quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Da leitura (19)


Houve quem desse tarde por Eugénio de Andrade e a sua poesia. Não foi o caso de Jorge de Sena, mas terá havido, entre ambos, uma empatia recíproca. Uma amizade fiel. E feliz.
O traço de uma correspondência raramente é pendular. Quero eu dizer, equilibrado, sem que um dos interlocutores se subestime ou submeta ao peso do outro. Muitas vezes, há um tom predominante que desequilibra de forma flagrante essa relação humana onde se carteiam emoções, ideias, instintos, sentimentos. Quando a correspondência é literária, os perigos são ainda maiores...
Esta troca de cartas entre Eugénio de Andrade e Jorge de Sena tem, porém, um aparente selo de humana, frágil, enorme autenticidade sem pose nem resguardo - sem defesa, em suma. A verdade do que é dito não tem segundos sentidos. Por ela perpassam depressões, doenças, necessidades, aflições, algumas alegrias num registo de nudez que só podia ser o de uma grande amizade.
E delas ressuma, ainda hoje, uma atmosfera, uma ambiência que retrata o viver português (mesmo que um dos interlocutores seja expatriado), difícil, da segunda metade do século XX. Filtrado por duas grandes figuras de uma época. Nem sempre felizes...


terça-feira, 29 de novembro de 2016

Lembrete 56


Publica-se desde 1929 e é uma espécie de almanaque dos pobres, informando sobre agricultura, astrologia, feriados, curiosidades, provérbios, fases da Lua...
Como já estava à venda, comprei-o mais por graça do que por utilidade, como fiz há 6 anos, dando também aqui notícia (11/10/2010). A sua longevidade na edição bem merece uma atenção da nossa parte, que o vemos aparecer pelo trimestre final de cada  ano.


segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Advento



Aqui está, com um dia de atraso, a nossa coroa de Advento deste ano. Como não há distribuição de correio ao Sábado, chegou apenas hoje. 


O calendário já está na parede, a aguardar o dia 1 de Dezembro para eu abrir, diariamente, as 24 portas que, nesse dia, nos separam do Natal.

Post de HMJ, em geminação com a Margarida Elias

Do que fui lendo por aí... (3)


Uma questão fundamental, que marca a fronteira entre o individual e o mundo exterior, é o facto de encontrar um cabelo, nosso, na sopa, ser desagradável e encontrar o cabelo de uma outra pessoa ser insuportável.

Kathryn Hughes, in TLS (nº 5929).

domingo, 27 de novembro de 2016

Carlos E. Riverón R. (Cuba, 1979)


Adentro


Alguns versos  não cabem já no peito,
e por isso saem sem pedir
licença às palavras.

Outros nunca se libertam, permanecem
como lágrimas misturadas pelo sangue.
Certeiro antídoto diante do vazio.

sábado, 26 de novembro de 2016

Curiosidades 60


Muita gente saberá que o uso de beber chá veio da China. E que foi Catarina de Bragança (1638-1705), filha de D. João IV, quem, ao casar com o rei inglês Carlos II, levou para a Grã-Bretanha o costume de se beber chá, a meio da tarde.
O que nem todos saberão - lenda ou história verdadeira - é que terá sido o imperador chinês Chen Nung, no ano 2737 A. C., que, por acaso, o criou pela primeira vez e o bebeu. Este imperador tinha bons conhecimentos de medicina e, por questões de saúde, ordenou que os seus súbditos sempre que pudessem deviam beber apenas água depois de fervida. Ele próprio cumpria, escrupulosamente, a regra.
Num dia de grande calor, Chen Nung sentou-se à sombra de uma árvore selvagem, bebendo a sua água fervida. Uma leve aragem fez desprender algumas folhas do grande arbusto e duas ou três cairam no seu copo. Ao levar aos lábios esta inesperada tisana, o imperador ficou maravilhado com o sabor requintado da bebida. A nova feliz espalhou-se e o uso do chá começou a ser hábito na China.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Miscelânea pré-natal


