As Matanças
Mês de Dezembro, na Junça, na casa do Manuel Coelho, lavrador dos mais remediados da povoação e que, por esse facto e por ter numerosa família, mata dois porcos, cada um deles de peso não inferior a oito arrobas. Mal amanheceu, toda a família se pôs a pé, a arrumar, a limpar, a chegar os panelões à fogueira de ramos de tomilho e de giestas com achas de carrasqueira e freixo, o mais novito até, o Augusto, em fralda ainda, a fazer piruetas e a cantarolar no meio da casa. Os porcos, que não comeram a ração última da tarde, grunhem na corte, desconhecedores do mal que os espreita. Afiam-se facas, ajeitam-se estopas para calafetar o buraco mortal da mortal ferida do porco, limpam-se convenientemente alguidares e barrenhões para o sangue, deita-se-lhes uma porção de sal no fundo, vai-se ao sobrado pelo chambaril que há-de suspender pelos jarretes o cadáver, para ser aberto; (...)
Carlos Alberto Marques, in Beira Alta (pg. 157).
Matar um porco era garantia de fartura de carne para o ano inteiro. Imagine-se a abastança se forem dois. Chouriços de carne e de sangue, paios, entrecosto, lombo e carne da barriga...já para não falar dos 4 presuntos e coração e outras miudezas...
ResponderEliminarFez-me lembrar uma anedota que se contava lá nas Beiras.
"O casamento da minha Marta foi muito farto - dizia a vaidosa avó da noiva para quem quisesse ouvir. - Sete qualidades de carne houve - touça, louça, margalhoça, chouriça, nagalhiça, carne de porco e marrano...
Dia feliz.
Estes rituais da tradição deixam quase sempre memória.
EliminarBom dia.