sábado, 30 de abril de 2022

Recomendado : noventa e quatro



Louve-se a forma organizada, clara e ampla como são abordados os assuntos nestes números fora de série da revista francesa Le Point. Não estamos imunes, neste caso concreto, a um certo tipo de coscuvilhice nobre (como eu lhe chamo) que estas páginas de Les secrets de l'Élysée nos facultam. Com proveito cultural, muitas vezes, e alargamento de perspectivas políticas e históricas.
Por isso recomendo este número, muito interessante, de Abril/Maio de 2022, da conhecida revista francesa.

sexta-feira, 29 de abril de 2022

Do que fui lendo por aí... 50



Se, como pessoa, não tenho muita empatia com J. Rentes de Carvalho (1930), a sua forma de escrita agrada-me e convence-me, quase sempre, e não desgosto de o ler. Aqui vai uma breve amostra deste pequeno livro (capa em imagem) de pouco mais de 70 páginas, para que se possa ter uma ideia. Segue:

"É desnecessário cantar loas à cozinha transmontana, basta dizer que na sua simplicidade, quase rudeza, ao mesmo tempo que tira a fome parece satisfazer também necessidades ancestrais, causando aquele benfazejo sentimento que não é apenas o da barriga cheia, mas o da misteriosa e animal satisfação de todos os sentidos.
Claro que isso só se alcança à custa de poderosos ingredientes, carnes bem criadas e bem talhadas, francas gorduras, vinhas-d'alhos de alquimia secular, mas também pela aplicação do bom senso e do desdém das patetices da modernidade.
Muitos anos atrás, jantando em Milão com um amigo que conhece tão bem Trás-os-Montes como a Calábria onde nasceu, e discutindo a «cassoeula» que tínhamos defronte e íamos comer, explicava ele, com humor, que a boa cozinha italiana - "Só ela conta" - tem de ter de tudo um pouco, mas esse pouco abundante.
E foi assim que, comparando uma coisa com a outra, chegámos à conclusão que havia bastante em comum entre a "cassoeula" da Lombardia e as "casulas com butelo" de Trás-os-Montes, ambas tendo sido comida de pobre num ainda não muito longínquo passado, e promovidas agora a iguaria."

(Trás-os-Montes, o Nordeste [2017] - pgs. 53/4)

quinta-feira, 28 de abril de 2022

Versão portuguesa de um poema de W. S. Merwin



Quando a guerra acabar


Quando a guerra acabar
certamente ficaremos felizes e o ar
será bom, finalmente, de respirar,
a água fará crescer o salmão
e o silêncio do céu poderá expandir-se melhor,
os mortos hão-de chegar à conclusão que viver
vale a pena. Saberemos quem somos
e todos nós poderemos de novo 
assentar praça.



William S. Merwin (1927-2019), in The wreck of the thresher and other poems.

quarta-feira, 27 de abril de 2022

Citações CDXXXII



É a mulher que escolhe o homem que a há-de escolher. 

Paul Géraldy (1885-1983), in L'Homme et L'Amour (1951).

terça-feira, 26 de abril de 2022

Já saiu o número da Primavera



O número 16 da revista Electra já se encontra à venda. A temática nuclear é sobre Identidade(s) e as colaborações prometem, como é habitual.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

25 de Abril



48 anos.

(E à falta de cravos, aqui ficam estas 3 rosas bem bonitas, da varanda a sul.) 

domingo, 24 de abril de 2022

Últimas aquisições (38)



Não é muito frequente, hoje em dia, encontrarmos, em livrarias normais, livros com alguns anos, de casas editoras já desaparecidas ou em vias de extinção. Os chamados fundos, habitualmente e para poupar despesas de armazenamento, são guilhotinados sem quaisquer contemplações. Assim se perdem obras de reconhecido mérito e interesse, que desaparecem de circulação comercial. Ora, estes dois livrinhos da colecção Passagens, da Nova Vega, encontrei-os, novos e em bom estado, na Livraria Escriba, na Cova da Piedade. O preço era convidativo - trouxe-os para casa. O que foi uma boa decisão, no meu entender - o estudo sobre Herberto Helder é, no mínimo, bem feito, sugestivo e esclarecedor.

sábado, 23 de abril de 2022

Mangas a mais

 

Entre o rapazinho sobraçando um saco de plástico (à esquerda baixa), sob o patrocínio do reverendo ex- presidente, e o novo dirigente da UGT, parece sobrar tecido ou mangas...
Talvez herança de um avô maior que lhes doou um generoso casaco.



