sábado, 28 de fevereiro de 2015

Uma selecção de sentidos



A sinestesia dos cinco sentidos, contida num poema de Almeida Garrett, surge, com alguma frequência, quando as várias sensações se juntam. Costumo lembrar-me do poema quando os dias, a disposição e uma combinação inesperada e feliz assim o determinam.

No entanto, para além do tacto, da seda, e a beleza do olhar para a réplica do "Álbum de Aguarelas", de João Baptista Ribeiro, a écharpe simboliza e sobreleva os sentidos pelo gesto da lembrança.

Mas, como o olhar e o gosto também vivem da capacidade inerente a determinados ofícios, aqui fica uma execução, gulosa e saborosa, de um bolinho feito por um pasteleiro.


Post de HMJ

Comic Relief (103)


Com a devida vénia ao cartoonista António, in Jornal Expresso de 28/2/2015.

arte menor (17)


                                   para H.


As coisas da terra vieram em teu nome
pelos simples caminhos da verdade:
ora rudes os seus pés esgarçados
ou ternos
momentos nos dedos
suaves.


Lj., 1987 (?).

Dos policiais


O livro (Journal d'un lecteur) de que, aqui, falei ontem, tem vários oragos ou patrocínios. As primeiras 120 páginas desenvolvem-se a partir de uma obra de Bioy Casares. Seguem-se Kipling, Chateaubriand, Conan Doyle (The Sign of Four), como estímulos... Nas páginas dedicadas a este último, Sherlock Holmes serve de pretexto a Alberto Manguel para tecer várias considerações interessantes sobre os romances policiais e seus autores, bem como dos requisitos essenciais que deveriam presidir a estas obras.
O escritor argentino chega mesmo a incluir uma lista dos seus 20 romances policiais preferidos. Da lista vou referir, para além de Conan Doyle, aqueles autores que eu conheço, ou já li:
- Nicholas Blake : The Beast must die.
- Ruth Rendell : A judgement in stone.
- Agatha Christie : The murder of Roger Ackroyd.
- Margaret Millar : How like an angel.
- Dorothy L. Sayers : Gaudy Night.
- Ellery Queen : The tragedy of X.
- Anthony Berkeley : Trial and error.
- Georges Simenon : Les fiançailles de M. Hire.
- Patrick Quentin : My son the murderer.
- Chester Himes : Cotton comes to Harlem.
Estranhei que Alberto Manguel não tivesse incluído nenhum romance policial de Earl Stanley Gardner. E lamento a exclusão liminar de S. S. van Dine. Para mim, um dos grandes autores de livros policiais.

Regionalismos transmontanos (74)


1. Tabuleiro - soalho do carro de bois.
2. Tagalho - porção, certa quantidade. Pequeno rebanho.
3. Taina - comezaina em petiscada, bródio. Pancadaria, sova.
4. Talhar - curar certas doenças por meio de rezas.
5. Tamaninho - muito pequeno.
6. Tanger - levar, conduzir (os animais).

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Recomendado : cinquenta e cinco


Não sei se o livro, em imagem, terá sido, entretanto, traduzido para português. Valeria bem a pena, em compensação para tanta burundanga, indigente e inútil, que se verte, actualmente, para a nossa língua.
Este Journal d'un lecteur (Actes Sud/Leméac, 2004), de Alberto Manguel (1948), é uma obra na esteira de "Fragmentos de um discurso amoroso", de Barthes; ou seja, um livro que fala de outros livros, através do estímulo e reflexões que a leitura dessas outras obras provoca. E é agradabilíssimo de ler.
Emprestado, que me foi, o volume tem a particularidade de ter uma dedicatória manuscrita de Alberto Manguel, datada de 23/6/10.


