terça-feira, 3 de dezembro de 2013

As "Mamsellchen" da Buchholz



Em geminação com o Prosimetron, resolvi juntar umas achegas à observação, muito oportuna, de MR sobre as "velhas" da Livraria Buchholz. 
A palavra escolhida para título do "post" exige uma explicação. "Mamsellchen", palavra pouco conhecida mesmo em alemão, vem do francês mademoiselle e refere-se àqueles meninas aristocráticas que, empobrecidas, passaram a servir, normalmente como cozinheiras. 
Comecei a frequentar a Buchholz, na Duque de Palmela, ao almoço, por uma questão de proximidade do emprego de então e desfastio. Contudo, a procura de alívio em breve se tornava, muitas vezes, em suplício por causa das criaturas da livraria.
O espaço físico até era agradável, a escolha bibliográfica criteriosa, embora perfeitamente escondida no meio da completa desarrumação. As cerejas, podres, em cima do bolo eram, de facto, as "Mamsellchen", como suposta encarnação da "cultura alemã" em terra de ignaros.
No princípio entrava, disfarçada de "lusitana", com o objectivo de "tirar o retrato" àquelas abencerragens. Incomodava-me o seu perfil de "cão de fila" atrás do cliente, quiçá presumível ladrão, bem como a sua fala, ostensivamente mascavada para se distinguir dos indígenas, e o seu ar de superioridade.
Com efeito, um dia resolvi pronunciar-me. Estava à procura de um livro no meio da confusão quando uma delas achou que me devia dar um raspanete. Rosnei-lhe, em alemão, que não podia encontrar o livro, porque nunca tinha visto uma livraria tão caótica, nem livreiros tão antipáticos e saí porta fora.
Mesmo assim, nunca se "restabeleceu o universo" com aquelas criaturas, porque pertenciam a uma camada, de traço germânico, que não se recomenda, nem no país de origem e muito menos fora dele. 
O curioso é que este misto de sobranceria e encarnação da cultura alemã, reprovável, passou para uns docentes universitários lusos, julgando, certamente como as "Mamsellchen", que umas leituras em alemão lhes transmitia, por contacto directo, o estatuto de pessoa culta.
Engano puro. Como qualquer imitação, ainda se tornam mais ridículos.

Post de HMJ, obviamente dedicado a MR

6 comentários:

  1. Gostei imenso do seu post porque, na verdade, a livraria era (e é) muito gira, mas não havia pachorra para aturar as Mamsellchen, herança do Sr. Buchholz.
    Tinha uma galeria no piso de baixo, onde vi exposições do Costa Pinheiro e de outros da geração dele. E uma pequena discoteca, onde se encontravam boas gravações.
    Obrigada, HMJ!

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  2. A ilustração é muito apropriada. :)

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  3. Gostei muito do post.
    E do sentido de humor.
    Boa tarde!

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  4. Para MR e Isabel:
    ainda bem que gostaram do post. Tive logo a ideia de que o Otto Dix me podia ajudar com uma imagem apropriada.

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