sábado, 31 de outubro de 2015

A colheita da manhã


Há muito que eu não via (pelo menos desde o tempo da saudosa Livraria Barateira) um estendal tão numeroso de livros policiais, usados, à venda. Principalmente, das colecções XIS e Vampiro. Foi na feira dos Sábados, na rua Anchieta. Uma banca enorme e coalhada de policiais, a bom preço. Acerquei-me, saquei da minha lista de faltas e comecei a confrontar títulos, autores e números: vieram 10. António Nobre e Borges vieram, também, para completar a dúzia. 


Regimes


Porque ontem iniciámos a saison do Bolo-rei, cá em casa, me dei a pensar na singularidade de, nas pastelarias antigas, ele se começar a fazer no feriado da República, 5 de Outubro. A produção intensifica-se na segunda quinzena de Dezembro, atingindo o paroxismo na noite de 23 para 24, em que os pasteleiros, muitas vezes, fazem uma directa, para que no estabelecimento não falte o bolo tradicional das festas natalícias, para todos os fregueses. Depois, e a partir de Janeiro, o fabrico vai diminuindo até cessar por alturas do Carnaval. Para recomeçar a nova época, cerca de 7 meses depois, em Outubro seguinte.
Ah! também já provámos as Broas Castelar. As que comemos, recomendam-se.

Filatelia CVIII


Em menos de 20 anos, a Primeira República não se esqueceu dos escritores portugueses e lembrou, em cuidadas emissões filatélicas, Luís de Camões, em 1924, e Camilo, em 1925, pelo centenário do seu nascimento. Ambas as séries, de 31 valores, foram executadas a talhe doce pela Waterlow & Sons (Londres), com base em desenhos de Alberto de Souza. Dos selos, em imagem, ficam algumas taxas das emissões.
À ditadura do Estado Novo, mais do que a literatura interessava-lhe celebrar a História. Nos seus 48 anos de vigência, os CTT, se não estou em erro, lembraram apenas Bocage, pelo seu 2º centenário (1966), e, anteriormente, em 1957, dedicaram emissões a Cesário Verde e Almeida Garrett. Chegamos assim ao 25 de Abril, com a temática Escritores Nacionais, composta por apenas 5 séries de selos. Não foi muito...
Nos últimos anos, pode dizer-se que o programa dos CTT tem sido pródigo em lembrar as figuras literárias portuguesas. Mas não deixa de ser curioso que, um dos mais conhecidos, lidos e populares dos escritores, Eça de Queiroz, tenha tido que esperar pelo ano 2000, para ser homenageado pelos Correios Portugueses, na passagem do centenário da sua morte.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Palavras do dia (13)


"...Os jornais ditos de «referência» (se isso significa hoje alguma coisa) fizeram do eclectismo uma profissão de fé ou uma tentativa de não excluir ninguém, para se dirigirem a um universo alargado de leitores. Daí a impressão que temos de que há «quotas» para toda a gente se sentir representada, sobretudo nas secções de opinião. E este carácter aparentemente abrangente estende-se a todo o jornal, de maneira que o que se obtém é sempre um produto demasiado híbrido, movendo-se num espaço da hesitação que visa contemplar o chamado «leitor médio», cuja existência está tão atestada como a do unicórnio. ..."

António Guerreiro, na crónica Sem sombra de pecado, revista ípsilon (jornal Público, de hoje).

Abóboras na paisagem


Da Escola vem um alarido, um clamor selvático de gritos infantis, tão desmesurado que até consegue abafar a música pimba, provinda de uns altifalantes rudimentares do recinto interior.
Cá fora, dezenas de pais e avozinhos, impedidos de entrar, espreitam, embevecidos, através das grades e da rede, as criancinhas mascaradas, como num jardim zoológico humano descontrolado.
Não, obrigado! Para mim, abóboras, só para a sopa e nos bolinhos de jerimu.

