...E não é tudo. Isso resultava também desta ambição de sobreviver, um enobrecimento dos nossos objectivos e do nosso esforço; e, daí, uma espécie de hierarquia, uma classificação das obras dos homens segundo a sua duração que se presumia interligada à sua própria acção. Enfim, este pensar sobre o futuro, na posteridade ou na imortalidade, por muito ilusório que fosse, era para o artista uma fonte inesgotável de energia que o apoiava na sua carreira, muitas vezes bem dura, contra a incompreensão e as dificuldades materiais da vida. «Um dia chegará», pensava ele. Mas tudo isto não existe mais, ou pouco sobrevive, e há pouca esperança de que esta noção de confiança na posteridade e na duração possa vir a renascer das nossas cinzas.
Paul Valéry, in Regards sur le Monde actuel (pgs. 241/2).
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