terça-feira, 30 de junho de 2020

Impromptu (52)


De leituras que fiz recentemente dei-me a pensar que E. M. Forster (1879-1970) teria sido um pessimista objectivo ("Most of life is so dull that than is no thing to be said about it...", A Passage to India) e, por contraste, nota-se facilmente que Luis Spúlveda (1949-2020) gostava muito de viver ("Lembro-me sempre de que um dos meus dias mais felizes foi quando...", Uma ideia de felicidade).
Comecei depois a divagar e tentar distribuir alguns escritores, agrupando-os por maneiras (prováveis) de ser. Assim, cheguei a estas conclusões ociosas:
Kundera, Coetzee e Sebald - discretos, algo sorumbáticos, pouco faladores.
Marías, Magris - afáveis, comedidos, ainda que extrovertidos.
Steiner e Cioran - arrítmicos e tempestuosos, por vezes.
E por aqui me fiquei.

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Simenon, again


Um dos últimos TLS (nº 6115) noticia e dedica duas páginas à saída do último Maigret em versão inglesa. Trata-se da tradução de Maigret et M. Charles cuja edição primeira saiu em França, em 1972. Terá sido o último policial de Georges Simenon (1903-1989) escrito, tendo a figura do conhecido Comissário como protagonista. O primeiro, Pietr-le-Letton, datava de 1930. A Penguin completou assim a sua nova série de 75 novelas (número porventura total e rigoroso), com novas traduções feitas para o efeito. A nossa colecção Vampiro, da Livros do Brasil, abrange 73 volumes  de Maigret. A edição da Bertrand conta apenas 49. Creio que a totalidade, contos incluídos, em francês, chega aos 84 escritos. Mas há quem acrescente às 75 novelas  mais 28 contos. Assim perfaziam-se 103 títulos - é obra, seja como for!


Esta notícia oportuna do TLS vem comprovar, pelo que representa, a vitalidade da obra de Simenon.

domingo, 28 de junho de 2020

Mercearias Finas 159


Estão macias e frescas, as folhas das beldroegas, mas são poucas ainda e pequenas, nos vasos das varandas. Há que esperar por meados ou finais de Julho para uma sopa à maneira alentejana. Carlo Petrini, homem da Slow Food, perguntou um dia a Ferran Adrià, o mago de El Bulli, qual era, para o chef catalão, o seu conceito de gastronomia. E ele respondeu-lhe: É a ciência da felicidade.
Ora, anteontem, deu-me um desejo de mulher grávida, ditatorial, intenso e visceral, sem razão aparente, senão estarmos no mês de Junho. É por estas alturas de santos populares que, quem não gosta de sardinhas assadas, pode sempre optar, tradicionalmente, por um chouriço na canoa, apaladado, ladeado por um jarro ou jarrinho de um tinto carrascão.
Apeteceu-me, ao final da tarde, o chouriço na canoa. O enchido era de Almodôvar e muito bom. O tinto não era carrascão, mas um modesto Dão Fráguas 2017, saboroso embora. Baguette luso-francesa, estaladiça, acompanhante. A efectivação do lanche ajantarado só foi possível graças à providência logística de HMJ. Sempre eficiente e acautelada.
A quem, aqui, muito agradeço.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Esquecidos (1)


Escritor, tradutor, médico e jornalista, de seu nome completo Rodrigo Botelho da Fonseca Paganino Júnior, nasceu em Lisboa a 2 de Agosto de 1835. Teve vida breve, pois veio a falecer, em Carnide (Lisboa), a 22 de Setembro de 1863.


Foi amigo de Herculano e era figura muito conhecida nos meios literários lisboetas, sobretudo pela colaboração frequente na imprensa da época. A sua obra, em prosa, mais celebrada foram os Contos do Tio Joaquim,  editados em 1861, tinha Rodrigo Paganino apenas 24 anos de idade.
As diversas histórias da literatura portuguesa, a partir daí, foram-no sempre referindo.


O livro (306 páginas) foi muito falado e elogiado, embora com temas rurais e enredos singelos moralizantes, pressagiando, de algum modo, a carreira mais solidamente estruturada de Júlio Dinis (1839-1871), mais tarde. Tenho no entanto grandes dúvidas que hoje o autor ainda seja lido. Ou até mesmo referido. A insistência no pendor algo romântico da sua escrita afastará porventura os mais cépticos leitores empedernidos...
O meu exemplar, da edição original, tem dedicatória à irmã do escritor, Maria Máxima. Está em bom estado, encadernado, e custou-me 15 euros, recentemente (tinha sido remarcado dos 25 iniciais).