Pinacoteca Pessoal 102


Considerado, por alguns, como um dos grandes mestres do Renascimento, o pintor italiano Giovanni Bellini (1430?-1516) está representado na Frick Collection (Nova Iorque), pelo quadro "S. Francisco no Deserto" ou "S. Francisco em êxtase", que foi adquirido pelo industrial milionário Henry Clay Frick (1849-1919), em 1915, por 170.000 dólares. A obra, inicialmente atribuída à escola do Mestre, acabou por ser certificada como sendo de Bellini.
O quadro foi fonte de controvérsias várias. Enquanto uns (Millard Meiss)  a interpretam  como representando a estigmatização de S. Francisco de Assis, através da luz solar, outros (Richard Turner) querem nele ver a saudação ao "irmão Sol", por parte do Santo. O singular tratamento da paisagem, a pequena lebre saindo da toca e o burro, para sublinhar o amor de S. Francisco pelos animais, são pormenores para que gostaria de chamar a atenção.


quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Exposição de Fotografia


Tendo como tema Moçambique, na Galeria Municipal de Arte, em Almada, inaugurou, hoje, 29/10/15, uma exposição colectiva de Fotografia.

Da Natureza


A 26/10/15, foi assim, ao largo da Costa de Caparica, para quem teve a sorte de ver e fixar...

Com agradecimentos a AVP e JTP.

De autor anónimo, colhido no romanceiro espanhol (sec. XV-XVI)


Romance de la Constancia

Os meus arreios são armas, meu descanso pelejar,
minha cama as duras pedras, o meu dormir é velar.
As guaridas são escuras, os caminhos por usar,
o céu com suas mudanças, houve por bem me danar,
andando de serra em serra, pelos areais do mar
para ver se a minha sorte se podia assim mudar.
Mas por vós, minha senhora, tudo se há-de conformar.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Uma louvável iniciativa (43)


Uma das obras mais emblemáticas de António Domingos Sequeira (1768-1837), A Adoração dos Magos (1828), proveniente da Casa Palmela, encontra-se à venda, por 600.000 euros. A sua integração no acervo do MNAA, engrandeceria significativamente o património nacional.
Em boa hora, o director do Museu Nacional de Arte Antiga, António Filipe Pimentel, decidiu promover uma campanha mecenática nacional, durante 6 meses, para conseguir reunir o montante necessário para aquisição da obra. Todos os portugueses, com alguns meios, estão convocados!
Nós já contribuimos.

em geminação com MR, no seu Prosimetron.

William Sheller (1946)

para MR, este cantautor franco-americano, para juntar aos (seus) "Os meus franceses", cordialmente.

Os cinemas paraíso


O último L'Obs (nº 2659) promoveu um inquérito junto de algumas personalidades conhecidas, incentivando-as a que falassem das suas salas de cinema mais emblemáticas e que perduraram na sua memória. A portuguesa Maria de Medeiros (1965) escolheu o Quarteto, como se pode ver na imagem que encima este poste.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Desabafo (5)


A antiguidade é, realmente, um posto - como costumava dizer-se na tropa, no tempo em que a frequentei.
O que quer dizer que instala normalidade, ordem, precedências, calma. A chegada ao poder, ou chefia, do partido Trabalhista britânico, do sr. Corbyn, não causou perturbação de maior na velha Álbion, a não ser ao fogoso milionário católico e palestrante sr. Blair (que, recentemente, muito cristão, até pediu desculpa pela invasão do Iraque...).
O velho socialista ortodoxo, Jeremy Corbyn (1949), nem sequer perturbou o sono régio da augusta senhora Isabel II. Mas por cá, e por coisas menores, algumas forças políticas andam desgovernadas, histéricas e descontroladas. Realmente, não há nada como uma velha democracia: é um sossego. Nada a enerva ou perturba. Razão tinham os militares...

