terça-feira, 31 de julho de 2018

Necessidades, protocolo e diplomacia


É sabido e normal que, a nivel de sondagens e popularidade, o ministro dos Negócios Estrangeiros, por regra, mantém uma invejável constância de resguardo que o defende da erosão do poder, em qualquer equipa ministerial. Também os chefes de protocolo, habitualmente, passam incólumes por alternâncias de regime, mantendo o seu lugar, mesmo quando as ditaduras são apeadas para dar lugar à democracia. Assim aconteceu, entre nós, depois do 25 de Abril, em que o chefe de protocolo da Presidência da República manteve o seu cargo. Talvez para ensinar as regras aos vindouros que, inexperientes, provavelmente desconheciam os rituais de Estado e precisavam de um guia-professor encartado.
Mas há nisto, também, algo de camaleonismo que permite a estas figuras de topo, da administração pública, adaptarem-se às circunstâncias, sejam elas quais forem. Bem assim como os diplomatas, que tentam aparentar uma neutralidade e isenção à prova de bala... E que lhes permite sobreviver às contingências da História, para seu conforto. A diplomacia quase sempre foi, avant la lettre, o Centrão impoluto de qualquer regime.


Um dos casos mais exemplares é o da trajectória de Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord (1754-1838), em França. Este inteligente e célebre diplomata sobraçou a pasta dos Negócios Estrangeiros gauleses e outras altas posições políticas durante o Directório, Império e Restauração, numa longevidade de funções absolutamente extraordinária. E a sua carreira, ao longo do tempo, não sofreu a menor beliscadura profissional - foi-se adaptando, sucessivamente...
São dele duas tiradas conhecidas e surpreendentes, que passo a citar:
- A traição não existe, é tudo uma questão de datas.
- O objectivo da diplomacia não é ter razão, mas evitar humilhar o adversário.
Com estes princípios não há dúvida que a estabilidade da posição será mais simples de manter, mas outro tanto não se poderá dizer da coerência de atitude. E talvez a honorabilidade peque por defeito, vista de um ponto de vista um pouco mais rigoroso...

sábado, 28 de julho de 2018

Os neo-puritanismos


A abordagem das novas éticas subliminares do nosso tempo levanta, pela sua complexidade, grandes dificuldades e outros tantos problemas. Para além de ser um tema polémico, quando entramos, objectivamente, pelos casos concretos e pelos detalhes.
Se é certo que os interditos contribuiram, de algum modo, no passado, para o progresso das sociedades  primitivas, e são considerados como tal, pela grande maioria dos etnógrafos, o mesmo não se poderá dizer dos tabus preciosistas que enxameiam e tentam normalizar, através das polícias dos costumes, os procedimentos dos dias de hoje.
Os métodos bárbaros do novo calificado do ISIS radicam, claramente, numa leitura tosca e literal do Alcorão e num puritanismo de raízes medievais, que floresce, sobretudo, por entre os ignorantes boçais e nos adolescentes excessivos e tardios - grande parte dos novos mártires oscila pelas idades entre os 15 e os 30 e poucos anos, como se tem visto.
Nas sociedades ocidentais, se os novos inquisidores e vestais, guardiões do novo Templo do politicamente correcto, chegam por vezes à meia idade, não deixam também de fazer supor um raquitismo mental interior, nimbado da maior ignorância cultural. Catequistas acrisolados de uma nova religião laica, ardem diariamente no seu fanatismo cego.
Aprisionam o que não deviam, criam amplas liberdades para o que não devia ser. As novas educações, a extrema complacência em relação às artes - como se disso dependesse a democraticidade da cultura... -, os pruridos com pinças com que abordam a história, os géneros e a política, só me fazem lembrar, por ironia, o título de um filme de 1973, de Marco Ferreri: Touche pas à la femme blanche! Evito pensar que, perigosamente, podemos estar muito perto de The Crucible (As Bruxas de Salem), de Arthur Miller...

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Lembrete 64


Plagiando Almada, ao falar do génio de Pessoa, e a propósito do eclipse da Lua que, hoje, ocorrerá, eu diria que ele: "manifesta-se em não se manifestar." Ou seja, quando nascer (20h47), a Lua Cheia já estará oculta. O eclipse lunar durará cerca de 1h45. É de aproveitar, porque o próximo grande eclipse ocorrerá apenas daqui por 82 anos - altura em que, só por um improvável milagre, algum de nós ainda andará por cá...

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Memórias de raiz


Em modos suaves ou proporções amenas, vai subindo a Lua Cheia, a leste, aqui em frente. Ainda em negativo forçado, porque há luz (são 20h47), de tons de branco sujo, pouco antes da noite por inteiro a iluminar pelo Sol, que anda na outra banda da Terra.
E eu leio, na varanda a leste, coisas antigas sobre Guimarães (Revista de Guimarães, volume LXXIII), hoje cidade, e lugarejo  na altura (séc. IX), que deve o seu nome, provavelmente, a Vímara Peres, bisavô de Mumadona, fidalga antiga que terá refundado o Castelo e criado o Mosteiro dúplice que viria a ser a Colegiada, mais tarde.
E, por tudo isto, não posso deixar de me lembrar de Álvaro de Brée (1903-1962). E de Salvador Barata Feyo (1899-1990), com a sua magnífica estátua equestre de Vímara Peres, junto à Sé do Porto. Muito menos, esquecer-me de um texto lindíssimo de Eugénio de Andrade (1923-2005), intitulado A Domingos Peres das Eiras, com umas violetas (Os Afluentes do Silêncio, 1968), e que, qualquer portuense que se preze, deveria conhecer. Porque é das prosas mais límpidas que se escreveu, por todo o século XX, em Portugal, sobre a Invicta cidade.

com envoi muito grato a H. N..

