sábado, 30 de julho de 2022

Pinacoteca Pessoal 185



Talvez o pintor suiço mais conhecido do século XIX, Ferdinand Hodler (1853-1918) foi um precursor dos expressionistas, ancorando, no entanto, uma boa parte da sua obra na área do simbolismo. De família pobre, cedo começou a ajudar o pai a pintar placas e ornamentações decorativas. Vindo a desenvolver uma técnica e uma estética de grande qualidade artística, na maturidade.
A serenidade das suas paisagens é uma das suas marcas de água. E apontam Corot e Courbet como pintores que influenciaram o desenvolvimento na sua aprendizagem inicial.




quinta-feira, 28 de julho de 2022

As palavras do dia (47)



De Estaline, são os silêncios que matam, em Hitler, é a palavra. Os Gregos tinham esta crença extraordinária de que um anátema lançado sobre alguém jamais se poderia desfazer. (...) Alguns povos crêem nisso, e eu também: a linguagem do grande ódio é uma arma mais poderosa do que todas as outras. A linguagem do amor, em Celan por exemplo, tenta reparar a queda do homem. 

George Steiner (1929-2020), in Magazine Littéraire (nº 454, junho 2006).

quarta-feira, 27 de julho de 2022

terça-feira, 26 de julho de 2022

Memória 143



III

Não digas nada. Não venhas mais. Esquece.
Deixa que o tempo transporte da memória
quanto não chegou sequer a ser história 
e na cinza dos dias se esvanece.

Deixa ficar o sonho interminado
sem glória nem prazer. Mas sem tristeza
maior que a de perder toda a certeza
de um momento de loucura iluminado.

Um momento. De todos mais ardente.
Que fosse lume. Abismo. Fosse grito
que por dentro da pele se contivera.

Deixa ficar. Não venhas. Não me tentes
a abraçar desvairado o infinito
que há dentro de ti à minha espera.


António de Almeida Mattos (1944-2020), in Palavras de Cristal (pg. 29).



Nota: o belo soneto que AAM escolheu, bem como mais 2 poemas, para integrar a colectânea referida acima, em 2011, não chegou a ser incluído em obra pessoal. Apenas colectiva. Aqui fica, no dia que seria do seu aniversário.

segunda-feira, 25 de julho de 2022

Uma fotografia, de vez em quando... (161)



A rua, o quotidiano de Manchester e as crianças foram os principais motivos da obra da fotógrafa inglesa Shirley Baker (1932-2014) que dizia ter sido influenciada por Cartier-Bresson e Robert Frank. Além de fotógrafa, foi também escritora freelancer de algumas revistas e jornais, como The Guardian. 





A fotógrafa inglesa publicou vários livros também com fotos que tirou no Japão, N. Y. e Riviera francesa.
Shirley Baker está representada em vários museus internacionais e na Tate.

domingo, 24 de julho de 2022

Da leitura 52



Da releitura em vez de leitura, diria eu melhor, mas depois de iniciar o livrinho de Helder Godinho, apeteceu-me foi revisitar o romancista pensador. Peguei assim, de seu concreto, na Conta-Corrente 1 (1969-1976) e já vou, gostosamente, na página 98. Talvez porque a maneira de ser dos povos sempre me interessou, destaco, transcrevendo:

"Regressados da Grécia. Da Grécia actual, nada visto. Só entrevisto. Terra agreste, montanhosa, apenas verdura no Peloponeso. Não vi um curso de água. Fizemos três viagens «turísticas»: a Delfos, à Argólida e uma por mar, às ilhas Egina e Hidra. Grandes espaços desabitados, uma ou outra pessoa de longe em longe pelos campos. Aspecto miserável. O Grego lembra o Português: pequeno, aspecto sujo, aldrabão. Fui logo vigarizado, assim que cheguei, por um motorista." (pg. 94)

sábado, 23 de julho de 2022

Citações CDXXXVIII

 

Os Italianos são os Franceses com bom humor.

Jean Cocteau (1889-1963), in Maalesh (1949).

sexta-feira, 22 de julho de 2022

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Curiosidades 94


Que será feito da Greta sueca? E dos portugueses Alexandre, do Salgado, do Bava, e do Rosa? 
Terão passado de moda, os coitados?

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Últimas aquisições (40)



O livro já tinha saído em 2017, mas eu não dera por ele, senão agora na livraria, exposto na bancada. O trabalho sobre Vergílio Ferreira (1916-1996) é de Helder Godinho, um especialista da sua obra.
Ao lado, HMJ lembra-me que o Autor já terá sido excluído, em tempos recentes, dos programas escolares. No século XX, Pessoa em poesia, e Saramago na prosa, como bons eucaliptos, secaram tudo à volta...
Será Vergílio Ferreira mais um dos próximos grandes esquecidos do futuro?
Consolêmo-nos entretanto com a leitura deste livrinho de fino gosto e módico preço (6/ 5,40 euros).

Mercearias Finas 180



Amavelmente me fizeram chegar uma série de fotografias (Obrigado!) que, em geral, me lembraram, pela profusão de marcas de vinho, as paredes do saudoso e já desaparecido Restaurante Isaura que honrava pela qualidade da sua gastronomia e rica escolha vínica a Avenida Paris, ali para os lados do Areeiro lisboeta.



