sábado, 31 de agosto de 2013

Férias 6 - Fim: "Viagens na minha Terra"



Nas minhas primeiras viagens, em Portugal, desconhecia aquela que considero a “obra prima” de Almeida Garrett e, também, da Literatura Portuguesa. Certamente não teria, na altura, capacidade para avaliar o seu engenho literário.
Identifico-me, contudo, com os tempos em que as viagens permitiam conhecer lugares insólitos, costumes diferentes, a Cultura e a História, que estimulavam o pensamento – sobre nós e os “outros” – e nos deixavam fisicamente exaustos ao fim do dia, mas com o “papo cheio” de espírito.
Uma aventura memorável, em finais de Setembro e no fim da época das travessias, foi uma passagem de barco, com cheiro a naufrágio, de Peniche até às Berlengas. A demorada travessia obrigou a uma montagem da tenda ao lusco-fusco, no planalto da ilha, numa “covinha” aconchegada. Ao acordar, houve tempo para apreciar a natureza, mas, sobretudo, para dominar o susto ao verificar que a tenda tinha sido montada junto de um precipício.


No entanto, e no final do tema dedicado às férias, fica a noção da evolução do conceito de “viagens” – como forma de enriquecimento intelectual e pessoal – para uma vertente perniciosa de “turismo”, economicista e contabilística.
Com efeito, prefiro as “Viagens na minha Terra” e, como Garrett, “amo a Charneca” quando passo perto de Santarém. E, na passagem pela planície ribatejana, volto a pensar no engenho de sua obra. O aparente sub-género litarário de viagens, reúne, numa construção sem precedentes, o dramático, narrativo e poético, confundindo os nossos sentidos como é próprio da sinestesia.

É obra !

Post de HMJ

Guias de viagem : um clássico


Se o século XX foi generoso na publicação de guias de viagem, de que o melhor exemplo português é o Guia de Portugal, de cartonagens verdes, o século anterior era parco em publicações deste tipo, por toda a Europa. Por isso, quando o alemão Karl Baedeker (1801-1859), em 1828, fez publicar o seu original Rheinreise von Mainz bis Köln, a obra teve muito bom acolhimento por parte dos viajantes. Oriundo do Essen, de uma família de editores e livreiros, Baedeker, depois de uma aprendizagem em Heidelberga, veio a estabelecer-se em Coblença, onde fundou a sua editora, que viria mais tarde a publicar os famosos e clássicos Baedeker que, ainda hoje, são muito apetecidos pelos viajantes. Em sua vida, sairam praticamente todos os volumes que cobriam o território alemão, com informações minuciosas que iam dos horários ferroviários, até apreciações sobre a qualidade e preços dos hotéis; da indicação dos melhores percursos a fazer, em viagem, até à descrição pormenorizada de monumentos e catedrais germânicas.
Amante de viagens, Karl Baedeker fez publicar ainda volumes sobre a Bélgica e a Holanda, em vida. Depois da sua morte, a família (hoje, o bisneto) continuou a meritória tarefa, cobrindo todo o território europeu. O sucesso das suas obras, que foram traduzidas, pelo menos, para o francês e o inglês, é atestado pelo interesse que despertam, nas lojas dos alfarrabistas. Em Lisboa, encontram-se, usadas, com alguma frequência (embora desapareçam depressa) edições em francês, que são vendidas entre 10 e 15 euros. São de leitura agradável e, ainda, úteis para viagens.

Discretear sobre patronímica, com algumas implicações governativas


Nem sempre os nomes e apelidos são felizes. Alguns são ferretes e labéus insólitos que se colam a pessoas, para toda a vida. Há quem, muito justamente, se crisme ou registe em adulto, de outro modo, para escapar a classificações injustas e infamantes, outros...habituam-se. Até dos lugares, vilas ou cidades, há quem se liberte, razoavelmente: os naturais da antiga Porcalhota, transformaram-na na asséptica Amadora, os de Punhete adoptaram o sossegado nome de Constância. Mas se, com os nomes de terras, a resolução do problema é facil, com os nomes e apelidos de família, os casos fiam mais fino.
Atente-se no apelido Futre que significa: bandalho, homem desprezível, sovina. Ou no Cristas que talvez se aplicasse bem a um, ou uma, gerente de aviário; ou até Rosalino, com as suas conotações silvestres e florais, que se poderia aplicar lindamente a um pastor de cabras ou a um jardineiro profissional... Como é que um bebé, uma inocente criança fica logo, desde tenra meninice, marcado por esta irrisão para toda a vida? É, no mínimo, uma injustiça e uma crueldade patronímica.
Além disso, há expressões populares, criadas não se sabe bem como, que desaconselham em absoluto alguns nomes, para baptismo. Lembro-me de três casos, e aqui os deixo para reflexão, a quem goste desses nomes que, sendo ditos, provocam logo sorrisos:
- Isto não é da Joana!
- Ó Barnabé, toca tangos!
- Chamar pelo Gregório.
E haverá mais, decerto...

