domingo, 30 de junho de 2013
A paz dos elefantes e o nervoso dos macacos, ou um diálogo ouvido por um terceiro
Soube hoje, por mero acaso, que António Guerreiro terá sido convidado a emigrar, com desvelo, pela direcção sempre atenta do balsemânico jornal Expresso, para a ípsilon do jornal Público por não fazer o pleno, nem as delícias do" leitor médio" e, de algum modo, do medievo (40 anos, caramba!) semanário lusitano. Provavelmente, os seus textos perturbavam as meninges e digestões dos clientes tranquilos e ledores apáticos do centrão hebdomadário.
Quase em simultâneo, fui testemunha e ouvinte acidental de um diálogo curioso, num local muito in, que vou tentar reproduzir, escrupulosamente. Segue:
"- Estás-me a ver isto, ó FJV?!... Esfalfei-me eu a postar 2 coisas importantes no meu blog, em dia de greve geral, sacrossanto feriado do esquerdalho militante, e tive uma miséria de 1.307 visitas. Até o Pacheco teve mais...Que ingratidão, que despautério vil...
- Mas, 1307 visitas até não é mau, RZ!
- Eh pá! Tu não me desafies, tu não me desencaminhes para a escrita criativa, que é o meu ganha-pão, porque a Pepita ou Paquita, ou lá o que é, quando começou a falar, toda remelgas, da mala Vuitton que almejava, teve logo milhões de carneiros papalvos a visitá-la, para a consolar e comentar, naquele blog indigente...
- Ó R., descomprime, não ligues. Já sabes como é a populaça, já o régio Carlitos lhe chamava «piolheira». Isto é só bichezas, castelo-brancos, jaimes, calhordas, ramos, pepinos e raspadinhas. Esquece... Vamos mas é beber este whisky delicioso e acabar o Cohiba, grosso e fidelista. A vida , para nós, é para requintar e sonhar...
- Tens razão, FJV... Já agora, o Paes agradeceu-te bem, pelo clandestino?"
- Tens razão, FJV... Já agora, o Paes agradeceu-te bem, pelo clandestino?"
Da Janela do Aposento 35: Saber pensar, saber escrever (2)
Como remate do texto anterior, António Guerreiro ocupa-se, na ípsilon de 28.6.2013, dos exames.
A brilhante ironia da análise dos "enunciados e critérios de classificação" dispensa comentários menores. Sublinhei, contudo, dois aspectos que me obrigam a um aditamento pela repulsa, ainda incontida, que me provocam, apesar de me encontrar já, formalmente, "posta em sossego".
O "discurso treinado ao longo do ano" transformou, há muito, o 12º Ano, na área do Português e Literatura Portuguesa, num espaço circense, em que o domador treina os "animaizinhos" a papaguearem as respostas contidas nos numerosos "materiais de apoio" que fazem as delícias das vendas de grupos como a Leya e outros. Felizmente, consegui sempre ficar longe de semelhante espectáculo degradante, pois havia sempre muitos candidatos "decanos" que assumiam tais funções como corolário brilhante das suas carreiras.
A "justiça infalível e universal", de que fala António Guerreiro, é a base do dogma que arruinou a liberdade de ensino e conseguiu, democraticamente, implementar um desejo do Estado Novo, i.e., anular o pensamento próprio dos professores e alunos.
E, no meio de tantos "cenários de resposta", permanece uma "chatice" insolúvel, ou seja, a incapacidade de eliminar a subjectividade própria da Literatura que atrapalha tudo.
Falta, pois, uma "prescrição" que obrigue os escritores - e sobretudo os poetas - a produzirem textinhos mais adaptados à pretensa objectividade dos exames. A partir daí, teríamos, certamente, um sucesso retumbante nas estatísticas.
