Tendo falado no livro de Zygmunt Baumann, Retrotopia, verifica-se que os
pensadores actuais não ultrapassam o diagnóstico, acrescentando pouco ou nada àquilo
que as pessoas esclarecidas retêm, elas próprias, deste fim de festa.
Falta-lhes, certamente, coragem para tirar as devidas lições de tantos estudos
citados, como é o caso do livro em epígrafe, evitando desta forma algum
desencontro com os poderes estabelecidos.
Convenhamos, voltar atrás não significa regressar aos
padrões miserabilistas, de bem-estar, saúde, educação e cultura dos anos 50 ou
60 do século passado, mas saber tirar lições de uma competência básica de vida
e autonomia sã de pensamento. Passar do diagnóstico ao prognóstico implicava
coragem e propostas claras para nos salvar destes padrões omnipotentes e neoliberais.
Significava aliviar a população desta vertigem para dependências espúrias,
suportada pela comunicação social e pela publicidade, no sentido unívoco de
uma vida de consumo, sem qualidade, sem sentido, sem civilidade nem
sustentabilidade.
Zygmunt Baumann, 1925-2017
Resultado deste enorme desencontro mental, para não chamar estado
esquizofrénico, é o que acontece, neste momento, com as companhias aéreas. Aceitam
elas, com o consentimento do poder (?) político, uma injecção de capital
público, indispensável à sua sobrevivência, rejeitando, de todo, uma regulação
em função dos fundos recebidos. “Não haverá melhor investidor”, como diria um
jornalista do DIE ZEIT, sublinhando o enorme defraudamento dos contribuintes.
Sem pretender fazer publicidade a um grupelho completamente
execrável, que dá pelo nome de Ryanair, conspurcando com a sua postura rústica a
imagem de uma país estimável como a Irlanda, vamos ter, com a mesma falta de
coragem, uma Comissão da EU a ceder a estes “lobbies”, sancionando viagens de
avião sem a obrigatoriedade de manter o devido espaço social de distanciamento
(1,5 a 2,00 m), recomendado para os restantes espaços públicos.
A Retrotopia, ou uma outra racionalidade, começaria por um
novo modelo, retomando a vertente intrínseca do Turismo, de cultura e
civilidade, como via de conhecimento e convivência. A nobreza de viajar para
conhecer nada tem a ver com as HORDAS que se preparam, nos confins dos seus
tugúrios confinados, a embarcar, de qualquer maneira, rumo aos locais publicitados.
Incompreensivelmente, os poderes políticos perfilam-se para acolher de novo os transeuntes
indiferenciados em detrimento do valor supremo da saúde pública.
Oxalá que as pessoas, a troco de uns empregos precários e
mal-pagos, não se arrependam de tanta liberalidade e de se subjugarem à
publicidade enganosa.
Post de HMJ
Pelo que me pareceu, o livro foi uma desilusão.
ResponderEliminarNão sei se vai haver muita gente a viajar de avião nestas condições. Pelo menos, espero que não haja.
Bom final de tarde!
Para MR:
EliminarPois foi uma desilusão. Estamos sempre à espera de um pensamento mais elaborado. Pelo menos fiquei esclarecida sobre o posicionamento do autor, embora informado e não alinhado com a corrente neoliberal, não se revela arrojado ou inovador quanto ao futuro. Conclusão: Leitura feita, registada, pode ir para a estante ou outro leitor interessado.
Por enquanto, e acompanhando o centro da Europa falante de Alemão, considero que, neste momento, estamos numa situação privilegiada: do ponto de vista democrático, político, de saúde e até de cultura. A invasão de conspirações, manifestações de poderes ocultos, pretensos defensores da Constituições com raízes fascistas e racistas, são aspectos que me preocupam sinceramente. Nunca pensei que a EDUACAÇÃO tivesse sido tão ineficaz, na Alemanha, para fazer surgir um mundo completamento tolo, desinformado, pernóstico e, quiçá, incontrolável.
Estou preocupada.
Errata:
ResponderEliminarA resposta anterior devia ser de HMJ e não de APS.
Onde se lê: da Constituições deve ler-se: das Constituições e também EDUCAÇÃO em vez de EDUACAÇÃO.