Divagações 100


É raro que algum nascer da manhã, que vejo da janela sobre o rio, não encontre na minha memória alguma aguarela ou tela de Turner. Hoje, tranquilo nas suas cores mais ou menos definidas, o começo do dia foi assim:


Citações CCLXII


Eu acredito realmente que há coisas que ninguém veria, se eu não as tivesse fotografado.

Diane Arbus (1923-1971).

Sobre a verbosidade


Sempre privilegiei a concisão clássica em relação à incontinência barroca, embora nesta última tenha alguma tolerância para com o conceptismo, em detrimento do cultismo.
Nem sempre serei contido, mas julgo que quase poderia fazer minha a sábia máxima de D. João II: "Há um tempo de coruja e há um tempo de milhafre." Quanto à escrita, tenho consciência de que raramente resisto a um bom adjectivo, para uma situação apropriada ou para sublinhar um sentimento, mas tenho a noção de que, às vezes, abuso dos advérbios. E também tenho o sentido das minhas fraquezas: nunca chegarei à usura exemplar da escrita de Georges Simenon, que passa páginas e páginas sem usar um único adjectivo...

Adagiário CCXXXIII (com aditamento iconográfico, em outra direcção)


Um tolo é capaz de fazer mais perguntas numa hora, do que um sábio pode responder em sete anos.

(Provérbio inglês)

A fool may ask more questions in an hour than a wise man can answer in seven years.

domingo, 25 de outubro de 2015

Mercearias Finas 106


Vai de vento em popa e de feição, a apetência para pratos de maior substância e, sobretudo, para tintos, que os vinhos brancos já os passei para a segunda fila, na garrafeira. Muito embora, a meio da semana, que hoje termina, ainda nos tivessemos despedido das caldeiradas de peixe (essa, de cação e raia), em muito boa e amiga companhia. Que trouxera consigo, para nos ofertar um elegante Ponte Pedrinha, Dão branco, que nos ficou na memória.

Mas com o vento e a chuva, os tintos chegaram-se à frente, e fazem-se desejar. A alheira de caça do almoço, de hoje, era muito boa, e o desconhecido Fráguas 2012, uma incógnita. Dão tinto e reserva, de bom preço e bom lote (Touriga, Tinta Roriz e Jaen), nos seus 13,5º, mostrou uns taninos ainda não domados, que lhe asseguram boa longevidade. Acompanhou muito bem, na sua irrequieta juventude, a dita alheira transmontana. Mas o melhor ainda estava para vir:


AVP deixara-nos por encetar um queijo de Caldas da Felgueira, porque, depois da caldeirada da semana que passou, tínhamos saboreado um de Azeitão. Hoje, foi a altura do Seia, magnífico. Que se bateu, lindamente, com o Fráguas tinto, em pé de igualdade e galhardia cavalheirosa.
Ah! terras do Dão, que vos falta ainda um Fernando Nicolau de Almeida (1913-1998) para criar um segundo Barca Velha! Matéria prima não vos escasseia, porém!...

com os melhores agradecimentos, renovados, a AVP.

Wim Mertens : "What you see is what you hear"


Que se perdoe, pela beleza da composição, os cerca de 60 segundos de aplausos, no final do vídeo.

Arte urbana ou a Justiça que se demora


Para quem passar pela rua da Escola Politécnica, não passará despercebido, pouco antes do Largo do Rato e ao lado da porta principal da Procuradoria Geral da República, um grande cartaz, artesanal, que todos os dias é actualizado nos seus primeiros números.
De um dos lados, senta-se uma mulher de meia idade e trajar modesto, do outro, um homem entroncado, quase sempre de pé. Da leitura do cartaz depreende-se que clamam por justiça. E 19 anos é muitíssimo tempo, não sei é se o casal terá direito a ela.
Tirando os Sábados e os Domingos, com determinação persistente, o casal monta o seu cenário, todos os dias úteis. Mas é um espectáculo deprimente, por várias razões. A tudo, a etérea e cega Justiça, representada pela instituição PGR, assiste serena. E consente.

