domingo, 30 de abril de 2023

Chapéus há muitos...


Os últimos a aderirem ou converterem-se foram Manguel e Zimler. Nos anos 60, eram os cachimbos os adereços preferidos para as poses mais foleiras.

Citações CDLXI



Aquilo que há de mais real para mim, são as ilusões que crio com a minha pintura. O resto são areias movediças.

Eugène Delacroix (1798-1863), in Journal (1847).

sábado, 29 de abril de 2023

Pinacoteca Pessoal 193



Creio que foi Giorgio Vasari (1511-1574)  que atribuiu a morte prematura  de Rafael Sanzio (1483-1520) aos seus excessos amorosos, não havendo garantia, no entanto, de que as práticas tivessem por parceira unicamente a Bela Fornarina (Margherita Luti), sua musa e mais conhecida modelo que, inexplicavelmente, e apesar de instada a fazê-lo, nunca se quis casar com o pintor. Um dos retratos mais conhecidos da amante pertence ao acervo do Palácio Barberino. E terá sido pintado entre os anos de 1518 e 1519.



Rafael, apesar da sua curta vida, tem uma obra extensa, quer do ponto de vista religioso, quer com motivos laicos, sobretudo como retratista notável, sendo muito requestado para encomendas, que nem sempre aceitava de ânimo leve. O interessante retrato de Guidobaldo Montefeltro, abaixo, terá sido acabado por 1506.



O tema mitológico clássico da três Graças, representando a Castidade, a Voluptuosidade e a Beleza foi executado em 1504, enquanto a Dama com o Unicórnio(acima)  terá sido pintado por Rafael nos dois anos posteriores.

O pintor é considerado, com Da Vinci e Miguel Ângelo, como o trio de artistas renascentistas, por excelência.

sexta-feira, 28 de abril de 2023

Desabafo (77)


O algoritmo é a forma mais tosca e grosseira, tirânica de generalização abusiva.

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Um poema de C. P. Cavafy (1863-1933)



Há muito 

Gostava de falar dessa lembrança,
mas ela vai tão diluída - como se nada tivesse ficado -
porque foi há muito, nos meus anos juvenis.

A pele como se fora jasmim...
nessa tarde de Agosto - seria Agosto? -
mas eu posso ainda lembrar-me dos olhos: azúis, penso...
Ah sim, azúis, cor de safira.

quarta-feira, 26 de abril de 2023

Simenon reeditado



Surpreendente a longevidade do interesse constante dos leitores pela obra de Georges Simenon (1903-1989). Desta vez, e coincidindo com o 120º aniversário do nascimento do escritor francês, a editora Omnibus vai publicar a integral dos seus 117 romans durs, escritos entre 1931 e 1972, em 12 volumes.
Como referem, é um tipo de ficção "bem negra. Um modelo de literatura só osso, sem o mínimo de gordura... nem optimismo." Mas de grande qualidade - acrescento eu.



terça-feira, 25 de abril de 2023

segunda-feira, 24 de abril de 2023

3 ideias francesas sobre a Juventude



A juventude não ama os vencidos.

Simone de Beauvoir (1908-1986), in Les Mandarins



É a febre da juventude que mantém o mundo à temperatura normal. Quando a juventude arrefece, o resto do mundo começa a bater os dentes.

Georges Bernanos (1888-1948), in Les Grands Cimetières sous la lune.



O signo da juventude é talvez uma vocação magnífica para as felicidades fáceis.

Albert Camus (1913-1960), in Noces.

domingo, 23 de abril de 2023

Bibliofilia 204



Nem sempre se guardam estes encartes, muitas vezes, e é pena. Servem, com textos apropriados, para apresentar exposições temporárias e, por isso, nem sempre se conservam, apesar da qualidade estética, gráfica, mas também, por vezes, lírica dos textos. Tenho mais dois, para além destes, com textos de Eugénio de Andrade (1923-2005), que era amigo de Júlio Resende (1917-2011). Sobre mostras do Pintor.



Este último, em imagem, era um livrinho da Fundação do Mestre, com vários desenhos a esferográfica do Pintor, e dedicatória datada de Novembro de 2007.