Este caso acontece em Évora, num café, e privilegia temática e graciosamente vinhos com pássaros nos rótulos, desde o Norte até ao Sul, não faltando sequer o renomado duriense Quinta de la Rosa e um bairradino Luís Pato. Um senão que devo anotar: não se destinam a consumo de clientes do café, mas a consumo dos donos. E é pena...


A mostra, diga-se, contempla várias dezenas de vinhos, nestas pelo menos 7 estantes existentes na insólita enoteca eborense.

Adenda: embora pouco a propósito, insere-se nos temas desta rubrica dizer que ontem saboreámos uma deliciosa sopa de beldroegas, feita das plantas que, quase todos os anos, crescem, espontaneamente, em dois dos vasos da varanda a Sul. Acompanhada por um Dão branco de Silgueiros, que não tinha nenhuma ave no rótulo...

terça-feira, 19 de julho de 2022

Culinária

 


Um livro de culinária de Maria de Lourdes Modesto (1930-2022), porventura menos conhecido, continua a ser, para mim, uma edição excelente pelo facto de as imagens enriquecerem a transmissão do saber sobre os produtos e a apresentação das respectivas receitas.
Aqui fica o registo.

Post de HMJ

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Citações CDXXXVIII



Os intelectuais são como as mulheres, os militares fazem-nos sonhar.

André Malraux (1901-1976), in Les Noyers de l'Altenbourg (1948).

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Pirómanos



Creio que há situações que atingem  o pico da ironia. E a incoerência mais extrema.
Que António Nunes, ex-chefe da A.S.A.E., que foi apanhado, na altura do seu cargo anterior, a fumar, pecaminosamente, no Casino do Estoril, uma cigarrilha, quando era proibido, tenha sido nomeado chefe nacional da Liga dos Bombeiros, não lembra ao diabo... 


História e Leste, por palavras de E. M. Cioran



De uma entrevista de Léo Gillet, traduzo sobre os temas em título, a pergunta do entrevistador e a resposta do autor romeno E. M. Cioran (1911-1995):

L. G.: Tem uma outra bête noir nos seus livros, que é a história. A história e você não são grandes amigos...
C.: Não acontece apenas comigo. O pensamento de Eliade é também contra a história. No fundo, todas as pessoas do leste da Europa são contra a história. E vou dizer-lhe porquê. É que as pessoas do Leste, seja qual for a sua orientação ideológica, têm obrigatoriamente um preconceito contra a história. Porquê? Porque elas são sempre vítimas. Todos esses países sem destino do este da Europa, são países que foram invadidos e subjugados: para eles a história é necessariamente demoníaca.

Entretiens, Gallimard, 1995 (pg. 64).

quinta-feira, 14 de julho de 2022

A evolução das rosas



Sem palavras, este esplendor, pelo calor infernal de Julho... 

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Reincidência



Eu tinha prometido, a mim mesmo, não voltar a comprar a revista francesa Lire, mas reincidi. Porque os últimos números que tinha adquirido me tinham decepcionado.
Mas ontem acabei por comprar no quiosque o último número, de Julho-Agosto de 2022. Do mal, o menos: há 3 artigos referentes a publicações relacionadas com a língua portuguesa. Por ordem de importância e também cronológica de páginas: sobre a revista caboverdiana (1930) Claridade, na página 43, a propósito de Camões (pg. 44) e, finalmente (pg. 64), sobre a última tradução francesa dum livro do pivot orelhudo da RTP 1, a quem a Lire chama o Dan Brown português ( como diz o povo: "presunção e água benta cada um toma a que quer.")

segunda-feira, 11 de julho de 2022

Bibliofilia 199



A mata, a batalha, o convento e o palace seriam motivos mais do que suficientes para que o Buçaco merecesse um interesse monográfico. O meu primeiro contacto com a zona terá sido numa visita escolar, por volta dos 14 ou 15 anos, de que me restam testemunhos fotográficos pitorescos.
Há pouco saiu dos prelos da FFMS um Ama o Precipício (Maio de 2022) sobre o tema que, embora forneça muita informação sobre o assunto, me parece mal arrumado...



Prefiro-lhe, de longe, o clássico Guia Histórico do Viajante no Bussaco, de Augusto Mendes Simões de Castro (1845-1932), cuja segunda edição (1883) me custou, há uns bons anos, uns módicos Esc. 120$00. Acresce que o meu exemplar está valorizado com uma dedicatória do autor para o conhecido bibliófilo Fernando Palha. Vi, recentemente, anunciada uma obra semelhante ao preço de 60 euros, na Livraria Alfarrabista.