agradecimentos a quem, a meu pedido, tirou uma fotografia do cartaz, na Terça-feira passada (21/10/2015).

sábado, 24 de outubro de 2015

Uma longa toada, vinda de longe


Raros são os poetas singulares, de geração espontânea. Porque quase todos se filiam, de algum modo, numa estirpe ou família mais antiga, num tom de voz anterior, a que novos temas, ou obsessões íntimas e pessoais, podem dar um diferente colorido ou tensão.
No

Vem serenidade!
Vem cobrir a longa
fadiga dos homens,
este antigo desejo de nunca ser feliz...

de Raul de Carvalho (1920-1984), poderá ver-se um eco, reconhecer-se ou sentir-se a palpitação de Pessoa, através de uma outra nocturnidade:

Vem, Noite antiquíssima e idêntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio...

A grande diferença é que muitas destas vozes ficam pelos caminhos do mundo, sepultadas no esquecimento dos homens, outras, mais ditosas (ou mais fortes?), vão sendo lembradas por alguns, durante mais tempo. Sempre finito.

Lembrete 30


É já logo à noite, de madrugada... Assim, para quem goste, há mais uma hora para dormir, com este atraso.

A par e passo 150


Eu vivia completamente arredado da literatura, puro de intenções naquilo que dizia respeito a escrever para ser lido e, por isso, em paz com todos os leitores, quando, por volta de 1912, Gide e Gallimard me convidaram para reunir e imprimir alguns poemas que eu tinha feito vinte anos atrás e que tinham aparecido em diversas revistas dessa época.
Fiquei espantado. Não pude mesmo deixar de pensar, insistentemente, neste pedido que não se tinha orientado para com alguma coisa que tivesse sobrevivido no meu espírito e em que houvesse ainda algum tipo de sedução remanescente. A lembrança muito vaga dessas pequenas obras não me era agradável: eu não sentia qualquer espécie de ternura por elas. Se, algumas delas tinham agradado bastante, na altura, e num pequeno círculo, esse tempo e esse meio tinham desaparecido, como também o meu próprio estado em relação a elas. Além disso, eu não ignorava, embora não tivesse acompanhado, minuciosamente, o percurso e os destinos da poesia, por essa época, que o gosto já não era o mesmo: a moda tinha mudado.

Paul Valéry, in Variété V (pg. 79).

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A tradição já não é o que era...


É com alguma impaciência que, às vezes, mas cada vez mais raramente, ouço o cliché estafado e gasto de que, em política, já não há esquerda, nem direita - embora eu respeite as histórias de fadas.
O que hoje se passou na Assembleia da República, pode mostrar aos sonsos, aos cegos e aos daltónicos, que essa diferença existe e recomenda-se. Nessa medida, o PAN, muito provavelmente, optou pelo azul. É lá com ele e com os animaizinhos que protege, touros, inclusivé, que se enervam com o agitar do vermelho.
Porque não é apenas uma questão de cor: entre o Negrão saraivado e o Ferro moreno, respeitáveis ambos, há uma distinção essencial e, por isso, uma diferença de tomo. Felizmente, porque, na Presidência da República, a isenção do branco não tem predominado. Antes pelo contrário.