Filatelia LXXIII : selar com gosto


É de norma e bom gosto filatélico, pelo menos, entre coleccionadores ter alguma atenção aos selos que se colocam na correspondência. As franquias mecânicas são de evitar, para quem gosta de selos. São inexpressivas, abstractamente numéricas, anódinas, inestéticas, financeiramente horrorosas.
Porque é um prazer, para não dizer alegria, receber, como eu recebi, estes dois envios recentes (em imagem): um da Inglaterra e o outra, da Alemanha. É preciso ter alguma sensibilidade e atenção ao outro, para selar assim. Faz-se com gosto, na origem, e recebe-se com agrado, no fim.

O número 3 em questão : considerações dispersas e inconclusivas


1. As decisões indiscutíveis do Tribunal Constitucional alemão são notícia frequente, por cá. Na Alemanha, de forma definitiva e peremptória. Mas, na Alemanha, as deliberações do congénere português também são, por vezes, título de primeira página, embora de forma interrogativa.
Estranho que nunca tenha lido nada sobre o Tribunal Constitucional grego. Será que existe?
2. As idades somadas, do trio à mesa da esplanada, davam uma média de 49 anos para cada um. As opções foram: filetes de pescada, pescadinhas (as marmotas nortenhas) fritas e carne de porco à alentejana. Mas a última dose, por excessivamente generosa, ainda foi dividida pelos que tinham escolhido peixe.
3. Entre as duas Culturas, de que falava C. P. Snow, e uma terceira, neutra, mas ambivalente, alguém propôs, por ordem de grandeza das artes, esta sequência dogmática: Música, Poesia e Filosofia. Inexplicavelmente, a Ciência ficou de fora...  E da Justiça nem se falou.

Ontem à noite


A fadiga alastra pelos membros, como uma caprichosa desistência física que parece requerer um vazio absoluto, um frio insentido sobre o fogo que lavra e que vai ceifando vidas jovens, árvores, animais, haveres. Naquilo que parece ser um destino fatal da nossa idade.
Há um cinzento que paira por cima de Lisboa. Um capacete de nuvens altas e que pode, até, ser apenas o fumo que se desloca e sobra do incêndio na Malveira. Uma espécie de luto simétrico e cúmplice compassivo ao tempo que nos atravessa a quase todos.
O cortejo e feira das vaidades, nos funerais, é um insulto.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Antonio Machado, sobre Poesia


"O intelecto nunca cantou, não é essa a sua missão. Ele, no entanto, serve a poesia, recorda-lhe o imperativo do essencial. Mas as ideias do poeta não são categorias formais, cápsulas lógicas, elas são intuições directas do ser e que se transformam na sua própria existência; elas são por isso temporárias... O poeta professa, mais ou menos, conscientemente uma metafísica da existência, onde o tempo adquire um valor absoluto."

Antonio Machado (1875-1939).

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Pinacoteca Pessoal 57 : a silhueta misteriosa


Relativamente ignorada, a obra do pintor autodidacta norte-americano George Caleb Bingham (1811-1879), readquiriu interesse a partir de meados dos anos 30 do século passado. A sua obra emblemática, "Comerciantes de peles descendo o Missouri", com um tratamento muito peculiar da luz, integra o acervo do MOMA. Para além do comerciante, que nos olha de frente, há também o seu filho e um pato morto sobre o montão das peles. Já a silhueta do animal preso por uma trela, coloca grandes dúvidas. Se, para mim, me parece um gato preto (que nenhum dos estudiosos e especialistas, da obra de Bingham, assim reconhece), as opiniões dividem-se entre ser uma raposa domesticada (como o catálogo do Museu reconhece) ou, até, uma pequena cria de urso - que julgo totalmente desproporcionada...
Seja como for, é um quadro muito interessante, que terá sido pintado por volta de 1845.
O poste é encimado por um auto-retrato de G. C. Bingham (1834/5).

Um poema de Fernando Echevarría


A velhice é um vento que nos toma
no seu halo feliz de ensombramento.
E em nós depõe do que se deu à obra
somente o modo de não sentir o tempo,
senão no ritmo interior de a sombra
passar à transparência do momento.
Mas um momento de que baniram horas
o hábito e o jeito de estar vendo
para muito mais longe. Para onde a obra
surde. E a velhice nos ilumina o vento.

Fernando Echevarría (1929), in Figuras (pg. 42).

