domingo, 30 de agosto de 2020
sábado, 29 de agosto de 2020
Esquecidos (3)
Permito-me opinar sobre um assunto momentoso e próximo, de que não sou porém especialista.
Eu creio que a degradação e miséria dos resultados práticos do ensino se devem, essencialmente, não à quantidade de cultura ministrada, mas à ausência de uma estratégia coerente (ministério), à insuficiência dos agentes de educação (professores, maioritariamente), à passividade ignorante das famílias inertes e ausência de intervenção sua positiva junto dos jovens. Tudo isto maximizado pela idade das trevas em que vivemos e que alguns querem com fervor perpetuar, para seu descanso administrativo. Pão e circo sempre narcotizaram o povinho, em favor da tranquilidade dos imperadores e das ditaduras...
Dizia-me, há dias, HMJ que só não tiraram Camões dos programas de ensino (e Pessoa), porque seria excessivamente escandaloso. Mas, entretanto, todo ou quase todo o século XVI, talvez o mais rico da nossa história, literariamente, foi varrido do ensino às criancinhas, para lhes proporcionar o cómodo facilitismo das aulas reinadias.
E, no entanto, houve nesse século, alguns verdadeiros best-sellers, como por exemplo a Comédia Eufrosina, de Jorge Ferreira de Vasconcelos (1515?-1585?), que, em 11 anos teve nada menos do que 4 edições (1555, 1560, 1561 e 1566). Tendo sido traduzida para castelhano, com prefácio de Quevedo, em 1631. E, em 1951, o filólogo e bibliófilo espanhol Eugenio Asensio (1902-1996) fez imprimir em Madrid uma nova edição da comédia referida, com uma elucidativa introdução.
Creio ter sido o último trabalho de vulto, até hoje, que se produziu sobre o escritor português.
Já M. Bernardes Branco (1832-1900), em pequeno prefácio à segunda edição do Memorial das Proezas da Segunda Tavola Redonda (Typ. do Panorama, Lisboa) se interrogava assim: "Mas quem lerá esta obra? Os leitores dos modernos romances? Certamente que não. Jorge Ferreira de Vasconcellos não é um Walter Scott, nem um Alexandre Herculano, Rebello da Silva ou C. Castello Branco. Os antigos talvez não gostassem dos modernos romances, se os podessem ler; mas bofé que os modernos tãobem se não deleitam muito na leitura dos romances dos seculos XV e XVI.
Quem serão então os leitores do Memorial dos Cavalleiros?
Hão de ser, com rarissimas excepções, os amantes dos livros portuguezes antigos, que considerarão sempre esta obra como util para os amantes da pureza de linguagem, para os que gostam de ver os progressos que os estudos romanticos fizeram em Portugal, para os estudiosos dos antigos usos e costumes nacionaes e para pouco mais."
Estas palavras de Bernardes Branco são realistas e de sabedoria... E hoje será ainda pior.
Concordo que, para a imensa maioria, ler uma das obras de Jorge Ferreira de Vasconcelos seria grande sensaboria e só, talvez, alguns poucos chegariam ao fim do livro.
Estes textos terão, no entanto, pequenas e gratas compensações. Se a acção e enredo dos livros não são muito movimentados, o entrelaçamento de sentenças, anexins, máximas e provérbios é enorme. E o léxico é riquíssimo e fresco, apesar de antigo. Deixo por aqui um cheirinho, para apreciação, retirado da página 18, da Eufrosina:
"A filha da puta estava bonita como ouro, de sua vasquinha amarela quartapisada, em mangas de camisa, seus cabelos ataviados com hua fita encarnada tam de verão que vos ride vos de mais Serea pintada. E por mais ajuda em me vendo ficou brasa."
Admito que Jorge Ferreira de Vasconcelos será um caso esquecido e perdido, para sempre, como escritor. Ainda para mais, as edições das suas 4 obras conhecidas, além de raras, saem sempre caras, em alfarrabistas ou leilões, em que escassamente aparecem.
Que se há-de fazer?!...
E, no entanto, houve nesse século, alguns verdadeiros best-sellers, como por exemplo a Comédia Eufrosina, de Jorge Ferreira de Vasconcelos (1515?-1585?), que, em 11 anos teve nada menos do que 4 edições (1555, 1560, 1561 e 1566). Tendo sido traduzida para castelhano, com prefácio de Quevedo, em 1631. E, em 1951, o filólogo e bibliófilo espanhol Eugenio Asensio (1902-1996) fez imprimir em Madrid uma nova edição da comédia referida, com uma elucidativa introdução.