Diversas formas de turismo


O 28 continua superlotado, ao longo de todo o seu percurso. E, praticamente todos os dias, um ou mais paquetes paquidérmicos chega ao porto de Lisboa, despejando centenas (milhares?) de sujeitos e sujeitas, quase todos séniores, de mochila e calções, bonés e máquinas fotográficas. Os novos hotéis e hostals vão crescendo como cogumelos pela capital portuguesa. Não sei que tipo de argumentos são usados pelas agências de viagens para trazer estes velhinhos, muitos deles taralhoucos e aparvalhados, a Lisboa, onde fotografam, incansavelmente, tudo o que mexe, ou está parado. Talvez a segurança ou o Sol, depois das primaveras árabes. O que eu sei é que, um dia, tudo isto vai acabar e este turismo massificado de indiferenciados irá rumar para outras paragens. E os hotéis ficarão às moscas e o eléctrico 28 será de novo viajável, para nós, íncolas saturados de tanta mainstream de nómadas acarneirados fotografantes...
Diz-me o último TLS (nº 5872) que, agora, também está na moda outro tipo de turismo, que dá pelo nome de Death Tourism (Turismo da Morte), que tem muita procura e guias descritivos que enumeram, como imperdíveis, por exemplo: os campos de morte de Ruanda, o Ground Zero, Bergen-Belsen, Hiroshima e Nagasaki, Chernobyl, Alcatraz, Pompeia... A esta mórbida curiosidade exótica e palerma, chamam também, de forma erudita - Thanatourism. Ele, há gente para tudo e que, em quase tudo encontra prazer, mesmo de mau gosto. Provavelmente têm dinheiro e, do seu tempo livre, não sabem o que hão-de fazer. Não lhes gabo o gosto doentio. Em tempos, também conheci alguém que gostava muito de rumar ao Cemitério dos Prazeres, onde passava horas entretido. E me descrevia, minuciosamente sorrindo, as suas visitas turísticas ao Père Lachaise, em Paris, e ao Cemitério de Praga. 
Assim vai o mundo...

Uma louvável iniciativa (42)


Estes símbolos portugueses que, através dum traço simples e objectivo, a RAR resolveu lembrar nas pequenas embalagens de açúcar, não deixam de ter a sua graça e interesse. Do moliceiro da apanha de sargaço à caravela das passadas glórias lusas, do eléctrico que fez a sua aparição, em Portugal, no já longínquo ano de 1895 até aos populares coretos, hoje em desuso e raros, é todo uma memória que ressurge embrulhando a doçura do açúcar.
Um agradecimento muito especial a AVP que mos foi guardando, e ofereceu.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

As honrosas visitas


Nascido e crescido na província, não deixo de ficar pasmado e honrado com algumas visitas ao Arpose.
Hoje, por exemplo e logo de manhã, o Blogue teve uma visita do Município de Beja - deviam estar no intervalo do pequeno almoço... Não sei, porém, ao que veio. Mas logo, pouco depois, de Berlim e da Stiftung Preussischer Kulturbesitz ( qualquer coisa como: Fundação para a Cultura Prussiana), às 12h47, alguém veio colher elementos, ao Arpose, no velhíssimo poste "Heresias Literárias", de 26/2/2010. E, cerca de duas horas antes, o blogue tinha tido um visitante de Praga que me encheu de júbilo, pela sua proveniência. Nada menos que o Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Checa (Ministerstvo Zahrainicnich Veci Ceska Rep.) que aterrou directo em 10/3/2013, no poste Lembrar Sequeira

Impromptu (21)

Para abrir a manhã, e em sequência de Waterloo...

Pequena história (36)


Quando, há 200 anos, Napoleão foi derrotado por Wellington, este, antes de mais, preocupou-se sobretudo em visitar os feridos, antes mesmo de informar Londres sobre o desfecho da batalha. As notícias foram enviadas por pombos-correios, e também através de sinais de luzes. A mensagem era sucinta: Wellington defeated Napoleon at Waterloo. Na altura da notícia, porém, o céu cerrou-se de nuvens nessa parte do dia (15 de Junho de 1815) e os receptores apenas anotaram as primeiras duas palavras da mensagem: Wellington defeated... Que. deste modo, incompleta e errada na conclusão, terá chegado a Londres.
Conta-se que, sabendo ou não da verdade inteira, o banqueiro inglês Nathan Rotschild (1777-1836) chegou à Bolsa de Londres, no dia seguinte, com ar lúgubre, e comprou grandes quantidades de acções, que tinham entrado em queda vertiginosa e brutal. Naturalmente, e em pouco mais de 24 horas, aumentou consideravelmente a sua fortuna, após a notícia da vitória se ter confirmado. Por aqui se vê a racionalidade dos mercados, ainda hoje considerados como deuses absolutos...

