Precisamente há 40 anos, François de Mauriac falecia em Paris, poucos dias antes de completar 85 anos: nascera em Bordéus, a 11 de Outubro de 1885. Algum tempo após a sua morte, vieram à luz pormenores da sua vida privada e pessoal que fizeram abalar a sua imagem de figura moral das letras francesas. Engajado num catolicismo socializante, "gaulliste" fervoroso, Mauriac recebera o Prémio Nobel da Literatura em 1952 ("Les grands romans vient du coeur."). Analista cirúrgico das paixões da alma, os seus romances estruturam-se na intensidade trágica dos conflitos humanos sem resolução, onde o bem e o mal - muitas vezes identificado pela religião - se digladiam, interminavelmente.
O Deserto do Amor, Thérese Desqueyroux, O beijo ao Leproso, traduzidos em português, são alguns dos seus romances mais significativos. E de que retenho memória; como ele dizia, "nous méritons tous nos rencontres. Elles sont accordées a notre destiné". Este determinismo, algo dramático ou fatalista, de espírito, que é uma das suas marcas romanescas, não excluía, porém, um sentido de humor agudo e brilhante. Poucos anos antes de falecer, disse: "C'est merveilleuse la veillesse... domage que ça finisse si mal.".
Só conheço o nome... E diria que só os católicos são pecadores, não? :-)
ResponderEliminar... e os judeus, claro :-)
ResponderEliminarMauriac,c.a.,é uma espécie de Graham Greene à francesa, mais regionalista (não gostava do Camus), mas a estrutura dos seus romances é muito sólida.
ResponderEliminarSobre o pecado...(desconfiar dos povos que se acham os eleitos), acho que a religião católica lhe dá um peso desmesurado - mas logo branqueado pela confissão e comunhão. O que me parece uma lógica dos diabos! E pode dar lugar a muita hipocrisia...
Por acaso quando li este post ao final da tarde também me lembrei de Graham Greene. Mas acho Mauriac mais acessível. Pelo menos quando o li, na minha juventude, gostei e entendi, ao contrário de Graham Greene. Deste gosto bastante mas só quando o reli, o compreendi.
ResponderEliminarSempre achei isso da confissão uma treta - peca que depois confessas-te. :)
Como comer carne à 6.ª feira: paga e já podes comer. Parece que este procedimento acabou. Ou estou enganada?
«Unir a extrema audácia ao extremo pudor é uma questão de estilo.» (Mauriac)
ResponderEliminarE não me parece um mau estilo.
A minha experiência,MR, é bastante paralela à sua,em relação aos dois romancistas. Mauriac parece-me mais terreno, Greene, mais mental.A minha aproximação a Greene tem cerca de 10 anos.
ResponderEliminarHoje, sou quase um incondicional. Mas Mauriac continua presente, nas minhas predilecções. Aqueles romances "provinciais", para quem conhece os tiques e figuras da província, são de génio.
Entendo, agora. De Greene já li «O Fim da Aventura» (traduzido por Jorge de Sena) e gostei muito. Vou ter de ler mais antes de formar opinião. Registo a informação sobre Mauriac. Grato aos dois.
ResponderEliminarA tradução do Sena é realmente soberba! Melhor só o "Fiesta" (The sun also rises?)de Hemingway.
ResponderEliminarMas não perca, algum Mauriac. Leitura "tensa" - aviso, desde já.E há uma tradução portuguesa do "Deserto do Amor", abaixo de cão! Cuidado!...
O fim da aventura foi o primeiro livro de Graham Greene que li, nessa tradução do Sena. Só quando o voltei a ler há uns anos é que compreendi muito do que ali está. É um livro soberbo. E teve uma boa adaptação ao cinema.
ResponderEliminarThérese Desqueyroux foi a primeira obra de Mauriac que li. E gostei. E há uma outra obra dele que é uma espécie de continuação. Ou estou baralhada?
Mauriac tem realmente 1 ou 2 romances em sequência,MR. Não sei se é o caso. Mas como estou fora (as escadas Bx-CH.continuam avariadas),tentarei, logo à noite, clarificar o assunto.
ResponderEliminarCorrecto,MR. A "Thérèse Desqueyroux" segue-se "La Fin de la Nuit".
ResponderEliminarObrigada! Já não me lembrava do título.
ResponderEliminarAinda fui ali ver, mas o Mauriac está na 1.ª prateleira na fila de trás e estou com preguiça para ir buscar o banco...
Visitei uma casa de Mauriac, no campo, perto de Bordéus, aí há uns onze anos. Se encontrar as fotos ainda as ponho no Prosimetron.