P. S.: De Resende entre a Angústia e a Esperança, de Eugénio de Andrade, passo a citar:

Em páginas de extrema juventude, Paul Klee recusava-se a acreditar na expulsão do paraíso. Vários anos depois ainda se interrogava: "Posso então morrer, eu, cristal?" Recentemente outro pintor, Manolo Millares, afirmou: "El quadro se parió así porque está hecho en un tiempo feo... Aqui no hay nada más que basura..." Entre o tempo adolescente de Klee e o tempo apodrecido de Millares, muita água correu. Klee ainda viveu o suficiente para conhecer a expulsão do paraíso: a bestialidade nazi se encarregaria disso; quanto à certeza de que também ele, cristal, era mortal, as suas últimas obras a ninguém deixam  dúvidas de a ter adquirido. O que Klee já não viu, viu-o Millares: um tempo em que a confiança dos homens foi reduzida a lixo.
Todos os paraísos tiveram sempre a dimensão do homem, e os deuses que lá habitaram nunca foram mais que o reflexo da sua face branca, da sua face negra. A história dos deuses é o espelho da nossa aflição, da nossa esperança. ...
(São Lázaro, Outono, 1965)

sábado, 22 de abril de 2023

Máxima presidencial


A prática e a teoria. 
Ter sido sindicalista, anteriormente, pode abrir caminhos, com certeza. Professor catedrático, nem sempre. Prejudica, muitas vezes, pelos untos mentais criados.

Curiosidades 98



Deparei-me, há dias, com um bilhete de entrada, do início dos anos 60, para o Museu Alberto Sampaio, em Guimarães. Custou-me Esc. 2$50, não havendo ainda nessa altura desconto para estudantes. Era este de algum modo o preço da cultura. Um jornal custava Esc. 1$00 e eu conseguia beber um café por $70. Poderiam fazer-se, nesta perspectiva, algumas comparações equivalentes com os dias de hoje.
Pouco tempo depois, tive acesso a uma lista de preços de entrada para alguns dos mais importantes museus mundiais, de que dou conta, em valores crescentes:

- Museu do Prado, Madrid, 15 euros.
- Museu do Louvre, Paris, 17 euros.
- Uffizi, Florença, 19 euros.
- Rijksmuseum, Holanda, 22,50 euros.
- MOMA, Nova Iorque, 25 dólares (ca. 23 euros).

Os nossos museus nacionais têm preços comedidos: o de Soares dos Reis (Porto) leva 5 euros pela entrada e o MNAA (Lisboa): 8 euros.
Encontrei ainda, nessa lista de preços, uma singularidade aberrante no novo Museu do Cairo. Cobra pela entrada cerca de 4,50 euros aos egípcios, mas leva  aos estrangeiros 30 euros pelo acesso!
E ainda há quem fale em desigualdades e racismo ou xenofobia...

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Da provável safra



As perspectivas prometem: lá fora e na varanda a Sul. Quanto a azeitonas e, provavelmente, azeite. Que hão-de vir abundantes, pela amostra.

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Do que fui lendo por aí... 57



Sobre idiomas:

O inglês é uma língua importante, sem dúvida, mas não pode eliminar o francês, culturalmente insubstituível, nem o italiano e outras línguas nacionais. Os parolos cá da terra é que julgam que se tornarão cultos se fizerem as reuniões em inglês - e até darem aulas nesse idioma. Não seria descabido que a quem assim procede se convidasse a abandonar a nacionalidade portuguesa. Na realidade, o português tornou-se uma mixurunfada de (pseudo) brasileiro e expressões ou palavras inglesas, empregadas em geral sem se lhes conhecer o significado.

Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011),  in Os Problemas de Portugal (2009).

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Raul Brandão em França



O suplemento Livres do jornal Le Monde (23/3/23) dá nota da saída de mais uma tradução da obra Húmus, de Raul Brandão (1867-1930). É já a segunda edição deste livro, publicada pelas edições Chandeigne (Paris). Gladys Marivat, que faz a recensão, refere a "voz impiedosa do seu narrador, a sua terrível acuidade que nada perdeu do seu poder de fascinação."  E adianta que Húmus seria uma espécie de ante-câmara do Livro do Desassossêgo de Fernando Pessoa.         

terça-feira, 18 de abril de 2023

segunda-feira, 17 de abril de 2023

Comic Relief (159)



Em jeito mais ilustrativo e complementar do poste do Arpose de 14/4/23, sobre Al Jaffee, aqui deixo algumas capas do MAD do início dos anos 70 identificativas de um humor norte-americano muito próprio dessa época complexa.