Sempre me perguntei sobre o que teria feito cobrir os nossos antepassados das cavernas: teria sido o pudor ou o frio?
Porque chega-se a uma altura do Outono, já perto de Dezembro, que, quando é noite, o que apetece é ficar encotinhado a um canto, de preferência num maple, com os pés aquecidos, a ler uma obra agradável de um autor predilecto, e não fazer mais nada...
A proximidade do Natal traz muitas coisas consigo, num mimético atavismo que se repete, ano após ano. A começar, cada vez mais donas de casa a virem ao Arpose, para consultar (ou copiar) a receita dos mexidos vimaranenses (em Dezembro do ano passado foram mais de 250 videirinhas)...
Jornais e revistas aumentam a publicidade, para as prendas natalícias. Por sua vez, o TLS recorda Dezembros passados. Lembra que, em 1974, pediu, por exemplo, a 14 escritores renomados recordações dos seus livros mais memoráveis de infância.
De alguns escritores mais conhecidos, aqui vão as preferências:
Isaiah Berlin - "Os filhos do Capitão Grant" e "David Copperfield";
William Golding - "A Família do Robinson Suiço";
Iris Murdoch - "A Iha do Tesouro".
Curiosamente, todos estes livros estavam traduzidos em português e também foram lidos por mim, na juventude. Os mais vezes citados foram porém: Black Beauty ("O Cavalo Preto", em português), de Anna Sewell, Tom Sawyer, de Mark Twain, e "O Coração", de Edmundo de Amicis, que constam da minha biblioteca e me deixaram também boas recordações.
Realmente, não há nada como o Natal para nos aproximar dos anos mais tenros...


quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Classificação


A Suiça é uma espécie de clube. Nem todos gostarão de associar-se, mas para aqueles que gostam de ordem e de uma vida tranquila, a Suiça é o lugar certo.

Patricia Highsmith (1921-1995).

Nota: e eu acrescentaria que também para morrer em paz, que o número de conhecidos é impressionante - Thomas Mann, Charlie Chaplin, Georges Simenon e a própria Patricia Highsmith, entre muitos outros...

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Apontamento 94: Passeios por Lisboa - 5



Ao contrário de muita gente, faço parte de uma geração pós-guerra que crescera no meio de obras e numa tentativa de mudar um país em ruínas.

Com efeito, trabalhos e recuperação e manutenção do edificado, com os distúrbios óbvios para uma rotina estática, fazem parte de um ADN, de saudável espírito de conservação.


Olho, pois, para as obras na cidade de Lisboa com alguma curiosidade, sabendo que, na maior parte dos casos, o aproveitamento imediato será o turismo, com todos os defeitos de uma estratégia mal concebida para o “chunga” em vez de uma elevação espiritual e cultural.

Ouvindo os abencerragens da velha CIP, sugeria que se preocupassem com a qualidade e cultura dos “nossos empresários”, porque, no dia-a-dia, percebemos bem que eles nem sequer estratégia têm para além de alugar os quartinhos às escondidas da AT.


Resta-me uma consolação. Depois de os turistas debandarem para outras paragens, pelo menos ficam os edifícios recuperados, destacando a beleza da cidade. 

Post de HMJ

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Em temática filatélica, para a Sandra, em Almere


Escolhi as temáticas Monarquia e Barcos, em selos da Holanda; e as flores para acompanhar os parabéns.
Um dia bom e um ano ainda melhor!

Agricultura, estilos, adubos e escatologia


Nem sempre a intenção do estilo, na sua origem, provoca o efeito desejado no leitor. Também o título, ainda que manipulador, consegue, sempre, o objectivo que inicialmente era pretendido. Um romancista há-de ler sempre um romance de forma a desmontar a sua construção; e um poeta, ao ler um poema, não fruirá da mesma liberdade nem do prazer que um leitor comum poderá experimentar.
Quando comprei o livrinho que encima este poste, moveu-me a curiosidade, mas também um lado lúdico que, certamente, nunca esteve na ideia do seu autor. Que pretenderia, provavelmente, resultados padagógicos e ajudar a quem o comprasse, para melhor tratar a terra e os campos.