Creio ter sido o último trabalho de vulto, até hoje, que se produziu sobre o escritor português.
Quem serão então os leitores do Memorial dos Cavalleiros?
Hão de ser, com rarissimas excepções, os amantes dos livros portuguezes antigos, que considerarão sempre esta obra como util para os amantes da pureza de linguagem, para os que gostam de ver os progressos que os estudos romanticos fizeram em Portugal, para os estudiosos dos antigos usos e costumes nacionaes e para pouco mais."
Concordo que, para a imensa maioria, ler uma das obras de Jorge Ferreira de Vasconcelos seria grande sensaboria e só, talvez, alguns poucos chegariam ao fim do livro.
Estes textos terão, no entanto, pequenas e gratas compensações. Se a acção e enredo dos livros não são muito movimentados, o entrelaçamento de sentenças, anexins, máximas e provérbios é enorme. E o léxico é riquíssimo e fresco, apesar de antigo. Deixo por aqui um cheirinho, para apreciação, retirado da página 18, da Eufrosina:
"A filha da puta estava bonita como ouro, de sua vasquinha amarela quartapisada, em mangas de camisa, seus cabelos ataviados com hua fita encarnada tam de verão que vos ride vos de mais Serea pintada. E por mais ajuda em me vendo ficou brasa."
Que se há-de fazer?!...
sexta-feira, 28 de agosto de 2020
Citações CDXLII
... Posto isto, continua aquilo a ser o belíssimo país (Portugal) que amamos, cheio de um povo doce e amável quando não esfaqueia a gente por uma questão de águas ou de vinho. Mas o nosso amor é um amor infeliz e mal pago. Acontece que não temos outro. ...
De carta de Jorge de Sena a Sarmento Pimentel, datada de 3/1/1972.
quinta-feira, 27 de agosto de 2020
Pinacoteca Pessoal 167
Alentejano de Mora, António Costa Pinheiro (1932-2015) fez uma boa parte da sua vida na Alemanha, onde veio a falecer. Produziu uma obra muito original e a sua temática sobre Fernando Pessoa é facilmente reconhecível.
Este encarte, que reproduzo em imagem, pertence a uma pequena exposição, que ele apresentou na Galeria 111 ( ao Campo Grande), em Abril de 1969. Estive lá e conservei, avisadamente, o folheto simples da mostra.
quarta-feira, 26 de agosto de 2020
Revivalismo Ligeiro CCLIII
É um clássico do clarinetista Sidney Bechet (1897-1959), criado em 1952, e que até já consta dos nossos arquivos (27/6/2010), interpretado pelo seu autor. Como a obra musical é lindíssima, e me traz boas recordações, achei por bem reincluí-la hoje, embora numa outra versão e com novos intérpretes.
E não havia dinheiro para os projectores...
Até parece que, premonitoriamente, no dia 23/3/20, reflecti o nome (Dissonâncias) num poste, com o mesmo título, mas outras razões, com que iria ser crismada uma próxima exposição no Museu do Chiado (MNAC).
Só que o jornal Público informa, hoje, que a Mostra já não vai abrir por haver falta de verba para os projectores, a fim de iluminar os objectos culturais a expor.
Provavelmente a ministra da Cultura gastou, do seu exíguo orçamento, muito dinheiro em dispensáveis drinks de fim de tarde. E agora falta-lhe dinheiro para a luz...
terça-feira, 25 de agosto de 2020
Recomendado : oitenta e sete
O já lido (316 de 496 páginas) permite-me algumas conclusões: é das correspondências publicadas de Jorge de Sena (1919-1978), aquela em que mais afloram as questões políticas, embora as de ordem literária também abundem. João Sarmento Pimentel (1888-1987) era um velho exilado republicano, no Brasil. E deste livro se depreende que foi um grande amigo de Jorge de Sena, bem como este correspondeu, da mesma forma ao velho capitão honrado. Muito haveria a destacar, mas para não ser excessivo limito-me a referir a carta de Sena (de 14 de Dezembro de 1965) ao chegar aos E. U. A., para Sarmento Pimentel, e que, não sendo a Nova do achamento de Vaz de Caminha, é um grande momento, de sempre, de toda a epistolografia portuguesa conhecida.