Óscar Lopes (1917-2013) denomina de "contos rústicos" estes, com alguma propriedade... Mesmo assim, na sua simplicidade e elegância da escrita corredia, podem ainda hoje ler-se desenfadadamente.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Citações CDXXXVI


A vaidade é um elemento tão subtil da alma humana que acabamos por o encontrar onde menos seria de esperar: paredes meias com a bondade, a abnegação, a generosidade.

Ernesto Sábato (1911-2011), in El  Túnel (1948).

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Pinacoteca Pessoal 166


A escassez de dados biográficos do pintor flamengo Steven van der Meulen (1543?-1564) poderá explicar, apesar da aparente brevidade da sua vida, a qualidade excepcional da sua obra realizada grandemente na Inglaterra. Nascido em Antuérpia, terá havido, com grandes probabilidades, uma aprendizagem da sua arte e maturidade que viriam a produzir efeitos objectivos nos magníficos retratos da rainha Isabel I e da dama Catherine Carey com o seu cão de estimação, que aqui reproduzimos.


terça-feira, 23 de junho de 2020

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Literatura Infantil


Não sei, em Portugal, qual a data em que a literatura infantil ganhou importância e carta de alforria, mas, na Inglaterra, o primeiro livro destinado a crianças é referido como sendo o Lytille Childrenes Lytil Boke, que terá vindo à luz por volta de 1480.
Entretanto, as coisas evoluíram. E num catálogo recente do antiquário-alfarrabista Peter Harrington (Londres), as primeiras edições de The Adventures of Tom Sawyer, de Mark Twain, e de Max und Moritz, de Wilhelm Busch, de 1865, vinham precificadas a 45.000 libras.
Enquanto que Black Beauty (O Cavalo Preto,* cá editado pela Portugália, nos anos 50 do século passado), de Anna Sewell, na sua edição original de 1877, vinha proposto a 17.000 libras.
É claro que não são preços para crianças...

* pode ver também o poste de 22/6/2010: Leituras Antigas V : Biblioteca dos Rapazes.

domingo, 21 de junho de 2020

Uma fotografia, de vez em quando... (142)


Embora a sua formação tenha decorrido na área da Economia, desde muito cedo  que o talento para a fotografia do japonês Shomei Tomatsu (1930-2012) se revelou, sendo os seus trabalhos publicados em revistas de referência nipónicas, e a sua qualidade reconhecida consensualmente.


Tomatsu interessou-se, particularmente, pelas vítimas das bombas atómicas e pela desfiguração monstruosa no rosto dos seres humanos atingidos. Em parceria com Ken Domon, sobre o tema, viria a publicar o livro Hiroshima - Nagasaki Document 1961. Testemunho de um tempo bárbaro.


sábado, 20 de junho de 2020

Natura


Tenho a impressão que a Natureza anda esquisita e desajustada do tempo, agora que acabámos de entrar no Verão. De produções, nem se fala: dos limoeiros e oliveiras, nas varandas, a safra virá a ser mínima, se vier a existir, no futuro próximo.
Há alguns anos atrás e na varanda a leste outrabandista, insolitamente, uma jovem rola foi lá dar e não queria sair. Ao fim da tarde e antes de nos deitarmos deixei-a no peitoril e, na manhã seguinte já não a encontrei. Na sexta-feira, foi a vez de um andorinhão que nos entrou pela janela.
Havia vários, em Lisboa, desde a véspera, frenéticos, zilreando e em voos rasantes, paralelos às janelas, caçando insectos ao fim do dia. E na manhã de sexta-feira, um deles, jovem, com penas entre os castanhos e o antracite, errando o rumo veio assustar HMJ, caindo-lhe na mesa.
Houve um pedido de ajuda e agarrei-o pela asas e lá o deitei, de novo, à vida.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Curiosidades 82


Não será caso único o facto de alguns escritores abraçarem também outras artes numa certa ambivalência estética: Namora ou Mário Dionísio, por cá, além de escreverem, simultaneamente, também pintaram.
Rudyard Kipling (1865-1936) comprova essa multiplicidade de talento estético e muito bem sucedido. A imagem seguinte reproduz um desenho do escritor, feito em 1902, para o seu livro The Cat that walk.

