segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Apontamento 139: Reencontro de qualidade


A foto acima, sugerindo uma tranquilidade e a beleza natural de um fim de dia, representa estados de alma desejados, diria até merecidos.

Infelizmente, o habitante da capital do país raramente assim se reencontra com o universo.

As caminhadas pelo centro da cidade, sobretudo da parte da tarde, deixam, normalmente, marcas profundas de desgosto e, quiçá, de revolta perante a degradação, cívica, social e cultural de um espaço de nobreza que merecia outros voos. Convenhamos que, com esta Câmara dedicada a outras prioridades, como a mobilidade e o atendimento a senhores de chapéus azuis, continuamos a milhas de uma convivência civilizada.

Assim, com estes constrangimentos, o reencontro com a qualidade, não sendo impossível, demora a instalar-se, sem qualquer penalização para os transgressores e prevaricadores do espaço público.

Adiante ...

Ainda sou do tempo da leitura quase obrigatória da Teoria da Literatura do autor do livro reproduzido, Vítor Aguiar e Silva. Para além da leitura de outros trabalhos que o Professor Vítor Aguiar e Silva foi publicando, comprei este seu último livro.

Bendita aquisição, no meio de tanto disparate, fornecendo em tom ligeiríssimo e falando sobre assuntos sérios, para captar a motivação de leitores de redes sociais e quejandos, sem reconhecer que a condição de professor de uma Universidade deveria ser motivo suficiente para não rebaixar, de forma infame, o estudo da literatura e da língua.

Mas vamos ao essencial, a saber, à qualidade de um espaço, de um tempo e de uma exigência que continua a proporcionar o pensamento e a reflexão.

Vítor Aguiar e Silva debruça-se, então, neste seu último livro, sobre assuntos teóricos e práticos, i.e., de leituras concretas de autores e obras.

Na primeira parte de «Ensaios de Teoria Literárias» reencontrei-me nessa elevação do pensar e reflectir sobre o Universo, partindo de leituras – da Antiguidade Clássica até aos Modernos – com um domínio de erudição admirável e invejável, por uma capacidade de transmitir fenómenos, conceitos, escolas e tendências com uma clareza rara, mas obviamente assente numa sólida formação humanística.

Não vale a pena dizer que, neste momento, o estudante universitário, se quiser, terá poucos autores para se instruir com maior sabedoria e proveito.

 Das leituras do livro de Vítor Aguiar e Silva apenas se transcreve uma máxima para finalizar este texto.

 Falando de um escritor dinamarquês, Georg Brandes, diz o autor o seguinte:

“O público em geral, com deficiente educação literária, mal informado e com limitada capacidade de julgamento, deixa-se seduzir pelo barulho dos pregoeiros do mercado ou pelos charlatões mais ou menos carismáticos.  (... continuando para sublinhar) a homogeneização neutralizadora da escrita induzida por um mercado cujos milhões de clientes-leitores espalhados por todo o mundo consomem uma literatura estandardizada, sem densidade estética, histórica e social, desenraizada e falsamente cosmopolita,”

 E foi assim, com agrado, o reencontro com a qualidade e no “Felizmente há Luar”.

 Post de HMJ

2 comentários:

  1. Gosto do título deste livro. Obrigada pela informação. Talvez o venha a ler.
    Boa semana!

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    1. Para MR:
      Traduz bem a elegância de escrita do autor. É um livro para se ir lendo ...

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