada pelo Google: "Brahms/ Baremboim/ Du Pré"., de 2 de Fevereiro de 2011.
(Foi pena que o Google não se lembrasse de indicar algum poste, aqui no Blogue, sobre batatas a murro...)

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Aquilino, Brito Camacho e Aljustrel


Eu já não lia Aquilino, há muito. Mas, ignorante que sou dos grandes vultos da República (1910/1925), tirante Teófilo Braga, Teixeira Gomes e pouco mais, encetei, há dias, um livro a duas mãos: Brito Camacho (1943?), por Ferreira de Mira e Aquilino Ribeiro. O primeiro traçando o perfil do homem público, Aquilino fazendo o retrato do homem de letras, que Brito Camacho também foi.
A frescura da escrita do Mestre vem logo à tona. Ora leia-se de Aquilino Ribeiro, embora ajudado por citação popular, esta pitoresca descrição de Aljustrel, terra natal de Brito Camacho, num pequeno excerto:
"...Aljustrel é vila populosa, anterior à fundação do reino, situada no fundo dum alguidar sem profundidade, picada a campina de leves acumulações como lago beliscado pelo vento. A terra ali não ondula por vagas longas e roleiras como no Alto Alentejo, os acidentes, pequenos encrespamentos do solo, sucedendo-se uns à espalda dos outros fora de linha e ordenação. Ouvi dizer a um cabreiro: «Quando o mundo se fêz mundo, isto era uma caçoila de papas a ferver. Arrefeceu de repente e ficou com estes borbotões coalhados.»..."

Paridades


A paridade homens/mulheres, nos governos de esquerda é, normalmente, um ponto de honra, senão for uma medida politicamente correcta, nos tempos que correm. Guterres aproximou-se, por cá, Zapatero observou-a, em Espanha. Agora, foi a vez de François Hollande que fez o fifty-fifty exacto: 17 ministros e 17 ministras - num equilíbrio absoluto.
Mas não deixou de comentar para os mais próximos: "Le plus compliqué avec un tel principe, ce n'est pas de trouver des femmes mais d'écarter des hommes compétents" (ou seja: O mais complicado neste princípio, não é encontrar mulheres, mas o descartar de homens competentes).

D. Pedro IV, Imperador




Desconheço se a obra terá já tido uma versão portuguesa. O romance histórico "El Imperio eres tú", de Javier Moro, foi Prémio Planeta 2011, em Espanha. E a obra é saudada pelo TLS (nº 5694) muito favoravelmente, a partir de uma leitura de Gabriel Paquette. Estará muito bem documentada e escrita com vivacidade e ritmo. Aqui fica a informação, a quem possa interessar.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Um ardina viajado


Com o seu ar bisonho, mas determinado, boina (?) e descalço, este jovem ardina lisboeta, de 1917, viajou, em efígie, da Capital até ao Douro. Mensageiro das palavras aflitas da filha Eurydice (que devia saber francês) para o silencioso pai, que não dava notícias, há muito, para a família.  Que teria ido Alfredo fazer a Trás-os-Montes, em Junho de 17?
É isso que nunca saberemos.

com agradecimentos a H. N..

Os nins


Rosnam baixo, mas não mordem. Bebem copinhos de leite. Disfarçam a falta de ideias, com neologismos. E trocam, normalmente, o osso suculento - se as coisas não correm de feição - por um simples afago pelas costas, ou pêlo. São economistas, psicólogos, políticos de terceira ordem (que até tentam vender Portugal à Indonésia) que mais parecem caixeiros-viajantes de província, comentaristas verborreicos, normalmente bem pagos, ex-ministros reformados em dúbias mordomias e, no meio disto, também há muitos palermas. Há uma coisa que os une: a chico-espertice saloia, a falta de ideias, uma gula que se compagina com a fome de séculos portuguesa que, por caridade mental e cristã, pode servir de atenuante biológica...
Ontem diziam que, se a Grécia não honrasse os compromissos, teria de sair da zona euro; hoje, dizem mas...Ontem diziam, escandalizados, que não iam votar a favor do aditamento; hoje dizem que, atendendo às circuntâncias, talvez se vão abster...
(Saia daí um ninja, a preceito!, com tremoços, s. f. f..)

Nota: sobre a imagem (não confundir com tremoços, são lentilhas!) basta consultar a Bíblia, para perceber.

A heterodoxia de Eduardo Lourenço



O livro começa assim: "O mundo da cultura portuguesa arrasta há quatro séculos uma existência crepuscular." A obra Heterodoxia I foi publicada por Eduardo Lourenço (1923), com apenas 26 anos, em Coimbra, no ano de 1949, numa pequena tiragem de 500 exemplares (o meu tem o número do meio: 250), numerados e assinados. Este primeiro volume foi dedicado a Miguel Torga. O volume II saíria, também em Coimbra, em 1962.
O livro foi uma pedrada no charco e ainda hoje mantém actualidade e importância. Num país maniqueísta onde, ou se pensava excessivamente à direita ou irredutivelmente à esquerda, a obra abria um trincheira em terra de ninguém, pugnando para que se lutasse e pensasse por si mesmo. Nos tempos actuais, em que tudo se pretende estandardizar, este propósito simples é cada vez mais importante. Para garantir liberdade de espírito.
Eduardo Lourenço completa hoje 89 anos.

Nortenhas e populares (quadras) 16


Mais uma pequena selecção de quadras populares da região de Amares, do distrito de Braga:

Menina, prenda o seu melro,
Que me vai à minha horta,
Esgravatar o cebolo
C'o sentido na minhoca.

Semeei na minha horta
Bacalhau frito às postas;
Nasceu-me um velho careca
Com uma marrancha às costas.

As nuvens correm depressa
A lua vai devagar;
Cedo começa a tristeza
Tarda a ventura a chegar.

Nota: raras, mas muito interessantes, as quadras que, por vezes, têm um "non-sense" inesperado, quase surrealista no seu tom, como é o caso da 2ª quadra. Pouco usual, a palavra "marrancha" que tem o significado de leitoa, ou porca pequena.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Mais um poema de Marianne Moore (1887-1972)


Uma medusa (A Jelly-fish)

Visível, invisível,
um encanto flutuante
uma ametista cor do âmbar
mora nela, o teu braço
aproxima-se e ela abre
e fecha; tencionavas
apanhá-la mas ela estremece;
desistes da intenção.


Nota: para mais elementos sobre Marianne Moore, ver poste (homónimo) de 7 de Fevereiro de 2011. O poema, aqui traduzido, pertence ao livro "O to be a dragon", de 1959.