segunda-feira, 30 de junho de 2014
Steiner, as epopeias e Camões
"...Deixámos de ler com facilidade os poemas «longos». Relegámos para os compartimentos dos mostruários o eixo central dessa suma imaginária, intelectual e política, que vai de Homero e Virgílio a Milton, a Klopstock e ao Victor Hugo de A Lenda dos Séculos e das últimas epopeias, assombrosas e não lidas, do confronto entre Deus e Satã. Mal passamos os olhos pelas «epopeias da epopeia» produzidas por Boiardo, Ariosto e Tasso, embora seja essa precisamente a corrente que alimenta de energia boa parte da literatura romântica inglesa e, em particular, Byron. Quem lê hoje os Lusíadas de Camões, essa reconstituição renovadora, da qual foram publicadas diferentes traduções inglesas em 1826, 1853, 1854, 1877, 1878 e 1880? ..."
George Steiner, in Sobre a dificuldade e outros ensaios (pgs. 242/3).
Uma fotografia, de vez em quando (41)
Nascida na Áustria, a fotógrafa Inge Morath (1923-2002) fixou-se nos Estados Unidos, na década de 50 do século passado. Integrou a Agência Magnum em 1953, no mesmo ano em que retratou, excelentemente, a sra. Eneleigh Nash (em imagem). Curiosamente, fez das últimas fotografias de Clark Gable, Marilyn e Montgomery Clift, porque acompanhou as filmagens de The Misfits (1961), de John Huston, com argumento de Arthur Miller. A fotógrafa foi a terceira e última mulher do dramaturgo americano, com quem veio a casar, em 1963.
domingo, 29 de junho de 2014
Recomendado : quarenta e nove - vinhos brancos
Em brancos, já fui um ror de anos pelos Verdes e Bucelas. Embora, em circunstâncias especiais ou para acompanhar peixes assados de gabarito, o Alvarinho Deu-la-Deu, para mim, fosse um must.
Isolei, depois, na preferência, uns monocastas escolhidos de Encruzado (Dão) e de Antão Vaz (Alentejo), mas não deixo de considerar a zona da Vidigueira como uma das melhores parideiras de brancos lusos.
Ora este etc. ( que não corresponde à imagem, que é dum monocasta), do Monte do Álamo, foi uma belíssima surpresa e acompanhou muito bem as sardinhas. Modesto no preço (1,99 euros), com uma forte personalidade, predominante no Arinto, por sabor ligeiramente seco que quase neutraliza o Antão Vaz, e aroma único, para mim.
E, no rótulo, tem este bónus rimado:
Nos Campos Alentejanos
Com aroma sem igual
Nascem parras nas videiras
Para um vinho especial.
De várias castas composto
Para atingir sua meta
Com bom grau e boa cor
É assim o Et cetera.
As castas, e há que nomeá-las, são: o Antão Vaz, o Arinto e o Roupeiro. De graduação, 13,5º. Está de parabéns a sra. Maria da Graça de Noronha Mendes de Almeida, se não pelos versos, ao menos, pelo bom vinho branco alentejano que produziu das suas vinhas de S. Miguel de Machede.
A par e passo 96
No cenário de fundo da "Última Ceia", há três janelas. A do meio, que se abre por trás de Jesus, distingue-se das outras por uma cornija em arco. Se se prolongar esta curva, obtém-se uma circunferência cujo centro coincide com Cristo. Todas as grandes linhas do fresco convergem para esse ponto; a simetria do conjunto está relacionada com este centro e com a longa linha da mesa do ágape. O mistério, a existir, é o de saber de que forma nós achamos misteriosas tais combinações; e esse, eu creio, pode ser esclarecido.
Paul Valéry, in Variété I (pg. 240).
As sardinhas pelo S. Pedro
A Leonor, no Mercado, diz-nos contristada: "Só comprei uma caixa. Ao preço a que ela está, com as sobras ao fim do dia, lá se vai o lucro..."