Merecidamente


Já por aqui referimos a grande qualidade do livro de poemas Categorias e outras paisagens (Afrontamento, 2013), de Fernando Echevarría (1929). Bem como tivemos ocasião de transcrever alguns dos poemas desse volume, que mais nos impressionaram.
Com grande satisfação, pela justiça e reconhecimento desse facto, apraz-nos registar que, ontem (curiosamente, dia dos seus anos), foi atribuído ao Poeta, por essa obra, o prémio da Corrente d'Escritas, na Póvoa de Varzim.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Os Trabalhos e os Dias (6): Velharias




Aqueles que usam, de forma pejorativa, a palavra velharias ignoram o gosto, o saber e a persistência que implicam o seu estudo, a sua conservação e colecção.



Por manifesta falta de tempo dedico-me apenas aos livros, mas gosto de porcelanas, embora menos da faiança. Como nada sei sobre a matéria, tenho lido com muito interesse os “posts” de Maria A. no seu blogue: Arte, livros e velharias. E aqui lhe deixo a terceira imagem de uma terrina que, segundo consta, sempre fez parte da casa de APS. É uma terrina sine notis, i.e., sem lugar, produtor ou ano de fabrico.



Talvez Maria A. se encante com a peça, velhinha e gasta.

Também sei que existe, entre os verdadeiros amantes de “velharias”, uma fraterna cumplicidade na partilha de descobertas.

Assim, retribuo os gratos ensinamentos de Maria A., mostrando-lhe a imagem de “meu” Germão Galharde. O livro, infelizmente incompleto, adquiri-o há uns meses a um bom preço. Ocupou os meus dias durante semanas, lendo e trabalhando, porque o restauro implicou a intervenção no papel e, depois de novamente cosido, a fixação do miolo na encadernação original após a limpeza do pergaminho. Como remate dos ensinamentos, entretanto alargados, aprendi a fazer uma caixa de guarda, pensando nos amantes vindouros de “velharias”.



Por fim, e para quem quiser ver ou ler o livro, com o incipit: Nom he pequena a obrigação de louuor, de Justiniano Lourenço, na íntegra, poderá consultá-lo através da Biblioteca Nacional Digital (BND), cuja cópia digital tem o registo: purl.pt. 16678.


Post de HMJ, dedicado a Maria A.

Deus, na perspectiva de Borges


Se a palavra Deus significa um ser que existe fora do tempo, não tenho a certeza que acredite nele. Mas se ele significa alguma coisa, em nós, que está do lado da justiça, então sim, acredito, apesar de todos os crimes, e que o mundo obedece a um desenho moral.

Jorge Luis Borges (1899-1986).

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Uma fotografia, de vez em quando (56)


Desta vez, as fotos em imagem fogem, um pouco, aos requisitos ou fundamentos com que iniciei esta rubrica, no Arpose. Ou seja, na minha perspectiva, uma estética que aproximasse as fotos escolhidas, de uma ideia de obra de arte, o enquadramento do instante perfeito que comprovasse o profissionalismo eficiente do autor (fotógrafo).
As duas fotografias exibidas têm ambas um pressuposto religioso adjacente e foram tiradas, a primeira, nas Filipinas, e a de baixo, em Bombaim, durante um casamento religioso. Em qualquer delas o que avulta é a dessacralização de um ritual. A lavagem da imagem Menino, preparando e antecipando a procissão, e a candura infantil que denuncia um afecto e uma cumplicidade natural.
Reduzindo o símbolo (religioso) à dimensão terrena e humana, poderão ser pretexto para um sorriso.
Consegui apenas identificar o fotógrafo que retratou a imagem do Menino Jesus a ser lavada, para a procissão: Alfred Yaghobzadeh (Irão, 1958). A foto foi tirada em 2001. A fotografia do casamento é de 2010.


Apontamento 65: Cidadania


Uma informação objectiva sobre os problemas que a Europa enfrenta, tomando como ponto de partida a Grécia e a política de austeridade como inevitabilidade, não tem sido tarefa fácil. A contra-informação, designadamente na imprensa alemã, é poderosíssima. No entanto, há algumas honrosas excepções, razão pela qual tenho andado a ler, frequentemente, o semanário DIE ZEIT.

