domingo, 15 de agosto de 2010

A explicação do silêncio, com destinatário



Convive-se mal, na Europa do Sul, com o silêncio. Sobretudo com o silêncio a dois - seja num elevador, num táxi, num consultório de espera interminável, ou num simples caminhar paralelo. Mesmo que sentimentos ou pensamentos transpirem: e, às vezes, temos quase a certeza deles.
Foi assim que eu me calei, também, quando fizeste silêncio - tendo razões para não fazeres. São, talvez, os equívocos da vida. Mas, para além da minha aparente truculência, sou também susceptível como tu. E até sou capaz de adivinhar as razões do teu silêncio.
Mas, ontem à noite, alguém que me é muito querida e que te é muito próxima, disse-me que estavas de luto. Para além deste abraço de silêncio com breves palavras de explicação, deixo aqui gravado, no Arpose, o teu poema de que gosto mais:

"Senta-se à mesa no meio da casa.
As portas fechadas. Vigia o futuro
devagar. Come, chama as crianças
para o centro do mundo. O vapor
sobe dos pratos, a educação alastra
os móveis lentamente se desfazem
ao contacto das mãos. Como um cão de caça
o vento galga a vedação dos campos.
Maravilhoso galgo. Avança contra
a mãe dentro da mãe dentro da casa."

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