O escritor sul-africano J. R. R. Tolkien (1892-1973) também tinha inclinação para o desenho, e chegou a ilustrar a sua obra The Hobbit, mas o seu talento parece-me inferior  ao de Kipling.


quinta-feira, 18 de junho de 2020

Reparar os erros?


Na última página, a cargo anónimo de J. C. (?), o TLS, nos meses mais recentes, tem vindo a dedicar, de forma aliás meritória, um pequeno espaço a escritores de língua inglesa que, tendo sido bastante conhecidos, estão hoje quase completamente esquecidos. Uma das últimas autoras referidas é Edith Hamilton (1867-1963).


O nosso amigo H. N., para a nossa amistosa tertúlia semanal, trazia há uns dias, e recentemente comprado, um livro usado de Rogério de Freitas (1910-2001), com dedicatória efusiva do autor a Etelvina Lopes de Almeida (1916-2004). O escritor, que foi também pintor, era lido e figura bem conhecida na segunda metade do século XX. Tenho e li várias obras suas.


Vendo a lista desta colecção da editora Arcádia em que a obra se inseria, verifico a quantidade de escritores que hoje já muito poucos leitores portugueses lêem ou muito menos conhecem...
Merecidamente?
Por mera curiosidade, informe-se que quem orientava esta colecção, da Arcádia, era Fernando Namora (1919-1989). Escritor médico que não sei se, hoje, ainda será muito lido. Pelo menos, já foi.


quarta-feira, 17 de junho de 2020

Do que fui lendo por aí... 37


No segundo capítulo (All'estero) de Vertigo (1999), W. G. Sebald (1944-2001), a páginas 73, escreveu: (...) It was this long-standing affection for Pisanello which took me once more to the Chiesa Sant'Anastasia to look at the fresco which he had painted over the entrance to the Pellegrini chapel in the year 1435.(...)

O nome de Antonio Pisanello (1395?-1455?) não me era inteiramente desconhecido, mas pouco sabia da sua obra. Por outro lado, não é a primeira vez que uma obra literária me encaminha para a Pintura, numa osmose de simpatia e curiosidade. O fresco que identifiquei, através das palavras de Sebald, está localizado em Verona.

O fresco algo danificado, do lado esquerdo, na sua face do lado direito comprova a importância que a temática animalista (desenhos, sobretudo) ocupa na obra de Pisanello. Bem como a sua qualidade.
O trabalho pictórico é conhecido pelo título de: "S. Jorge e a Princesa".

terça-feira, 16 de junho de 2020

Os trabalhos e os dias 85: Fazer manteiga



Criada como fui com leite fresco da vaquinha, de uma quinta perto da nossa casa, continuamos a beber apenas leite fresco do dia. O resto dos pacotes UHT, com andanças e armazenagens sem fim, sujeitos a temperaturas várias, não os considero leite, porque o tratamento impróprio tira qualquer designação semelhante a esse tipo de simulacro.

Verdade seja que não tem sido fácil encontrar leite Vigor. Já temos andado “às voltas ao Marão” para comprar o “nosso” Vigor, de embalagem VERDE. O Vigor azul está entre o leite e a água. Do Vigor róseo nem falar, seria mais apropriado, talvez, que a chamassem aguadilha envergonhada.

O nosso consumo diário é alargado. Começa pelo café com leite Vigor ao pequeno-almoço. Tomo, igualmente, uma chávena de chá cheio de leite ao lanche e outra antes de me deitar. Faz de conta que eram as sopinhas de leite que a minha mãe me fazia ao jantar.

Ora, com este consumo, costumamos comprar entre 3 a 5 embalagens por semana. Foi o que fiz noutro dia. Ao abrir a primeira embalagem, vi que o leite estava todo talhado, mas não estragado. Fiz as provas com os restantes 4 pacotes e só se salvou um. O resto do leite estava todo talhado. Que fazer ? Deitar comida fora, e neste caso leite, não se encaixa bem no meu universo.

Lembrei-me de umas férias, na minha juventude, na casa de uma amiga que vivia na Baixa-Saxónia. O pai trabalhava numa leitaria e, de repente, vieram-me à cabeça os grandes alguidares, tipo amassadeiras, onde o leite, com belíssimo aspecto de natas, se movimentava para daí, passado umas horas, se recolher a manteiga.

