segunda-feira, 4 de junho de 2012

As refeições tristes



Não tenho o menor problema em almoçar ou jantar sozinho. Mas há quem tenha, e se sinta infeliz. Hoje, almoçamos bem, numa sequência longa que já vem do Norte, e descemos, depois, da rua de S. José para as Portas de Sto. Antão. À direita, num pequeno pátio reparei, uma vez mais, numa inscrição horizontal, em azulejo (posta pela Câmara de Lisboa, em 1992), que indica o local (nº 137) onde Luís de Camões, já "manquejando" de um olho, esteve preso, na chamada prisão do Tronco. Castigo aplicado ao Poeta por se ter envolvido numa rixa, por aquelas bandas, ocorrida a 15 ou 16 de Junho de 1552 (está a fazer anos), em que feriu gravemente Gonçalo Borges, moço do Paço.
Associando recordei, por isso e visualmente, um dos dois únicos retratos, feitos em vida, de Camões, em que ele, sentado à mesa, parece comer ou ter comido uma parca e triste refeição, sozinho. Mas prosseguindo o passeio, fui vendo alguns seres humanos, pelo vidro das montras dos restaurantes, amesendados e refeiçoando (sozinhos e acompanhados), talvez em nome da dieta e da esbelteza, algumas pobres coisas: alfaces (comida de grilos), milho (vianda de galinhas), rúcula...quase tudo, sem conduto. E fiquei preocupado e compungido, eu que almoçara lindamente, ver aquelas refeições macrobióticas e tristes, acompanhadas a água.

4 comentários:

  1. A "intervenção" no túnel é da autoria de Leonel Moura.

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  2. Obrigado, ms, pelo esclarecimento oportuno - que desconhecia.

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  3. É verdade, MR, mas o coração e a barriga vieram cheios..:-)
    Uma boa noite, também, para si.

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