O tempo plasma-se como os relógios no quadro de Dali ou algum queijo babão que fique fora do frigorífico. As aves calam-se, não soltam pio - é a fornalha de deus. Nem mesmo as andorinhas e os zilros, habitualmente tagarelas, dão sinal. Por onde andará a lua?, já que o "aladino", às 21,05, já estava de olho aberto e persistente. Na sua plenitude, de cheia, a lua deve estar a compor-se no espelho de algum lago, antes de aparecer em toda a sua magnificência. Com 31º a rua, deserta, o silêncio é total.
Mas lá vem ela! Começo a ver-lhe a calote superior por cima das casas: são 21,13. E, hoje, não vem acompanhada da Vésper. A estrela da manhã ou, simplesmente, Vénus, ficou a tomar banho ou a ressurgir das águas, como no quadro de Botticelli.
Num "zapping" impaciente, depois do frugal jantar, assisti a um inquérito feito na TV a vários seres humanos. Pedia-se que dissessem qual a coisa que mais temiam. Respondeu uma sul-americana: "- As cobras!". Um nativo de Papua Nova-Guiné, de meia idade: "- O vulcão." Uma siberiana, já velha, disse que não tinha medo de nada ( pelas feições, podia bem ser parente de Putin). Mas um habitante de Jerusalém, dos seus quarenta anos, ao ser-lhe perguntado por aquilo que mais temia, respondeu simplesmente: "Deus".
Cheguei há pouco da rua e o termómetro do carro marcava 28,5º...
ResponderEliminarP.S: A propósito do «Dylan Thomas, em sequência (II)» deixo-lhe um link:
http://universosdesfeitos-insonia.blogspot.com/2010/07/nao-entres-docilmente-nessa-noite.html
e lembro um comentário de MR, há uns dias: estamos ávidos de boas traduções...
de que teria medo uma velha russa judia? Eu sei que teria medo dela...
ResponderEliminarE eu vou dormir, mais refrescado... obrigado por este poema em prosa ou por esta prosa poética.
ResponderEliminarMuito obrigado c. a.(irei ver),oliveira da eurídice (atiravas-lhe com a osga!...), JAD (com votos de uma noite,mais fresca, do que odia.).
ResponderEliminarDe Deus não tenho medo, mas do que se faz em nome dos deuses...
ResponderEliminarE esqueci-me de dizer que gostei do post.
ResponderEliminarObrigado, Miss Tolstoi.
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