E, realmente, a 10,75 o quilo, o preço mesmo em dia de S. Pedro, é um desaforo. Sobretudo se pensarmos que elas ainda não chegaram ao ponto de excelência.
Contentêmo-nos com a reprodução artística do motivo "Sardinhas" que, mais uma vez, o Millenium-BCP tem em exposição até 13 de Setembro, na rua dos Correeiros, 21, em Lisboa.
agradecimentos a H. N. .
sábado, 28 de junho de 2014
Regionalismos transmontanos (43)
2. Galfarro - vadio, beleguim.
3. Galiqueira - blenorragia.
4. Ganapo - rapazito. Lampantim.
5. Garimo - quente, abrigado, carinhoso.
6. Gastalhão - homem alto.
Nota pessoal: as palavras 2, 3 e 4 eram usadas, no Minho, com o mesmo significado.
Do preconceito, em leitura - eu, pecador, me confesso
Admito que se possa ler por entretenimento ou para ocupar o tempo vazio. Assim se compreende tantos "tijolos" a serem lidos nos transportes colectivos. Nas quotidianas travessias e quando a paisagem perdeu toda e qualquer novidade (salvo a das estações do ano), restam os bordados, a malha (para as senhoras) e essa útil actividade da leitura, como alternativa. Mas, até aí, tirando o jornal ou revistas, eu também nunca consegui ler sequer um livro policial... feitios. Ou talvez a exigência concentrada da atenção não-mecânica.
Por outro lado, em diversíssimos relacionamentos, todo o ser humano tem ódios de estimação que não resistem, normalmente, ao apuro de uma justificação racional - são quase só instintivos. Tenho, por exemplo, extrema dificuldade em comprar livros de autores que apareçam nas revistas róseas, e muito menos lê-los - está-me no sangue de forma indelével. E, se na minha alínea dos excluídos, se encontram Hugo Mãe e Gonçalo M. Tavares (que julgo não aparecerem nas publicações cor-de-rosa), é porque já li alguma coisa deles, não gostei, nem lhes aprecio o estilo (social ou literário), nem os temas.
Por ingenuidade e benevolência, ao longo da minha vida, perdi muito tempo com versificadores secundários, e foi assim, talvez, que cheguei tardiamente à poesia de Auden e de Char. E, disso, me penitencio. Como cheguei tarde a Steiner e a Manguel, para só citar dois autores de grande qualidade literária. Por isso, e porque já não tenho muito tempo, sou parcimonioso das leituras que faço. E preconceituoso, admito. É uma questão de idade, mas também um apuro da exigência. E um direito de que não abdico.
Algumas reflexões decorrentes da citação anterior
A riqueza cultural de uma cidade decorre, também e sobretudo, das actividades funcionais e normais do quotidiano do seu núcleo duro: o chamado Centro Histórico. Mas, para isso, é necessário que se mantenha o justo equilíbrio de oferta-procura e que o custo de vida permita uma normalidade acessível à maioria da sua população residente.
O boom turístico que atingiu Barcelona está a ser-lhe fatal, porque afectou os preços e fez disparar a especulação imobiliária, provocando um progressivo êxodo dos seus moradores, para as periferias, desertificando, mais e mais, o seu centro histórico.
É bem possível que o mesmo possa acontecer com Lisboa (e o Porto), cidades já depauperadas de moradores no seus centros nucleares. E que isso já esteja a suceder. Como diz o povo: O bom é inimigo do óptimo.
Citações CLXXXII
Os turistas que visitam os centros das velhas cidades europeias não os encontram na sua vitalidade funcional, mas como redutos museológicos. O centro da cidade torna-se um objecto de nostalgia.
Daniel Innerarity (Saragoça, 1959), citação colhida na revista ípsilon, de 27/6/14.
sexta-feira, 27 de junho de 2014
Os trabalhos e os dias (4)
O encanto dos lavores reside, para mim, nessa sinestesia táctil dos tecidos e do olhar para os diferentes padrões e cores, aliado ao apreço pela perfeição do trabalho manual.