Nestas leituras, a última descoberta foi o vídeo cuja audição aconselho, vivamente, sublinhando que dei os 90 minutos por bem empregues:



e termino com uma saudação fraterna a todos aqueles que se empenham numa reorientação da Europa para os seus valores fundamentais. 

Post de HMJ

4 aforismos do poeta escocês Don Paterson (Dundee, 1963)


Quase tudo na sala te vai sobreviver. Para esse espaço tu já és um fantasma, uma coisa patética que vai e vem.
...
Ele passou toda a sua vida paralisado por imaginários protocolos.
...
A tristeza de velhos sapatos. Calço-os de novo e, subitamente, lembro-me de todos os meus velhos amigos, que já não vejo há um ror de anos. Por essa razão.
...
Todos os meus professores foram mulheres. Embora vários homens me tenham chamado àparte, por cerca de uma hora, para me dizerem coisas que só eles sabiam.

Revivalismo Ligeiro CXII : 3 em 1


A canção "Always on my mind", de 1972, teve, ao longo do tempo, muitos intérpretes, a última das quais terá sido Shakira, em 2002. Neste vídeo, há três interpretações, pela seguinte ordem: Brenda Lee, Elvis Presley e Willie Nelson. É uma boa maneira de escolhermos a versão que nos parece melhor...

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Encadernar


Ao longo da minha vida, não terei mandado encadernar mais do que cerca de 40 livros, mas haverá, com certeza, na minha biblioteca, umas centenas de volumes com encadernações. Algumas delas (poucas) de grande qualidade, e portuguesas. Quase todas adquiridas em alfarrabistas e leilões. A encadernação é uma arte nobre, quando bem executada.
Por outro lado, sendo raras, quaisquer referências, mesmo que indirectas, a Portugal, no TLS, enchem-me de regozijo. A penúltima edição (nº 5837) do jornal literário inglês, para ilustrar uma recensão crítica a um livro de bibliografia sobre encadernações, traz uma imagem com etiquetas de alguns dos mais importantes encadernadores europeus.
Bem no centro, destaca-se o nome de um encadernador português - Frederico d'Almeida. Ainda o vi a trabalhar na sua oficina, à rua António Maria Cardoso, em Lisboa. A oficina fechou, infelizmente, há cerca de 10 anos. O seu lugar foi ocupado por uma Galeria de Arte.

Divagações 81 (ou, as coisas miúdas)


Que o cavalo de Júlio César tinha uns pés que quase pareciam humanos, ou que o imperador romano Otão usava cabeleira postiça - que importará isso à felicidade humana? Embora o saber não ocupe lugar (só memória). Mas deu-me gosto sabê-lo. E, quem o refere, é Suetónio (70-130).
São estas minudências vãs que são possíveis a quem vai tendo disponibilidade e tempo, de leitura. Mesmo que não haja, como se sabe, resposta para tudo. E mistérios haja, que fiquem sempre por responder, não se cumprindo assim, por inteiro, o desígnio de Berkeley (1685-1753): "Ser é perceber".
Por onde andarão os pássaros, residentes, que no Inverno mal os vejo? Porque será que as primeiras flores silvestres, do ano, são brancas, e depois amarelas, na sua maioria? Agora, em Fevereiro, já começaram a aparecer as de cor lilaz (será da intensidade solar?).
Felizmente que o Inverno é um tempo quase totalmente liberto de moscas e de melgas...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A velhice e os ingleses


Depois da sra. Thatcher, dos srs. Blair, católico convertido, Brown, esquivo, e do leitoso sr. David Cameron, tenho algumas dúvidas sobre a apreciação que Lytton Strachey (1880-1932) faz sobre a velhice e os ingleses, a propósito da popularidade dos últimos anos da rainha Victoria, na biografia que lhe dedicou. Em qualquer dos casos, aqui vai uma tradução das suas palavras:
"É verdade, Victoria era a rainha de Inglaterra, a imperatriz da Índia, o centro em volta do qual girava toda a máquina magnífica, mas era também, ainda, uma outra coisa. Primeiro, é que ela era muito velha: e uma idade avançada é, na Inglaterra, uma condição quase indispensável da popularidade."