sexta-feira, 22 de abril de 2022

Osmose 124



Creio que aquela ideia peregrina de que o poeta era, muitas vezes, um ser amaldiçoado, fez a sua carreira, mas hoje deixou de ser um dogma, até mesmo para os leigos na matéria. Exemplos como Villon e Verlaine eram usados e citados, a má estrela de Camões e Nobre, entre outros, era utilizada como abono da desgraça. Mas o atenuar do romantismo ajudou a uma certa sanidade e normalidade para abordar os poetas como homens comuns, sujeitos às mesmas vicissitudes de outros seres humanos.
Ainda há pouco tempo (1981), no entanto,  Miguel Torga (1907-1995), na sua introdução à Antologia Poética, escrevia: "É um duro ofício, o do poeta. Começa por ser uma vocação irreprimível e acaba por ser uma penitência assumida. A fatalidade e a voluntariedade inexoravelmente conjugadas no meu destino carismático e aziago que só encontra sentido na fidelidade com que se cumpre."



Assim, não me custa a aceitar que os poetas da "Presença" possam ser ainda incluídos no Romantismo.

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Uma fotografia, de vez em quando... (157)



Norte-americana por nascimento, Florence Henri (1893-1982) era filha de pai francês e mãe alemã, tendo-se dedicado intermitentemente à fotografia, e estando representada no MoMa. Fixou-se em Berlim em 1913 e posteriormente em Paris no ano de 1924. Com o aproximar da II Grande Guerra passou a privilegiar a pintura, também de cariz surrealista.




Como antes as suas fotografias o tinham sido. Embora uma parte da sua obra obedeça a critérios experimentalistas e originais.



terça-feira, 19 de abril de 2022

D. Duarte, por Rui de Pina



O retrato em palavras é relativamente sucinto e vem no capítulo III da Crónica d'El-Rei D. Duarte (1391-1438), de Rui de Pina. E diz assim:

"... e portanto é de saber que El-Rei D. Duarte foi homem de boa estatura do corpo, e de grandes e fortes membros: tinha o acatamento da sua presença mui gracioso, os cabelos corredios, o rosto redondo e algum tanto enverrugado, os olhos moles, e pouca barba; foi homem desenvolto e costumado em todalas boas manhas, que no campo, na côrte, na paz e na guerra a um perfeito Príncipe se requeressem: cavalgou ambas as selas da brida e de ginêta melhor que nenhum do seu tempo: foi mui humano a todos, e de boa condição: prezou-se em sendo mancebo de bom lutador, e assim o foi, e folgou muito com os que em seu tempo bem o faziam: foi caçador e monteiro, sem míngua nem quebra do despacho e aviamento dos negócios necessários: foi homem alegre, e de gracioso recebimento (...) foi mui piedoso, e manteve mui inteiramente sua palavra como escrita verdade: amou muto a justiça: foi homem sesudo e de claro entendimento, amador de ciência de que teve grande conhecimento, e não por decurso d'escolas, mas por continuar d'estudar e ler por bons livros (...) no comer, beber e dormir foi mui temperado, e assim dotado de todalas outras perfeições do corpo e d'alma."

domingo, 17 de abril de 2022

Bibliofilia 197



Não é raro este livro, cuja capa surge a encimar o poste, e tê-lo-ei comprado, em finais dos anos 80 do século passado, ao sr. Almarjão (José Mª da Costa e Silva), da Livraria Histórica e Ultramarina, numa altura em que estava empenhado num texto sobre Teixeira de Pascoaes, para os Cadernos do Tâmega, publicação cultural de Amarante, dirigida por António José Queirós. Trabalho que veio a sair  no número 6 (Dezembro de 1991) da revista, com o título Perfil a meio da Ponte (pgs. 64/6).  
Mas este VI volume da Bertrand tem, no entanto, a particularidade de me lembrar, por associação, uma série de outros nomes.



Antes de mais, o falecido e sábio alfarrabista da Travessa da Queimada, no Bairro Alto. Depois o poeta de Marânus e Jacinto do Prado Coelho que organizou estas obras completas editadas pela Bertrand, com o seu amplo estudo introdutório.
Finalmente, e não menos importante, a dedicatória de Prado Coelho a Ruben A(ndresen Leitão) e mulher Rosemary Bath, pelo Natal de 1970, em que o estudioso refere (a lápis) ter recebido a oferta do livro Páginas VI do escritor.
Pelo meio disto tudo, esqueci-me de anotar o preço que dei pelo VI Volume das Obras completas de Pascoaes... Creio não ser o mais importante.

sexta-feira, 15 de abril de 2022

Um CD por mês (28)



O meu primeiro contacto com gravações de música clássica de compositores russos terá sido, certamente, através de 2 singles comprados por volta de 1958. Da Telefunken, era a abertura da "1812", de Tchaikovsky (1840-1893), da Decca, um pequeno excerto das "Danças Polovtesianas do Príncipe Igor", compostas por Alexander Borodin (1833-1887).