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Da Janela do Aposento 63. Retórica


No passado, e por obrigação profissional, consultava, com alguma frequência e também por gosto, os Elementos de Retórica Literária de Heinrich Lausberg.
Muito aprendi sobre a “disposição da matéria”, tentando transmitir aos alunos conceitos lógicos e simples para fugirem ao “prolixo” do discurso vazio, pomposo e profundamente ridículo. Eis um exemplo a evitar:
“Amei o parlamento.” Assunção Esteves despede-se “entre o pragmatismo de Sancho Pança e o idealismo de D. Quixote”
Infelizmente, o discurso financeiro, aliado à sua vertente política, tem sido extremamente útil para avaliar da credibilidade – ou falta dela – na tentativa de  convencer, ou manipular, a opinião pública. Fica aqui outra tentativa para tentar “recuperar” algo perdido.




Duas tentativas falhadas para um discurso que se pretendia elevado e credível. É pena que não tenham lido H. Lausberg antes de se pronunciarem !

Post de HMJ

Comprava um automóvel, em 2ª mão, a esta criatura ???



Para além de palermas nacionais, com secura de boca e outros trejeitos, pergunto - repetindo um gesto já passado - se compravam algo a este bimbo da foto ???

Post de HMJ

Uma fotografia, de vez em quando (71)


O que sei sobre a fotógrafa norte-americana Sally Mann (1951) permite-me conjecturar que ela foi, na juventude, uma espécie de Maria-rapaz, avessa a regras muito ortodoxas e que, sobretudo por vontade do pai, foi criada ao ar livre e em grande liberdade. Isso terá, com certeza, moldado o seu espírito e a forma de ver o mundo. Nem sempre a sua vida foi isenta de percalços e contrariedades, no entanto.
A sua obra fotográfica, embora reconhecida como de qualidade, foi fonte de controvérsias, não só por privilegiar modelos e casos marginais, mas, principalmente, pela utilização das filhas, ainda meninas, em poses que alguns consideraram equívocas e mesmo algo pecaminosas...

Bibliofilia 125


Quando eu pousei sobre a mesa o "Manual Político do Cidadão Portuguez" (2ª edição, 1908), de Trindade Coelho, o telefone tocou. F., o empregado do alfarrabista, atendeu pressuroso e eu continuei a volta pelas estantes da livraria, mas ia ouvindo : "...não, não, só trabalhamos com livros antigos..." Do outro lado, deviam insistir, porque F. continuava, gentilmente, a escusar-se ao telefone.
Terminada a minha volta, trouxe ainda para a mesa as "Notícias Históricas de Lisboa na Época da Restauração" (1971), que estava a bom preço (3 euros), quando F. desligou e rompeu às gargalhadas. De tal modo, que se sentiu na obrigação de me explicar o seu riso desbragado: "Sabe, a senhora queria convencer-me a todo o custo, para vender-me os livros. No seu último argumento, disse-me: são livros modernos, mas dos melhores autores portugueses, como o José Rodrigues dos Santos..."
A minha boca abriu-se, também, num sorriso cúmplice e compreensivo.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Da Janela do Aposento 62: Carl Orff e a sua Obra para as Escolas




A música, para além da literatura, encerra essa capacidade de fazer “renascer”. Leituras antigas, experiências anteriores, quiçá memórias de infância. Foi o que sucedeu com a última música divulgada no ARPOSE do compositor Carl Orff.

Na audição da “modinha” surgiram os instrumentos que Carl Orff recomendava para o ensino da música nas escolas: os xilofones, pandeiretas e outras. Gostei, sobretudo, dos xilofones – grandes e pequenos – dos martelinhos com toque de madeira, ou dos mais suaves cobertos de feltro.