Portanto, não resisto quando encontro livros sobre a matéria, como aconteceu recentemente, sobretudo postos à venda a preços módicos, i.e., 2,00 euros cada brochura.
O livrinho com os motivos para bordados pertence também à colecção da Bibliothèque DMC.
Os motivos são, de facto, encantadores e, no final, a brochura apresenta ainda as folhas de decalque.
Fiquei, obviamente, com uma enorme vontade de ocupar o meu tempo de forma útil. Mas, com as outras tarefas diárias, é possível que o desejo se realize, na plenitude, numa outra encarnação !
Para já, fiz um bom negócio, dado que as brochuras da Bibliothèque DMC se encontram à venda, em França, entre 15,00 a 35,00 euros, e o "meu" Motifs por 25,00.
Post de HMJ
Uma louvável iniciativa (32)
Decorativos ou úteis, tanto podem, nas suas múltiplas funções, passar por lancheiras arejadas, fruteiras, quando abertas e sem tampa, improvisadas "caixas" de costura, ou elementos úteis de transporte dos cachos de uvas, nas vindimas...
Um nunca mais acabar de utilidade, esta arte de cestaria centenária e portuguesa, aqui celebrada em pacotinho de açúcar. Que, no verso, nos informa ainda que este artesanato pode ser feito de vime, palha, castanheiro, verga...
Livrinhos 22
Desta maneirinha Bibliothèke Miniature, da Payot, já por aqui apresentamos alguns livrinhos (de Platão, Maurice de Guérin e Proudhon) que eram nossos. Este não me pertence, mas aqui ficam as imagens. São 100 epigramas, traduzidos do grego pelos filósofos Paul-Louis Cochoud (1879-1959) e René Maublanc (1891-1959). Por curiosidade, e também em comum, estes dois tradutores e filósofos ensaiaram a escrita dos primeiros Haiku (3 versos), à moda japonesa, mas na língua francesa. E, do que conheço, pelo menos Maublanc terá sido bem sucedido (O céu negro/ Narizes vermelhos/ E a neve.)
Este livrinho de epigramas gregos tem as dimensões de 7/10 cm., e terá sido editado pela Payot, por volta de 1940. A encadernação em tecido florido é bem bonita - na minha opinião.
com grato reconhecimento a H. N..
quinta-feira, 26 de junho de 2014
Ponto de ordem à mesa, para JAD
Ode à alergia
Não gostaria de estar
e ver o povão sofrer
com as ganas de ganhar
e perder.
Como de isso dependesse
alguma forma de vida
melhor. Do fanatismo se tece
cegueira correlativa.
Curiosidades 29
As associações mentais podem levar, muitas vezes, bem longe do ponto de partida, mas são também uma poderosa ferramenta literária, sobretudo em poesia.
Alberto Manguel (1948), no seu pequeno texto "Lire Blanc pour Noir", começa por referir a origem da palavra traduzir, para depois chegar até à narração de um facto curioso sobre S. Marcos. O escritor informa-nos que traduzir, no início da Idade Média, significava "conduzir através, fazer passar" e a expressão era aplicada à transferência de relíquias de um santo, de um lado para outro. E exemplifica: "estas trasladações eram por vezes ilegais, uma vez que os despojos sagrados eram roubados numa cidade e levados para outro local (...) Foi assim que o corpo de S. Marcos chegou, vindo de Constantinopla, até Veneza, dissimulado sob um carregamento de carne de porco que os guardas turcos das portas de Constantinopla se recusaram em tocar" e vistoriar.
Retro (50)
Os passarinhos
tão engraçados
fazem os ninhos
com mil cuidados
...