Ora, logo no terceiro capítulo, o autor preocupou-se em abordar Differentes modos de adubar as terras, de forma o mais integral possível. Valerá a pena, por isso, transcrever uma parte do capítulo:
"...O esterco melhor é o das aves, excepto o dos ganços e das mais aquaticas; e o de superior qualidade pelo muito calor que encerra é o dos pombos. Depois do esterco das aves o melhor esterco que se encontra é o excremento humano. O esterco dos burros é o terceiro em qualidade, e a este se segue o das cabras, depois o das ovelhas, e logo o dos bois. O mais inferior de todos é o dos cavallos e machos, porém torna-se bom misturado com os outros. ..."
Para remate, direi que este livrinho de 1854, muito desgastado pelo uso, mas útil, para jovens e velhos agricultores, me custou 12 euros, num alfarrabista de Lisboa.

Uma fotografia, de vez em quando (89)


Diversas vezes premiado, integrado desde 1958 na Agência Magnum, a obra do norte-americano Bruce Davidson (1933) foca, sobretudo como modelos, indivíduos marginais ou comunidades marginalizadas. Mas também excelentes retratos de notáveis: Paul Newman, por exemplo, ou Marilyn Monroe.


domingo, 20 de novembro de 2016

Retro (90)

Há mais de 60 anos foi assim. Donde se poderão comparar as reverências e vénias. Não os diálogos, infelizmente...

sábado, 19 de novembro de 2016

Livros ao Sábado


Com a noite de ontem, quem diria a soalheira manhã de hoje!?
Não imaginava ir ver a feira de usados na rua Anchieta, neste sábado ainda de Verão de S. Martinho. Mas achei mais caros os preços (proximidade do Natal?), embora houvesse várias bancas de livros a 5 euros. E, numa delas, inúmeros Vampiros a 1 euro: trouxe 6 Nicolas Freeling (1927-2003), meu actual escritor policial de estimação e mais 4 outros autores sortidos, que me estavam em falta. Para completar a antiga colecção da Livros do Brasil, faltam-me agora só 69 volumes.
Para coisa mais séria, ainda me abalancei a um Ezra Pound (1885-1972), que estava em conta - 3 euros. Que trouxe, para o fim-de-semana.

Sobre a leitura de semanários...


Por bizarro que pareça, demoro mais tempo a ler o Sol do que o Expresso, em parte porque o Expresso é muito previsível politicamente e o Sol é uma mistura de "recados" (aliás, como o Expresso) com os artigos mais absurdos da imprensa portuguesa; por isso leio-o com uma curiosidade, digamos assim, entomológica.

J. Pacheco Pereira, in Somos aquilo que juntamos (jornal Público, 19/11/2016).

Ida Vitale (Montevideu, 1923)


La Palabra


Expectantes palavras,
fabulosas em si,
promessas de sentidos possíveis,
airosas,
aéreas,
arejadas,
labirínticas.

Um pequeno erro
pode torná-las ornamentais.
A sua exactidão indescritível
pode apagar-nos.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

A serenata inesperada


Com tanta trumpada a sufocar-nos a vista e as leituras, soube-nos bem esta pequena e imprevista serenata nocturna dos Camponeses de Pias que se preparavam para entrar no S. Luís e acompanhar Vitorino na celebração dos seus 40 anos de carreira.

Jean-Roger Caussimon (1918-1985)

A todo tempo, em geminação com MR, no seu Prosimetron.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Desabafo (17)


Fui quase sempre comedido nos meus desejos. Talvez por isso o meu animal doméstico de estimação foi o canário - cabia-me em casa, sem grandes complicações.
Mas sempre achei graça aos burros; o seu tamanho, porém, é que nunca me permitiu tê-los ao pé...

De E. M. Cioran, em jeito de balanço


Cristalizei algures entre a poesia e a prosa, sem poder optar por uma ou por outra; dos poetas, tenho o ritmo, dos prosadores, a insistência. Creio bem que não fui feito para a palavra.