Ora, nesta silly season lusitana, em vez de nos dedicarmos a tantas miudezas inúteis, que por aí se publicam, mais valia lermos esta prosa límpida de dois portugueses de lei e condição.
Que, naturalmente, recomendo.
Ora, nesta silly season lusitana, em vez de nos dedicarmos a tantas miudezas inúteis, que por aí se publicam, mais valia lermos esta prosa límpida de dois portugueses de lei e condição.
Que, naturalmente, recomendo.
segunda-feira, 24 de agosto de 2020
domingo, 23 de agosto de 2020
Dissonâncias
Roubei este velho texto à temática Recuperado de um moleskine, até porque é de um Agosto antigo. Mas também sei que, com jeito (que não é preciso ser muito domado e manso) e algum artifício, ele pode reduzir-se de uma prosa simples a uma poesia arrumada. Aí vai ela:
Troco o mar por este verde esparso
em frente, que o azul limita.
No visível movimento secam roupas
soltas, coloridas nas varandas
de Agosto. O vento traz consigo
as esquecidas expressões abandonadas
e os corpos ausentes no de longe.
Ao descarnar os termos sobe um ritmo
apenas diferente, sincopado e lento -
dísticos humildes à espera de sentido,
palavras que se amem entre si
só para serem felizes.
sábado, 22 de agosto de 2020
sexta-feira, 21 de agosto de 2020
Mercearias Finas 160
Não tarda muito que os marmelos e as gamboas comecem a amadurecer e, o mais tardar, dentro de mês e meio ou pouco mais, a pastelaria Cister, próximo da Imprensa Nacional, exiba na sua montra as tijelas da apetitosa marmelada que, milagrosa e tradicionalmente, ainda vai fabricando, todos os anos, pelo Outono. No antigamente na vida (Guimarães Rosa dixit), todas as Panificações que se prezasem a produziam... Agora, as boutiques de pão não de todo a fazem ou nem sequer a sabem fazer...
Tanto quanto sei, a primeira reprodução do fruto, que dá origem a esta compota singular, deve-se ao naturalista e botânico inglês John Tradescant, o Velho (1570?-1638), que lhe deu o nome científico de portin(ge)gale quince e o reproduziu em gravura reconhecível e bonita. A referência latina a Portugal deverá ter uma lógica razão de ser.
Domesticamente, HMJ ainda não decidiu se este ano irá renovar a reserva da marmelada, dado que ainda há algum resto de tijelas do fabrico do ano passado, e em muito bom estado comestível. Tudo depende de alguns pequenos factores imprevisíveis...
quinta-feira, 20 de agosto de 2020
quarta-feira, 19 de agosto de 2020
Uma integral, com história
É uma sonata com história, e longa em tempo de execução (cerca de 45 minutos), talvez, para a sua variedade musical. Conhecida de muitos, inspirou também Tolstoi, pelo duelo ou diálogo agressivo que se trava entre o violino e o piano, que se vão congraçando, intermitentemente.
A Sonata Kreutzer foi dedicada por Beethoven, inicialmente, ao violinista Rodolphe Kreutzer (1766-1831), mas este, que não era muito apreciador da obra do compositor, ao que parece, nunca chegou a tocá-la. Terá sido George Bridgetower (1778-1860), músico afro-europeu (com ascendentes em escravos de Barbados), que a estreou em 24 de Maio de 1803, com Beethoven ao piano, acompanhando. O compositor simpatizava e admirava o virtuoso violinista. E a partitura, de oferta, tinha uma exótica e bem humorada dedicatória: Sonata per um mulattico lunatico.
A sonata inspirou a Tolstoi uma novela (1889), homónima. E mais tarde (1923), o compositor L. Janacek veio a criar o seu Quarteto nº 1 para violino, com o mesmo título.
