quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Evoluções

 

Curiosamente, para nove ramos já floridos de frésias amarelas, apenas dois das brancas despontaram.
Entretanto, fanfarrão como sempre, o limoeiro da varanda a Sul, já apresenta visíveis 37 brotos, pequenos mas perfeitos. Produções passadas, no entanto, não nos asseguram grandes expectativas. Embora prometendo muito em flor, em anos anteriores, nunca nenhum dos limões chegou ao fim, infelizmente...



quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Ideias fixas 84


Estes filhos-familias que nem a pintores de construção civil chegam a ser, mas têm dinheiro e tempo para gastar em tintas para sujar arte e pessoas, são as novas gretas de primeira página, os inúteis de costume, os esquerda caviar a que faltam os argumentos racionais para debater, com seriedade, as razões de fundo. Macacos fúteis de imitação (dos estrangeiros) que bem mereciam ser apagados do mapa, sanitariamente. 

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Citações CDLXXXIV

 

Que Deus prefira os imbecis, é um boato posto a correr há mais de dezanove séculos, por eles mesmos.

François Mauriac (1885-1970), in Bloc-Notes.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Insólito



Um sono branco que dá arrepios...

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Poema de Yves Bonnefoy (1923-2016), em versão portuguesa



La lumière du soir 

A tarde,
os pássaros que se falam, indefinidos,
que se bicam, luz.
A mão que se moveu pelo flanco deserto.

Estamos imóveis desde há muito tempo.
Falamos baixo.
O tempo continua a sitiar-nos como charcos coloridos.


Y. B., in Pierre Écrite (1965).

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

A aceleração dos tempos



Ficou célebre, na memória de muitos e da história francesa, o empolgante elogio fúnebre feito por André Malraux, em 1964, aquando do acolhimento simbólico de Jean Moulin no Panthéon, durante o consulado de Charles de Gaulle. Tinham-se passado 21 anos sobre o assassinato de um dos mais importantes chefes da Resistência, até a decisão ter sido tomada, ainda que com ampla justificação.
Robert Badinter (1928-2024), ministro da Justiça responsável pela abolição da pena de morte em França, na presidência de Miterrand, faleceu a 9 de Fevereiro, e cerca de 5 dias depois, Macron anunciava pressuroso a sua próxima entrada no Panthéon francês. Aliás, nos tempos recentes, o número de jazidas tem crescido muito: Simone Veil (2018), Maurice Genevoix (2020), Josephine Baker (2021).
Parece notar-se a necessidade premente de novos heróis, mas, em Portugal, não é muito diferente.
Prefere-se a urgência emocional à serena reflexão sobre os méritos da "panteonização".

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Esquecidos (16)

 

Penso que a obra de João Guimarães Rosa (1908-1967), por cá, esteja relativamente esquecida e esgotada, embora já tivesse tido, em tempos, alguns fiéis leitores, daqueles que valorizam a riqueza lexical dos textos de ficção. Quero crer e espero que, no Brasil, o grande escritor de Cordisburgo continue a ser lido e estudado, como merece.



Repeguei, há dias, em Tutaméia (1967), como às vezes faço, pois é dos livros de Rosa de que mais gosto, e fui reler os "Prefácios", donde resolvi transcrever alguns pequenos excertos, para o relembrar, por aqui, e ao seu sentido de humor:

- O ar é o que não se vê, fora e dentro das pessoas.
- O avestruz é uma girafa; só o que tem é um passarinho.
- Entre Abel e Caim, pulou-se um irmão começado por B.
- Se viemos do nada, é claro que vamos para o tudo.
- O livro pode valer pelo muito que nele não deveu caber.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Ironias

 
Recente observação que fiz, pela inversa interpretação que o outro dela fez, levou-me a pensar nas consequências que a ironia muitas vezes provoca. Se acerta e é bem compreendida, galhofa comum, se não, vontade de rir disfarçada, pelo menos da parte do produtor da ideia. Mas também podem ocorrer equívocos complicados, com criaturas menos subtis de entendimento. E pode vir a ser deveras grave o resultado...
Cada um terá a sua ironia. A de Eça era mais linear, a de Camilo, talvez mais dissimulada.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Uma fotografia, de vez em quando... (180)