Afonso Lopes Vieira
P. S. : onde se lê " Os passarinhos", deve ler-se, para maior exactidão: Os pintaínhos.
Citações CLXXXI
Arhur Wellesley (1762-1852), duque de Wellington.
quarta-feira, 25 de junho de 2014
Uma fotografia, de vez em quando (40)
Com múltiplas actividades artísticas, além da Fotografia, Joan Fontcuberta nasceu em Barcelona, em 1955.
O interesse deste vídeo é que esta sua fotografia seja comentada pela cineasta belga Agnès Varda (1938).
Adagiário CLXXXI : provérbios espanhóis (9 e último)
2. El comer sin apetito, hace daño y es delito.
3. Capón de ocho meses, para mesa de reyes.
Constatação
Até o Sudoku difícil do jornal é mais fácil do que o médio do Metro, do Destak, ou do jornal Público.
O efeito borboleta, ou de como principiou a manhã
1. A vizinha do lado, no elevador, começou a falar-me dos seus espirros matinais e, como eu também os tenho, às vezes, senti uma inesperada solidariedade simpática.
2. No Banco, talvez por eu ser mais encanecido, a senhora jovem, que ia para sair, segurou a porta e deixou-me entrar primeiro, dizendo: "Força!" Como eu também gosto de usar a expressão, senti-a como se fosse da minha família.
3. No jornal, hoje é dia do meu cronista preferido. Às terças e quintas, escreve o "bochechudo" que não faz a barba todos os dias. E veio-me à lembrança a palavra lavadura que, como se sabe, é comida de porcos: água da lavagem da louça das refeições, couve e outros vegetais segados, mais farelo.
4. Dentro de 3 dias, lembrado pela crónica de Rui Tavares, faz 100 anos do assassinato do arquiduque Francisco Fernando e de Sofia, sua mulher, em Serajevo. Facto que é considerado causa próxima da I Grande Guerra. Ora, imagine-se que o nosso Regicídio (1908) tivesse tido essa repercussão? Estaríamos na agenda... Para tudo é preciso sorte.
5. Concluindo: pelo efeito borboleta (da Teoria do Caos), assim nasceu este poste...
terça-feira, 24 de junho de 2014
Um poema do Brasil
O menino ia no mato
E a onça comeu ele.
Depois o caminhão passou por dentro do corpo do
menino.
E ele foi contar para a mãe.
A mãe disse: mas se a onça comeu você, como é que
o caminhão passou por dentro do seu corpo?
É que o caminhão só passou renteando meu corpo
e eu desviei depressa.
Olhe, mãe, eu só queria inventar uma poesia.
Eu não preciso de fazer razão.
Manoel de Barros (1916), in Tratado geral das grandezas do ínfimo.
Osmose (48)
"Meti-me a mendicante, franciscano e ermita. A velhice é terrível, afronta escandalosamente o passado e a juventude." - disse-me ele. E prosseguiu, depois de um gole de chá: " Estive sem fumar 11 dias e deixei de beber aguardentes velhas. O vinho, desse, ainda vou escorropichando um copinho de três, de vez em quando. Mas, ao papa Chico, esse, oiço-o fervorosamente porque, vê-se, é um santo homem."
Eu fiquei na dúvida se o ligeiríssimo sorriso de M., mal cerzido e descendente nas comissuras dos lábios, conteria algum pequeno resto de ironia... Mas pensei, em contrapartida, que: o crime às vezes compensa. A falecida Agatha é prova disso.
Palavras da semana que passou
"...A esquerda está sempre do lado do devir, da criação de um direito; a direita naturalista preserva direitos constituidos e responde a determinações realistas. Esta nova direita é, pura e simplesmente, um realismo. (...) Ela (nova direita) não precisa de construir um pensamento, só precisa de seguir uma cultura difusa e dispersa, de não interromper o entretenimento, de alimentar o conformismo dos media, de seguir com eficácia a estratégia da sedução, de aproveitar a onda de desculturização da política que a esquerda superlight decidiu surfar. ..."