A Sonata Kreutzer foi dedicada por Beethoven, inicialmente, ao violinista Rodolphe Kreutzer (1766-1831), mas este, que não era muito apreciador da obra do compositor, ao que parece, nunca chegou a tocá-la. Terá sido George Bridgetower (1778-1860), músico afro-europeu (com ascendentes em escravos de Barbados), que a estreou em 24 de Maio de 1803, com Beethoven ao piano, acompanhando. O compositor simpatizava e admirava o virtuoso violinista. E a partitura, de oferta, tinha uma exótica e bem humorada dedicatória: Sonata per um mulattico lunatico.
terça-feira, 18 de agosto de 2020
segunda-feira, 17 de agosto de 2020
Divagações 162
São como as cerejas, as palavras - diz-se. E assim foram, para mim, contagiosas. De Agustina (O Susto), passei para Pascoaes (Regresso ao Paraíso) que, curiosa e poeticamente, nunca me contagiou muito; e ao ensaio e antologia escolhida por Sena (Brasília Editora) sobre o poeta de S. João de Gatão. Poupei-me a reler Os Afluentes do Silêncio, em que Eugénio traça um belo e comovido retrato de Teixeira de Pascoaes (1877-1952), real e não ficcionado como o de Bessa-Luís.
Pela biografia de René Char (Tempus, 2013) ando eu, há meses, mergulhado em leituras do maravilhoso texto de Laurent Greilsamer. Até que fui dar com umas palavras sobre o pintor russo Nicolas de Staël (1914-1955), amigos que eles foram, que me fez ir à estante buscar o livro de Antoine Tudal (Le Musée du Poche, 1958). Sucinto de escrita, como convém à biografia de um suicida, mas bastante. E de competente iconografia.
Fiquemos por aqui!
domingo, 16 de agosto de 2020
Apontamento 138: Hipocrisia
A hipocrisia, o fingimento e
a dissimulação são, na sua essência, vícios humanos que revelam, sobretudo,
falta de carácter e, quiçá, capacidade de discernimento.
O cenário hipócrita de alguns
partidos políticos, apoiados, claro está, pelo Bastonário da Ordem dos Médicos
e outros quejandos, não engana, nem deixa sossegado o cidadão, profundo conhecedor da assistência à velhice,
tanto a nível europeu como nacional, e indignado com o aproveitamento perverso
da situação em lares espalhados pelo país.
Diga-se: basta de tanto aproveitamento e de tanta
impunidade perante estes HIPÓCRITAS.
Não foi no tempo dos “pafunços”
que se propagou a ideia, com justificação da “troika”, como anteriormente o fez um Senhor
Cavaco, que os velhos estavam a mais ? Houve algum registo de tantos lares
ilegais espalhados pelos país, em vivendas sem nenhuma indicação por fora,
disfarçando os antros de morte ?
Se o Senhor Bastonário dos
Médicos desconhece o universo dos lares ilegais, devia estar calado em vez de
fazer afirmações tolas como tem sido a sua postura. Pergunta-se, então, quem
passa as certidões de óbito, frequentes, ocorridos nesses espaços
inqualificáveis ? A certidão não terá a assinatura de uma pessoa com
formação em medicina, havendo a obrigatoriedade
de reportar cenas e instalações inqualificáveis ? Quartos de dormir, de 16 m2,
com camas ocupadas por mulheres e homens? É agora que o Senhor Bastonário dos
Médicos e a dos Enfermeiros acordam para uma realidade há muito conhecida ?
E os partidos políticos
- CDS e PSD – ora muito incomodados, o
que fizeram no tempo dos governos de Cavacos e Pafunços ? Andaram pelos
subúrbios de Lisboa – e do Porto e pelo país fora – a identificar e registar os
lares ilegais para terem agora alguma legitimidade para falar?
Aliás, já naquela altura era
só começar a dar uma volta pelo país e, como último recurso, perguntar às
pessoas da “terra”. Toda a gente sabe onde estão os chamados “lares baratos”,
escondendo autênticas casas da morte.
No entanto, e com a
autoridade de falar em causa própria, conhecendo uma boa e uma péssima
assistência na velhice, é preciso desfazer a maior hipocrisia, a saber, a das
famílias que, em primeiro lugar, são as principais responsáveis pelos cuidados escolhidos na
fase final da vida do idoso. Parece que estão calados nem ratos !
Não vale a pena a pessoa
enganar-se. A opção por uma boa assistência ao familiar idoso implica, em
muitos casos, o desfazer da fortuna – móvel ou imóvel – acumulada pelo próprio
ao longo da sua vida. A opção humanamente responsável é, de facto, que ela seja
usada em seu benefício quando o idoso mais precisa de cuidados e que a família
já não lhe pode proporcionar.