E. M. Cioran (1911-1995), in Cahiers / 1957-1972 (pgs. 209/10).

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Miscelânea bibliográfica e poético-canora


Quando, em Dezembro de 1963, a Portugália fez sair, na sua prestigiada colecção Poetas de Hoje, os Poemas de Edmundo de Bettencourt (1889-1973), o poeta madeirense não seria conhecido de muitos leitores portugueses. O seu nome, um pouco a exemplo recente de Bob Dylan, era mais reconhecido como cantor, nesse particular, de fados de Coimbra. As Saudades de Coimbra, de sua autoria, e Samaritana eram gravações de êxitos que lhe estavam associados.
Mas o elogioso prefácio (Relance sobre a poesia de Edmundo de Bettencourt), de Herberto Helder, com um apologético apoio e explicação dos singulares Poemas Surdos, contribuiram para que o livro fosse procurado e se esgotasse. A insularidade de ambos os poetas talvez explique esta aproximação, à partida, pouco provável.


Afora poesias avulsas, esparsas e intermédias publicadas em revistas, Edmundo de Bettencourt fora colaborador (e, depois dissidente, com Torga e Branquinho da Fonseca) da revista Presença e publicara apenas e sob a  chancela deste movimento, 33 anos antes, um único livro de poemas intitulado O Momento e a Legenda (1930). O meu exemplar, adquirido não há muito tempo num alfarrabista de Lisboa, fora dedicado a Mário Coutinho (1899?-1984) e incluia, solto, também um poema passado à máquina, assinado, que teria sido publicado na Revista de Portugal, segundo indicação manuscrita de Edmundo de Bettencourt.


Não ficaria de bem comigo se não juntasse, a este poste, uma das gravações, antigas, do poeta-cantor de Coimbra, pese embora a deficiente gravação do fado conimbricense que, para mim, é um dos mais bonitos que conheço. Talvez valha a pena informar que o fado "Samaritana", em causa, no período do Estado Novo, era proibido, pelo tema provavelmente beliscar a moral católica. Pude, no entanto, ouvi-lo, na República Baco, clandestinamente e entre amigos, no início dos anos 60, em Coimbra. E aqui fica ele, pela voz de Edmundo de Bettencourt. Que era também poeta. Como o Bob Dylan.



Excertos de um diálogo


Simone de Beauvoir - Era essa, precisamente, a pergunta que lhe queria colocar: porque prefere os jovens? Há gente que detesta os jovens, Koestler era um, e Merleau-Ponty também não os apreciava muito. Você, pelo contrário, é-lhes favorável. Porque é que lhe agrada estar com eles?
Jean-Paul Sartre - Porque sobre um grande número de coisas, eles não têm o seu pensamento, a sua vida, completamente definidos; por isso discutimos como duas pessoas que têm vagas opiniões e tentam conciliar os seus pontos de vista; enquanto com os velhos é muito diferente. Têm opiniões definitivas, e eu também; ...

in La cérémonie des adieux (Paris: Gallimard, 1981).

domingo, 13 de novembro de 2016

Um poema de Gérard de Nerval, traduzido por Jorge de Sena


A Prima


Tem seus prazeres o Inverno; e ao domingo, às vezes.
se o sol pousa na neve dos jardins burgueses,
a gente sai com a prima a passear...
- E não se esqueçam lá da hora do jantar -

- é o que a mãe diz. E quando nós já vimos todos
os vestidos em flor passando entre o arvoredo,
a menina tem frio... e lembra com bons modos
como a névoa da tarde vem chegando cedo.

Voltamos para casa recordando o dia
que tão rápido foi... e que tão pouco ardia...
E do fundo da escada cheira-se esfomeado
o perfume, lá em cima, do peru assado.


in Poesia de 26 Séculos (Inova, 1972)

Do rifoneiro castelhano (7)



Ni barbero mudo ni cantor sesudo.