Desabafo (36)


Fico logo de pé atrás, quando um administrador de blogue se auto-trata em diminutivo.
E começo a pensar se será por modéstia, ironia ou por infantilidade própria.
É claro que também pode ser para se auto-acariciar.

Transições (4)


Uma das primeiras coisas que eu fazia, quando pelas férias regressava a casa, na juventude, e depois de pousar as malas que trouxera, era descer ao pequeno quintal minhoto e ver como estavam as rosas e o estado do limoeiro. Dava pouca atenção aos jarros, se os havia, que cresciam abundantes e brancos, na sua insólita sugestão fálica, encostados à parede mais húmida da casa. Normalmente, cortava uma rosa madura e levava-a para dentro, para pôr numa jarra da sala de jantar. Hoje, tenho que me contentar com as varandas da casa, onde não crescem rosas. Na altura própria e breve, colhemos frésias amarelas, que trazem consigo um aroma fresco e lavado, e dão cor e perfume à mesa da cozinha.
Este ano, tirando as cerejas que mantiveram o seu sabor de ácida doçura, quer os morangos, quer os pêssegos me pareceram deslavados ao gosto. Veremos as uvas como se vão portar... Porque até os figos me pareceram mais aguados e desinteressantes. Por outro lado, o limoeiro,  mais velho, na varanda a leste, só tem a crescer 4 limões, quando, no ano passado, nos presenteara com 5. A falta de sol terá sido fatal para as safras. E a pródiga oliveirinha que, em 2017, nos brindara com 115 rechonchudas azeitonas, neste ano da graça de 2018, não chegará decerto às 50. Até as hortênsias deram um sinal inequívoco, ao resumirem-se, avaras, a dois míseros bouquets, esbranquiçados e anémicos na sua pequenez.
Bem posso eu, vulgar campesino transplantado, com esta infelicidade, mas que dirão os pobres dos agricultores olhando os seus campos e árvores, minguados...

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Por arrasto


A nossa época tem uma certa avidez por heróis, talvez por que lhe faltem bons exemplos, no presente.
Surpreendeu-me a extrema celeridade (apenas um ano após a morte) com que Simone Veil (1927-2017) acedeu ao Panthéon, através dos bons ofícios do sr. Macron que, nessa impaciência institucional, me fez lembrar o sr. Sarkozy. E não deixei de achar curiosíssimo que Simone Veil fosse acompanhada, para essa academia de memória eterna, pelo seu marido Antoine Veil (1926-2013) que, entre outras coisas, foi um alto funcionário da indústria francesa de armamento. Numa república que se proclama laica, achei comovente esse toque de atenção e ternura familiares...
Por cá, movem-se os interesses no sentido de levar, para o Panteão Nacional, os restos mortais de Mário Soares (1924-2017). A concretizar-se o facto, será que vai ser acompanhado, seguindo o exemplo francês, por Maria Barroso (1925-2015)?
Em paralelo (invejoso?), algumas personalidades do PSD começaram a movimentar-se no sentido de homenagear, da mesma forma, Francisco Sá Carneiro (1934-1980). E estarão a pensar fazê-lo acompanhar da sra. Ebba Merete Seidenfaden (1940-1980), ou não?
É que, assim, o nosso Panteão Nacional, qualquer dia, não chega para albergar tantos ramos familiares. Será necessário ampliá-lo, por uma questão de delicadeza, respeito e ternura votiva. 

Uma fotografia, de vez em quando.. (109)


Nascida nos arredores de Londres, no seio de uma família de comerciantes abastados, Evelyn Cameron (1868-1928) teve uma educação primorosa e dominava várias línguas. Ainda muito jovem, e com feitio aventureiro, tendo recebido uma confortável herança, por morte do pai, decidiu emigrar para os Estados Unidos, onde passou a viver e viria a falecer. Fixou residência no estado de Montana, em 1891. Aí se tornou rancheira e acompanhou também o desenvolvimento do caminho de ferro.


Adquiriu a sua primeira máquina fotográfica em 1894. Mas, mais do que o lado estético dos seus instantâneos, interessava-lhe, sobretudo, retratar cenas do quotidiano, em que predominavam grupos de pessoas ou famílias dos campos de Montana.



terça-feira, 24 de julho de 2018

A facilidade e o entretenimento


Com a ligeireza característica que é apanágio da reflexão bloguística, vou escrever uma blasfémia (só para alguns) foleira: Eça é melhor que Camilo. Que tenho grandes dúvidas em subscrever.
Predominantemente, como em todos os países europeus, e até finais do século XIX, a literatura portuguesa situou-se em cenários rurais, onde, aliás, grande parte da população vivia.
Eça, por cá, foi a grande excepção, Camilo, a regra.
Depois, o neo-realismo do sul da Europa, sobretudo, acabou por prolongar essa agonia.
É evidente que há grandes romances de cenário rural, por esse mundo. De Lampedusa, de Steinbeck, até de Mauriac. Mas tão só de grandes escritores, que, em Portugal, não são muitos. Façamos então justiça a Camilo e a Aquilino, cada vez menos lidos. Pelos mimosos citadinos lusitanos.