Assim, o nosso leite talhado, embora com menos natas, passou por uma rede e, ao fim do dia, com a ajuda de uma batedeira, trabalhou-se a parte sólida ao ponto de ficar – quase – manteiga. Com um bocado de sal, aqui está.


 Bom apetite !


Post de HMJ

Revivalismo Ligeiro CCLI



Da banda sonora de The Deer Hunter ("O Caçador") Cavatina, de Stanley Myers, no filme de Michael Cimino, estreado em 1978. Na versão de Carisma Guitar Duo.

Nota pessoal: as minhas desculpas por este vídeo ser "interminável"...

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Osmose 115


São incertas, muitas vezes, as razões. Mesmo algumas daquelas que nos levam à acção ou tomadas de atitude, conscientemente. Fazendo-nos crer que há um super-dono invisível das nossas decisões.
Calhou a noite passada que eu tivesse sonhado com uns versos escritos de Sá de Miranda e, simultaneamente (?), com um dos Fernandos, meu amigo (que tive vários, com o nome, nesta vida).
Os sonhos, ainda.
E fico-me a pensar se foi Bergman, há dias, que me fez ir buscar Les Rêves, de Ernest Aeppli, à estante, para o reler, ou se foi a releitura do livro que me levou a bisar Os Morangos Silvestres, do realizador sueco, no Youtube.
As associações são terríveis e, ao mesmo tempo, discretas.
Até porque não consigo situar, em sequência, os meus actos com absoluto rigor temporal.
Que o inconsciente se rearrume, de novo e por si, à sua vontade! Na sua auto-gestão libérrima (?).


domingo, 14 de junho de 2020

Mata-Borrões (6)


Este nosso ano da graça de 2020 tem sido cumprido sob o signo dos cuidados de saúde, para gáudio e alegria, provavelmente, dos hipocondríacos, como é o caso do nosso presente PR, que não esconde essa sua conhecida faceta e fraqueza psicológica. De algum modo, e por isso, o tema virá a propósito.
Porque entretanto fui encontrar, num dos meus calhamaços, entre as páginas, estes dois simpáticos mata-borrões (em imagem) virgens e que, portanto, nem sequer cheguei a usar. O dedicado ao Peligal e à escabiose (erupção parecida com a sarna) teve uma tiragem de 5.000 exemplares e terá sido distribuído pelos delegados de propaganda médica, nos consultórios clínicos, a partir de 18/1/1949, data que consta como de impressão, ao fundo, do lado esquerdo, em letras minúsculas, nesse mata-borrão.

sábado, 13 de junho de 2020

Filatelia CXXVII


Não se esqueceu MR, no seu blogue Prosimetron, de celebrar com diversos motivos o feriado de Sto. António, que hoje passa. Mesmo através da filatelia, reproduzindo uma flâmula e um selo utilizado, em 1981, da série de dois (Esc. 8$50 e 70$00) dedicados ao Santo que Lisboa, hoje, lembra.
Já antes porém (1895) os Correios Portugueses tinham emitido, na segunda série comemorativa (a primeira fora dedicada ao Infante D. Henrique, em 1894) nacional, um conjunto de 15 selos antoninos, cujos desenhos tinham sido executados pelos artistas António M. Ramalho e Carlos Reis.
O verso dos selos transcreve um excerto de S. Boaventura. Esta série é hoje rara e valiosa.


Em 1931, os CTT voltaram a lembrar-se de Santo António e emitiram um novo conjunto de 6 valores, com desenhos de Arnaldo Fragoso, António Lima e Júlio Alves. Como a série tardava a esgotar-se, os selos vieram a ser sobretaxados, em 1933, reentrando em circulação, até 1945.

para MR, e em geminação com o Prosimetron.

Citações CDXXXVI


Wagner tem momentos maravilhosos, mas quartos de hora horríveis.

G. Rossini (1792-1868), citado por Emile Naumann no Italinische Tondichter (1883).

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Sonata imaginada


No primeiro volume de Em Busca do Tempo Perdido (Livros do Brasil), de Marcel Proust (1871-1922), consta, a páginas 212, a seguinte frase: "(...) Mas agora podia perguntar o nome da sua desconhecida (disseram-lhe que era o andante da sonata para piano e violino de Vinteuil), tinha-a segura, podia tê-la consigo quantas vezes quisesse e tentar aprender a sua linguagem e o seu segredo."