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Ramón Gómez de la Serna e as luvas


Há livros, como há vinhos e queijos, que compramos, cegamente, pelo nome, pela marca, pelo autor ou criador, porque são para nós, à partida, sinónimo de qualidade ou sabor.
De D. Ramón, sou frequentador habitual e obrigado das suas greguerías, mas este "O Médico Inverosímel" (Antígona, 1998) era pouco provável que o viesse a procurar pelas livrarias. Foi HMJ que o descobriu e mo apontou. Estava em saldo, na nossa livraria outrabandista de referência, e custou 5 euros, apenas.
Ora, atente-se neste bocadinho de boa prosa (traduzida por Júlio Henriques) ramoniana:

"...Encontrávamo-nos num desses cafés que hão-de ser sempre o meu paraíso humorístico. Ele chegava, tirava o chapéu, depois o sobretudo, e por fim as luvas, com a escassez e lentidão com que sempre se calçam e descalçam as luvas, como quem se esfola com o cuidado de não se ferir muito, ou como quem arranca um emplastro poroso muito agarrado à pele. Só os descuidados as descalçam como peúgas e as puxam como meias luvas de dedos cortados, como ocarinas de cinco grandes orifícios.
As nossas luvas, quando ficam sós e abandonadas, adquirem gestos distintos: gesto de um orador, um puro gesto de Demóstenes; gesto de pianista em plena execução; gesto - quando caem agarradas pelo pulso, uma boca acima e outra boca abaixo - de preso que levam algemado ao presídio; mas em geral envergonham-nos, tomando uma atitude lastimosa de pedir esmola, sobretudo quando as pomos nas mesas dos cafés. ..."

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Nós, portugueses


Somos dados, nós portugueses, à desmesura, quer seja pela epopeia do sonho e vontade (ainda que com falta de meios), quer pela depreciação invocada das qualidades (tanta vez, por hipocrisia e falsa modéstia).
Entre o vitupério inconsequente em relação aos vivos ("agarrem-me, se não, eu mato-o!") e a lamechice branqueadora e compassiva nos funerais ("ele até nem era má pessoa..."), andamos nisto, há séculos.
Nestas últimas situações, lembro-me, em nome de algum rigor, equilíbrio e corência de uma frase iluminista que, não sendo do Marquês de Pombal, lhe é atribuida, logo após o terramoto: "Enterrar os mortos e cuidar dos vivos" - porque estes últimos são, muitas vezes, os mais esquecidos.

Citações CXLIX


"Embora muitos de nós nos orgulhemos em verificar o quanto somos diferentes dos nossos pais, não deixamos de ficar tristes por nos apercebermos o quão diferentes de nós são os nossos filhos."

Andrew Solomon (1963), in Far from the Tree... (Scribner, 2012).

domingo, 25 de agosto de 2013

Idiotismos 23


Se a palavra frete é consensual para significar, na sua origem, o preço a pagar por um serviço de transporte de mercadoria ou pessoas em viagem, já a expressão fazer um frete abarca um sentido mais amplo e, porventura, um pouco diferente e de índole abstracta ou psicológica. Hoje em dia, a expressão popular significa: cumprir uma tarefa incómoda ou não apetecida, fazer um favor, contrariado, aturar qualquer coisa ou pessoa aborrecida, por boa educação, dever ou obrigação moral.
Mas diz-nos Carvalho Costa ("Gente de Portugal...") que, em Tolosa, concelho de Nisa, fazer um frete é: levar um presente aos noivos na ocasião ou vésperas da boda - o que não deixa de ser, pelo menos, estranho e curioso...
É também ponto assente que a palavra frete, inicialmente, terá tido uma conexão com o transporte marítimo e deve a sua difusão (no inglês, freight) mundial ao seu uso na marinha mercante britânica. Concordante, aliás, com o que regista o Dicionário de Morais: "...ajuste que faz o dono, arrais, capitão de navio ou barco, sobre o preço que se há-de levar por alguma carga ou pessoa...".

Considerações em volta


Há poesias assim, muito próximas do ar do tempo, muito inseridas no presente, muito inclusivas. Muito a gosto, como os vinhos, prontos para agradar à epoca, de José Neiva (DFJ). Ou que me fazem lembrar os poemas quotidianos de António Reis (1927-1991), que tanto sucesso (efémero) tiveram, pela novidade, nos anos cinquenta/sessenta; ou os primeiros livros de poesia de João Luís Barreto Guimarães (1967), tão berrantemente novos e frescos, nos anos 80/90. Mas, depois, há a espuma dos dias, os poetas decalcam-se e acabam por já não ter nada para dizer. E a gente aborrece-se a ler sempre as mesmas palavras, os técnicos ardis, os serôdios caminhos já muito calcorreados, cheios de pegadas antigas...
Mas demos, sem cinismos, o benefício da dúvida a este "Como uma flor de plástico na montra de um talho" (Assírio e Alvim, 2013), de Golgona Anghel (1986?), que li, pronto e sem fastio. Não dará para recomendar, mas justifica que se lhe dê notícia. E até se transcreva um poema:

Ninguém recusa uma boca rica,
nem mesmo quando ataca, de perto,
com aquela pedalada de puto esperto
que bebeu mais coca-cola do que devia.
Não está tudo perdido:
a chuva alinha o tempo nas goteiras.
Daqui a quatro anos vou ser formada
em copos vazios,
olheiras
e cadeiras molhadas.
O céu abrir-se-á
como um par de calções
num parque de estacionamento.