Títulos horripilantes (ou cândidos?)


Num desses blogues de costureiras de retalhos (disfarçadamente pagas por editoras sem ética, nem princípios de qualidade), em que restabeleço a minha boa disposição, de vez em quando, mas também colho algum desconforto mental, seleccionei mais alguns títulos de gosto lumpen, chunga e altamente rasteiros, que passo a descriminar:

- A fome, que curiosamente não se inspira em Josué de Castro - não confundamos.
- diz-lhe que não, provavelmente, de alguma autora virgem serôdea, em reflexão filosófica.
- Se vier vento do Norte, chove, decerto escrito por algum meteorologista autodidacta...

Finalmente:

- Ensina-me a voar sobre os telhados, segura e naturalmente, escrito por algum pássaro bisnau, implume e desesperado.


O ar do tempo


Todos os anos, por alturas do Verão, o TLS costuma questionar umas quantas personalidades, de vários quadrantes culturais, sobre os livros que vão ler nas férias. 
Este ano (TLS, nº 6015) não foi excepção, e são 22 os inquiridos, entre romancistas, críticos literários e ensaistas. Como Portugal está na moda, há duas referências ao nosso país. De Leslie Jamison (1983), que fala de uma sua anterior vinda a Lisboa, e de Becca Rothfeld que, elogiando a riqueza da literatura portuguesa, destaca: "The Maias" (Dedalus), a realist family chronicle by the nineteenth-century Portuguese master José Maria de Eça de Queiroz, who was much lauded in his lifetime; he was regarded by Émile Zola as "far greater than my own dear master, Flaubert."
Infelizmente, esta opinião já não terá chegado a tempo, nem terá sido tomada em conta pela misteriosa instituição ministerial, talvez coadjuvada pelo inefável grupo do académico Plano Nacional de Leitura, ao seleccionar o futuro. Foi pena...

sábado, 21 de julho de 2018

Os Trabalhos e os Dias 13: Massa de Tomate



Ora, que fazer, se nos entra pela casa, gentil e graciosamente, uma abada de tomates, de qualidades e pesos diferentes, para além de pimentos e limões ?

A quantidade é superior às nossas forças para comermos tudo nos próximos tempos, sem estragar nada da riquíssima oferta. Um dos tomates tinha 425 gramas e para comprovar o tamanhão, aqui está a foto:


Era preciso alterar os planos e pensar na “logística” para conservar uma parte dos tomates para tempos invernosos. Assim foi. Cozer ca. de 2,5 quilos de tomate, com um pouco de pimentos, num refogado de cebola. Deixar cozinhar tudo, triturar com a varinha e, para reduzir a massa, aguardar, com paciência, para ver o resultado final.


Post de HMJ

Bibliofilia 163


Recentemente adquirido, por 18 euros, este folheto O Novo Janeiro de 1831, de 24 páginas, publicado na Impressão Regia, em 1830, por José Daniel Rodrigues da Costa, é um dos últimos editados em vida do autor que terá falecido em 1832. O seu prefácio põe, no entanto, em dúvida, a indicação de Inocêncio, repetida a partir daí por vários publicistas, que dá Rodrigues Costa como tendo nascido, nas imediações de Leiria, a 31 de Outubro de 1757. No antelóquio, escrito em 1830, José Daniel refere: Desde a idade de dezeseis annos me avezei, não com vaidade, mas com amor ás Bellas Letras, a compor, e a imprimir; acho-me hoje com os meus setenta e quatro... Fazendo fé nesta sua afirmação, ele teria nascido no ano de 1756. E não em 1757, como Inocêncio escreveu.

Como já por aqui referi, no Blogue, a propósito de outras publicações de José Daniel Rodrigues da Costa, que são muitas, a sua obra não é erudita, nem de grande cultura, mas é divertida e irreverente, sendo muito popular, na época. Por outro lado, dá-nos uma visão viva dos costumes lisboetas de então, usando com frequência expressões populares e um vocabulário rico, algum do qual, hoje, raramente é usado, ou caiu mesmo em desuso.
Durante a leitura do folheto, fui tomando nota das palavras que não conhecia e, depois fui procurar-lhes o significado, nos dicionários que tinha à mão. Das 6 que anotei, apenas 1 não consegui esclarecê-la. Aqui as compartilho, com quem visitar o Arpose:

pg. 11 - côvo = cesto comprido de vime usado na pesca.
pg. 12 - martinetes = espécie de martelão movido a água ou vapor empregado nas indústrias mecânicas; martelo de piano.
pg. 13 - atafaes = o que cobre a retranca das cavalgaduras.
pg. 15 - giribanda = termo popular para designar descompustura, reprimenda.
pg. 20 - bovinete = (foram infrutíferas as minhas tentativas para saber o significado desta palavra).
pg. 23 - alicantina = astúcia, manha, trapaça, velhacaria.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Retro (99)