Se procurarmos, por todo o lado, não encontraremos o nome do compositor Vinteuil, porque ele não existiu. Mas o chileno Raoul Ruiz (1941-2011) fez acontecer a dita sonata, no seu filme Le Temps Retrouvé (1998), com a ajuda do seu compatriota e compositor Jorge Arriagada (1943).
É dessa composição imaginada que damos um pequeno excerto.

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Recomendado : oitenta e seis - De Gaulle


Uma direita coerente e responsável. Heróica e à altura das circunstâncias e da História. É disso que fala este número, bem organizado e saído recentemente, de Le Point, tendo por tema Charles de Gaulle (1890-1970).

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Desabafo (55)


Hoje, o desabafo não é meu, mas de D. João de Castro (1500-1548), homem sério e vice-rei da Índia, em carta familiar para o seu filho Álvaro, de texto muito livre, e exasperado com os costumes dissolutos do clero, nessa nossa possessão do Oriente. A transcrição é da página 86, do livro abaixo figurado. Aí vai, com as minhas desculpas ao leitores mais sensíveis:



"[...] e merda para mestre Diogo e para quantos apóstolos vêm de Portugal, porque eu sirvo muito bem El-Rei nosso senhor e eles são grandes hipócritas, que querem haver bispados para darem renda e terem mancebas gordas."

As palavras do dia (40)


Um político experimentado não se devia permitir afirmar uma ingenuidade destas.
Nem confundir, puerilmente, o desejo com a realidade.
Já aos jornalistas, fomo-nos habituando a todos os dislates...

segunda-feira, 8 de junho de 2020

De "Les Rêves", de Ernest Aeppli


Do início do livro em epígrafe, uma pequena citação, vertida do francês:

O sonho pertence às experiências mais pessoais do homem. É ele e mais nenhum outro que sonha, é a ele que acontece esta aparição insólita da noite; insólita porque produzida sem que seja suscitada, num mundo que não é tão familiar como o diurno. Mas também há os que não sonham; alguns, raros é verdade, afirmam nunca ter sonhado, não sabendo aquilo que podem entender por isso. E, no  entanto, ninguém pode negar a existência desse fenómeno, ainda que nunca o tenha experimentado. (...) O sonho nocturno constitui uma actividade natural da alma. (...)

Ernest Aeppli (1892-1954), Les Rêves (Payot, 1962).

domingo, 7 de junho de 2020

Curiosidades 81


No volume (528 páginas) referente ao ano de 1957 (Ano VIII) fui encontrar, na página 179, preenchida, uma inscrição-proposta de assinatura de associado do boletim da Sociedade de Língua Portuguesa, útil e notável instituição que não sei se ainda existe e exerce a sua meritória actividade, abordando questões e promovendo esclarecimentos sobre o nosso idioma.
Estas coisas parece que deixaram de ter interesse e utilidade, hoje em dia, cá, pela parvónia mundana...
O proponente do impresso, em imagem acima, se ainda vive, completará 100 anos em breve. E exercia na altura a profissão de ferroviário. Pelo pedido de admissão, teria uma belíssima caligrafia, sintoma normalmente de cabeça bem arrumada. Não tecerei comentários sobre o caso, mas não deixo de louvar o interesse no conhecimento e saber que este homem demonstra, pelo menos, pragmaticamente.


sábado, 6 de junho de 2020

Memória 135



Uma canção menos conhecida, para lembrar Jacques Brel (1929-1978).

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Divagações 160


Dou-me bem de vez em quando a reler obras que já foram de minha estimação, até para tomar depois a temperatura da minha perspectiva actualizada e do valor que hoje lhes dou, concretamente.
Calhou esta tarde a vez a Ramos Rosa, Almeida Mattos e Gedeão. O primeiro poeta quase me deixou indiferente, soube-me muito bem reencontrar as palavras do meu amigo António (Conjuntivo Presente, Afrontamento, 1991) e gostei de ler o início da introdução de Jorge de Sena à obra poética de António Gedeão, no volume da Portugália (1964).
Não resisto a transcrever um pequeníssimo excerto do texto de Sena:
[...] Um homem não começa a publicar livros aos cinquenta anos, para brincar de poeta consigo mesmo, mas porque rompeu os muros de timidez e de orgulho, que o inibiam de mostrar-se o poeta que era. Nem toda a poesia deste mundo nasce dos apetites juvenis de ser-se notável pelo menos para algumas páginas literárias e alguns críticos atenciosos. [...] (pg. XII)

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Apontamento 136: Plano de transformação do espaço público



Por vezes acontece que as circunstâncias extremas revelam grandes estadistas quando os representantes dos poderes públicos demonstrem capacidade e lucidez no exercício das suas funções.