Berlim, anos 30...



Para melhor caracterizar a canção, acima, eu começaria por dizer que diferentes atmosferas, convívios, público e finalidades caracterizavam, no século XX português, os variados estabelecimentos nocturnos de diversão, que davam pelos nomes de: tabernas, bares, boates, dancetarias, discotecas...
Assim, esta canção é típica dos cabaret berlinenses dos anos 30. Mordaz, alegre e popular pelo tema social jocoso da história que conta. Com diferenças substanciais poderia, sem rigor, encontrar-lhe algum paralelo com o castiço fado vadio lusitano, que hoje já nem se ouve...

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Umas couvitas



De uma leirinha “outra-bandista” vieram umas couves: portuguesa, coração e a lombarda pequenina.

Que fazer ? As portuguesas, cortadinhas, ficaram no congelador a aguardar melhor sorte. A couve coração fará, amanhã, a cama para um bacalhau com brôa.

E a couve lombarda ? Foi o pequeno formato que deu a sugestão, i.e., Kohlrouladen [= carne picada coberta de couve, de preferência repolho], uma espécie de salsichas com couve à moda de cá.


A carne picada, amanhada com ovo, sal e pimenta, cebola picada e uma pouco de pão velho amolecido em água morna, não tem semelhança com os sensaborões “hambúrgueres”. Na terra de origem, a carne é previamente condimentada antes de fritar ou estufar. E, conforme os estados federados, chamam-se Frikadellen, na zona de Colónia, e em Berlim são Buletten.


Post de HMJ

Adagiário CCXIII


Donas em sobrado, rãs em charco, agulhas em saco não podem estar sem deitar a cabeça de fora.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

A par e passo 126


Peço desculpa (e penitencio-me) por sonhar, às vezes, que a inteligência do homem, e tudo aquilo pelo qual o homem se afasta da linha animal, poderia um dia enfraquecer e a humanidade insensivelmente voltar a um estado instintivo, regredir para a inconstância e para a futilidade do macaco. A natureza humana vir a ser vencida, pouco a pouco, pela indiferença, pela desatenção, pela instabilidade de muitas coisas no mundo actual, nos seus gostos, nos seus costumes que, nas suas ambições, se manifesta, ou permite recear. (...) Quem sabe se toda a nossa cultura não é uma hipertrofia, um desvio, um desenvolvimento insustentável, que uma ou duas centenas de séculos terão conseguido produzir, mas que se estão a esgotar?

Paul Valéry, in Variété III (pgs. 263/4).

Breve apontamento sobre Molly Malone


A figura que deu origem à canção Molly Malone, belamente interpretada por Sinéad O'Connor, não é seguro que tenha tido uma existência real. A sua história vem do século XVII, ganhando maior consistência no XX. Teria sido uma vendedora de peixe ambulante, que apregoava o pescado pelas ruas de Dublin, tendo morrido ainda jovem. Gritava: "Cockles and Mussels!" (Amêijoas e Mexilhões), como Sinéad refere na canção do vídeo abaixo.
A canção acabou por se transformar no hino informal da capital da República da Irlanda. E, em 1988, foi erigida uma estátua a Molly Malone (em imagem), que se encontra, presentemente, na Suffolk Street (Dublin), de autoria da irlandesa Jeanne Rynhart.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Crónica exemplar sobre um actor decadente e medíocre


A inteligência tem, normalmente, a virtude de não usar o impropério. Mas pode ser ainda mais demolidora, pela sua elegância.
Só a extrema falta de sentido crítico, a pouquidão mental ou um fanatismo irracional poderá não ver, ou desculpar o patético destes dois últimos consulados presidenciais, a sua mediocridade flagrante, a boçalidade e o vulgar desse exercício (vulgar, no sentido de: ordinário, rasca).
Esta crónica de hoje, de António Guerreiro, (ípsilon, de 20/2/2015), deve ser lida por inteiro, porque possui, em si mesma, a elegância da caridade humana e um argumentário insofismável. Para os que não consigam vir a lê-la, aqui deixo alguns sublinhados, que fiz:

-"Sempre que fala, seja sobre o milho ou sobre a Grécia, o Presidente da República faculta imensa matéria para uma fisiognomia e quase nenhuma para a interpretação e o comentário políticos, apesar de haver ainda gente ociosa que insiste nessa tarefa."
-"Mas a eloquência patética do nosso Presidente nada tem a ver com transformações e falsificações desta máscara. É patética porque se manifesta como um espasmo de exteriorização de uma causa interior."
-"Ora, é isto que se passa com o nosso Presidente: ele fala, mas nós já só conseguimos vê-lo."

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Apontamento 64: Pobre Alemanha



[percentagem de pobreza nos diversos Estados Federados da Alemanha]

O senhor chamado “zero preto” [i.e. “schwarze Null = fecho das contas do Estado sem mais dívidas] pode dar-se por contente.

O número de pessoas que, na Alemanha, vivem no limiar da pobreza, atingiu um total de 12,5 milhões de cidadãos. Um terço das crianças vive do chamado HARTZ IV, com um rendimento que, para as famílias monoparentais, corresponde a ca. de 400,00 euros + ca. de 280,00 euros para cada criança.

O que mais assusta é o prognóstico de um dos responsáveis pelas associações de assistência, ouvido, hoje, numa estação televisiva alemã, a ARD. A saber, o fosso entre ricos e pobres continua a aumentar, sublinhando que, para as crianças, e sem a esperança de um futuro diferente, se irá agravar a actual dependência de assistência e o risco de pobreza.

Uma tal República não pode, de todo, arrogar-se o direito de ser exemplo, nem para dentro e muito menos para fora. 

Post de HMJ

William Carlos Williams


Uma espécie de Canção


Deixa a cobra esconder-se
sob o joio
e a escrita
sob palavras, lenta ou lesta, aguda
no golpe, tranquila na espera,
insone.

- através da metáfora que reconcilia
homens e pedras.
Compõe. (Não pelas ideias
mas pelas coisas) Inventa!
A saxífraga é a minha flor, que rompe
e floresce das rochas.


William Carlos Williams (1883-1963).

Bibliofilia 117


É extensa a quantidade de publicações que se integram na temática da Restauração, algumas delas, raras e muito procuradas. Não é o caso desta Gazeta, que aparece em imagem, porque se trata apenas de uma edição fac-similada (1941), promovida pela Imprensa Nacional para comemorar o tricentenário da Restauração da Independência.
A Gazeta é considerada o primeiro periódico português, e as notícias, sem título, seguem-se umas às outras, numa amálgama muito diversificada, como se poderá ver pela segunda imagem.

Da diáspora, e com açúcar


Para o reino do Sião (Tailândia) terão ido, emigrantes, 607 portugueses.
A fazer fé numa informação, que li há pouco tempo, serão menos de 200, os gregos em Portugal. Ou seja, feitas as contas, e como temos 292 portugueses emigrados na Grécia, ganhámos por cerca de 1/3.
Compreende-se. Como os portugueses são mais obedientes, seguiram o conselho avisado do nosso clarividente PM. Embora, como ele diz: nós não somos a Grécia. Ele é que cada vez se parece mais com o lulu da sra. Merkel. Não da Pomerânia, como os que têm pedigree, mas de Massamá, que são mais a dar para rafeiros.

Civilidade (33) : o aperto de mão


"O aperto de mão é o complemento da saudação, de que faz parte.
Estende-se a mão toda, e não apenas alguns dedos, o que seria, sobremaneira impertinente.
...
O homem que retem, nas suas, a mão de uma senhora, commette um crime de lesa delicadeza.
O aperto de mão deve ser natural e simples, sem exageros de gesto, que o tornariam ridiculo."

Condessa de Gencé, in Tratado de Civilidade e de Etiqueta.

Beethoven / Namekawa / R. Davies

"Escrever sobre música, é o mesmo que dançar a propósito da arquitectura."

