terça-feira, 8 de maio de 2012

A iluminação em Lisboa


Já aqui se falou, a propósito de Pina Manique (27/2/2012), da iluminação em Lisboa, que foi resolvida eficazmente, embora de forma autocrática pelo Intendente, em Setembro de 1780. Mas já antes tinha havido tentativas para que a Capital fosse iluminada, devidamente, durante a noite, sobretudo por questões de segurança. A primeira tentativa documentada é do tempo do reinado de D. Fernando, numa carta régia de 12 de Setembro de 1383.
Ora, numa pequena (56 páginas) brochura do Eng. Abreu Nunes, intitulada "Em Guisa Q As Ruas Fossem Alomeadas" (Lisboa, 1945), dá-se conta, detalhadamente, de uma outra tentativa para melhor iluminar a Lisboa nocturna, no reinado de D. Pedro II (1648-1706), ocorrida em Outubro de 1689, mas que não chegou a bom termo. Inicialmente, foi o rei que se dirigiu ao Senado da Câmara de Lisboa para "...considerando os meios pelos quaes mais facil e suavemente se poderá conseguir alumiarem-se as ruas d'esta cidade de noite..."
O Senado de Lisboa contrargumentou, em prol dos futuros pagantes: "...para que não seja tão sensivel a extração do seu rendimento; assim se considerou nas ultimas côrtes sobre os quinhentos mil cruzados com que os povos deste reino serviram V. Magestade, depois de longas disputas, que, havendo-se experimentado ser insupportavel tributo o das decimas e nova contribuição..." e prossegue: "Que não está o povo com capacidade para experimentar novos impostos, porque, a miseria commum mais necessita de auxilio que de novas oppressões;..."
E o Senado da Câmara de Lisboa acrescenta, sobre a justiça, que: "...nestas cidades estrangeiras não é o temor das luzes o que defende; o respeito e medo da justiça é o que conserva em paz, porque se prendendo o deliquente, em trez dias se lhe dá o castigo que merece,..."
Como se pode ver, dantes como agora: impostos sobre impostos, morosidade e lentidão da justiça portuguesa - os remédios e vícios são antigos, e quase sempre os mesmos...
Por uma vez, o rei D. Pedro II foi clemente e sensível aos argumentos, desistindo da ideia. Mas as ruas de Lisboa continuaram mal iluminadas, pelo menos, até à drástica e autocrática decisão tomada pelo Intendente Pina Manique, em 1780.

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