Post de HMJ
Idiotismos 20
Virá de longe a origem, de algum modo, depreciativa da expressão popular pôr a careca à mostra, e daí também o facto do uso das cabeleiras, em várias épocas da história, para esconder a calvície. Mas também a punição aos vencidos de batalhas, antigamente, a quem, como castigo, lhes cortavam os cabelos. Castigo máximo o brado ad libitum, do chefe de trupe conimbricense, que permitia aos integrantes rapar totalmente o cabelo ao caloiro prevaricador, que fora apanhado a desoras, na rua. Ou a canção de Martins Soares, no Cancioneiro da Vaticana:
"praz-me con el, per tregoa lhe dey,
que a nem mate, mays trosquiarey
como quem trosquia falso traedor."
Ainda nas velhas perlengas infantis, o sentido infamante à criança que aparecia com cabelo curto, a quem as outras arremedavam:
Quem te tosquiou
que as orelhas te deixou,
por trás e por "diente"
como o burro do Vicente.
Alexandre de Carvalho Costa, no seu livro "Gente de Portugal...", lembra também o que custou a D. João I de Castela, em Aljubarrota, ter sido derrotado pelos "chamorros", que era a alcunha que os espanhóis, pejorativamente, davam aos portugueses, por usarem o cabelo cortado muito curto.
Na Idade Média, cortavam os cabelos às mulheres adúlteras, mas também, muitas vezes, como marca de infâmia, aos judeus, aos mouros e aos ciganos.
Hoje, a expressão tem o valor mais leve, e alterado, de: desmascarar, contar os antecedentes menos nobres de alguém, ou falar das fraquezas d'outrem. Valha-nos isso!
sábado, 29 de junho de 2013
À cause des mouches...
Embora a menina Carla me pareça um bocado pernóstica, resolvi, democraticamente, dar-lhe voz, aqui...
Os dialectos da Justiça (à portuguesa), a sobrevivência dos dinossauros, a "vaca sagrada" e o Alqueva
Era recorrente, até aqui há alguns anos atrás, a aparição, em notícias televisivas, de imagens de uma vaca morta num campo alentejano (cá em casa, até lhe chamavamos a "vaca sagrada"), sempre que havia seca em Portugal. Como também, enquanto se não construiu a Barragem, quando os telejornais falavam do Alqueva, mostravam frequentemente o graffiti, em imagem, que algum alentejano mais impaciente imprimiu na parede da obra inacabada. Demonstração reforçada da grande imaginação jornalística lusa...
Hoje, a Justiça (à portuguesa) mais uma vez me surpreendeu, com as suas virtualidades caprichosas e idiossincráticas, que o homem comum, habituado ao "pão pão, queijo queijo" da realidade, dificilmente poderá compreender. Pois, em relação ao recurso, interposto por Luis Filipe Menezes, para poder concorrer à Câmara do Porto - esgotados que foram os seus mandatos em Gaia -, o Tribunal Constitucional decidiu pela negativa. O homem não pode concorrer ao Porto. Mas, em contrapartida e entretanto, o Tribunal Cível de Lisboa, indirectamente, sancionou de forma positiva a possibilidade de Fernando Seara poder concorrer à Câmara de Lisboa, podendo assim sobreviver jurassicamente, depois de ter esgotado os mandatos na autarquia de Sintra.
Apetece dizer, glosando o impaciente alentejano do Alqueva:
"Senhores Juízes entendam-se, por...!"
Pinacoteca Pessoal 54 : Duez
Entre um realismo sensível e um ainda tímido impressionismo, as telas de Ernest-Ange Duez (1843-1896) atraem pela delicadeza do traço, as cores harmoniosas e os temas quotidianos que retrata.
O quadro em imagem, "L'Heure du Bain", de 1894, pertence ao acervo do Museu de Belas Artes, em Rouen (França).
sexta-feira, 28 de junho de 2013
Citações CXLII : Jean Paul
As personagens melhor definidas dum poeta, o melhor de um poeta, são os dois polos da sua natureza. Cada poeta concebe o seu anjo e o seu demónio singulares.
Jean Paul (1763-1825).