(Nem barbeiro mudo nem cantor sisudo.)

sábado, 12 de novembro de 2016

A par e passo 178


Um livro tem valor a meus olhos pelo número e pela novidade de questões que levanta, anima ou reanima no meu pensamento. As obras que impõem ou postulam a passividade do leitor não são do meu agrado. Eu espero das minhas leituras que elas me provoquem observações, reflexões, daquelas paragens súbitas que suspendem o olhar, iluminam perspectivas e despertam a nossa curiosidade profunda, os interesses particulares das nossas investigações pessoais e o sentimento imediato da nossa presença de estarmos vivos.

Paul Valéry, in Variété V (pg. 269).


Nota pessoal: terminámos, hoje e por aqui, as transcrições e traduções de excertos, que temos vindo a fazer, desta obra de Paul Valéry. Bem como, pelo menos, esta fase da rubrica "A par e passo".

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Sete anos de pastor Jacob servia...


Ao dar contas, vêm chegando os números:
quase 9.000 postes, ultrapassados os 300.000 visitantes, nestes 7 anos que hoje o Arpose celebra.
Veremos o futuro, agradecendo a quem nos vai visitando!

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Pinacoteca Pessoal 118


A meio caminho entre a Renascença e o Barroco, quanto à expressão pictórica, o artista flamengo Jan Gossart (1478-1532), também conhecido por Jan Mabuse (da sua terra natal), deixou-nos uma obra pessoalíssima de ressonâncias difíceis de classificar. Do Auto-retrato (1515-20) que faz lembrar Dürer, aliás seu contemporâneo, até ao singular Neptuno e Anfitrite, de 1516, passando por Danae (1527) fecundada pela pródiga poalha divina de Zeus, o seu exercício criativo marca um percurso charneira muito singular nos primórdios da melhor pintura do século XVI.

Nota: Jan Gossart está representado na Fundação Medeiros e Almeida (Lisboa) por um quadro intitulado "Cristo coroado de espinhos".



quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Do cancioneiro tradicional espanhol (5)


A desconversa e o absurdo não são único apanágio da poesia oriunda dos altos expoentes culturais (Prévert, O'Neill, Ionesco, surrealismo...). Ora atente-se nestas 2 quadras traduzidas do Cancioneiro tradicional Castelhano, em apoio do que disse:

1.
Chega-te a essa vergonha
cara de pouca janela,
e dá-me um copo de sede
que venho morto por água.

2.
Um cão caiu a um poço,
outro cão o tirou dele,
só para dar a entender
que os sonhos sonhos são.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Divagações 118


Li algures, mas não há muito tempo, que as relações dos vivos com os seus mortos estão sujeitas a variações. Sou levado a crer, pela minha própria experiência, que a afirmação tem o seu quê de verdadeiro.
Por outro lado, há muito que não tinha o gosto de ler dois livros seguidos, e em sequência, que tanto me agradassem. Acabei de ler A Biblioteca à Noite, de Alberto Manguel, e encetei, da Guerra e Paz, "Jorge de Sena / Eugénio de Andrade - Correspondência..." (2016) , situando-me, de momento, na página 52. O agrado é talvez ainda maior, que o do livro anterior, na leitura desta troca de correspondência entre dois bons amigos.
Por mero acaso, fui, hoje, dar ao blogue de J. Rentes de Carvalho (Tempo Contado), em que ele faz uma apreciação sucinta sobre este mesmo livro que acabou de ler. Rematando assim: "A vaidade de Eugénio de Andrade enfastia."
Muito francamente, pelo menos até à página 51 não dei por nada.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A queda do anjo


Um desastrado turista brasileiro, em busca de um melhor ângulo fotográfico, no MNAA, ontem, ao recuar fez cair uma preciosa escultura do séc. XVIII, representando S. Miguel. Sendo de madeira, policromada, embora bastante danificada pode vir a ser recuperada, mediante um restauro competente.
Assisti a uma situação parecida, era criança, no Museu Soares dos Reis (Porto), pelos anos cinquenta do século passado. Um rapaz turbulento e buliçoso, em correria desenfreada, deitou abaixo, partindo, o braço direito de Ismael, da bela escultura de  Augusto Santo (1868-1907). Felizmente, era a cópia de gesso...
Na altura, ficaram com o nome dos pais da criança, que não sei se vieram a pagar o restauro. Seria moralizador e um bom exemplo, que o adulto brasuca viesse a pagar o estrago que causou, para aprender a saber andar pelos museus, com mais atenção...