A par e passo 55


Não há pensamento qualquer que ele seja, pela sua natureza, que possa ser considerado o último. Somos sempre interrompidos, nunca somos acabados.
...
Cada vida começa e acaba por uma espécie de acidente. Enquanto dura, é por acidentes que ela se forma e se desenha.
...
O espírito está à mercê do corpo como os cegos estão à mercê e dependem de quem os guia. O corpo toca e faz tudo; começa e termina. Dele emanam as nossas verdadeiras luzes, e mesmo elas só, que são as nossas necessidades e os nossos apetites, pelos quais nós temos uma espécie de percepção «à distância» e superficial do estado da nossa íntima estrutura.

Paul Valéry, in Tel Quel II (pgs. 270, 271/2 e 276).

Nota: terminam, hoje, as transcrições e traduções desta obra de Paul Valéry. Mas é provável que esta rubrica ("A par e passo") se mantenha sob o patrocínio do filósofo e poeta francês, através de outros livros do autor. O futuro o dirá...

Retro (35)


Ainda vem longe o Inverno, como vem de longe (1905) este magnífico cartaz, do francês Abel Faivre (1867-1945), publicitando não só o Caminho de Ferro, mas também os desportos na neve, em Chamonix. Um original destes cartazes, sugestivo e interessante, foi vendido em Londres, no ínício do século XXI, já quase centenário mas em bom estado, por 6.000 libras.
Abel Faivre é ainda conhecido pelos seus cartazes apelativos e patrióticos, para apoio ao esforço da Guerra de 1914-18.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Regionalismos transmontanos (4)


Aqui vão mais seis, iniciados pela letra A, retirados da obra já referida anteriormente:

1. Adengada - elegante, bem feita.
2. Afergulado - apressado, açodado, precipitado.
3. Afusal - medida do linho, constituida por 24 manadas.
4. Agraz - qualquer fruta ainda muito verde.
5. Agueira - levada, rego, valado.
6. Alanzoar - mentir. Ter basófias, fanfarronar.


Mais um haikai


Chuva de Outono -
as hortênsias
decidem-se pelo azul.


Masaoka Shiki (1867-1902).

Citações CXLVII


Gosto de ser pontual... o que me faz sentir, muitas vezes, ser um solitário.

Benjamin Disraëli (1804-1881).

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Divagações 54


Enquanto a lua sobe, em círculo perfeito, horizontal o casario ribeirinho imóvel se mantém sobre as águas nocturnas do Tejo. Há um espelho pressentido e líquido que não reflecte nada, porque o azul é profundo, escuro, e só poderá ser quebrado pela imaginação. O silêncio, não fosse o ar estar limpo, não deixaria que algumas vozes, raras, incomodassem a noite.
Do livro sobre a pintura de Fra Angelico (c. 1395-1455) que li a eito, nos últimos dias, ressuma das imagens uma escassez essencial, que despreza o acessório e o secundário, para sublinhar o mais humano, ou o sagrado. Há nas suas tábuas ou murais, um rente ao dizer (Eugénio de Andrade), que me fascina, como se o íntimo prémio e a generosa dádiva estivesse - e estaria para ele - no além-Terra.
A rudeza nua da paisagem, que lembra alguns quadros de Hogan (1914-1988) sobre Monsanto, antigo, quase incomodam. São, pelo menos, pinceladas avaras e cruéis, sobre o campo italiano que, dificilmente e mesmo no século XV, seria tão ermo e tão despovoado de vegetação. Porque são raras as paisagens frondosas nos quadros de Fra Angelico.
O que é que ele, simples, concentrado e essencial, nos quereria dizer?

Uma louvável iniciativa (20)


Mais 5 pacotinhos de açúcar com outras tantas expressões populares explicadas, numa iniciativa do Café Chave d'Ouro. Da série de 30, estas ocupam-se, pela ordem, das seguintes expressões:
2/30 - Em Lua-de-Mel.
8/30 - Entrar com o pé direito.
14/30 - O primeiro milho é dos pardais.
26/30 - Comer muito queijo.
29/30 - Dentada de cão cura-se com pêlo do mesmo cão. 

A terra em tempo de guerra

É notória, e já aqui o referi, a proliferação de pequenas hortas domésticas, nos baldios e declives da região outrabandista. Normalmente trabalhadas e cultivadas por africanos (maioritariamente, amanhadas por mulheres) que semeiam batatas, milho, tomate, couves... A necessidade pode muito, a crise aperta, a fome espreita, muitas vezes.
Mas já, noutras ocasiões e em períodos de racionamento, sobretudo no decurso da II Guerra mundial, os governos aconselhavam o cultivo de vegetais, mesmo em pequenas parcelas de terra, em jardins e, até mesmo, em vasos, nas varandas das casas, para diminuir a pressão da escassez alimentar.
A Itália, a Alemanha e Portugal, no início dos anos 40 do século passado faziam um aproveitamento pragmático da terra ao seu dispor. E também, na Inglaterra, se fez campanha de propaganda para o cultivo alargado de vegetais e outros bens alimentares como, neste sugestivo cartaz da imagem, de gráfico desconhecido, se pode ver.