Leilão, antes das férias
Promovido pela Livraria Luis Burnay, mais um leilão a realizar no início de Julho, constituido por obras muito variadas, provenientes de uma biblioteca particular e de um arquivo editorial (Eduardo Salgueiro).
De autógrafos de Camilo, Nobre, Régio, Nemésio e Jorge de Sena (4 cartas), até à primeira tradução da Bíblia (Lote 73) para língua portuguesa, feita por António Pereira Figueiredo, com uma estimativa de venda entre 400 e 1.000 euros.
Recuperado de um "moleskine" (3)
Entre o silêncio e uma soada tímida, vai alguma diferença e alguns degraus na escala; entre o resmoneio da reza, na fresca e pétrea catedral, e uma restolhada de pássaros, escondidos na árvore frondosa, pela tarde de Verão, abre-se uma clareira de diferenças. Entre ruído e barulho, as coisas sobem de tom. A voz humana pode assumir vários timbres, mas a música tem um poder mais forte - e qualitativo. Irmã do silêncio, manifesta-se, quase sempre, em harmonia.
Mas também uma criancinha ululante, na rua, se distingue do urro colectivo nos estádios superpovoados.
E de um infante que grita, ligeiramente, para chamar a atenção dos pais, ausentes ou distraidos, pode vir apenas uma diferença cultural que, em nada se assemelha a um grupo adolescente que grunhe, porque mal sabe pronunciar palavras humanas.
Aos adultos deve-se-lhes pedir algum equilíbrio, em contexto próprio. Mas o homem de cabeça já saraivada, que entrara ziguezagueante na esplanada, vinha alumbrado de olhar e foi canhestro (quase caiu), ao sentar-se à mesa. Contemplou desbocado o casal jovem, a uns 3/4 metros, mais a criança loira com corte de cabelo exótico. Cerca de dois minutos depois, balbuciou a meia voz: "O cabrão do rapaz tem um cabelo lindo! Parece um cão rafeiro..."
quinta-feira, 27 de junho de 2013
Ambiente: da levada suburbana, até ao Oceano
Ao atravessar a frágil ponte, sobre a levada outrabandista, olho para baixo, para o estreito fio de água apodrecida que ainda corre, quase bloqueado por latas de refrigerantes, embalagens plásticas, sacos sujos, dejectos e detritos.
A meio do Oceano Pacífico, numa região equidistante, entre Los Angeles e o Hawai, a que chamam o 7º continente, seis vezes superior ao espaço geográfico da França, toda a área marítima está ocupada por sacos de plástico e coisas como as que referi no primeiro parágrafo. É uma espécie de monturo marítimo do mundo mais alarve, egoísta e ignorante.
Não há peixes nesse espaço, as aves já nem sequer sobrevoam a superfície dessas águas e só lá existe um plâncton ralo e nocivo que, mesmo assim, constitui apenas 1/5 do lixo hediondo que o rodeia.
Hoje, por aqui me fico...
Círculos
A menos de 30 páginas do final de "Le Noir et le Rouge" (Grasset, 1984), de Catherine Nay, sobre a ascensão ao poder de François Mittérrand (1916-1996), é com pena que vejo o livro a terminar. É um texto desapiedado (ou pouco elogioso, e isento - parece-me), mas rico e inteligente, sobre os defeitos e virtudes de um grande político e homem de estado, mas também o retrato das circunstâncias e vicissitudes francesas de uma época (política).
Um dos aspectos que mais me surpreendeu e interessou foi o facto de saber que Mittérrand, em relação às suas amizades, acabou por criar uma espécie de diversos círculos ou grupos humanos que, embora quase tangenciais, raras vezes se tocavam ou conviviam entre si. Compartimentos estanques, de fidelidade, que Mitérrand, sabiamente, geria e administrava, em equanimidade. De algum modo, era a sua forma de dividir para reinar, politicamente.