Livros há com pedigree. Pela sua rareza, estão normalmente adornados com ex-libris, anotações ou marcas de posse manuscritas e, por aí, ficamos a saber o nome dos seus anteriores proprietários ou as mãos por que passaram. Outras vezes, e sendo edições normais ou modestas, no interior da obra existem rastos e pequenos sinais que permitem identificar alguém que, com elas, tivesse tido contacto.
Foi o caso recente. Num conjunto de revistas que comprei, no interior de uma delas, inesperadamente, fui-me deparar com um postal de 1965, vindo de Sófia (Bulgária) e enviado para Lisboa, em Novembro desse ano já longínquo da Guerra Fria... Assim fiquei a saber o nome do muito provável anterior possuidor das revistas, que comprei no alfarrabista.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Outras férias...


Ao fim da tarde, há uma frescura de férias que parece vir do mar.
Mas estou na cidade e a aragem branda virá, quando muito, do rio, que ao longe se perfila.
Eu até dispensava as gaivotas que, como os turistas, alagam a cidade por excessivos e ululantes. Batem as nove (21h00) no "sino da minha aldeia" (aqui ao lado) do Pessoa que não falava muito de pássaros, mas parece que sabia imitar uma cegonha ou avestruz, para gaúdio da sobrinhada infantil.
Deve haver, por mim, uma memória biológica entranhada de Póvoa de Varzim. Não lhe posso valer, e até me sobra ternura para a noite, de Verão...

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Da Janela do Aposento 68: Desvarios da Educação



Um olhar atento sobre a realidade – nacional, europeia e até mundial – política, social e cultural obriga-nos a pensar, seriamente, sobre este caminhar do precipício para nenhures.

Quando entidades, órgãos, personalidades – uma categoria acima do cidadão comum – questionem, actualmente, o estatuto social, a importância cultural e a necessidade ética e moral da educação, entramos no limbo que, há décadas, uma Lei de Bases abriu, a saber, determinando um ENSINO isento de princípios morais e éticos.

Convenhamos que tal dispositivo legal negava, no fundo, a essência de  qualquer acção humana – tanto de ensino como de educação – deixar o seu selo de subjectividade, feito de escolhas e de experiências que, em nada, se coadunam com este “pântano” de figuras menores, sem nenhuma noção da realidade, nem da sua responsabilidade, que nos costumam entrar pelos “canais de informação”, diariamente.

Uma pessoa com responsabilidade docente concluir que a escolha, por parte do professor, de uma narrativa entre várias, permitir que cada aluno possa ler, na sala de aula, o seu texto, apenas demonstra a “ponta do icebergue” a que chegou o desvario.

A docente em causa interiorizou, por completo, o estatuto de “actor”, satisfazendo o seu gosto de cirandar por um suposto palco, palrando, certamente, sem nenhuma preparação séria ou orientação, propósito ou saber. Caso contrário, não debitava semelhante enormidade, porque um espaço de aprendizagem, que é uma aula, não representa, como se dizia antigamente, momentos alegres para fazer: “meinhas, meninas, meinhas”!

O chamado Plano Nacional de Leitura, lançado por umas pessoas certamente bem-intencionadas e, também, bem colocadas, não corresponde a mais do que a demonstração de vaidades pessoais a ilustrar a  sua “cultura literária” ou, por outras palavras já ditas acima, conceber uma Lei de Bases da Educação, olhando para o universo familiar ao contemplar os filhos e netos em ambiente caseiro.

A queixa da extensão do Programa de Leitura obrigatório nunca impediu, que eu saiba, que os professores rejeitassem o empenho, concorrencial, despropositado e incompreensível, e a obrigação de os alunos lerem as obras do Programa ao mesmo tempo, de apresentarem trabalhos, resumos e quejandos sobre títulos do Plano Nacional de Leitura que, em nada, tinham que ver com a matéria principal.

No documento sobre o Programa de Português no Secundário, em apreciação, que tive o cuidado de consultar, aprovo o reassumir de uma leitura cronológica da literatura portuguesa. A opção de escolha nas leituras de poemas e romances apenas vincula os docentes que saibam assumir o seu papel verdadeiro, sem receios, de orientarem as SEMPRE VARIAS LEITURAS possíveis de um texto. Tarefa tamanha exige SABER, preparação e TRABALHO.

Todo o resto é palavreado oco de “cada um o seu paladar, ou tudo ao monte e fé em Deus”, que não custa nada a suportar, diariamente, para quem tenha da carreira docente uma noção semelhante ao actual presidente dos EUA, palrando e esvaziando a essência humana.

A nobreza e a responsabilidade do exercício de funções públicas, defendendo a educação e o ensino como uma das traves mestras das nossas democracias e da evolução cultural do Homem, exige saber, trabalho e humildade.