Obras capitais


Poderia ser fumo, nuvens de fumo de alguma queimada de Outono, mas não é. É poeira de cimento pulverizado de um enorme prédio que vai sendo descascado por dentro, para manter apenas a embalagem arquitectónica por fora. Meia Lisboa se remexe, revolve e envolve nestas poeiras de ruas e prédios vetustos que vão ganhando novos contornos, ainda que, nalguns casos, apenas interiores.
E como o movimento é, normalmente, fonte de prazer, o melhor é assistir com bonomia a estas movimentações da Capital.

domingo, 6 de novembro de 2016

Exposição Retrospectiva (1971-2016)


Na Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria (Lisboa), inaugura na próxima Sexta-feira, 11 de Novembro de 2016, às 19h00, a exposição retrospectiva, Corpo a Corpo com a Pintura, da obra de Pedro Chorão (1945).

Bibliofilia 148


Durante mais de dois séculos, The Encyclopaedia Britannica foi uma espécie de Wikipedia do mundo letrado. É certo que com uma triagem de verbetes muito mais exigente e com a colaboração de especialistas nas matérias, acima de qualquer dúvida ou suspeita. Era obra séria, em suma, e credível.
Para se ter uma ideia da sua importância e popularidade, bastará dizer que, da sua 9º edição (1875-88), se venderam cerca de 250.000 conjuntos completos dos seus volumes.
Editada pela primeira vez em 1768(-71), em Edimburgo, era composta por 3 tomos. A minha edição é a décima quarta, de 1929(-33), e conta 24 volumes. Comprei-a na última década do século XX, usada naturalmente, por vinte mil escudos. E tem-me sido útil, apesar de datada no tempo.
Creio que a mais recente edição de The Encyclopaedia Britannica é de 2007, mas foi anunciado pelo seu editor, em 2012, que a impressão em papel ia deixar de ser impressa. Percebe-se inteiramente e porquê...

sábado, 5 de novembro de 2016

Do que fui lendo por aí... (2)


A pergunta "O que é a arte?" é um tipo de cliché muitas vezes referido sem esperança de uma resposta, e que na maioria dos casos seria preferível nem sequer ser perguntado de todo. Esta edição do TLS centraliza-se na contribuição de artistas diversos que vão do reconhecidamente moderno J. M. W. Turner, John Piper e Pauline Boty, até ao pré-moderno Jan Gossart e aos anónimos artistas da América Central (...) O tema fez-se actual por causa de uma pergunta com  ele relacionada, que se pôs, "O que é a literatura?", a propósito do ingresso de Bob Dylan no panteão dos vencedores do Nobel. Daniel Karlin fornece uma firme contribuição, nestas páginas, para o caso: "o elemento que falta na forma como avaliamos um artista como Dylan não é tanto o facto de ele cantar as suas criações, mas o facto de estas exibições terem sido preservadas e se terem orientado, através do tempo, como de textos literários se tratassem" (...) E o prémio (tão arbitrário; tão inexplicável) ter falhado canonicamente tantos grandes escritores. Será importante que Bob Dylan, com a sua voz de falsete e os seus clamorosos insucessos dos anos 80, tenha atingido as alturas que foram negadas a Vladimir Nabokov ou a Marcel Proust? (...)

Stig Abell, no editorial do TLS (nº 5925).

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Impromptu (29)


para ms e japs, reflexamente.

Recomendado : sessenta e quatro


Com curadoria de Margarida Elias (1970) e integrada na Molda 2016, das Caldas da Rainha, inaugurou recentemente, no Museu da Cerâmica da mesma cidade, uma mostra de temática zoomórfica sobre cerâmica caldense, seleccionada da colecção de João Maria Ferreira (1932). Até 4 de Dezembro de 2016, esta exposição, muito bem organizada e documentada, merece ser visitada.