A hipocrisia é, sobretudo, de
não falar dos familiares, como os primeiros responsáveis pela escolha e verificação
das condições de assistência aos idosos.
Com todo este discurso
perverso, digo que já não aguento tanta hipocrisia !
sábado, 15 de agosto de 2020
Uma fotografia, de vez em quando... (144)
Fotógrafo e realizador de documentários, o francês Guy Le Querrec (1941) era também grande apreciador de Jazz, de que deixou abundantes provas. Bom retratista, contam-se, a benefício de inventário, sugestivos instantâneos de Serge Gainsbourg, Miles Davis, James Baldwin e Ray Charles.
A sua obra contém também alguns apontamentos pitorescos e de humor, bem apanhados.
Por mérito próprio, Guy Le Querrec integrou a Agência Magnum a partir de 1976.
sexta-feira, 14 de agosto de 2020
Citações CDXLI
A simplicidade natural e o à vontade são os sinais do homem civilizado; o excesso e a ostentação, os do bárbaro. A verdadeira grandeza ilumina com o seu próprio reflexo e não se perde, nem mesmo num cenário ainda que modesto.
Rabindranath Tagore (1861-1941), in Para o Homem Universal (1890).
quinta-feira, 13 de agosto de 2020
Últimas aquisições (26)
Como poeta, Quevedo (1580-1645) é, para mim, um dos cinco maiores de Espanha. Mas enquanto prosador, os seus méritos não são menores: bastaria falar de El Buscón (1626).
São de prosa estes 2 volumes, que adquiri recentemente, impressos em Madrid, no ano de 1713, por Manuel Roman, e estão encadernados e em muito bom estado.
As folhas de guarda dão nota de dois dos anteriores proprietários: José Maria d'Oliveira e Silva, bem como, mais recentemente, o conhecido bibliófilo já falecido Albino Forjaz Sampaio (1884-1949).
terça-feira, 11 de agosto de 2020
Curiosidades 83
A informação, que eu desconhecia em absoluto, colhi-a num dos últimos TLS (nº 6121). Ao que parece, o nome do célebre grupo musical The Doors terá sido inspirado pela obra The Doors of Perception, de Aldous Huxley (1894-1963), livro em que o escritor inglês descreve as suas experiências com a mescalina.
segunda-feira, 10 de agosto de 2020
Perdidos & Achados
Estiveram desaparecidas, as Cryptinas. Mais de dez anos, seguramente. No último dia de 2015, até fiz um poste (Livros que levaram sumiço), em que falava desse raro folheto de João de Deus (1830-1896), com 16 páginas, que me desaparecera, aparentemente, da biblioteca, por artes mágicas. Embora eu pensasse que o tinha metido no meio do grosso volume das Epanáforas, de D. Francisco Manuel de Melo, da IN-CM. Estava errado, porque folheei a obra, várias vezes, sem o descortinar.
E se não fora HMJ dar-lhe para ler as Memórias do Marquês de Fronteira e d'Alorna (na edição de 1986), nunca o folheto seria encontrado: estava , afinal, no volume V-VI, pelo meio. Foi como se fora o bíblico regresso do filho pródigo, e deu-me alegria...
O pequeno opúsculo, de poesias ligeiramente licenciosas, ainda que comum e tradicionalmente atribuído ao poeta João de Deus, está envolto em mistério. Aponta-se os finais do século XIX, como data de impressão, mas também não se sabe onde, nem quem o editou. Eu apenas sei que comprei o folheto em finais dos anos 80, na rua do Alecrim.
Em 1981, a Contramargem (&etc) imprimiu uma reedição das Cryptinas, que não é esta que eu tenho, e cujo papel atesta a marca indelével da passagem do tempo.
sábado, 8 de agosto de 2020
Filatelia CXXXVIII
No último epsódio da série Columbo, que a televisão está a retransmitir através da RTP-Memória, alguém perguntava a alguém se sabia qual era a primeira actriz de cinema que aparecera em selos do correio. E esse alguém, no episódio, respondia que fora Grace Kelly (1929-1982).