 Post de HMJ

Desabafo (35)


Os jornais noticiam que: Os Maias deixam de ser leitura obrigatória no Secundário. Pois muito bem!
Sugiro que os professores, na sua inefabilidade construtiva, substituam Eça, pela leitura da Caras ou do CM. Mas tão só dos títulos, em maiúsculas, para não cansar muito o olhar e as meninges das criancinhas.

Versão em língua portuguesa de um poema de Blas de Otero (1916-1979)


Palabra viva y de repente


Gosto muito das palavras do meu povo.
Parece que se tocam e se afagam.
Os livros, não; as páginas quase se movem
como fantasmas.

E as minhas gentes dizem coisas formidáveis
que fazem estremecer a gramática.
Quantas delas de cortar a frase,
mas quanta voz rendilhada!

Dá por vezes vergonha incendiar a luz,
quero eu dizer um verso pela branca página,
diante destes homens de sílabas amplas
que se nutrem de nacos de palavras.

Lembro-me que uma tarde,
na estação de Almadén, uma velha
sentenciou, devagar: "Sim, sim, mas o céu e o inferno
está aqui." E fincou a frase

sem o ditongo que faltava.



Blas de Otero, in Revista de Occidente, Março de 1964 (pg. 299).

terça-feira, 17 de julho de 2018

Citações CCCLXV


... ignoram que um poema, por exemplo, não é mais que uma carne de emoção cobrindo um esqueleto de raciocínio.

Fernando Pessoa, in Os Portugueses (pg. 18).

O velho do Restelo e a nova nomenclatura


As promessas dos autarcas, antes das eleições, são por vezes megalómanas, e depois é o diabo...
Agora, uma delas está a provocar, entre algumas sumidades (?), uma discussão tipo "sexo dos anjos" sobre o título que se lhe há-de dar. Todos querem pôr o nome à criancinha, mesmo antes dela ou dele nascer. Do conteúdo é que ainda não ouvi falar. Se calhar, vão buscar a nova do achamento à Torre do Tombo, para lá pôr... uns canhões à instituição militar, mais uns objectos ao Museu de Arqueologia, eu sei lá.
Talvez valesse a pena, antes de ir a jusante, reflectirmos, pragmaticamente, a montante: haverá mesmo necessidade de mais um museu, quando os que existem, às vezes, fecham secções por falta de pessoal e orçamento?

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Doenças, hipocondria, nervosismo e pulsações


Num tempo de eternos juvenis, de hipercuidados de saúde, de laicos amadores que dominam a nomenclatura especializada ou qualquer sintoma mínimo de doença e sabem prescrever para tudo a competente mezinha, eu tenho que me considerar um ignorante, um desleixado incompetente, um não-hipocondríaco impenitente e absoluto, para mal dos meus pecados. Vou morrer, assim, na inocência e na bem-aventurança, um dia...
Enfermiços, pela literatura, temos muitos: Eça e Nobre, para não irmos mais longe. Mas considero Marcel Proust um bom exemplo de fragilidade e hipocondria, simultâneas, confirmado e bem documentado no livro Proust connu et inconnu, de Gautier-Vignal (Robert Laffont, 1976). Mas esta obra, interessante, tem um alcance mais vasto, para além de falar das manias e fobias do escritor francês.
Proust tinha a convicção arreigada de que os grandes deste mundo não poderiam ser de temperamento nervoso - assim nos diz Gautier-Vignal. Acrescentando: " De uma forma geral, no coração dos homens há 72 batimentos por minuto. Mas Napoleão tinha apenas 40 pulsações, nesse mesmo espaço de tempo, e sabe-se que podia dormir um quarto de hora, mesmo em circunstâncias desfavoráveis, em campanha."
O que se pode chamar um homem sereno e tranquilo, para que conste...

domingo, 15 de julho de 2018

As borboletas da net (e aí vai mais um poste "elitista" e politicamente incorrecto)


É escusado fantasiar ou iludirmo-nos: muitas das anódinas visitas, ocasionais, vêm ao Arpose por causa das imagens, não por causa dos textos. O bing é pobre em iconografia, o pintrest é um plagiador pimp de imagens alheias, o Google é um conservador inato e estandardizado...
Por isso, quando um brasileiro vem ao Blogue para centrar a sua atenção no poste sobre o "Bestiário de Da Vinci", ou um americano clica num poste de parabéns, eu sei que vieram pela imagem da Senhora com um Arminho, e pelo desenho de um gato de Picasso, mas o texto que acompanha essas imagens pouco lhes interessa. A América Latina também é muito atraída pela fotografia de uma Santa com barbas (Wilgefortis) o que só demonstra o lado animista africano que subsiste nas Américas do Sul e do Norte. Mas também as botas de um quadro de Vincent van Gogh, que encimam necessariamente e a propósito uma transcrição de Heidegger, colhem a atenção dessas muitas borboletas que circulam pela net. Heidegger deve ser, para essas mariposas néscias, apenas um nome esquisito. Só o insólito e extravagante das imagens as desinquieta, da sua inércia ignorante e boçal.