 


O fotógrafo nova-iorquino Richard Tuschman, nascido no ano de 1956, pelas suas obras é um magnífico contraponto das singulares pinturas do norte-americano Edward Hopper (1882-1867).




sábado, 17 de fevereiro de 2024

Baixelas



Há duas baixelas de prata e de mesa importantes, que eu conheço, e que estão relacionadas com Portugal. A primeira foi encomendada por D. José I, pouco após o Terramoto, em 1756, para compensar as enormes perdas da corte, a nível doméstico. Sumptuosa, é constituída por mais de mil peças e o pedido foi dirigido ao conhecido e reputado ourives francês François-Thomas Germain (1726-1791). A baixela em prata dourada veio a ser estreada em 13/5/1777, na aclamação da rainha D. Maria I. E guarda-se, habitualmente, no MNAA.



Em Agosto de 1973, ao visitar o Museu Wellington, em Londres, tive uma agradável surpresa. Na Apsley House, estava exposta a chamada Baixela da Vitória, que fora oferecida, pelos portugueses a Arthur Wellesley (1761-1852) pela grande ajuda do general na derrota das tropas napoleónicas. Constituída por cerca de 100 peças, tinha no entanto uma grande elegância e, enquanto foi vivo Wellington - que gostava muito dela -, sempre a usou nos grandes banquetes que deu no seu palacete.
Só vim a saber mais tarde que o desenho da Baixela da Victória fora feito e projectado pelo pintor português Domingos Sequeira (1768-1937) e a obra final fora executada apenas por ourives nacionais.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Memória 148

 

Morangos. Provámos os primeiros deste ano: espanholitos e "linfácticos" de interior. Nada que se comparassem com os pequeninos de Maio, que vinham de minha Tia minhota,  muito saborosos. Ou com os de Quarteira, em finais de Agosto dos anos 70, que aos Domingos nos diziam para colhermos à vontade, antes que apodrecessem no campo, porque nesse dia não os apanhavam. Dulcíssimos, naturais que eram!

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Mais um edificante episódio da justiça à portuguesa



Os inúmeros agentes já regressaram do Carnaval da Madeira. E os três arguidos e detidos, entre eles o presidente da câmara do Funchal, já foram restituídos à  liberdade. Não lhes foram encontradas culpas...

Pinacoteca Pessoal 200

 

Pintor, gravador mas, principalmente, aguarelista, o inglês Edward Duncan (1803-1882), no seu gosto pelos temas marítimos terá tido, provavelmente, alguma proximidade e decerto influências de William Turner (1775-1851), seu contemporâneo nas artes.




A boa qualidade dos seus trabalhos fizeram que colhesse a atenção régia e até o patrocínio da rainha Victoria (1819-1901).



segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Arcaísmos (IX)



Rematamos por hoje a temática de Arcaísmos seleccionada do título da mesma obra, de Joaquim A. O. Mascarenhas, embora de forma mais extensa, desta vez em relação aos respectivos significados.

1. Habência - composição; ajuste.
2. Infurção - aluguer de casa.
3. Jussâa - de baixo.
4. Ligomas - hortaliças.
5. Mogarabil - mercador; homem de tráfego.
6. Naracharia - pomar de laranjeiras.
7. Ógano - este ano.
8. Pateiro - taberneiro que vende comestíveis.
9. Querençoso - amoroso; afável; benévolo.
10. Renga - fiada; fileira; renque.
11. Semel - descendência.
12. Tavolagem - casa de jogo.
13. Ucharia - dispensa.
14. Vegaria - ofício de advogado.
15. Xorca - manilha ou pulseira de prata.
16. Zamboa - marmelo molar; gamboa.