Recomendado : quarenta - Aquilino e os pássaros


O livro é uma maravilha, quer pelos nacos de boa prosa de lei, aquiliniana, quer pelas ilustrações (de Maico) cuidadas que o acompanham. E ainda tem um CD - porque é um audiolivro - com o canto de pássaros.
É um trabalho minucioso de pesquisa de Ana Isabel Queiroz, com várias colaborações prestimosas e desinteressadas de vários especialistas, que se juntaram numa vontade colectiva e meritória. Para quem aprecie Aquilino Ribeiro, é uma obra imperdível, para quem goste de aves, irresistível.
Aqui fica um cheirinho de uma espécie de ladainha tradicional, que Aquilino integrou em O Homem da Nave
A carriça 
diz a missa;
o tuinho 
deita o vinho,
o cartaxo
bota abaixo,
e o pardal
muda o missal.
Aqui fica aviso e recomendação.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

1 haikai


Sobre apenas uma única
árvore da imensa planície
é que as cigarras se reúnem.

Masaoka Shiki (1867-1902).

Rubén Darío, sobre Poesia


"Não. A forma poética não está destinada a desaparecer, antes tenderá a alargar-se, a modificar-se, a seguir o seu desenvolvimento no eterno ritmo dos séculos. Poderá não haver poetas, mas haverá sempre poesia, disse um dos puros. Sempre haverá poesia, e sempre haverá poetas. O que sempre faltará será a abundância dos que a compreendam, ..."

Rubén Darío (1867-1916), no proémio de El Canto Errante (2ª ed., 1948).

As aflições e as evocações


São os destaques que gostaria de sublinhar, na imprensa portuguesa de hoje:
a situação aflitiva da Cinemateca Portuguesa, cujas receitas provenientes da publicidade televisiva (recebe cerca de 40%) diminuiram drasticamente e que ameaçam o seu estrangulamento financeiro; no JL, a evocação de Urbano Tavares Rodrigues e Jorge de Sena, através de uma humaníssima entrevista a Mécia de Sena, sua viúva. 

Música e Poesia LIII


Sobre poema de George Seferis (Na praia), Mikis Theodorakis musicou esta canção que Maria Farantouri interpreta, magistralmente.
Para acordar devagar...

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Apontamento 18: A Escravatura na "Merkolândia" em época de eleições



A formação humana, os princípios éticos e a elevação mental ao serviço do bem comum são, embora em regressão na educação para a cidadania, as faculdades mais prementes na defesa da democracia.
Já há algum tempo que tenho acompanhado – embora de forma dispersa e em jornais menos alinhados e livres – notícias preocupantes sobre a escravatura (sem aspas!) na “Merkolândia”. E porque ainda acredito numa percentagem razoável de Alemães que, tanto como eu, se revoltam contra o lado negro do “milagre alemão”, feito de trogloditas disfarçados de empresários de sucesso, remeto, para quem consiga ver, a reportagem em: www.ardmediathek.de, escolhendo o tema: Deutschlands neue Slums.
Ficamos, então, a saber que o senhor Clemens Tönnies, com o seu ar limpinho e socialmente empenhado na sua cidade – pretendendo esconder, certamente, o ar burgesso que não consegue disfarçar – é dono de uma indústria de transformação de carnes, que subcontrata uns e outros para limpar as suas mãos de uma prática de escravatura em pleno Século XXI, sediada na Alemanha. Recorrendo a esquemas sinistros para a contratação e “instalação física” de cidadãos búlgaros, vai alimentando a sua indústria e não sei quantos alemães que, porventura e ingenuamente, continuam a comprar os produtos Tönnies e Tillmann’s.
O visionamento do vídeo acima mencionado esclarece-nos, também, sobre a cumplicidade das autoridades alemãs, e até europeias, perante o fenómeno gritante. A referida fábrica Tönnies ostenta até o selo de qualidade TÜV, embora a fábrica, em subcontratação, obrigue os operários búlgaros a horas de trabalho fora da lei, mais liberal, da Alemanha, podendo atingir as 15 horas seguidas, segundo a reportagem da Televisão Alemã ARD.
Conjugando o “mal-estar” que me provocou o encontro com a realidade da “Merkolândia” em plena campanha eleitoral, com outro vídeo sobre os efeitos nocivos da “fuga de impostos” pelas grandes empresas – como o nosso Pingo Doce e quejandos – www.ardmediathek.de  (Wie Konzerne Europas Kassen plündern) – reforçou-se uma convicção. Perante este tipo de notícias, e atendendo à escolha de comércio tradicional que ainda temos, cabe ao consumidor fazer a sua opção de cidadania, quotidianamente, recusando, de todo, comprar os produtos de semelhantes mafiosos.
Infelizmente conheci, lá e cá, muitos senhores à laia de Clemens Tönnies, alguns disfarçados em “amigos dos Portugueses”, mas também recebi a educação humana e cívica suficiente para saber distinguir o “trigo do joio”. E escravatura no Século XXI é uma realidade revoltante.