António Guerreiro, in A nova direita (revista ípsilon de 20/6/2014).
segunda-feira, 23 de junho de 2014
Retratos de Virginia Woolf, em 4 perspectivas
A iconografia de Virginia Woolf (1882-1941) é vasta, talvez até porque, esteticamente, era um modelo agradável. Na primeira imagem temos uma fotografia de 1902, que Dana Keller coloriu, na actualidade; na segunda, o retrato da romancista, em 1912, portanto com 30 anos, pintado pela irmã Vanessa Bell; a terceira imagem, reproduz uma tela de 1917, feita pelo amigo Roger Fry. Finalmente, o retrato de Virginia Woolf em palavras da romancista irlandesa Elizabeth Bowen (1899-1973):
"Era de uma beleza extraordinária; creio que dela se recordam as pessoas que com ela privaram. Ignoro, todavia, se o facto era do conhecimento geral. Possuía uma movimentação viva e suave, mas designá-la como vital seria falso. Os seus movimentos não eram rítmicos nem descompassados. Era bonito observá-la quando se recortava no horizonte ou atravessava um campo. E a cabeça assentava belamente nos ombros. Tinha umas mãos notáveis. Movimentava-se como uma jovem. Recordo-me de que as pessoas me faziam a sua descrição, antes de a ter visto. Perguntara-lhes: «Como é que ela é, que tipo de pessoa?» Respondiam-me: «Oh! É espontânea e movimenta-se de uma forma suave e inconscientemente ousada.» Quero dizer que também isso se sente nos seus textos. Ela disse-me, um dia, a propósito de alguém: Pode ver-se pelos seus textos que era uma beleza. Não me parece que tenha tido essa visão de si própria. E, no entanto, acredito que a sua beleza era um factor importante aos seus olhos, mais importante do que tinha consciência."
Pinacoteca Pessoal 79
Nunca ousaria dizer muito de um pintor que está amplamente estudado. Desde a sua fase que acompanhou o neo-realismo, com o emblemático e conhecido "Almoço do Trolha", até ao sugestivo, brilhante e descomprometido retrato, que fez, de Mário Soares. O que posso afirmar, seguramente, é que Júlio Pomar (1926) continua a ser, dos pintores portugueses vivos, um dos que mais aprecio.
A par e passo 95
O pintor dispõe de um plano de pastas coloridas e de linhas de separação, de espessuras, as fusões e os contrastes devem servir-lhe para se exprimir. O espectador não vê aí senão uma imagem mais ou menos fiel das carnes, dos gestos, das paisagens, como se fosse através da parede de um museu. O quadro é julgado no mesmo espírito da realidade. Uns queixam-se da sua fealdade, outros ficam embevecidos; alguns abandonam-se à psicologia mais palavrosa; outros, ainda, não olham senão para as mãos que lhe parecem inacabadas. O facto é que, por uma insensível exigência, a tela deve reproduzir as condições físicas e naturais do nosso meio. A penumbra manifesta-se aqui, a luz parece propagar-se dali; e, gradualmente, colocam-se na primeira linha dos conhecimentos pictorais a anatomia e a perspectiva: entretanto, eu creio que o método mais seguro para julgar uma pintura é o de, à partida, não reconhecer nela, à priori, nada, nem sequer lhe aplicar uma série de inducções para justificar uma presença simultânea de manchas coloridas sobre um campo limitado, para daí crescer de metáfora em metáfora, de suposições em suposições sobre a inteligência do sujeito - por vezes, até, pela consciência do prazer - que nem sempre teremos, porventura.
Paul Valéry, in Variété I (pg. 239).
domingo, 22 de junho de 2014
Filatelia XCII
Na imagem estão representados inteiros postais britânicos, bem como o que os filatelistas ingleses chamam: cut-outs (3, na última fila). Ou seja, o recorte da iconografia, com a taxa, que foi destacada do inteiro postal. Na sua maioria, são em relevo, e do período victoriano. Na falta do inteiro postal, são guardados e coleccionados, e no Reino Unido esta temática é muito popular, até porque a sua compra não obriga a grandes despesas.