domingo, 11 de fevereiro de 2024

Da leitura (55)

 

É sempre com alguma expectativa que enceto a leitura de um autor desconhecido, sobretudo se já foi premiado. Neste caso, a francesa Annie Ernaux (1940), com o Nobel de Literatura de 2022.
Vou a páginas 43, o que não me permite tirar conclusões antecipadas, mas a obra lê-se corrediamente, com manchas tipográficas pequenas em vez de capítulos e com uma história autobiográfica (?), até aqui, simples.
Faz lembrar o estilo de G. M. Tavares (Expresso e JL), embora os textos deste autor sejam mais desarrumados.
A ver vamos o que o futuro me reserva do resto da leitura do livro La Place (1983)

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Uma louvável iniciativa 65



A notícia é dos jornais, e saúda-se efusivamente: a região do Porto "vai executar plano de controlo de gaivotas nos municípios costeiros."
Cá pelo Sul, o sr. Moedas deve estar mais preocupado com a Web Summit, a menos que algum pássaro bisnau lhe despeje alguma coisa em cima, de presente...

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Convergências



Só há bem pouco tempo soube que a célebre obra musical Pinturas de uma Exposição, do compositor russo Modest Mussorgsky (1839-1881), executada entre 2 e 22 de Junho de 1874, fora inspirada por uma mostra do seu amigo arquitecto e pintor Viktor Hartmann (1834-1873), numa galeria de arte.




A peça musical, que era inicialmente para piano, veio a ser adaptada a orquestra por Maurice Ravel, em 1922, e tem cerca de 10 movimentos, entre eles: Promenade, Tulherías, Catacumbas, Portão de Bogatyr (Kiev), Mercado de Limoges (este último registado acima), entre outros.
Já  muito mais tarde, Michael Jackson acabou por incorporar no final, da canção Can you Feel it (1980),  de The Jacksons, os sons essenciais do movimento que constava do Grande Portão de Kiev.
Contagioso e viral...

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Para uma silhueta de Maigret



Tenho vindo a ler, paulatinamente, um grosso volume, com mais de mil páginas, em que o francês Pierre Assouline (1953) se debruça sobre a vida e obra do belga Georges Simenon (1903-1989). Sendo um trabalho importante e original de análise e investigação, achei por bem vir a fazer uma pequena selecção do que fui lendo, e traduzindo algumas passagens mais significativas, que por aqui deixo registadas:




"Nome (Maigret) engraçado. Como o teria ele (Simenon) encontrado? Quando o pequeno Sim era jornalista na Gazette, um elemento da polícia de Liége chamava-se Arnold Maigret, mas nada indica que os dois homens se tivessem conhecido. Em Paris, um tal Julien Maigret, que acabava de passar quinze anos no Congo, prepara-se para assumir o cargo de primeiro director do Poste Colonial, emissora de rádio do império francês, em maio de 1931, ou seja dois anos depois de ter surgido o patronímico pela pena do escritor. (...) E Simenon descobrirá ainda mais tarde com boa disposição, lendo no inglês Sainte-Beuve de Harold Nicholson, que na página 201 um certo «M. Maigret, director da Segurança geral» teve uma intervenção nos acontecimentos ocorridos em 1855, se não há mais tempo!
Bem como há que confessar: que se ignora como este nome lhe veio ao espírito, ainda que se possa especular infinitamente sobre a relação entre a sua raiz (maigre) e a silhueta volumosa desta personagem com 110 quilos e 1,80 m. de altura.
Jules Maigret nasce para a literatura aos 45 anos, que é praticamente a idade com que morreu o pai de Simenon. Está casado, sem filhos, tal como Simenon a princípio." (Pgs. 207/8)