Alex Ross (1968), in Listen to This. La musique dans tous ses états (Actes Sud).

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Apontamento 63: Alteridade




A compreensão do “alter”, ou seja, do outro, implica vontade e conhecimento. Houve tempos em que as Viagens serviam para completar a educação inicial, abrindo “Mundos” ao espaço limitado e conhecido.

Até os antigos regulamentos dos ofícios reconheceram o “valor acrescentado” de uma aprendizagem enriquecida por uma “carreira de deambulação” por espaços geográficos alargados. Ganharam os próprios oficiais e os países, de origem ou de destino e acolhimento. Basta lembrar os impressores do Centro da Europa que, espalhando a boa nova e o suporte da tipografia para a Humanidade, se fixaram nos países do Sul.

Ganhou o país de origem e o de destino numa partilha de conhecimento ao serviço da Humanidade.

Lamentável é que esse passado parece não ter deixado qualquer suporte mental quando comparado com o turismo de massa, que nos cerca, sem nenhum aproveitamento espiritual visível.

A imagem acima, com o sol a despontar, numa manhã serena em Lisboa, serve, apenas, para manifestar que a “alteridade” é um processo longo de aprendizagem do espaço – humano – em que os “ganhos” não entram na contabilidade da beleza interior acrescentada.

Com os agradecimentos aos homens do século XVI que souberam dar uma lição de vida tão intensa, sem abdicarem da sua própria personalidade ou da sua cultura de origem.

Post de HMJ


Postais de Arte (4) : o Mel


Vai hoje o Mel para compensar as agruras que vamos vivendo.
Mas não quero deixar de sublinhar, duplamente, o lado pedagógico destes postais, bem como a forma simples, mas essencial, como Louise Deletang os configura.

Citações CCXXIV


Quase sempre, em política, o resultado é contrário à previsão.

François René de Chateaubriand (1768-1848), in Mémoires d'outre-tombe.

Descubra as diferenças...



...entre a ficção e a realidade. Ou será que um Gremlin ficaria melhor?

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Revivalismo Ligeiro CXI


Porque é Carnaval, que também tem um lado pimba. Porque me parece que o fado dos nossos dias se leva excessivamente a sério. Porque ainda me lembro de ouvir fado vadio e fados brejeiros...

Regionalismos transmontanos (73)


1. Seringona - maçadora. Mulher importuna.
2. Sichar - esguichar, sair em repuxo.
3. Sirgo - Bicho-da-seda. Fio da seda.
4. Sopa-Gata - espécie de açorda de bacalhau.
5. Soupicar - pisar uvas no lagar.
6. Sovessa - tomar alguém à sovessa, tomar alguém de ponta, embirrar com essa pessoa.

Mercearias Finas 97


Quando algumas mulheres começam a azedar nessa altura da vida, ao contrário, este clarete Camarate (de José Maria da Fonseca), com 46 anos, enfraquecido embora, mantinha  um equilíbrio assombroso para a idade. E um gosto de outras eras.
Esta colheita de 1969, com 12º, de Azeitão ("O vinho de Azeitão não é vinho, é vinhão."), de uvas prováveis da casta Castelão, tinha-o eu provado em 1980, pela penúltima vez, em S. João do Estoril, no mês de Junho, num jantar improvisado. Na altura - lembro-me - achei-o um pouco delgado. Também eu era mais jovem...
Assim, resolvi, algo céptico em relação ao conteúdo, dar a estocada final na derradeira garrafa que ainda restava, na garrafeira. Há dias, limpei-lhe o pó e, durante 36 horas, deixei-a de pé, cortando apenas o metal do gargalo encapsulado. Humedeci, na altura, a parte superior da rolha e deixei secar. Abri-o, depois, decantei-o e deixei o clarete a repousar.
Ontem, foi o esplendor, que dá a idade de um vinho de nobre linhagem.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O Albert Hall visto por dentro e pelo olhar de Hitchcock


Embora de muito fraca qualidade, aqui fica o vídeo com as cenas finais do filme "The Man who knew too much" (1956), de Alfred Hitchcock, com interpretações de James Stewart e Doris Day, que nele popularizou a célebre canção "Che sera, sera". A música tocada no Albert Hall, em crescendo, que iria abafar o ruído do tiro do atentado, é de Bernard Herrman. As vozes são do coro do Covent Garden.