Os outros vampiros
Parece quase não ter alma, este nosso tempo. Nesta ciganagem mercantilista global que tudo conspurca e envilece, mesmo os produtos do espírito. E parece não haver maneira de mudar os propósitos, nem as mentalidades, criando uma nova ética.
Ontem, um visitante português, provavelmente em pesquisa sobre Herberto Helder, através de um motor de busca foleiro, que dá pelo nome pindérico de bing, veio dar ao Arpose. Com os meios de que disponho, segui-lhe o percurso, parcialmente, e fui dar a um banco de dados, em que as primeiras informações forneciam logo 2 entradas de Hotéis Helder... brasileiros, já se vê. O nosso Blogue vinha a meio da página, mas antes constava o inefável OLX, tão propagandeado pelas TV. E, aí, vinham mais helderes, para venda. Particulares lusos, desses tais vis açambarcadores de A Morte sem Mestre ( e de outras últimas recentes obras do Poeta madeirense), montavam banca e anunciavam, para meu grande espanto:
- A 45/50 euros, negociáveis, A Morte sem Mestre (o livro, em Livraria, custou-me 22).
- Servidões era oferecido a 85, 95 e 100 euros.
- Finalmente, um negreiro juntava num mesmo pack 3 obras de H. H. (A Faca não corta o Fogo, mais as duas anteriores), pedindo pelo conjunto 600 euros!...
P. S. : a encimar o poste, mais um poema de Herberto Helder, para os excluídos...
sábado, 21 de junho de 2014
Bibliofilia 103
Tenho ideia que, presentemente, não existe em publicação nenhuma revista literária, naquele sentido específico que se lhes dava no decurso do século XX. E creio que o seu período áureo se poderá situar entre os anos 40 e 70. Algumas dessas publicações periódicas, que acabavam por ser quase sempre de saída irregular, fizeram carreira, tinham qualidade, e muitas delas são de grande procura e raridade.
De os denominados Cadernos de Poesia, inicialmente coordenados por Tomaz Kim, Blanc de Portugal e Ruy Cinatti, saíram 15 números. Cinco na primeira série e, a partir de 1951, foram editados mais 10. A colecção completa é difícil de encontrar e é cara. A colaboração é de nomes significativos, para além dos coordenadores. Há poemas e textos de Nemésio, Sena, Gaspar Simões, Sophia...
Embora com imensos picos de humidade, na capa, tive a grata oportunidade, recentemente, de adquirir o primeiro número (na imagem), apenas, dos Cadernos... . O folheto (20 páginas) custou-me 12 euros.
Comic Relief (90)
Para compensar a eventual chuva de fim-de-semana, aqui ficam uns breves minutos de bom humor.
com agradecimentos a AVP.
Uma louvável iniciativa (31)
Da famosa andorinha de Bordalo criada, em 1891, e reproduzida, depois, industrialmente, até aos manjericos dos Santos Populares do mês de Junho, passando pelos celebrados e artísticos tapetes de Arraiolos, aqui ficam mais 3 símbolos de Portugal, que a RAR, em boa hora, fez constar nos seus pacotinhos de açúcar.
sexta-feira, 20 de junho de 2014
Considerações a propósito de um título
O título, em imagem, foi colhido na primeira página do jornal Público, de hoje.
Ao exercício da Política, deverá exigir-se alguma ética, mas seria estultícia ou ingenuidade pueril, depois de Maquiavel, pedir-se-lhe virtudes cristãs, tais como bondade, compassividade ou, até mesmo, cavalheirismo.