Claro que não fora como actriz, mas sim como princesa do Mónaco, ao casar-se com Rainier, em 1956, que Grace ganhara o privilégio de constar na filatelia monegasca. Muita água passou depois sob as pontes, e as actrizes e actores passaram a aparecer, depois de mortos, naturalmente, nos selos de vários países. Na Inglaterra, França, E. U. A., Portugal, entre tantos outros.
Mas há um caso singular que se passou na Alemanha. Que, com outros profissionais de cinema representados, os correios germânicos quiseram celebrar, também, numa série de 2001, a conhecida actriz Audrey Hepburn (1929-1993).
Ora acontece que, de Audrey, constava a imagem em que ela aparecia no filme Breakfast at Tiffany's, baseado numa novela de Truman Capote, com uma longuíssima e elegante boquilha, a fumar. E logo as puritanas e politicamente correctas boas almas alemãs se insurgiram contra o despautério tabagista. Reclamando para os correios.
Que, respeitadores e obrigados, retiraram o selo de venda e circulação, como bons seguidores da ordem e moral públicas.
Só que, no entretanto, tinham-se já vendido 5 estampilhas com esse motivo e o selo tornou-se uma raridade. Há poucos anos atrás, um exemplar usado foi vendido, em leilão, por 135.000 euros!... Até parece que o crime compensa.
Mas há um caso singular que se passou na Alemanha. Que, com outros profissionais de cinema representados, os correios germânicos quiseram celebrar, também, numa série de 2001, a conhecida actriz Audrey Hepburn (1929-1993).
Ora acontece que, de Audrey, constava a imagem em que ela aparecia no filme Breakfast at Tiffany's, baseado numa novela de Truman Capote, com uma longuíssima e elegante boquilha, a fumar. E logo as puritanas e politicamente correctas boas almas alemãs se insurgiram contra o despautério tabagista. Reclamando para os correios.
Que, respeitadores e obrigados, retiraram o selo de venda e circulação, como bons seguidores da ordem e moral públicas.
Só que, no entretanto, tinham-se já vendido 5 estampilhas com esse motivo e o selo tornou-se uma raridade. Há poucos anos atrás, um exemplar usado foi vendido, em leilão, por 135.000 euros!... Até parece que o crime compensa.
sexta-feira, 7 de agosto de 2020
Citações CDXL
Paul Valéry (1871-1945), in Tel Quel.
quarta-feira, 5 de agosto de 2020
RTP - Erro crasso
É favor corrigir, rapidamente, antes que as pessoas sérias deixem de ter um mínimo de confiança nas notícias da RTP:
Ipatimut testa serologicamente funcionários à cinco meses
Será necessário explicar aos funcionários - jornalistas ? - a diferença entre uma contração do artigo definido com a preposição: a + a = à e a forma do verbo haver, conjugado na terceira pessoa do singular, i.e., haver de que resulta há ? Para o incauto escrevente, sublinha-se que o verbo haver se utiliza nas formas da 3ª pessoa do singular, do presente do indicativo, para se referir ao tempo que passa: há vários anos, há cinco meses, etc.
Terei utilizado um discurso complicado para uma mente tão limitada como aquela que produziu a asneira em epígrafe ?
Existem, i.e, há várias páginas úteis que ensinam os ignorantes a tirarem as suas dúvidas nestas matérias básicas. A saber: ciberdúvidas.pt. Não façam como um antigo primeiro-ministro, falando em cidadões, embora teria em casa uma pessoa com eventual faculdade para ensinar qualquer coisa básica.
Post de HMJ
Marian Anderson (1897-1993)
Uma das primeiras grandes cantoras líricas norte-americanas, aqui numa interpretação exemplar de um espiritual negro tradicional.
terça-feira, 4 de agosto de 2020
Bibliofilia 181
Terá sido, seguramente, um dos primeiros livros antigos e usados que eu comprei. Com certeza, ainda nos anos 60 do século passado, mas já não me consigo lembrar onde. E é o único livro da área de Medicina, existente na minha biblioteca. Editado no Porto (1756), na Oficina Episcopal do Capitão Pedroso Coimbra, o livro é de autoria do cirurgião Manoel Gomes de Lima Bezerra (1727-1806).
Seria talvez um livro de estudo de medicina e há inscrições manuscritas, pelo menos, de dois anteriores proprietários: Apolinário Domingos Soares e João Ignacio Borges. Este último, cirurgião, que terá comprado O Practicante do Dialogo Chirurgico... em 28 de Junho de 1805, por 260 réis.