Divagações 131


As andorinhas parecem, por agora, ter acabado a sua tarefa de sobrevivência alimentar, em voo, seriam cerca das 20h45. Daí, talvez três ou quatro moscas que se asilaram politicamente no recesso morno e acolhedor da varanda para, uma vez livres das caçadoras, se abandonarem, de novo, ao ar livre, era quase já noite.
Há associações bem estranhas: na varanda a leste, parece estar a crescer um frágil e núbil pé de salsa, no restrito vaso das duas orquídeas brancas. Terá pedido licença às suas aristocráticas vizinhas?
Naturalmente, os filhos florescem-nos, sobretudo, por entre os nossos 20/30 anos, embora hoje já venham, muitas vezes, de pais mais entrados, quando não serôdios. Talvez por atrasada alforria, descuido ou desespero de idade biológica.
A obra de arte, com frequência, demora toda uma vida, até aparecer - assim Il Gattopardo.
Quanto à poesia de qualidade, e mais irreverente, ou surge logo nas primeiras obras, ou nem vale a pena insistir. Nem todos são Herberto Helder para nos surpreenderem também com obras-primas de velhice.

Expressões populares de Ílhavo


Não tendo sido feita à bangalhota*, com expressões e idiotismos regionais a capôlo**, esta obra monumental, de Domingos Freire Cardoso, foi-me oferecida pelo meu amigo AVP, ilhavense emérito, a quem mais uma vez agradeço.
Por ela se fica a saber que as gentes de Íbalho não usam o v, mas tão só o b, no seu linguajar popular. E o livro, embora não abarque exclusivamente expressões ilhavenses, é um importante contributo apurado e uma monografia de grande valor sobre o falar regional da beira-mar.
A ele voltarei, com certeza, mais vezes.

Notas:
* = de qualquer maneira, feito no ar.
** = à farta, em grande quantidade.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Voltar ao local do crime


Comecei a ler Le Nouvel Observateur em finais de 1968, e talvez a comprá-lo no ano seguinte - creio. Foi, de algum modo, a minha cartilha teórica de aprendizagem política. Apesar de vários interregnos, na aquisição, maiores ou menores em espaços de tempo, nunca lhe perdi o contacto, até ao ano passado em que, pela geral perda de qualidade e abaixamento de nível, decidi deixar de o comprar, definitivamente.
Até anteontem, em que as saudades falaram mais forte.
Mas não tenho grandes ilusões...

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Citações CCCXXLXIV


O provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela - em segui-la pois mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz.
O síndroma provinciano compreende, pelo menos, três sintomas flagrantes: o entusiasmo e admiração pelos grandes meios e pelas grandes cidades; o entusiasmo e a admiração pelo progresso e pela modernidade; e, na esfera mental superior, a incapacidade de ironia.

Fernando Pessoa, in Os Portugueses (pg, 4).


com agradecimentos a H. N..

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Os delicados utentes


Andam por aí as redes sociais e os blogues por conta de outrém, os minudentes especiosos, os susceptíveis delicados, os betinhos da mamã, os jornais da cor,  a queixarem-se das fracas condições do aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa. Não serão as melhores, concordo, mas que experimentem o caos absoluto de Heathrow (Londres), antes de miarem sobre os produtos nacionais. 
As agendas escondidas disfarçam imenso as suas intenções. Basta ver as queixas ciganas sobre o SNS, para perceber os tenreiros* que se ocultam atrás, para abocanhar esse petróleo branco, muito apetecido e guloso da Saúde...

Nota: para quem não saiba, *tenreiro, além de ter sido o apelido de um importante almirante salazarento, tem o significado simples de vitelo mamão...

Últimas aquisições


Prestigiada publicação espanhola, a Revista de Occidente foi fundada por Ortega y Gasset, publicou-se durante largos anos e contou, entre os seus colaboradores, com personalidades de grande qualidade cientifica e literária.
Eu tinha já alguns números dispersos, comprados há anos e escolhidos por causa de conterem artigos ou inéditos com particular interesse, para mim.


E ontem, no meu alfarrabista de referência, deparei-me com três rimas de exemplares diversos, que deviam totalizar cerca de uma centena. Passei-os a pente fino e trouxe 7 números diferentes, a 2 euros cada. O mais antigo é de 1963 e o mais recente tem o número 132, de 1974.
Do exemplar de homenagem a Albert Camus, a um especialíssimo trabalho sobre o New Criticism, passando por um conto de John Updike, vou ter muito por onde me entreter, com proveito.

Pinacoteca Pessoal 137


Fracos recursos económicos, do ponto de vista familiar, não permitiram ao pintor russo Aleksander (Jakovlevic) Golovin (1863-1930) completar os seus estudos em Belas Artes, tendo-se iniciado cedo na profissão de aderecista e trabalhado para Diaghilev e Stanislavski. A primeira representação do Pássaro de Fogo, de Stravinski, contou também com a sua colaboração, nos cenários.