No meio do dilatado desnorte em que se encontra o PS, o rasgo político certeiro seria o PSD provocar eleições antecipadas, já, colhendo assim dividendos das divisões do "maior partido da oposição". Falta, no entanto, ao PSD a virtude e a inteligência do risco e da estratégia política.
Por isso, que se tranquilizem os "históricos do PS", porque o Centrão protege-se a si mesmo...
Retro (49) : I Grande Guerra
Recuperando imagens da revista Illustracion, estes postais foram enviados para Portugal, já depois do Armistício, em Fevereiro e Maio de 1919. Datados de França, terão sido escritos por um ex-combatente português que, tudo me leva a crer, viria a ser, posteriormente, um dos fundadores da revista "Seara Nova". São dirigidos à filha - Clara.
Adagiário CLXXX : provérbios espanhóis (8)
2. Gallina vieja, buen caldo hace.
3. Ni mesa sin pan, ni ejército sin capitán.
quinta-feira, 19 de junho de 2014
Impromptu (5)
Creio que nunca lá passei, muito menos entrei. Mas pelo "prefácio", esta Livraria Ptyx (Rue Lesbroussart, 39), em Bruxelas, bem merece uma visita futura.
Regionalismos transmontanos (42)
1. Gabaço - grande elogio.
2. Gabinardo - indivíduo mariola (Aquilino usa a palavra no sentido de capote ou gabardine[?]).
3. Gadunho - a parte sólida do caldo, gasulho. Fuínha. Gato bravo (Barroso). Pessoa avarenta e nada séria.
4. Gage - gratificação, gorgeta, soldada.
5. Gaiar - faltar à escola, gazear, fazer gazeta.
6. Gainho - que tem voz fina, efeminado.
quarta-feira, 18 de junho de 2014
Romances de Amor, uma escolha de Updike
Até finais dos anos 70 do século passado, e por razões académicas, mantive-me relativamente actualizado sobre a figura e obra do poeta e romancista norte-americano John Updike (1932-2009). Depois, o acompanhamento foi bastante mais bissexto. Mas uma recente recensão, no TLS (nº 5802), sobre a saída de uma biografia do escritor (Updike, de Adam Begley), permitiu que eu actualizasse alguns dados e fosse em busca de outros. Deparei-me, por exemplo, com a sua escolha pessoal dos 5 melhores romances de Amor, da literatura mundial, que veio a ser incluida no volume Due Considerations: essays and criticism (2007). Por ordem cronológica, a escolha de Updike é a seguinte:
1. La Princesse de Clèves (1678), de Madame de La Fayette.
2. Les Liaisons Dangereuses (1782), de Choderlos de Laclos.
3. The Scarlet Letter (1850), de Nathaniel Hawthorne.
4. Madame Bovary (1856), de Gustave Flaubert.
5. Loving (1945), de Henry Green.
Tentei fazer o mesmo exercício, mas pessoal e apenas em relação a obras portuguesas. De momento, e pese embora algum lapso de memória, só consegui seleccionar três:
1. As Cartas Portuguesas (Les Lettres Portugaises, Paris, 1662), atribuidas a Mariana Alcoforado, mas mais provavelmente da autoria de Gabriel de Guillaragues.
2. Amor de Perdição (1862), de Camilo Castelo Branco.
3. O Primo Basílio (1878) ou Os Maias, de Eça de Queiroz.
P. S. : Por oportuna sugestão de HMJ, que apoio, junta-se uma 4ª escolha portuguesa - Menina e Moça ( 1554), de Bernardim Ribeiro.
P. S. : Por oportuna sugestão de HMJ, que apoio, junta-se uma 4ª escolha portuguesa - Menina e Moça ( 1554), de Bernardim Ribeiro.
terça-feira, 17 de junho de 2014
A memória e o tempo
Naquela altura, eu sobrava bastante no grande maple de orelhas, do meu Tio. De lá e em frente, eu via as duas compoteiras (?) de cobre trabalhado, uma com as bolachas de Araruta, insípidas e pálidas, a outra, com as Maria, que eu ainda suportava. Mas, por cima de mim, omnipresente, o relógio musical ia contando esse tempo imenso da infância, de quarto em quarto de hora. E era importante, porque eu sabia que, por volta das 18h30, tinha de ceder esse lugar reconfortante ao meu Tio, que chegava a casa, depois do trabalho.