A obra tem algumas, poucas, ilustrações, mas bastante toscas ou ingénuas, ao menos.
Quanto ao autor, minhoto, Manoel Gomes de Lima Bezerra, que começou a estudar medicina já tarde (1764), aos 37 anos, na Universidade de Coimbra, é sobretudo conhecido pela conceituada obra (rara), em 2 volumes, Os Estrangeiros no Lima (1785-1791), que aborda factos e aspectos da história do Alto Minho. Recentemente, a obra foi reeditada.
Voltando ao nosso volume, de especialidade cirúrgica, encadernado em pele e em razoável estado, embora algo garatujado nas folhas de guarda, Inocêncio (volume V, pgs. 444/5) diz não ter visto nenhum exemplar. Numa anotação antiga, escrevi que, num catálogo (nº 94) da Livraria Morais, em Abril de 1940, (lote 37136), e com a indicação de "rara", a obra tinha o preço de Esc. 35$00.
segunda-feira, 3 de agosto de 2020
Uma louvável iniciativa 57
Com algum gosto, tenho vindo a acompanhar na RTP-Memória, nos dias úteis e às 21h00, a repetição da série norte-americana e policial Columbo. Apesar do cabotinismo de Peter Falk e da sua excessiva gesticulação, que é cansativa, não me tenho dado mal... E até me lembrei de Maigret que tinha o princípio de tentar compreender e não julgar os criminosos. Princípio também respeitado por Columbo, quase sempre.
O penúltimo Le Monde (24/7/2020), para além de uma entrevista com John Simenon (1949), traz uma boa notícia para os amantes de leitura policial e, especialmente, para os admiradores de Maigret, o mesmo é dizer de Georges Simenon. Com o patrocínio do jornal francês, irão ser reeditados cerca de 50, dos 76 romances e 28 novelas Maigret. Com novas e competentes ilustrações de capa de Loustal.
Ao imbatível preço de 2,99 euros, cada livro.
O penúltimo Le Monde (24/7/2020), para além de uma entrevista com John Simenon (1949), traz uma boa notícia para os amantes de leitura policial e, especialmente, para os admiradores de Maigret, o mesmo é dizer de Georges Simenon. Com o patrocínio do jornal francês, irão ser reeditados cerca de 50, dos 76 romances e 28 novelas Maigret. Com novas e competentes ilustrações de capa de Loustal.
Ao imbatível preço de 2,99 euros, cada livro.
sábado, 1 de agosto de 2020
Joaquim Veríssimo Serrão
Escalabitano ilustre, o historiador Joaquim Veríssimo Serrão (1925-2020) faleceu ontem, com 95 anos, completados há pouco. Fui-lhe comprando a sua História de Portugal que, a partir de 1977, ele foi publicando através da Verbo. A obra tem-nos sido muito útil, cá por casa - é o mínimo que posso dizer.
E, embora não comungando da sua visão ideológica, politicamente, e sendo eu um mero amador sempre interessado pela história portuguesa, desde longe o considerei um homem probo e de firmes convicções, que não cedia às conveniências do tempo e da fortuna.
Venho entretanto lembrar um pequeno episódio epistolar (ver carta acima, em imagem), por mim iniciado, que se passou em 1988. Tendo eu acabado de ler o volume X da sua História de Portugal (1890-1910) encontrei um lapso na data do nascimento de D. Mauel II, de que me fiz eco em carta para a Editorial Verbo.
Pois Veríssimo Serrão teve a amabilidade de me responder pessoalmente, e com simplicidade. Coisa que, por certo, muitos não fariam...
Um CD por mês (16)
Celebra-se este ano o centenário do nascimento de Federico Fellini (1920-1993). Realizador italiano, cujos filmes, na sua maioria, tiveram auspicioso acompanhamento de bandas sonoras criadas de propósito pelo grande compositor Nino Rota (1911-1979). Que, por sua vez, também trabalhou para Luchino Visconti e Coppola , entre outros cineastas.
Rota é dos tais casos dificeis de classificar. Se uma parte da sua obra cabe, perfeitamente, no cânone da música clássica, as composições para o cinema andam lá muito perto, pela sua qualidade.