Se, no actual quadro excepcional, tivemos sorte no que se refere ao Governo do país, o mesmo parece não suceder na sua capital. O acima mencionado “Plano de transformação do espaço público”, publicitando novos trilhos para a mobilidade e espaços para os ciclistas, embora de utilidade, a iniciativa carece de uma enorme ausência de visão para uma cidade – CAPITAL - pós-pandemia.

Bastava enumerar alguns aspectos vitais – humanos e culturais – que permitissem um reencontro dos munícipes para com a sua cidade, princípio essencial em detrimento de uma nova invasão de  turismo sem regras, a saber:

1 – Por que motivo a CML não utiliza a experiência do confinamento no sentido de privilegiar o encaminhamento de pessoas sem-abrigo para uma solução definitiva, impedindo o prolongamento de uma situação completamente inaceitável numa sociedade democrática ?;

2 – Por que motivo a CML, com os seus agentes de fiscalização e – quiçá a ASAE – não regista e/ou controla, com rigor, TODOS os ALOJAMENTO LOCAIS - Ilegais - utilizando registos europeus acessíveis online, para proteger os residentes, uma vez que a lenta reocupação dos espaços já se iniciou, SEM QUALQUER REGISTO DE MOVIMENTOS, NEM CONTROLO SANITÁRIO ?;

3 – Por que motivo a CML não toma como exemplo a situação actual, permitindo a livre circulação PELAS RUAS, dos munícipes, cidadãos e/ou forasteiros, SEM O QUADRO DE HORRORES DE RUÍDO, de pretensos músicos e outros oportunistas sem ética, nem estética, a ocupar indevidamento o espaço público.

Aconselha-se, portanto, que o Senhor Presidente da CML, para o BEM DOS SEUS MUNÍCIPES,  alargue os seus horizontes e inclua, na sua estratégia de pensar a cidade – desconfinada – uma perspectiva mais ampla. Ruas, limpas de lixo de várias lojas, permitindo uma circulação sem impedimentos de actividades ilegais, incómodos frequentes, ausência de fiscalização de prevaricadores, animais doentes e ruidosos. Enfim, uma cidade não recomandável.

Voltar a uma enchente de turismo chunga pode ser uma tentação fácil, provocando, certamente, uma degradação cultural, ética e esteticamente muito mais profunda do que aquela que vivemos até agora.

Esperemos que a história – das invasões de forasteiros indiferenciados, carentes de elementares regras de educação e qualidade humana e social – não se repita com a anuência pusilânime de Sua Excelência, o Presidente da Câmara de Lisboa.

Pelo menos, espera-se que a sorte  nos conceda mais umas semanas de uma capital, respirável, agradável, funcional e à medida dos que pretendem viver nela sem aborrecimentos, limitações e incómodos diários perfeitamente dispensáveis.

Por uma CAPITAL ao serviço dos cidadãos, e não apenas nas ciclovias ! Pede-se, portanto, um “Plano de transformação do espaço público” mais ambicioso.

Post de HMJ

Um CD por mês (14)


A projecção profissional, no estrangeiro, da violoncelista portuense Guilhermina Suggia (1885-1950) só será comparável talvez à que hoje goza a pianista Maria João Pires, internacionalmente. Casada durante 6 anos com Pablo Casals (1876-1973), que fora seu professor, Guilhermina viveu em Londres, episodicamente, onde, entre 1920 e 1923, o pintor Augustus John (1878-1961) a retratou. O quadro integra o acervo da Tate e capeia o CD da imagem acima reproduzida.


Afortunadamente e já neste século, consegui comprar na Valentim de Carvalho, a remasterização, de 2004, em  CD, de algumas das gravações primorosas da violoncelista, efectuadas em 1927, 1928 e 1946, com obras de Haydn, Lalo e Max Bruch. É deste último compositor que reproduzimos, na interpretação de Guilhermina Suggia, a composição musical Kol Nidrei, no poste seguinte.


A foto de Guilhermina Suggia, acima, creio que foi tirada nos jardins do Palácio de Queluz.