Quem vier da Almirante Reis e virar para a rua do Paço da Raínha, ainda tranquila à hora do almoço, encontra, à direita, junto da Academia Militar, um busto rendilhado da que foi a única portuguesa raínha de Inglaterra - Catarina de Bragança (1638-1705), mulher de Carlos II. Não deu herdeiros ao Rei, mas deixou um legado composto de geleia de laranja e chá à paupérrima e cinzenta gastronomia da Grã-Bretanha. Convenhamos que não foi coisa pouca.
Se continuarmos a avançar, já no Campo dos Mártires da Pátria (Campo de Santana), deparamos - e eu nunca me tinha apercebido - com o busto de El Inca Garcilaso de la Vega (1539-1616), obra do escultor peruano Miguel Baca Rossi (1917), que foi oferecido à cidade de Lisboa, pelo Peru, em 1984. El Inca foi um homem de duas culturas muito distintas. Criado, até aos 10 anos, na corte Inca, porque filho da princesa Isabel Palla Occlo, veio aos 21 anos para a corte espanhola, uma vez que era filho, também, de um nobre espanhol. Aí escreveu "Los comentarios reales...", cuja primeira edição foi impressa em Lisboa, obra singular de um renascentista desenraízado e dividido.
Continuemos. Há um pequeno lago, na Praça: há girinos, pequenos patos, garnisés lutando, entre si, por uma minhoca, há um gigantesco pombo castanho-róseo passeando a sua soberba; há velhos dando miolo de pão às pombas. Mas se seguirmos em direcção ao elevador do Lavra, pouco antes, podemos descer preguiçosamente até ao chamado jardim (suspenso) do Torel. Infelizmente, tem muito mais betão que verde vegetal...é uma pena. Mas, mesmo assim, dos vários patamares podemos alcançar horizontes únicos, no meio do casario. Para trás o que parecem sumptuosas "villas" italianas; em frente, a linda mancha verde, ao longe, do Jardim Botânico que, na Rua da Escola Politécnica, se esconde atrás da antiga Faculdade de Ciências.
Há uma esplanada quieta, silente, convidativa. Uma caipirinha ou um "mojito" são sempre bem vindos na canícula, ao princípio da tarde. Quando acabarmos, mesmo que as palavras apeteçam demorar-se, é só descer mais alguns patamares deste jardim suspenso. Até à Rua das Pretas, para regressar, de novo, ao ruído e à civilização...
P. S.: para ms, com afecto.
E já agora, quando se estiver no Campo de Santana faça-se uma entrada para dentro da cerca do Hospital dos Capuchos... a igreja e o claustro são um jóia; podem e devem ser vistos.
ResponderEliminarGrato pela achega, JAD, até porque não conheço
ResponderEliminarLindo passeio. Ainda bem que o partilhou connosco.
ResponderEliminarObrigado, MR. Com a idade (e tempo mais livre)dou muito mais atenção àquilo que me rodeia.
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