Na modéstia da minha experiência, e naturalmente, verifico também que, o discurso e temas que privilegio com os meus maiores amigos, têm, quase sempre, algo de específico e predominante. Se, com alguns, a abordagem da ética, em sentido abstracto, se destaca, já, com outros, os diálogos abordam, maioritariamente, a arte e a literatura, em geral. E, ainda para outros, são os aspectos políticos, ou de sensibilidade humana que são mais recorrentes.
Digamos, para concluir, que os seres humanos, e à sua medida, não são assim tão diferentes, entre si.
quarta-feira, 26 de junho de 2013
Mercearias Finas 73 (hoje, um pouco insólitas...)
Já está perto o mês frutícola que faz o pleno, cá por casa. Uma espécie de oaristo agrícola, entre os figos ( lampos, pingo de mel...) e os pêssegos, porque em Julho, e anos propícios, atingem a perfeição gustativa e o aroma divinal. Por mim, com ananás, pêssegos e morangos, me bastava a Natureza do pomar.
Disse alguém ou escrevi eu: "...um fruto velho come-se por dentro". E, se fui eu que registei o facto, estava certamente a pensar em pêssegos porque, nesse aspecto, eles são um pouco traiçoeiros. Podem estar lindíssimos e olorosos, por fora, e já estarem a apodrecer, por dentro, junto ao caroço. Malvados!
Hoje, comi dois - bons e temporões, porque ainda não chegamos a Julho. E, como sempre, nunca os pêssegos são equilibrados na maturação. Um deles, num dos lados estava maduríssimo, do outro lado, ainda um pouco verde. Mas também o ser humano tem, normalmente, o braço direito mais comprido que o esquerdo. Para não falar de outras coisas...
Bibliofilia 83
Na maior parte das vezes, compramos um livro por causa do seu autor, ou do texto que lá pensamos encontrar. Mas também há casos em que compramos uma obra, pelo objecto em si - que ela é também -, pelo seu aspecto estético, pelo seu equilíbrio gráfico de edição. Na minha vida, este motivo ou causa, ocorreu apenas umas quatro ou cinco vezes. E, de tempos a tempos, folheio esses livros, com prazer.
É o caso deste Manuel/ D'Épictete,/ traduit/ par M. N., editado em Paris, no ano de 1782. O livro é maneirinho (11,7 por 7 cm.), bem encadernado, e está em excelentes condições de conservação. Comprei-o em Lisboa, em meados dos anos 80, por Esc. 950$00. E, muito embora eu não seja muito dado a filosofias, nunca me arrependi.
A par e passo 46
O rigor do espírito é uma espécie de moral que não é favorável a nenhuma outra. Nenhuma moral de pureza, eis o que isto nos ensina.
...
Não se deve acreditar que, à priori, podemos ultrapassar o que quer que seja.
É coisa vã condenar o mal que não fizemos.
É como se fosse um cego a falar das cores.
O puro que fala do mal não sabe bem o que diz. O justo faz rir o infame.
Paul Valéry, in Tel Quel II (pg. 254).
terça-feira, 25 de junho de 2013
Paisagem
O surdo e cavo tom do silêncio domina o fim da tarde ainda quente, como se o dia não pudesse, de todo, acabar assim. E tivesse que haver um final inesperado e estridente, que não chega. Como se dois versos antigos esperassem, suspensos, uma coda súbita que iluminasse de fulgor, finalmente, o terceto inacabado, e lhe desse toda a razão de ser.
Vozes exteriores acatam este ar parado onde parece impossível respirar, e onde o vento não tem lugar. Até as folhas se alinharam imóveis, como cabeleiras secas e inertes sobre o tronco das árvores. Nem os pássaros, exaustos, dão sinal de si, sobre as águas paradas. O tempo plasma-se como os relógios no quadro de Dali. Lânguidos, e preguiçosamente.