Post de HMJ


Filatelia LXXII : carimbos e envelopes de 1º dia


O primeiro carimbo especificamente criado para obliterar uma série de selos portugueses data de Março de 1894. A emissão destinava-se a comemorar o 5º centenário do nascimento do Infante D. Henrique.
O primeiro envelope de 1º dia, alusivo a uma emissão filatélica, foi criado pelos CTT, em 1949, para complementar a série do Congresso de História de Arte.
A partir desta data, sempre que há uma nova emissão filatélica há, também, um envelope apropriado para ser carimbado, com os selos, no primeiro dia de circulação. Em linguagem filatélica internacional é referido pela sigla FDC (First Day Cover).
Em imagem, 4 selos da emissão de 1894 (Infante D. Henrique) com o respectivo carimbo comemorativo e mais 4 envelopes alusivos a séries diversas, com obliterações do 1º dia. Todos já dos anos 70 do século passado.

Uma caderneta de cromos cinquentenária


Esta pequena caderneta artesanal, feita sobre um Caderno de Significados, está parcialmente preenchida por cromos de fina cartolina, policromados e de fino desenho. Os cromos vinham em pequenas tabletes de chocolate. E a colecção, meia-iniciada, foi-me oferecida por amigas mais velhas. Eu limitei-me a continuá-la.
Os cromos são, seguramente, dos anos 40 e 50 do século passado.

para MR, e em geminação.

O linho


Eram lindos de se ver, na minha infância, os campos de linho à volta de Guimarães, que era talvez o polo português, mais forte, dessa indústria, em Portugal. Mas havia também o seu tratamento, a nível doméstico: rocas, fusos e dobadouras podiam encontrar-se em muitas casas minhotas, fossem elas ricas ou pobres.
Três florescentes casas comerciais vimaranenses recebiam, sobretudo no Verão, famílias estrangeiras e nacionais (Porto, Lisboa...), que lá iam comprar bragais para as filhas casadoiras. Sentavam-se ao balcão, eram-lhes oferecidos leques de papel, para se abanarem por causa do calor, e iam escolhendo os artefactos: lençóis, toalhas de mesa, lenços...
Com o advento das fibras sintécticas para a indústria têxtil, nos anos 60, o linho perdeu importância. Nos anos 90, nenhuma casa comercial vimaranense conseguira sobreviver. E o cultivo do linho entrou em decadência.
A flor azul e o amarelo dos campos de linho deixaram de se ver, à volta de Guimarães. O know how, provavelmente, também se foi perdendo. Mas não foi assim, por toda a Europa. A França, cuja Agricultura a UE  prodigamente subsidia, é hoje o primeiro produtor a nível mundial. Os seus campos concentram-se sobretudo na Normandia, região com condições climáticas muito favoráveis. E os seus grandes clientes são a China e a Índia.
Acresce a bondade ecológica do linho: enquanto um hectare de algodão precisa de 25.000 litros de água, para se desenvolver, o linho requere apenas 400 litros. Nós, portugueses, que há cinquenta anos atrás exportávamos linho, hoje, temos que o importar...

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Uma fotografia, de vez em quando (13)


Não fora o Blogue cochinilha, (que sigo, com atenção, e recomendo vivamente), e eu não me teria dado conta que hoje se celebra o Dia Mundial da Fotografia, arte que não completou ainda o seu bicentenário.
Escolhi, para iconografia do poste, duas obras de Jacques Henri Lartigue (1894-1986), um clássico precursor francês desta nobre actividade, que muito aprecio.

Adagiário CXLVII


Mulher que ao deitar diz «ah...» e ao levantar diz «upa...", guarde-a Deus da minha roupa.

domingo, 18 de agosto de 2013

Férias 5: Conhecer a Escandinávia via "InterRail"




Embora não sendo adepta de “ajuntamentos forçados”, sempre considerei que as Pousadas de Juventude permitiam, na altura e sem a recente profusão de “Hostels”, um conhecimento do país de origem, e até do estrangeiro, numa fase em que a autonomia financeira era ainda inexistente ou muito reduzida.
Quando surgiu, pois, o programa “InterRail”, possibilitando a compra e um “bilhete único” de comboio para percorrer a Europa, considero que se juntou o útil ao agradável. Com efeito, e segundo uma receita anterior, escolhi para férias a Escandinávia, aproveitando os relatos e as “dicas” de amigos que a tinham visitado no ano anterior. Como sempre gostei de mapas – até para fazer viagens imaginárias – tracei o meu plano em função da rede ferroviária da Escandinávia, das Pousadas de Juventude disponíveis e o orçamento previsto.
Parti, sozinha, de Colónia com uma primeira paragem em Copenhaga, de que não ficou grande memória, para além da ambiência - pós-68 ou alternativa – que já conhecia de uma visita a Amesterdão. A diferença de “tomo” deu-se com a passagem de barco para a Noruega. Gostei de Oslo e ficou-me para sempre o espaço e o museu dedicado à obra de Edvard Munch.