"Maigret não é um intelectual nem um cerebral: não pensa nem reflecte. Bastante inteligente, mas não manhoso, é um intuitivo e instintivo puro. Como uma esponja, absorve, impregna-se, penetra numa atmosfera para melhor compreender os mecanismos desse meio. O seu faro, ainda mais do que a sua capacidade de reflexão leva-o às mais audaciosas deduções. (...) É um homem de rituais. Vai ao cinema uma vez por semana. À tarde quando regressa a casa, entre o segundo e o terceiro andar, desabotoa o casaco para tirar as chaves do bolso. Embora saiba que Louise, a sua mulher, lhe abrirá a porta mesmo antes de ele meter a chave na fechadura." (pg. 209)

com agradecimentos a H. N., pelo empréstimo.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Retro (118)



Em boa sequência do poste em que se falava da soprano australiana, este dueto de Caruso com Nellie Melba, extraído de uma ópera célebre de Giacomo Puccini (1858-1924).


segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Humor negro (19)

 

O cartoon de Engin Selçuk (1975) consta de Le Monde de 26/1/2024.

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Patrocínios e homenagens de mesa

 

Portuense (ou do Bairro Alto?), ao que parece, o sr. Braz do Bacalhau à Braz terá ficado na história, embora em parte anónimo, e só com apelido. Mais feliz foi o mosteiro que terá dado nome à receita da Perdiz à Convento de Alcântara, que José Quitério considerava o nosso único prato de alta cozinha portuguesa.
Ainda mais afortunada foi Nellie Melba (1861-1931) soprano australiana que, provavelmente, não seria (tão) conhecida, não fora o chef francês G. Auguste Escoffier (1846-1935) ter criado, em 1892 ou 1893, no Hotel Savoy, de Londres, uma sobremesa em sua honra, a que deu o nome de Pêssego Melba.
Soube há pouco, entretanto, que se produzia um queijo especial, na Normândia (França), que apelidaram de Brillat-Savarin (1755-1826), autor célebre de uma das bíblias da gastronomia gaulesa - La Physiologie du goût. Uma simpática forma de celebrar esse autor, que foi também magistrado e deputado na Revolução Francesa.
Ainda que Balzac o considerasse um "homme des plus ordinaires", embora lhe admirasse o livro...



Madrugar



Foi assim o alvorecer outrabandista, de cima e no horizonte. Para quem madrugasse, evidentemente...



sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Citações CDLXXXIII



Um casamento feliz é uma longa conversa que parece sempre demasiado breve.

André Maurois (1885-1967), in Mémoires (1970).

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Bibliofilia 210


Creio que nunca comprei um livro com a intenção de que se viesse a valorizar, muito embora tivesse reservado, em livrarias de proximidade, antecipadamente, algumas das últimas obras de Herberto Helder, por causa da especulação que se fazia à volta dos seus títulos, sobretudo por parte de alguns livreiros e alfarrabistas mais oportunistas. 



O livro mais caro que paguei (em leilão) foi A Diana, de Jorge de Montemor (1520?-1561), impressa, em Lisboa, por Pedro Craesbeek, no ano de 1624. O exemplar foi adquirido numa almoeda de José Manuel Rodrigues, em Abril de 1998. 



Em valor, o meu segundo livro mais caro terá sido uma edição de 1614 de As Obras..., de Sá de Miranda, e que, provavelmente, teria pertencido ao bibliófilo e estudioso, professor universitário, J. V. Pina Martins. O livro foi-me atribuído, em leilão dos Silva's/ Pedro Azevedo, no ano de 1993.



Em terceira posição, quanto ao preço de compra, situa-se um exemplar da edição original, impressa em Roma no ano de 1664, das Cartas Familiares... , de D. Francisco Manuel de Melo, adquirido a 15/5/1997, por Esc. 53.616$oo, no leilão nº 49 de José Manuel Rodrigues. É edição muito rara, embora a centésima carta da quinta centúria tenha sido fotocopiada. Os exemplares íntegros são escassos por rasura, no tempo, da Inquisição que, também frequentemente, rasgava as 5 páginas do texto dessa carta.

Adagiário CCCLXII



Da casta vem ao galgo ter o rabo longo.