Do gosto pelo som e, sobretudo, da noção do ritmo encaminhava-se a criatura para uma compreensão mais formal de música.

No entanto, não tenho dúvida de que o compositor Carl Orff entrou na minha vida por mão de uma professora primária muito dotada. Aliás, tenho tido sorte na educação e formação. Para além de pais cientes da sua missão ética e estética, encontrei – ao longo da minha vida – professores dignos desse nome. Alguns, felizmente, continuam a fazer parte do meu universo.

São ilhas de re-encontros e bem-estar num quotidiano cada vez mais estéril.

Post de HMJ

Citações CCLXI


Não só não há Deus como, também, tentem encontrar um canalizador a um fim-de-semana...

Woody Allen (1935), in The New Yorker (1969).

Divagações 99


 Em louvor de uma infância

Hoje, tudo tem embalagens evasivas: em blister, tetrapack e quejandos. Aformoseadas até ao limite do disfarce ou dissimulação, onde os produtos jazem muito pouco substantivos, menos ainda se lhes descobre a filiação ou origem que permita às novas gerações conhecer-lhes a história em toda a sua simplicidade.
Quando criança, eu estava muito pouco acostumado à técnica, mas sabia, por exemplo, o que era um contador de água. E o seu verdete, quando já envelhecido. Desde cedo, sabia mudar fusíveis, ensinado que fora pela minha Mãe. Conhecia a cor do chumbo e do mercúrio. E os dejectos das cabras vicinais, como também os figos equestres que, por vezes, sinalizavam os animais de passagem pelos caminhos de terra batida, poeirentos. Sabia de como os ninhos eram feitos e conseguia facilmente distinguir um ovo de pata de outro, de galinha. Pasmava da galinha choca - ainda não havia os aviários -, na obscuridade da loja, sobre o enorme cesto vindimeiro, protegendo os pintaínhos recém-nascidos. Surpreendia-me com a agilidade das sardaniscas, fugindo por entre as pedras, nas manhãs de Sol. Tudo isto, apesar de viver numa cidade, embora de província, onde ainda não havia embalagens.

Mário Cláudio, testemunho sobre 3 confrades já falecidos


Em entrevista muito interessante publicada recentemente (16/10/2015) na revista ípsilon (jornal Público), o escritor Mário Cláudio (1941) caracteriza, de forma sucinta, o temperamento de Eugénio de Andrade, Jorge de Sena e David Mourão-Ferreira. Tendo convivido com eles e por se tratar de um testemunho pessoal curioso, aqui ficam exaradas as suas palavras, para memória futura:
"Podia ser-se amigo do Eugénio, mas não um amigo incondicional. Quem o tentou, ficou esmagado. Não era possível. Pela personalidade dele, que era muito possessiva e manipuladora. Já o Sena era temível. Convivi menos com ele, uma vez que estava no estrangeiro, mas era vulcânico, uma pessoa um pouco assustadora naquele seu gigantismo, que se manifestava aos mais diversos níveis. De todos eles, com quem tive uma relação mais afectuosa foi com o David, que ao contrário do que se pensa era tudo menos um mundano, embora gostasse de conviver, sobretudo com mulheres. Era um homme à femmes irredutível. E como é frequente em personalidades desse tipo, era infiel nos amores, mas fidelíssimo nas amizades."

domingo, 18 de outubro de 2015

Mudam-se os tempos...


É uma trágica realidade que, não só pela crise, haja uma cada vez maior diminuição de postos de trabalho na grande maioria dos países europeus.
Na Inglaterra, por exemplo e no entanto, segundo o TLS, há um ressurgimento de velhas ocupações victorianas que, até há pouco tempo, não tinham procura: tratar de gatos, passear cães e nannies...