Do comboio, que seguia em direcção a Narvik, passando o círculo polar, saí várias vezes em diversas localidades. Como o “cartão InterRail” permitia saídas e entradas ao nosso gosto, desde que fosse numa continuação do trajecto, estabeleci ca. de 4-5 horas de comboio para me apear, conhecer terras novas e localizar o “poiso nocturno”. Ao partir de Oslo, no Verão, achei estranho que a locomotiva levasse um dispositivo para afastar a neve, mas, ainda antes de chegar ao círculo polar, tive umas curtas férias na neve, se não me engano perto de Mosjøen. No entanto, o mais insólito, sobretudo para os que passeiam sem o conhecimento da História, esperava-me em Narvik. O chamado “pai” da Pousada, assim que viu o meu passaporte germânico, calou-se sem mais palavras, lembrando-se, certamente, das batalhas do exército alemão durante a 2ª Guerra Mundial. Para além deste episódio, tirei uma foto com as distâncias geográficas, semelhante à imagem seguinte.



Saí de Narvik, passando para a Suécia via Kiruna, entrei na Lapónia e parei em Luleå. A Pousada de Juventude eram umas casinhas de madeira, no meio da floresta, como demonstra a imagem seguinte. Apercebi-me, depois, que devia ser a única hóspede, já que não me cruzei com mais nenhum ocupante.


Aliás, desde a entrada na Noruega, tinha-me habituado a falar muito pouco, porque os habitantes do Norte são mais discretos na conversa, habituados como estão à solidão em espaços pouco habitados. Assim, no dia de partida da Lapónia, dei com um espectáculo memorável. Uma família italiana, pai, mãe e duas criaturas, estavam no cais a tentar entrar no comboio, com a habitual algazarra do Sul. A tarefa de entrar estava bastante dificultada, porque, atado à mochila, tinha o pai umas hastes de uma Rena.  Bela recordação ! O senhor nem entrava de frente, nem de lado, apesar dos empurrões e gritos da mulher e perante o ar calmo e silencioso do revisor. Da Lapónia ficou-me, portanto, esta lição das diferenças entre os povos do Norte e do Sul.

Parei, ainda, na cidade universitária de Uppsala antes de chegar a Estocolmo. Como o dinheiro já era pouco, porque a Suécia era, e é como julgo, um país caríssimo, não aproveitei, na altura, para ir de barco até à Finlândia. Ainda hoje tenho pena, porque completava um círculo que, assim, ficou incompleto. Apanhei o barco, no regresso, em Malmö, onde tive oportunidade para conviver com uma família sueca.

Convém, no entanto, sublinhar que a convivência com os povos nórdicos se reduz ao essencial da palavra. Foram, portanto, umas férias para apreciar a natureza, a estética das cidades, pouco palavrosas e numa aprendizagem imensa do supremo bem da solidão.

Post de HMJ

Pequena história (23), com texto grande...


O Estado é, por sua própria natureza, uma instituição conservadora. A que, por vezes, acrescenta desconfiança e ingratidão, na forma como olha os cidadãos, que devia servir.
Gustave Caillebotte (1848-1894) foi um francês generoso e um pintor de merecimento. Vindo do Realismo, que nunca inteiramente renegou, aportou com moderação tímida à escola do Impressionismo, mas era amigo de Monet, Renoir, Degas e Sisley, entre outros.
Os seus temas de pintura privilegiaram Paris e os seus arredores, e as figuras humanas, algumas vezes, as classes operárias da sua época, talvez até por contraste, que a sua condição financeira sempre foi desafogada, porque vinha de uma família rica. O facto permitiu-lhe patrocinar algumas, das primeiras exposições dos Impressionistas, mas também adquirir quadros que não tinham sido vendidos nessas mostras.
Formado em Direito, além da sua paixão pela Pintura, tinha interesses muito diversificados: cultivava orquídeas, coleccionava selos, fotografava com gosto e, nos últimos anos da sua breve vida  também se dedicou à jardinagem. Vida curta, mas cheia. Os quadros da sua pinacoteca particular ultrapassavam, largamente, a meia centena.
Quando morreu, repentinamente, o seu executor testamentário, amigo e pintor Renoir, teve o encargo de legar ao Estado francês, para o Museu do Luxemburgo, cerca de 65 pinturas, de grande qualidade. Pois o Estado, liminarmente, recusou-as. Após campanhas, em jornais da época, verberando esta atitude, a intervenção pública de Clemenceau, e depois de 3 anos de duras negociações, limitou-se a aceitar, a contragosto, 38 telas. Que incluíam: 1 Manet, 3 Cézanne, 8 Monet, 2 Renoir, 3 Sisley e 11 Pisarro. Estão, hoje, na sua maioria, no Louvre.
Obsv.: o primeiro quadro é um auto-retrato de Gustave Caillebotte; o segundo (de 1893) pertence a uma colecção particular e não estava incluído na herança que o Pintor  destinou ao Estado francês.