Regionalismos minhotos (42)
Seleccionados da obra em imagem, seguem-se mais 6 regionalismos começados pela letra T. Assim:
1. Tamúsio - estúpido, mal humorado.
2. Tanas - pouco activo ou desembaraçado.
3. Taronho - trapalhão.
4. Téfe - medo: andar com téfe(-téfe).
5. Téro-léro - palrador, criatura que está sempre a falar.
6. Toscar - escutar. Observar.
segunda-feira, 24 de junho de 2013
Os ditos Mundos livres
As voltas que o mundo dá!... Em 1956, na Hungria, o cardeal József Mindszety (1892-1975), para escapar à sanha persecutória do regime comunista, refugiou-se na Embaixada dos E. U. A. (então apelidado de "Mundo Livre"), onde passou 15 anos da sua vida. Hoje, Julian Assange, da WikiLeaks, está refugiado na Embaixada do Equador, em Londres, e não pode pôr o pé na rua, porque será preso e extraditado. Snowden, que denunciou o Irmanzão (NSA) americano, anda fugido e clandestino. De Hong-Kong passou para Moscovo e, provavelmente, seguirá para o Equador ou Cuba...
Mundo livre!?...
( O presidente Obama bem pode pintar a cara de preto.)
( O presidente Obama bem pode pintar a cara de preto.)
Revivalismo Ligeiro LXII : Charles Trenet (1913-2001)
Para a Sandra, para contrabalançar as saudades do mar, e em retribuição da Wende Snijders, que me deu a conhecer.
Uma fotografia, de vez em quando (8)
Neste dia de calor impositivo que, ao que parece, se vai prolongar durante a semana, a água, para consumo interior ou sensação de frescura exterior, é um bem precioso.
A fotografia, do início do séc. XX, existente no Museu da Villa Montebello (Trouville-sur-Mer), é de autor anónimo mas, na naturalidade familiar dos retratados, não deixa de ser um belo momento do passado.
As razões díspares do riso e do sorriso
Não deixa de ser curioso constatar como coisas, tão diferentes na sua origem, podem provocar uma mesma sensação no indivíduo receptor.
As greguerías de Ramón Gómez de la Serna têm origem intelectual numa mente privilegiada em cultura, inteligência, imaginação filológica e verbal de associação, e também de fino humor. Quando as leio, não posso deixar de me rir ou, pelo menos, de sorrir.
Num paralelismo insólito e aberrante, provindas da pouquidão mental de alguns cibernautas com cabeças desarrumadíssimas e um grau avançado de iliteracia galopante, chegam ao Blogue, frequentes search words hilariantes e desconexas. Atente-se nestas duas últimas, bem recentes:
- "bribiografia espresso particaalfredo amilcar escher".
- "cancan comeca na na ra ra na na macrtey".
Como é que eu não podia deixar de me rir às gargalhadas?
domingo, 23 de junho de 2013
Apontamentos 16: Notícias das plantas outrabandistas
O PROSIMETRON, pela mão de MR, já nos brindou com imagens recentes de "tomatitos". Os nossos, infelizmente, ainda não decidiram se querem morrer flores ou avançar para mais qualquer coisa, comestível.
No entanto, mesmo ao lado, está a desenvolver-se, dia após dia, o seu irmãozinho pepino. Apetece dizer, com Alexandre O'Neill: "Poin os olhos no Silva teu irmão" !
Na outra varanda está um limoeiro todo catita, embora tenha sido arrancado ao seu espaço "matricial" há alguns meses. Ele, por acaso, deu-se muito bem com a mudança de casa. Despediu-se dos amigos que, entretanto, foram viver para a capital. Ele, por motivos de afeição, ficou "outrabandista". Mas ele, graças a Deus, não ficou com nenhum trauma. Antes pelo contrário, passou a produzir mais e arranjou logo novos "amiguinhos", alguns espontâneos, outros mais ou menos impostos, mas todos muito chegadinhos para não se separar mais deles.
