1. Sonho de D. Sancha
...de Córdoba veio vindo e voando um açor...
tão grande que a sombra me cobria e a vós...
e foi pousar no ombro de Ruy Velázquez, o traidor...
Épica medieval espanhola, autor anónimo.
2. "Cahiers - 1957/1972"
Quem sonha em nós, quem é este desconhecido que todas as noites concebe novas mostruosidades com uma invenção e fecundidade dignas de um génio?
E. M. Cioran (1911-1995).
3. "Paixão Intacta"
Quem quer que já tenha convivido com animais, seja com um cão ou um gato, sabe que estes sonham. (...) Mas só raros artistas, um Rilke, um Dürer ou um Picasso, é que parecem ter penetrado ( isto pode também não passar de uma ilusão antropomórfica ) na penumbra externa da consciência pluriforme e vibrante dos animais. O tigre não responde às interrogações de Blake.
George Steiner (1929).
Por uma vez até concordo com Cioran, em parte: «Quem sonha em nós». Mas nem só de monstruosidades se compõem os sonhos.
ResponderEliminarE não acabei: mas que os sonhos são concebidos com uma «invenção e fecundidade dignas de um génio» isso é verdade.
ResponderEliminarEu acho que as "monstruosidades"estão lá, naquele jeito do Cioran, para provocar...
ResponderEliminarJulgo que entendo Cioran (também me parece que as «monstruosidades» são provocação). Não consigo perceber bem a afirmação de Steiner.
ResponderEliminarIntrigantemente simples (e belo) é o sonho da D. Sancha.
O quadro é um Dali?
É Dali, sim senhor.
ResponderEliminarSteiner usa, na minha opinião, uma metáfora, e utiliza as 13(?) interrogações do poema "O Tigre" para completar o raciocínio "poético". Uma espécie de camoniano "transforma-se o amador na cousa amada/ por virtude de tanto imaginar"( estou a citar de cor), o poeta "põe-se" na pele do bicho- para dizê-lo de uma forma vulgar.