Visto por dentro: algumas constatações e considerações sobre o Blogue


É notória a queda abrupta do número de visitas diárias ao Arpose, no pico do Verão, com particular incidência desde meados de Julho. A preferência pelo ar livre, praia e lazer, em detrimento do interior das casas, só atesta uma saudável opção. Mas, mesmo neste período, a minha observação permite concluir, sem qualquer sombra de dúvida, que o que mais atrai os visitantes sazonais ou bissextos, são as imagens insólitas ou a iconografia mais espectacular, os textos curtos e as citações que colhem, maioritariamente, o fascínio dos cibernautas.
Se, durante o dia, o maior número de visitantes é de origem portuguesa, à noite são maioritários os brasileiros - mera questão de diferenças horárias, provavelmente. Em qualquer dos casos, a permanência das visitas, a ver o Blogue, raramente excede os 2 minutos. Cerca de 90% nem sequer fica 1 minuto. O que comprova a pressa, a avidez da ligeireza e a efemeridade dos interesses, neste nosso tempo de voragem pela novidade, de leveza, de superficialidade.
A intensidade das visitas concentra-se, sob o ponto de vista numérico, no período que vai das 19h00 às 20h00, bem como entre as 23 e as 24.00 horas. E, dos 5.273 postes do Arpose, nestes quase 4 anos de actividade, os mais visitados (afora 1, que é obsessivamente frequentado por um robot marcano, para propagandear as suas parvas foleirices ianques, enviadas, automaticamente, para o spam) são os seguintes:
1 - Mercearias Finas 28 : Castas de uvas portuguesas (29/3/2011)........................com 1.496 visitas.
2 - Do "Bestiário" de Leonardo da Vinci (28/12/2010)..........................................com 1.354 visitas.
3 - Ainda Julio Camba : em louvor do linguado (24/6/2010)................................com 1.063 visitas.
4 - Pinacoteca Pessoal 6 : Vincent van Gogh (27/2/2011)......................................com    913 visitas.
5 - O leão, a águia, o galo de Barcelos e a cabra (ou vaca de Míron) de 17/3/10......com    714 visitas.
E, por hoje, é tudo.

sábado, 17 de agosto de 2013

3 das "Verdades Singelas", do Abade de Jazente


Dizer um senhor fidalgo, 
que tem três contos de renda,
e que gasta uma fazenda
só em sustentar um galgo
que todas as lebres mata...
patarata.

Andar todo embonecado,
ter amores, ter afectos;
e depois de já ter netos,
andar inda namorado,
sem se lembrar da velhice...
é tolice.

Letrado que atrasa causa
com mil enredos astutos,
que lê feitos circunductos,
e se passeia com pausa,
falando só no escritório...
farelório.

Paulino António Cabral, Abade de Jazente (1719-1789).

A par e passo 54


Prazeres abstractos e concretos.
Prazer abstracto, o do proprietário: é uma ideia que se satisfaz em si mesma.
Prazer concreto, o do possuidor: é o seu acto e a sensação que fazem ter prazer.
Esta coisa é minha. Posso usá-la e abusá-la.
Esta coisa é para mim. Sinto-a, uso-a, abuso-a.
Uns fruem a posse, os outros o acto. Dos primeiros aos segundos, ambos parecem próximos; dos primeiros aos segundos, ambos parecem delapidar.
O avaro mais poeta que o pródigo.

Paul Valéry, in Tel Quel II (pg. 268).

Regionalismos transmontanos (3)


Retirados do livro "Dicionário de Trasmontanismos", anteriormente já referenciado, damos hoje seguimento a mais alguns regionalismos iniciados pela letra A:

1. Aceniscar - piscar os olhos com sono.
2. Achada - multa, coima, contravenção. Transgressão.
3. Achegado - levado (animal) à cobrição.
4. Achimpar - bater com força.
5. Acocado - aturdido, atordoado, desorientado.
6. Acucado - de cócoras.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Filatelia LXXI : Monarquia do Norte


Como em tudo aquilo que é efémero e inconsistente, o cuidado posto, às vezes, no pormenor e aspectos secundários, prejudicam e fazem descurar o que é essencial.
A chamada Monarquia do Norte (ou Reino da Traulitânia, como lhe chamaram os republicanos mais ferrenhos) resultou da incursão de Henrique Paiva Couceiro (1861-1944) que, vindo da Galiza, conseguiu tomar posse do Porto e formar uma Junta Governativa, monárquica. Teve vida efémera o regime, que durou de 19 de Janeiro a 13 de Fevereiro de 1919, mas semeou uma onda de violência revanchista, latrocínios e alguns assassinatos, entre os republicanos portuenses.
Não se coibiram, porém, os neo-monárquicos de mandar imprimir selos que foram postos  à venda, nas estações dos Correios do Porto, na manhã de 13 de Fevereiro, data em que as forças republicanas, vindas do Sul, retomaram a cidade. Não tendo, por isso, circulado em cartas.
Em imagem, as referidas estampilhas. Na parte superior, os selos que se destinavam à correspondência; na parte inferior as provas dos selos que foram, parcialmente, aprovadas.