Curiosidades 37


Não tendo a imponência nem a singular arquitectura do Taj Mahal (1648), da Índia, o Albert Hall (1871), em South Kensington (Londres), teve origem num mesmo motivo afectivo. Se Shah Jahan quis perpetuar a memória da sua terceira esposa (Mumtaz Mahal), através de um grandioso monumento funerário, a rainha Victoria pretendia que o seu consorte Albert também fosse lembrado pelos vindouros, através dessa grande sala de espectáculos londrina.
De início, projectado para ser de estilo neo-gótico, por pressão do primeiro-ministro Palmerston, o arquitecto Gilbert Scott (e Francis Fowke) acabou por lhe dar uns retoques neo-renascentistas e, nessa nova feição, foi inaugurado pela rainha Victoria. Com os seus 5.272 lugares, desde 1941 que aí se realizam os conhecidos Proms britânicos, todos os anos.
Lá filmou Hitchcock as cenas finais do filme "The Man who knew too much" (1956) e The Beatles a ele se referem, na inesquecível canção "A day in the life" (1967): "...now they know how many holes it takes to fill the Albert Hall"..."

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Uma transmontana que gostava do mar


Luísa Dacosta (1927-2015) faleceu a um dia de completar 88 anos. Nascida em Vila Real (Trás-os-Montes) desde cedo se encantou pela beira-mar nortenha, de que são testemunho várias crónicas exemplares sobre A-Ver-o-Mar, reunidas em livro publicado em 1980. A condição feminina e várias histórias para crianças constituem os temas dominantes da sua obra literária.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Em jeito de máxima


Não há senão duas atitudes em relação à vida: ou a sonhamos ou a cumprimos.

René Char (1907-1988).

O fracturante E. A. Poe


Na segunda metade do século XIX e uma boa parte do XX, Edgar Allan Poe (1809-1849) era mais apreciado em França (Baudelaire, Mallarmé, Valéry...) do que no seu próprio país, E. U. A., nascido que fora em Boston. Não sei até que ponto as suas histórias de terror e de macabro marcaram ou excluíram a sua restante obra dos puristas cânones literários americanos. É significativo o facto de, apenas em Outubro de 2014, os bostonianos terem decidido erigir-lhe uma estátua, da autoria de Stefanie Rocknack.
Alinhem-se, então, algumas opiniões (negativas) sobre a obra de E. A. Poe:
- "Não sei o que vêem no poema The Raven" - Ralph Waldo Emerson.
- "O entusiasmo por Poe denuncia um estado primitivo de reflexão" - Henry James.
- "Uma boa parte dos poemas de Poe são um amontoado de vulgaridades e lugares comuns" - Yeats.
- Aldous Huxley explicava que a admiração dos franceses por Poe se poderia explicar por eles não terem sensibilidade acústica para a língua inglesa...
- "A obra de Poe é de uma palpável vulgaridade" - Harold Bloom.
Em contraponto com estas opiniões negativas, anote-se a análise crítica meritória que T. S. Eliot sempre fez da poesia de Edgar Allan Poe.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Pinacoteca Pessoal 92


Wilhelm Albert Wlodzimierz Apolinary, nascido em Itália, com ascendência báltica e polaca, usou em França, como artista e poeta, o nome de Guillaume Apollinaire (1880-1918). Embora com vida breve, exerceu notável influência na avant-garde parisiense da sua época. No grande número de seus amigos, contavam-se vários pintores: Picasso, Max Jacob, Rousseau... Daí, talvez, a sua iconografia ser abundante.
Escolhi, em sequência cronológica, os seus retratos pintados por Jean Metzinger (1910), Chirico, em 1914, e um desenho de Modigliani (italiano como Apollinaire), datado de 1915.