Vieram depois, e por esta ordem, Mussorgsky ("Quadros de uma Exposição"), Prokoviev ("Cantata de Alexandre Nevsky", que Pasolini viria a usar no Evangelho segundo S. Mateus), Stravinsky e Shostakovich. Por último, e através das boas gravações que acompanhavam a BBC Music, me chegou aos ouvidos a música de Rachmaninov (1873-1943). De que aqui deixo um pequeno excerto coral de Vespers (obra musical estreada em 1915), atendendo à época pascal que atravessamos.




Citações CDXXXI



O policiamento da linguagem é uma diminuição da nossa liberdade.

J. Pacheco Pereira (1949), in Grande Entrevista (RTP, 13/4/22).


Nota pessoal: aconselho a audição integral (na RTP) desta entrevista que tem, como pano de fundo, a censura em Portugal, feita a propósito da exposição temática actualmente na ex-sede do DN.

quinta-feira, 14 de abril de 2022

quarta-feira, 13 de abril de 2022

Mercearias Finas 177



Anho ou cabrito, pela zona geográfica crismado, o cordeiro está ligado indissoluvelmente à Páscoa como refeição privilegiada, até por razões litúrgicas. Nos últimos anos, nem sempre temos cumprido a regra e já vieram perdizes estufadas à mesa, no almoço de Domingo. Provavelmente no próximo encomendaremos uma dose de leitão a quem o assa, desde os 15 anos, à moda bairradinha e como deve ser. A experiência que tivemos anteriormente foi muito promissora e deixou-nos boca para mais...
No entretanto, e como faltam dias, dei com uns versos de Bocage (1765-1805), que falam de papas nas suas dúplices funções. Por aqui os deixo, por lhes achar graça:

Pra que viva a cozinheira,
que tão boas papas fez,
confesso por esta vez
que bem me sabe e me cheira.

O Papa, em sua cadeira,
vestido de estola e capa,
não faz coisa tão guapa.

A cozinheira faz mais:
o Papa faz cardeais,
a cozinheira faz papa.

terça-feira, 12 de abril de 2022

Poema de Cavafy, em versão portuguesa




Anna Dalassena (1030-1102) *

No decreto imperial que Aleixo Comneno **
fez de propósito para celebrar sua mãe, 
- a muito inteligente Senhora Anna Delassena
- dava conta das obras, virtudes e maneiras
que muito a distinguiam.
Aqui ofereço apenas uma frase,
que é, ao mesmo tempo, bela e sublime:
"Ela nunca proferiu aquelas gélidas palavras:
«minha» ou «vossa»".


C. P. Cavafy (1863-1933)



** Aleixo Comneno (1057-1118), imperador de Bizâncio.
* Anna Dalassena, dama nobre bizantina.

segunda-feira, 11 de abril de 2022

Últimas aquisições (37)



Os livrinhos têm quase todos um ar simpático, um grafismo cuidado e de bom gosto. Além disso, os temas abordados não são vulgares, antes singulares. São tratados de modo muito próprio pelos autores e os pequenos volumes têm um preço tentador: 3,15 euros. Um aliciante para os fãs que coleccionem marcadores: cada obra possui um (tipo postal) alusivo ao assunto tratado no texto.
Remato, da última vez que fui ao sítio do costume, arrebanhei estes 3 (capas em imagem) e trouxe-os comigo. Não me arrependi, até agora.



sexta-feira, 8 de abril de 2022

Curiosidades 92



Como se costuma dizer: uns têm a fama, outros o proveito.
Assim como eu, muita gente atribuiria a autoria do V de vitória, feito com os dedos indicador e médio, a Winston Churchill (1874-1965), por alturas da II Grande Guerra. Outros ainda, menos frequentadores da História, são capazes de pensar que terá sido Sá Carneiro quem criou o sinal na campanha de eleições da AD. Não. Nem um, nem outro são os seus autores.





Mas foi-me preciso chegar até a um Le Monde recente (25/2/2022), emprestado pelo meu bom amigo H. N., para numa recensão literária (de Florence Noiville)  do suplemento sobre livros, lhe saber a história e origem. E afinal o gesto, pretensamente político, não tem um autor conhecido - é anónimo. Mas não há nada como eu traduzir o texto inicial do jornal francês, para esclarecer o assunto. Aqui vai:

"Eles avançam. Fazem o V da vitória. Com os seus arcos de 7 pés de comprimento, com os seus terríveis longbows em madeira, eles envolvem o inimigo numa chuva de flechas torrenciais. Os frecheiros ingleses da guerra dos Cem Anos (1337-1453). Quando os Franceses capturaram um deles, apressam-se a cortar-lhe o dedo indicador e o médio para ter a garantia que o arqueiro não mais poderá manobrar o arco. É por isso que, antes de cada nova batalha, por desafio, os frecheiros fazem esse V com os seus dedos. Querendo dizer: as nossas mãos estão intactas, temos os dedos todos, vamos vencer-vos."