Só talvez 30 anos depois, eu voltei a encontrar um assento assim cómodo, seguro, que me enchesse as medidas. Mas sentar, muitas vezes, ainda me sento na infância da memória.
Sem relação (a não ser o Mundial de futebol e alguns números)
A leitura, no jornal Público de hoje, de uma crónica de J. Vítor Malheiros, intitulada Pouco pão e muito circo, morte e bocejo, que recomendo, levou-me a uma série de associações desencontradas. Assim:
- dizia o jornal Expresso: "Homens de dinheiro e gente da fama nos camarotes da mulher mais rica de África que, por incrível coincidência, também é filha do Presidente de Angola." Parece que eram 600 convidados, os que foram com ela, no avião, para ver o Mundial, no Brasil...
- "... no DN...num processo de despedimento colectivo que afastará dos quadros da Controlinveste mais 158 pessoas", escreve no jornal Público, hoje, um sujeito que não costuma fazer a barba todos os dias.
- o humorista inglês John Oliver diz o que diz, no vídeo acima.
A par e passo 94
Existe na arte uma palavra que pode dar nome a todas as modas, todas as fantasias, e que suprime de um golpe todas as pretensas dificuldades quer no que diz respeito à sua oposição quer à sua contiguidade com esta natureza, nunca definida, justamente: é o ornamento. Bastará chamar a atenção, sucessivamente, para os grupos de curvas, as coincidências das divisões que abarcam os mais antigos objectos conhecidos, o perfil de vasos e de templos; os ladrilhos, as espiras, os ovais, as estrias dos antigos; as cristalizações e as paredes voluptuosas dos Árabes; as ossaturas e as simetrias góticas; as ondas, os fogos, as flores sobre a laca e bronze japoneses; e em cada uma destas épocas, a inclusão da similitude das flores, dos animais e dos homens, o aperfeiçoamento das suas semelhanças: a pintura, a escultura.
Paul Valéry, in Variété I (pgs. 236/7).
segunda-feira, 16 de junho de 2014
Uma louvável iniciativa (30)
Embora de traço tosco e naïf, modestíssimos de apresentação, aqui ficam mais dois pacotinhos de açúcar que têm por motivo dois símbolos portugueses: a Filigrana e os Pauliteiros de Miranda do Douro.
Sobre o tema do dia, com citações do "Obs."
"...As chaves do sucesso do futebol devem-se à simplicidade das suas regras, 14 de início, depois 17, que variaram muito pouco desde 1890, e também a um equilibrado compromisso entre habilidade técnica e apuramento físico. E porque é menos violento do que o rugby, a Igreja católica ajudou muito à sua promoção. ..."
Paul Dietschy, in Le Nouvel Observateur (nº 2588).
domingo, 15 de junho de 2014
A biblioteca de Alberto Manguel
Quase no início deste vídeo, e antes de passar a falar de livros (a sua biblioteca conta cerca de 40.000 obras), Alberto Manguel (1948), escritor argentino naturalizado canadiano (a viver em França, presentemente) tem uma frase fascinante:
"Uma biblioteca não é feita para nos encontrarmos, mas para nos perdermos."
Uma fotografia, de vez em quando (39)
Pode ser considerada uma das primeiras mulheres com a profissão de foto-jornalista de guerra, tendo fixado, com a sua câmera, imagens da Guerra Civil espanhola, bem como da II Grande Guerra. A norte-americana Margaret Bourke-White (1904-1971) trabalhou para a revista Life e foi casada, por um breve período, com o escritor Erskine Caldwel.