domingo, 7 de outubro de 2012

Sophia, e um poema seu de título incorrecto


Meditação do Duque de Gandia sobre a morte de Isabel de Portugal

Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.

Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre.
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

Sophia Andresen, in Mar Novo (1958).

Nota: como se explica no poste contíguo "Pequena história (15)", o título deste poema, de acordo com a verdade histórica deveria ser: "Meditação de S. João de Ávila...". Não deixa, por esse facto, de ser um dos grandes poemas de Sophia Andresen, e de toda a Poesia portuguesa.

2 comentários:

  1. O poema é lindo.
    Nunca se devia amar aquilo que não pode ser nosso toda a vida.

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  2. Dos 3 ou 4 melhores, de Sophia, na minha opinião.
    Orfeu também o descobriu...

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