Se porém quisermos uma monografia mais pragmática e sucinta sobre o tema, para uma visita capaz, eu aconselharia, do mesmo publicista, arquitecto e arqueólogo, o Elucidário do Viajante no Bussaco (Coimbra, 1921), que a Livraria Manuel Ferreira (Porto) tinha à venda, encadernado, por 30 euros.

sexta-feira, 8 de julho de 2022

Cacofonias

Sobre o jornalismo português, eu creio que já disse tudo. Abaixo de cão, é de uma qualidade medíocre absoluta a toda a prova, tirando raríssimas excepções.
Nos generalistas, o Boris, nos dois últimos dias, tem sido o prato de resistência. Hoje, substituiram-no pelo JE dos Santos, que feneceu em Barcelona. E os textos são frioleiras pueris, sem uma ideia pensado - tudo à tona da água repetitiva.
Quanto a vídeos, só a SIC, no noticiário da hora do almoço, deu pelo menos 5 vezes as mesmas imagens do angolano com o Raul de Castro, a passar revista às tropas...
Não há pachorra para esta falta de imaginação, para tanto amadorismo, palha asinina e verborreia palerma!

Turismos...

 

Lisboa perdeu a Graça. A Baixa há muito que se tinha perdido, por entre a China e a Índia, com os seus galos de Barcelos imitados e as lojas de senhoras de Fátima, iluminadas ou não. A Bica, Campo de Ourique, a rua do Salitre passaram a gauleses, já quase incaracterísticos nos seus percursos e falares, iguais a esse mundo fora.  Entretanto, já dois paquidermes flutuantes acostaram, hoje, lá para as bandas de Santa Apolónia.
Ao que parece, conseguimos acompanhar os outros, pela pior maneira. Com algum atraso, é certo pelo menos, em relação a Veneza que, agora no entanto, já não deixa entrar paquidermes na sua laguna, por uma questão de sanidade profilática, bom senso e medida...

quarta-feira, 6 de julho de 2022

A Sul



O botão pertence à segunda geração da roseira alta que comprámos em Abril deste ano. Na varanda a Sul, as primeiras três rosas cumpriram-se lindamente. E depois lentamente murcharam. Nesta florida geração presente, quatro botões de rosa se anunciam. Robustos como este, e promissores.

terça-feira, 5 de julho de 2022

Citações CDXXXVII


O homem de teatro é um hipócrita profissional, enquanto que os outros homens são hipócritas ocasionais. 

Jacques Fabri (1925-1997), in Être saltimbanque, (1978).

domingo, 3 de julho de 2022

Revivalismo Ligeiro CCCVI


Esta Canção de Madrugar, com 52 anos já, ficou-me na memória. E têm sido poucas as músicas portuguesas a ocupar esta temática no Arpose. A interpretação de Hugo Maia Loureiro (1944) integrou o grupo do Festival da Canção da RTP de 1970. Estive para fazer parte do júri de Lisboa e só circunstâncias familiares o não permitiram, vindo a sê-lo em 1971, em que votei em Menina, interpretada por Tonicha, muito embora houvesse um lobby muito forte que pretendia fazer ganhar o Cavalo à Solta cantado por Fernando Tordo que, aliás, também era uma bonita canção.
Não creio que Hugo Maia Loureiro fosse um intérprete de excepção, mas as palavras de Ary dos Santos e a música de Nuno Nazareth Fernandes contribuiram muito para a beleza desta Canção de Madrugar, que aqui fica registada na rubrica do Revivalismo Ligeiro, do Arpose, para quem não se lembre dela.

sábado, 2 de julho de 2022

A nova escravatura "trés chique""

 


Imagens como a reproduzida acima costumam acirrar a consciência de bem pensâncias.

Porventura, rebate sonso, integrado numa caminhada mas vasta de reescrita da História, com óbvias implicações nefastas para a objectividade desejável de um ramo das ciências humanas.


Curioso é que tanto nas zonas nobres da cidade de Lisboa, como junto de pindéricas lojas do Minipreço da Margem Sul, observamos, durante todo o santo dia, o vaivém dos novos "criados finos", encobrindo uma nova escravatura, promovida a um "must" moderno, chique e indispensável.

Não confundamos conceitos tão básicos como a dignidade humana com preceitos bacocos de liberalismo sem freios.

Post de HMJ

Elizabeth Jennings (1926-2001)

 


Demora


O brilho dessa estrela que se inclina para mim
já fulgia há muitos anos atrás. A luz que cintila
agora nos meus olhos talvez não veja nunca
o tempo presente que, mais lento, se atrasa como

o amor que nasce pode não atingir de todo o primeiro
desejo, até ser consumido e satisfeito. O impulso
da estrela terá de esperar pelo olhar que a ache bela.
E o amor talvez já nos encontre muito longe daqui.

sexta-feira, 1 de julho de 2022

Do que fui lendo por aí... 51



De A Handful of Authors, de G. K. Chesterton (1874-1936), traduzo:

"... mantém-se o facto de que o herói (Sherlock Holmes) de Conan Doyle é provavelmente a única criação literária desde as personagens de Dickens que, na realidade, passaram para a vida e linguagem do povo, e se tornaram figuras tal como John Bull ou o Pai Natal..."

Gilbert Keith Chesterton, in An Anthology (pg. 184), Oxford University Press (1957).

Adagiário CCCXXXVIII

 


1. Não há melhor amigo, do que Julho com seu trigo.

2. Quem trabalha em Julho, para si trabalha.