Bem como uma glosa do magazine sobre o filme The Godfather, de F. F. Coppola.

(Com envoi para MR e João Menéres, cordialmente.) 

Últimas aquisições (45)

 

Comprei o livro talvez por desfastio, mas só depois reparei que se tratava de uma antologia de autores diversos portugueses (de Alçada Baptista a P. Varela Gomes), sobre o tema, escolhidos pelo Embaixador. Com certeza que a selecção tenderá, na oblíqua, para a direita, só espero é que tenha bom gosto nos textos incluídos.

domingo, 16 de abril de 2023

A leveza de espírito nas palavras de hoje


"... Portugal é às vezes uma exploração pecuária. ..."

Ana Sá Lopes, in jornal Público de 16/4/2023).


Nota pessoal: as generalizações são sempre abusivas. E muitas vezes apressadas e ligeiras. Mas o nosso jornalismo típico também não vai a muito mais...

Uma boa notícia



Ainda que carecendo da garantia de confirmação da autoria, por parte de peritos na matéria, é uma boa nova saber-se da provável existência, nas reservas do MNAA, de uma obra de Georges de La Tour (1593-1652), pintor francês muito apreciado também pelo poeta René Char. O tema é a representação de S. Gregório, papa.

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Al Jaffee



Chegou aos 102 anos. E bem! De uma vida bem cumprida, a de Al Jaffee (1921-2023).
A revista MAD é uma das minhas melhores memórias de alegria, na juventude.

Uma fotografia, de vez em quando... (170)




Escritor e cientista, William Fox Talbot (1800-1877) é sobretudo reconhecido como um pioneiro importante no domínio da fotografia inglesa, embora fosse um homem discreto. Usava essa arte como complemento objectivo das suas viagens, da natureza e de reuniões conviviais com amigos. Foi talvez o primeiro fotógrafo a passar do negativo para a imagem final, no caso concreto da Lacock Abbey, em 1833.


Uma boa parte das suas fotografias, pelo tempo e exposição à luz, ganharam um aura de apagamento e pátina que criou em si uma singular irrealidade.






quarta-feira, 12 de abril de 2023

Os juízinhos portugueses


Os nossos inefáveis agentes de justiça (à portuguesa) vão dar início, agora, ao julgamento do caso, ocorrido na ilha da Madeira, da queda de uma árvore, em 2017, e que provocou vários mortos. São meticulosíssimos no seu trabalho estes nossos juízes e comandita...
Dentro da sua ociosidade, produtividade e profissionalismo incomparáveis, de quantos mais anos vão eles precisar para deixar prescrever o caso BES, o de Sócrates, Bava e Granadeiro e a grande maioria dos seus processos mais importantes?...

terça-feira, 11 de abril de 2023

Impromptu 67



Falamos no tempo presente de coisas do passado só porque lhes fomos contemporâneos e contíguos.
T. S. Eliot (1888-1965), porém, disse-o de outra forma, e em verso, assim:

O tempo presente e o tempo passado
estão ambos talvez presentes no tempo futuro
e o tempo futuro contido  no tempo passado
se todo o tempo é eternamente presente
todo o tempo é irredimível em si mesmo.
O que podia ter sido uma abstracção
permanece uma possibilidade perene
...
...
O seu a seu tempo.
As 4 últimas frésias (amarelas) já floriram na varanda a Sul. Por alguns dias ainda, aroma e beleza.
Na varanda a Leste, impacientes, duas pujantes amaryllis começam a querer romper os seus casulos verdes, já gretados, entreabertos para a luz.

segunda-feira, 10 de abril de 2023

Ideias fixas 76


Nas datas festivas é altura das circunstâncias e motivos banais virem à cena, maioritariamente. Como as crianças que gostam de ouvir, repetidas vezes, as mesmas histórias, também o poviléu se delicia em (re)ouvir o Nessun dorma, o Quim Barreiros, a Casta Diva, o André Rieu, o E lucevan le stelle... 

O problema é a monotonia cíclica.