Em 1901, projectou com um colega o pavilhão russo da Exposição-Feira de Paris. Entretanto foi aperfeiçoando a sua técnica de paisagens, em que se destaca o Silver White Willow, de 1904. Bem como inúmeros retratos, de conhecidos, amigos e clientes. De realçar, o retrato da Sra. Sliozberg, executado em 1921, pela serenidade e harmonia estética que dele emana.

terça-feira, 10 de julho de 2018

A propósito do cinquentenário do Booker Prize Award


Com o patrocínio edipiano de Freud, em literatura, há muitos jovens aspirantes a escritores que, para  tentarem ganhar notoriedade, atacam os consagrados. Lembro-me, por cá, de Lobo Antunes escrever uns dislates sobre Vergílio Ferreira, que era uma espécie de monstro sagrado, com uma reputação literária à prova de bala, na altura. Creio que o escritor de Aparição não se incomodou muito com os dichotes juvenis...
Mas também acontece que alguns escritores, no outono da vida e com a sua vida literária já feita, não tendo já nada a perder, resolvem dizer umas verdades cruas sobre a obra de seus confrades, que foram calando anteriormente, talvez por amabilidade e diplomacia, ou por não se sentirem com audição credível suficiente para serem ouvidos. Os exemplos são inúmeros, nas repúblicas das letras...
Na Grã-Bretanha, talvez o mais importante galardão literário de ficção seja o Booker Prize Award que, presentemente, representa um prémio de 50.000 libras, e que é atribuido anualmente a uma obra de ficção escrita e editada em língua inglesa, desde 1969. E que pode contemplar escritores da Commonwealth, como foram os casos de Nadine Gordimer, Salman Rushdie ou Coetzee, este, por duas vezes.
O TLS (nº 6014), pela passagem do cinquentenário do Booker Prize Award, pediu depoimentos a anteriores galardoados, sobre o valor de escritores e confrades, quer tivessem sido premiados ou não. V. S. Naipaul (1932), que recebeu o prémio em 1971, começa o seu texto (a tradução é minha) assim:
Jane Austen é pura coscuvilhice. Ela atingiu proeminência, porque escreveu numa altura em que o Império Britânico tinha atingido os píncaros do seu poder. Se ela tivesse sido uma escritora croata, ninguém teria dado por ela. A sua obra é sentimental, provinciana e confinada ao reduzido espectro duma sociedade inglesa rural.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Atendendo aos tempos que correm...


...Si la presse n'existait pas, il faudrait ne pas l'inventer.

Se a imprensa não existisse, seria preciso não a inventar. 

Honoré de Balzac (1799-1850), in Les Journalistes.

domingo, 8 de julho de 2018

Morte assistida


Nunca morri de amores pelo DN. Acomodatício aos regimes e conservador com o poder, teve, no entanto, alguns bons jornalistas. E, nos anos 60, a sua página literária semanal dirigida por Natércia Freire, revelava alguma qualidade, apesar de muito encostada à Direita e às academias dominantes...
Mas não foi sem alguma melancolia que tive notícia da sua desaparição como diário, para surgir apenas semanalmente, ao Domingo. Pacheco Pereira prognosticou-lhe a morte anunciada, com uma prévia e prolongada agonia - previsão que subscrevo também, pelos indícios.
Resolvi, no entanto, dar uma última oportunidade ao velho(-novo) DN, e hoje comprei-o na banca. O jornal é enorme e incómodo de ler, pelo tamanho. Custa 3 euros e traz uma revista (Evasões), mas muito fracotinha. Vários colaboradores e cronistas, de que se aproveitam, na minha modesta opinião, apenas os artigos de Ferreira Fernandes, Soromenho Marques e Fernanda Câncio. E uma entrevista a José Gil, interessante. O resto, é banalérrimo.
De surpresa, apenas a reprodução, em separado, de um cartoon de Stuart Carvalhais, que aproveitei para imagem deste poste. Mas, como era também gigantesco, usei apenas cerca de 1/3 dele...

sábado, 7 de julho de 2018

Do que fui lendo por aí... 20


Quem frequenta a História, e com ela convive, conhece com certeza a expressão: "É fartar, vilanagem!", atribuida ao Conde de Avranches (1390-1449), pouco antes de morrer, seguindo o seu amigo das sete partidas, Infante D. Pedro (1392-1449), que antes falecera no desenlace trágico da batalha de Alfarrobeira.
A frase não estará correcta, porém. Assim como correm incorrectas as últimas palavras de Sidónio Pais, ao ser baleado à saida da estação do Rossio, em Dezembro de 1918. Perpetuou-se o dito: "Morro bem. Salvem a Pátria!", em tom épico. No entanto, corrigida por algumas testemunhas presenciais, a frase de Sidónio foi muito mais prosaica: "Não me apertem, rapazes!"
Quanto ao Conde de Avranches, e em abono da verdade, o melhor será dar voz ao licenciado Gaspar Dias Landim, na sua Crónica do Infante D. Pedro, que assim narra os últimos momentos do grande amigo de D. Pedro:

"... O Conde de Abranches, causa desta destruição, depois de por bom espaço ter pelejado e feito grande damno nos d'El-Rei (D. Afonso V), e tendo já recebido algumas feridas, vendo-se cançado, fraco e já desfallecido, tornou à sua tenda, e pediu de comer e ahi soube da morte do Infante (D. Pedro), dizendo logo que nunca Deus quizesse que elle lhe faltasse da promessa e voto que tinha feito de morrer com elle; depois de ter comido  e bebido, se tornou à batalha contra os d'El-Rei, que andavam encarniçados em dar mortes, e se lançou entre elles, fazendo algum damno, como vinha de refresco; mas tardou pouco que cahisse atravessado de muitas lançadas e feridas mortaes, e em lugar do doce nome de Jesus, que naquella ultima hora lhe podera ser de grande bem, acabou com estas palavras: Ora fartar, rapazes, e vingar, villãos." (pg. 114).