Pseudo-japoneses


Sempre tive alguma dificuldade em aceitar chamar haiku a pequenos poemas sujeitos a regras semelhantes, mas que não fossem escritos por poetas japoneses. Soava-me a falso, a imitação deslavada. Muito embora algumas vezes, poucas aliás, na sua essência e conteúdo, eles tivessem um resultado satisfatório.
No século XX, o haikai tornou-se popular e foi cultivado por vários poetas do Ocidente. No meu entender, porém, a esses poemas faltava sempre qualquer coisa de essencial. Talvez a alma, apesar da ossatura... Mesmo assim, aqui deixo em tradução, que fiz, dois pseudo-haiku de poetas ocidentais conhecidos:

Pavimentos perigosos...
Mas este ano enfrento o gelo
com a bengala de meu pai.

Seamus Heaney (1939-2013).
...
Face que se fez morena
de tanto olhar os gansos
partir para o oeste.

Alec Finlay (1966).

sábado, 17 de outubro de 2015

De alguns tipos de blogues


Há blogues que, a nível de comentários, se transformam em verdadeiras arenas de combate. E, enquanto o administrador, normalmente silencioso, impávido e sereno, assiste à peleja, os comentaristas cada vez se encarniçam mais, acabando a cena numa peixeirada inominável. São blogues que, habitualmente, abordam questões políticas (ou futebolísticas) que não chegam sequer a ser ideológicas. Mas são profilácticos e contribuem para a catarse, gratuita, de muita gente.
Outros há que são uma espécie de jardins da Celeste, em que os(as) comentaristas se esforçam em escrever pérolas poéticas ou apuros moralistas de duvidoso conteúdo e gosto. Por eles paira uma atmosfera de infantil felicidade etérea, de onde ninguém sai beliscado, nem ferido. O administrador, esse, é sempre incensado, e deve ficar feliz. Parece habitar o reino dos céus, em todo o seu esplendor. Assépticos e inócuos, estes blogues contribuem para a harmonia terrestre.
Claramente, há ainda muitos outros tipos de blogues, porque a lista pode ser bem longa...

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Palavras do dia (12)


Ora imagine-se Pinto da Costa a dar conselhos a Luís Filipe Vieira, sobre a melhor maneira de vencer o Sporting Clube de Portugal...

N. B. : aconselho a leitura integral desta crónica de F. Teixeira da Mota, inserta no Público de hoje. Inteligente e plena de ironia.

Citações CCLX


Essa é uma das desvantagens de se envelhecer: a gente tende a estabelecer contactos íntimos com um número cada vez menor de pessoas.

Aldous Huxley (1894-1963), em entrevista à Paris Review.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Comic Relief (114)


com agradecimentos a AVP.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Calma!


Tenho-me lembrado muito, últimamente, do primeiro livro do cronista e poeta Manuel António Pina (1943-2012), publicado no ano emblemático de 1974. Sobretudo, pelo título. Há algumas pessoas, poucas é certo, que andam muito nervosas. Por exemplo, o meu vizinho do andar direito que, pelo menos em tempos, fez uns trabalhitos de assessoria para um dos ministérios deste governo. Lá por casa, parecem andar em convulsão permanente, tantos são os gritos... Por outro lado, algumas eminências pardas da circunferência (fechada) da governação, desdobram-se em declarações televisivas e radiofónicas ameaçadoras quanto ao futuro. Parecem daquelas pitonisas, feias, das tragédias gregas. A todos esses, à beira de um ataque de nervos, lembro o título tranquilo de M. A. Pina: Ainda não é o fim nem o princípio do mundo calma é apenas um pouco tarde.
Serenem, almas sensíveis e mimosas!

Primícias


Já vi e provei as primeiras castanhas assadas da época. Mas, depois de anos e anos (5? 6?...) em que o preço, por dúzia, se manteve a 2 euros, agora estão a vendê-las, pelo menos no Rossio e no Chiado, a 2,50 euros. Um aumento de 25%!... Mas estão muito boas, valha a verdade.