Interessante a história, não é?!

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Citações CDXXX



Enfim - coisa capital e meu orgulho verdadeiro - eu devo aos meus amigos quase tudo aquilo que sou. Eles acreditaram em mim, que não acreditava em mim próprio.

Paul Valéry (1871-1945).

quarta-feira, 6 de abril de 2022

Pinacoteca Pessoal 183

 

Eu creio que nunca tinha dado por ele, melhor dizendo, pela sua obra, não fora uma chamada de atenção, num livro que estive a ler, para uma sua tela A Blusa Azul, existente no MNAC. É de Adriano Sousa Lopes (1879-1944) que falo, um pintor estimado, mas pouco referido, que eu me lembre.



A sua aproximação ao impressionismo resultou, provavelmente, da estadia em Paris, através de uma Bolsa de Estudo, que recebeu. Viagens a Itália completaram, de alguma maneira, a sua formação artística. Algum pendor para o simbolismo, nota-se também em algumas das suas pinturas. 




Ainda na juventude participou, a partir de 1917, e deu testemunho da I Grande Guerra através de muitos esboços e pinturas alusivas às acções bélicas em solo francês. Mais tarde veio a dirigir o MNAC. E a sua obra adoptou um cariz mais conservador, privilegiando sobretudo temas históricos.

terça-feira, 5 de abril de 2022

Revivalismo Ligeiro CCCIV


Uma veterana da canção francesa, Line Renaud (1928) que em breve (2 de Julho) completará 94 anos.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Museus



O livrinho, cuja capa encima o poste, faz uma abordagem muito singular do tema proposto - mérito da autora e do seu método. E, por isso mesmo, embora só tratando de museus lisboetas, proporcionou que eu tecesse também algumas considerações íntimas e gerais sobre as minhas experiências museológicas mais recentes.
Cheguei assim à conclusão que, provavelmente, o museu que eu mais vezes teria visitado, na vida, fora o da Fundação Calouste Gulbenkian (C. A. M., inclusivé). Se o inventário se alargasse a todo o território de Portugal, o campeão seria, sem dúvida o vimaranense Museu Alberto Sampaio.
Aqui deixo também a indicação das minhas duas últimas e mais gratificantes visitas pelas terras portuguesas: o Museu Grão Vasco, de Viseu, já remodelado e muito bem, que foi uma agradável surpresa; e ainda o Museu de Aveiro, que eu não conhecia.
Em Lisboa, visitei finalmente as Casas-Museus Doutor Anastácio Gonçalves (Av. 5 de Outubro) e Medeiros e Almeida (Rua Rosa Araújo). Devo dizer que duas boas e tocantes experiências inesperadas.
Concluo referindo que, maiores ou menores, em Lisboa há mais de 70 museus!

domingo, 3 de abril de 2022

Evocação (atrasada)



William Hurt (20/3/1950 - 13/3/2022), para melhor se definir, dissera um dia, recentemente:

"Não sou um actor. Sou simplesmente um homem que gosta de representar. Sou o que sou. Não sou ninguém. Não existo. Só o trabalho existe. O trabalho vale mais do que o actor."

sábado, 2 de abril de 2022

Livrinhos 31



Edições dos anos 40 do século passado, os livrinhos em imagem caberiam bem na rubrica Retro do Arpose. Os 3 primeiros foram impressos pela Editora Educação Nacional (Porto) e pertencem à colecção Dois Miúdos, enquanto os 2 outros, da Colecção Joaninha, foram editados pela Livraria Clássica Editora (Lisboa).
Destinam-se a marcar a data de hoje, em que se celebra o Dia do Livro Infanto-Juvenil.

sexta-feira, 1 de abril de 2022

As palavras do dia (46)



Mas será que ainda alguém tem dúvidas?! 

Metamorfoses



Apesar de pequena (cerca de 30 indivíduos), a colónia de hipocampos da Trafaria contava com  duas espécies diferentes: 26 Hippocampus hippocampus e 4 Hippocampus guttulatus. Estes últimos, no entanto, intrigaram os cientistas, pois apresentavam malformações no lombo (rudimentos de asas?) e na barriga (patas?), como se estivessem num processo de evolução inesperado. Esperam-se conclusões rigorosas da parte da Ciência, após estudo competente.



Adagiário CCCXXXIV



A carranca é mãe do cuco, vem ao princípio de Abril e diz ao Maio que seu filho está para vir.