Desapiedadamente


Classificado e arquivado.
Era um versejador enxertado de uma pernada de Melo Neto e outra de Gedeão, no ritmo martelado. Mais uns pozinhos de Cesariny, sem a graça original de O'Neill. Mas podia ter a idade de Régio, pelos versos e motivos, datados. Alegre, assim a modos. E a verborreia infinita e inocente de Ramos Rosa.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Ideias fixas 16


A Sexta-feira é um dia de pré-preguiça. Nos blogues, só ultrapassado pelo Sábado, normalmente, com maior escassez de postes, visitas e comentários. O Domingo é, quase sempre, irregular: começa tarde, mas, às vezes, acelera ao início da noite, com algum frenesi recuperador.
(Não, não consultei o I. N. E., estas coisas, com alguma atenção são facilmente observáveis. Atávicas, no fundo. Só por distracção não damos por elas. (Com oito séculos de fronteiras inalteráveis, nós, os portugueses, somos todos muito parecidos ou iguais...))

Mercearias Finas 131


A Trafaria já foi vila mais bonita, quando por lá andei, de Julho a Setembro de 1968, diariamente, a tirar a especialidade no BRT (Batalhão de Reconhecimento e Transmissões). Hoje, o espaço do quartel parece uma quinta abandonada com pardieiros em ruina ameaçadora. Nessa altura, a praia ainda era frequentável e de águas limpas, embora a fímbria de areia já não fosse muito grande. Nos últimos tempos as águas não se recomendam, pela sujidade. Lentamente, o miolo da vila, vai sendo recuperado, no entanto, e algumas casas, no centro histórico, vão sendo restauradas e têm um ar airoso e aconchegado, à vista.
Creio que, quando a frequentei, há 50 anos, nunca almocei senão na messe do Batalhão. Não se comia mal e as doses eram generosas e apaladadas, sobretudo para quem vinha de Mafra...


Recomendar um restaurante tem sempre os seus riscos. Na restauração, as coisas mudam depressa,  em Portugal, normalmente para mais caro e pior. Mas vou ousar destacar, na Trafaria, a Taberna Zé da Lídia, na rua Artur da Costa Pinto, nº 12. Fomos lá ontem, pela quinta ou sexta vez, e saímos a contento como habitualmente, pela excelente cozinha, o competente serviço, o preço moderado (60 euros para 4 pessoas, ainda deu direito a troco) e o agradável ambiente. Necessário é fazer reserva antecipada, porque o restaurante só tem 24 lugares.



Nas entradas, o pão fatiado é muito guloso e o paté de atum, caseiro, saboroso. As azeitonas também não desmerecem e aperitivam muito bem, a caminho das pataniscas de bacalhau, que nunca comi tão enfoladas. Todo o peixe é fresco e da melhor qualidade, ou não estivessemos à beira-mar...


Recomendam-se também os filetes de linguado que, como as pataniscas, são acompanhados de um arroz caldoso de feijão ou, em alternativa, de tomate. Quanto a carne, aconselho os Rojões ou Entrecosto, mas se houver Rancho, não percam - se apreciarem o prato. A respeito de vinhos, agradáveis, há uns pipinhos simpáticos pela sala, donde podem vir bons monocastas: Antão Vaz, quanto a brancos; e Cabernet, Touriga Nacional e Sirah, de tintos. O que sublinha o bom gosto de quem governa a Taberna...
Quanto a sobremesas, a Tarte de Limão é um primor!
E, já que o Verão parece ter vindo para ficar, vá lá!, atravessem o Tejo e venham refeiçoar à Trafaria.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Os discretos, sensíveis sinais de atenção


Sobre a superfície rugosa do puro papel japonês, há um laço incompleto e um pássaro discreto.
A imagem fixou Truffaut e o seu alter ego Léaud, sob um céu outoniço e parisiense.
Tanto basta para criar uma atmosfera, sinalizar uma intenção, esboçar uma forma de estar.

com grato reconhecimento a Paula e Rui Lima.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Mínima, disfarçada de máxima


A atenção é, quase sempre, um dos aspectos menos valorizados e visíveis da inteligência. Bem como, muitas vezes, o uso subtil da ironia. Nos seus múltiplos aspectos...

segunda-feira, 2 de julho de 2018

O Porto que se cuide!...


O improvável acontece e eu nem queria acreditar. Mas, como ouvi a nova pela boca do sério  e probo jornalista Joaquim Letria, faço fé absoluta nas suas palavras.
Então não é que roubaram, do Jardim Botânico do Porto, o busto de Sophia Andresen (1919-2004), que lá tinha sido colocado em 2011? Não satisfeitos com a proeza e impunidade, voltaram lá e levaram também o busto de Ruben A. (1920-1975). Ficaram os pedestais...

Amantes de literatura, os aficionados? Não creio. Talvez amor ao metal...
E o sr. Moreira já terá dado por isso?