Post de HMJ
Para uma noite de Verão
Divagações (muito dispersas, como convém ao Verão) 49
A dança aérea de cinco moscas importunas, no centro da sala interior, denuncia o Verão que também entrou pela janela. Bem como a luz cariciosa do mais longo dia do ano. Houve um tempo, em que esta fronteira de Junho acordava, de súbito, a minha melancolia.
Snowden continua a monte, e clandestino. Mas parece que a América do Sul o vai recolher, fraternalmente. Se bem me lembro, também houve um tempo em que os esbirros, das polícias políticas, eram chamados de moscas - e bem...
Vejo o papa Francisco, sorridente, na TV, com a sua bondade sul-americana, a acariciar crianças deficientes, mas não me decido. Este novo Papa, como diz o povo," nem (me) aquenta, nem (me) arrefenta".
Que será feito de Bento XVI? Que ainda não chegou ao reino dos céus...
Tudo são modas efémeras, na venalidade mediática. Amanhã, há mais! - dizem eles.
O azul superior, visto da janela lisboeta, embora um pouco pálido, é seguro; o azul cobalto do rio, ainda é firme. E a noite vai demorar ainda meia hora, pelo menos, até vencer a luz do dia. Um róseo singular instalou-se ameno, como se fosse ao começo da manhã.
Uma louvável iniciativa (18)
Uma vez mais, o Teatro S. Carlos, com alguns apoios mecenáticos, promove em finais de Junho, e até final de Julho, uma série de Concertos ao ar livre, gratuitos, de que se dá parte do programa, em imagem. Denominado Festival ao Largo, estas iniciativas têm congregado numerosa assistência, nas noites de Verão lisboetas. São justificamente de saudar estes acontecimentos culturais, e quem os faz acontecer.
4 greguerías para 1 domingo de Junho
2. A cortina estendida no terraço toureia alegremente o bisonte do vento.
2. As sardinhas em lata viajam sempre em comboios apinhados.
4. Era tão moralista que perseguia as conjunções copulativas.
sábado, 22 de junho de 2013
Palavras de hoje
"...Nestes dias do lixo, o desprezo pelo «humano» concreto tornou-se a regra e, de uma ponta a outra do nosso mundo quotidiano, varreu-se a preocupação humanista não só da política como de muitos outros aspectos da nossa vida. A tecnologia é usada, numa sociedade cada vez mais pobre, para criar novas exclusões. Valores civilizacionais como a privacidade e a intimidade são dissolvidos na «facilidade» do Facebook. O universo público mediatizado gera uma cultura de superficialidade e ignorância presumida. Os valores não circulam numa sociedade que vive na moda e na novidade. Todas as mediações, dificilmente construidas pela luta cultural consciente dos homens para viverem sem ser na selva, estão em crise. ..."
J. Pacheco Pereira, in Humanismo, jornal Público de 22/6/2013.
Retratos 10 : o Ben
Eugénio de Andrade escreveu um dia: "Não se escolhe, é-se escolhido". Mas há também encontros que nos orientam caminhos, bem como opções que não permitem senão uma escolha, em nome da solidariedade humana. Ou do dever, seja ele familiar, ou não. Que nos fazem inflectir, ou voltar atrás.
Provavelmente, eu nunca teria feito o trabalho de Seminário para a tese, na Faculdade, sobre John Updike (1932-2009), se não tivesse conhecido o Ben. Não me lembro como é que ele chegou àquela improvável República lisboeta, ou Lar, onde os saberes se misturavam numa Babel única e cristã: futuros engenheiros, historiadores, médicos, professores, advogados... E onde as paredes se juncavam de gravuras escuras de José de Guimarães, ainda com traços muito visíveis e influenciados por Rouault. Mas nesses anos 60, havia, apesar do dinheiro não ser muito, imensa alegria juvenil.
