Temos o necessário e o cómodo; o resto não passa de cupidez. Todos estes desejos de grandeza partem do vazio de um coração inquieto.
Madame de Maintenon (1635-1719), in Lettres (1676).
Temos o necessário e o cómodo; o resto não passa de cupidez. Todos estes desejos de grandeza partem do vazio de um coração inquieto.
Madame de Maintenon (1635-1719), in Lettres (1676).
Não será um prato propício para tempos de canícula, mas é dos portugueses um dos mais tradicionais. Dobrada, no Sul, e Tripas no Porto vieram de longe como subproduto, embora muito apreciado geralmente. Não fomos pioneiros a confeccioná-lo, mas Caen (França) já no século XI, atribuindo-se a receita original ao abade Simon Benoît. Nós ainda esperamos pela tomada de Ceuta (1415), ao que se diz. Pedidos mantimentos, pelo infante D. Henrique à Cidade Invicta, os tripeiros mandaram-lhe o melhor para a travessia, ficando só com as miudezas bovinas. A que juntaram feijão branco, cenoura e pouco mais para comer. Os franceses temperaram as tripas com cravinho e alho porro, que nós dispensámos.
As que vieram à mesa, recentemente, foram acompanhadas por um despretencioso tinto de Silgueiros de 2021 com 13º, ligeiramente refrescado no frigorífico e com quatro das castas também tradicionais do Dão: Touriga Nacional, Aragonez (Tinta Roriz), Alfrocheiro e Jaen. Vinho que se portou bem e à altura rústica da ementa.
Quanto a rendas, sequelas e seus malefícios, é bom lembrar uma galinha chamada Cristas de um partido quase extinto, merecidamente.
(Alguém me lembra ao lado que este PR não deixa de ser um cavaco soft, embora mais palrador e popularucho.)
Eu vejo na Europa uma barbárie atentamente ordenada, onde a ideia de civilização e a da ordem são quase todos os dias confundidas.
André Malraux (1901-1976), in La Tentation de l'Occident (1926).
Há, de facto, coincidências felizes, no encontro do presente com o passado.
Não há melhor que o livro em
imagem acima, posto à venda e adquirido na semana passada, para assinalar a
importância do conhecimento do passado para interpretar, com propriedade, o
presente.
Como espectador meramente
exterior da presente jornada do mundo cristão apostólico, de que me afastei por
opção de consciência há várias décadas, reconheço-me em olhares críticos como este,
tirado do livro acima:
Raul Rêgo, Para um
Diálogo com o Sr. Cardeal Patriarca, Lisboa, Edição do Autor, 1968
Recomendo, então, a leitura do livro para saber mais sobre as consequências de uma voz crítica, nos idos de 1968, ou seja, há 55 anos. Tempo de História, embora insignificante, mas de factos iniludíveis.
Post de HMJ, dedicado a MR
Nem sempre os retratos pintados sugerem inteiramente os traços do modelo reproduzido. E é quase sempre vantajoso cotejá-los com a descrição escrita da personagem. Entre as várias pinturas de Filipe II de Portugal, ou Felipe III (1578-1621) de Espanha, escolhemos dois quadros: o primeiro, de Bartolomé González (1564-1627), cujo nome é referido no texto escrito de W. T. Walsh (1891-1949); o segundo de Diego Velásquez (abaixo).
Segue-se o texto da biografia Felipe II (Espasa-Calpe, 1968), do historiador acima referido, com a descrição de Filipe II de Portugal (pg. 764), que verti para português. Segue:
"O príncipe Filipe II (III de Espanha) teria na altura quinze anos e era gorducho, de cabelo castanho arruivado, muito branco de pele, de lábios grossos, demasiado vermelhos, o inferior muito proeminente e o superior levemente sombreado por um buço que, com o tempo, se haveria de converter num largo e sedoso bigode que vemos no seu retrato pintado por González. A parte superior do seu rosto lembrava o seu pai Filipe I (II de Espanha), ainda que os seus olhos eram mais escuros e menos penetrantes; a parte inferior da face era muito menos fina, com a boca débil, amável mas falta de vontade."
A incursão na anarquia é instrutiva, tal como a primeira aventura amorosa ou o primeiro combate; estes primeiros contactos têm em comum a derrota, que acaba por suscitar novas forças superiores.
Ernst Jünger (1895-1998), in Afrikanische Spiele (1938).