Mercearias Finas 188



A banca de frutas e verduras do Telmo fica na esquina que vai dar ao corredor que tem, ao fundo, a banca de peixe da Leonor, no Mercado do Monte. Em vésperas do fim-de-semana pascal, ambas estavam repletas de produtos frescos e tentadores. Acabamos por trazer o que desse até ao Domingo em que o anho tinha lugar cativo à mesa. E o vinho, retirado da horizontal na garrafeira, já estava ao alto na mesa, pronto a abrir. Com 23 anos de idade o tinto da colheita seleccionada, naturalmente, teve que ser decantado e lá ficou a respirar cerca de 3 horas, antes de vir a ser servido, para acompanhar o chibinho e um queijo de pasta mole, caprino, que bem o mereciam.
Com 13,5º, o lote com Touriga Nacional, Syrah, Cabernet Sauvignon e Trincadeira, dava ainda sinal de taninos, mas suaves, e não deixou ficar mal a criação proficiente de Jaime Quendera, enólogo que muito tem feito pela Adega de Pegões (passe a publicidade...) - aqui o deixo exarado e com louvor merecido.

domingo, 9 de abril de 2023

Georg Friedrich Händel (1685-1759)


Um bom Domingo de Páscoa, a quem por aqui passar. E, de preferência, que não falte o cabritinho tradicional...

sábado, 8 de abril de 2023

Citações CDLX



A poesia é simultaneamente um esconderijo e um alto-falante.

Nadine Gordimer (1923-2014).

sexta-feira, 7 de abril de 2023

quinta-feira, 6 de abril de 2023

arte menor (37)

 


Se escrevo
é de longínquas placas da memória 
que me vem o sono sonâmbulo das sílabas
e o que eu quero dizer traz já um transtornado,
muito inquinado sentido de desordem no seu plano
de imprevisto
inesperado.


Sb., 29/1/21 - 4/4/23.

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Retratos (28)

 





"... Certamente, Isabel tinha cinquenta anos, estava sem cabelo desde os trinta, e desdentada; tinha padecido de várias enfermidades, e tinha com frequência úlceras nas pernas, não conservando qualquer vestígio da sua antiga beleza, salvo aquelas mãos, ainda admiráveis e escultóricas, que exibia com patética vaidade. ..."

William Thomas Walsh, in Felipe II (pg. 338).

terça-feira, 4 de abril de 2023

2 tiradas de Jean-Louis Trintignant



O actor não deve ter personalidade de modo nenhum. Deve despir-se de todos os acessórios tal como uma página em branco. O que é dificil, tal como adquirir de novo a inocência infantil. E deve dar a impressão de que o cenário nunca foi escrito. E que ele está a ser inventado no preciso momento da representação - uma elaborada forma de improvisação.
...
Os Americanos fascinam-me. Tal como a ficção científica me fascina. Entre eles, eu sinto-me tão estranho, como se estivesse entre marcianos.

J.-L.Trintignant (1930-2022), in Films Illustrated (Julho de 1979).

segunda-feira, 3 de abril de 2023

Pinacoteca Pessoal 192


Por entre um certo romantismo e um realismo muito próprio que, talvez pela proximidade geográfica, faz lembrar a pintura soviética da época, a obra do pintor finlandês Pekka Halonen (1865-1933) acolhe ainda algumas sugestões simbolistas de Gauguin, artista com quem conviveu em Paris.



A Itália, que visitou, deixou também marcas nalgumas das suas telas que privilegiaram o colectivo e a paisagem de tons esbatidos e suaves, muito originais. Um traço característico de Halonen era o facto de não se querer separar das suas pinturas, enquanto foi vivo.





domingo, 2 de abril de 2023

O reverso da medalha

 

Enquanto se vão repetindo greves, sobretudo de professores, os comentadores de serviço se assanham contra o governo, e até o comentador-mor PR dá umas bicadas para dizer mal do primeiro-ministro, o jornal Le Monde, de 17/3/23, dedica cerca de meia página a fazer o elogio dos dois países ibéricos e do seu estreitamento de relações de cooperação a nivel geral, com úteis contributos mútuos. Reflectindo apenas o senão do TGV, nos seus 620 quilómetros, apenas se vir a concretizar em 2030...

sábado, 1 de abril de 2023

Adagiário CCCL



1. - Vinha que rebenta em Abril dá pouco vinho para o barril. 

2. - Manhãs de Abril, boas de andar, doces de dormir.