O Ben vinha de uma longa, em tempo, e extensa em geografia, viagem europeia, à boleia. Com pertences sucintos que se acomodavam numa mochila de campismo: livros, umas sandálias ortopédicas, de madeira, 2 ou 3 mudas de roupa, e pouco mais. Vinha cansado e ficou aboletado no Lar por quase um ano. Entretanto, aprendeu a falar português. Aquário e alto, escocês, com cerca de 25 anos, era filho segundo de uma família de agricultores, gostava do ar livre e do sol, de música, e parava muito pouco em casa. Era frugal no comer. Pagava a mensalidade da mesada que o pai e o irmão mais velho lhe destinavam da exploração da Quinta que trabalhavam, na Escócia.
Além disso, o Ben conseguiu criar uma banda de rock, com o António M. e um terceiro elemento, que teve algum sucesso efémero, chegando a ganhar um prémio num concurso do Parque Mayer. Depois, ia tocar a pequenas festas, ou discotecas, e assim arredondava o seu orçamento mensal. Foi-se criando uma boa amizade entre nós. Em Fevereiro de 1967, o Ben recebeu um telegrama da Escócia, em que o velho pai lhe comunicava que o irmão mais velho se tinha suicidado. E que precisava dele, para o amanho da Quinta. Respondeu prontamente à chamada.
À despedida, deixou-me dois livros de Henry Miller e umas sandálias de madeira, ortopédicas, que ainda usei uns bons dez anos. E também herdei "The Same Door", de John Updike, que li sofregamente. O Ben nunca mais deu notícias, embora tivesse prometido escrever...
Retro (30) : Uma Miss Muffet quase adolescente
Não será obra de Rex Whistler - falado recentemente por aqui - e, embora não tenha elementos (o postal não chegou a ser usado), creio que não errarei por muito ao datá-lo dos anos 30 ou 40 do século passado. Aparentemente, é de produção nacional, e em bom papel. Quanto à aguarela, nem se fala...
Será destes, MR?
Da Janela do Aposento 34: Saber pensar, saber escrever
O recente texto, de António Guerreiro, publicado na ípsilon de 21.6.2013, eleva-nos a um patamar do prazer estético que se alia, na perfeição, ao primado ético e moral da escrita.
O equilíbrio entre o saber pensar e saber escrever, cada vez mais raro, provoca, merecidamente, a admiração do leitor. Ou como diria um amigo meu, com exclamação: Caramba, gostava de ter escrito um texto assim !
António Guerreiro dispensa, certamente, a publicidade, porque ele impõe-se pelo exercício nobre da escrita.
Post de HMJ
Reler J. Guimarães Rosa (1908-1967)
"...-Ora, ora a vida do pobre é: beber, briga e repariga... A gente viaja padecendo, pois é, pois. Tiro o menos por você, Surupita: para você tudo não parecia tão diabo e tão bôbo. P'ra você, passar fome e sêde não é nada, você arreséste a tudo que quer. Mas você aprova comigo: só quando se está com mulher é que a gente sente mesmo que está lorde, com todos os perdões... Que é que se está vivendo, mesmo. Afora isso, tudo é poeira e palha, casca miúda. A gente vai indo, caçoando e questionando, agenciando, bazofiando, tendo mêdo, compra isto, vende aquilo... Como que na gente deram corda. Homem não se pertence. Mas, um chegou, viu mulher, acabou-se o pior. Começa tudo, se tem nova coragem..."
(...)
"...De relongo de reouvir e repensar, Soropita extravagava. Sim escorregava, somenos em si - voltava ao quarto com a rapariga inventada: as sobras de um sonho. Mais falavam de Doralda, se festejavam. A rapariguinha estava ali, em ponta de rua, felizinha de prêsa, queria mesmo ser quenga, andorinha revoando dentro de casa, tinha de receber todos os homens, ao que vinha, obrigada a frete, podia rejeitar nenhum... - «Até estou cansadinha, Bem...» E se despendurava de abraço, flauteira, rebeijando. Rapariga pertencida de todos... Ao ver, àquele negro Iládio, goruguto, medonho... Até o almíscar, ardido, dêsse, devia de estar revertendo por ali, não sendo o que aquela menina gastava em si um rio lindo de bom perfume... Ela tãozinha de bonita, simples delicada, branquinha uma princesa - e aceitando o prêto Iládio, membrudo, franchão, possanço... Ah, êsse cautério! - Soropita se confrangia. ..."
João Guimarães Rosa, in Dão-Lalalão (pgs. 36 e 39).
sexta-feira, 21 de junho de 2013
A par e passo 45
Uma revolução faz em dois dias a obra de cem anos, e perde em dois anos as obras de cinco séculos.
É preciso marcar passo em seguida, e até mesmo fazer pior, para tudo se adaptar à nova curva da evolução.
Uma revolução é o resultado da sensação de lentidão de uma evolução. Se as coisas aceleram rapidamente, não há revolução.
Paul Valéry, in Tel Quel II (pgs. 251/2).
Uma adenda ao poste de Rex Whistler
A representação iconográfica, no poste sobre Rex Whistler (1905-1944) não incluia nenhum exemplo da actividade do pintor inglês como ilustrador de livros, arte em que foi notável o seu contributo. Por isso, esta adenda pictórica, que faz capa do TLS, no seu penúltimo número (5749). Deixo assim esta Little Miss Muffet, de Rex Whistler, para dar os bons dias às visitas do Blogue, muito especialmente a MR, que gostou das obras do Pintor.
quinta-feira, 20 de junho de 2013
Comic Relief (69)
Agradecimentos cordiais a AVP.
Pinacoteca Pessoal 53 : Rex Whistler
Vida curta, obra de cariz conservador, arredia e inclassificável nas escolas de vanguarda da sua época, o legado artístico do pintor inglês Reginald John "Rex" Whistler (1905-1944) abrange desde a ilustração de livros a cenários para teatro, de murais interiores de palacetes a retratos notáveis, como o de Cecil Beaton.
Carreira promissora, pematuramente, interrompida com a sua morte na invasão da Normandia, em 16 de Julho de 1944. Na primeira pintura, em imagem, o seu auto-retrato, executado em 1924.
Antonio Espina (Madrid, 1894-1972)
Raro mistério insolúvel.
Último fim do saber.
A luz ignora que luz.
A água não tem viver.
E no fundo do espírito
nosso ser
ignora o ser.
Estilo, segundo Cocteau
"Julgamos que o estilo é uma maneira complicada de dizer coisas simples, quando, na verdade, é uma forma simples de dizer coisas complicadas."
Jean Cocteau (1891-1963).
quarta-feira, 19 de junho de 2013
Osmose (44)
Encontros e palavras há, que calam mais fundo.
No tempo, e depois, ficam a meias águas, abandonadas às correntes: ora sobem um pouco, ora vão descendo, suavemente, até às areias mais profundas da memória. Invisíveis parecem e, sem darmos por elas, regressam, às vezes, à tona das águas limpas. E brilham, rejuvenescidas e certeiras, na alegria do sol.
Alguns títulos da Província
Por justificadas razões de proximidade, sempre os Municípios estiveram mais perto da realidade social, cultural e política dos seus cidadãos, do que, ao longo da História portuguesa, os sucessivos governos que ocuparam o Terreiro do Paço.
De uma forma quase anónima, a nível de expressão nacional, a Província ainda mexe, apesar dos condicionalismos e apertos orçamentais, que raramente permitem exorbitar muito para além das festas tradicionais que já existiam.
Pergunto-me, às vezes, se o presente Governo teria necessidade de manter a ficção de uma Secretaria da Cultura que, como dizia Almada, "se manifesta em não se manifestar". O seu tom mate, ou escuro de penumbra, que talvez se quadre bem com o presente e pequenino ocupante do Palácio da Ajuda, não justifica a sua existência. Ao menos, que tivessem a coragem de "acabar de vez com a Cultura", passando do romantismo da hipocrisia ao realismo e "nudez da verdade" crua.
No entretanto, autárquicos, há pequenos oásis ou pequenos sítios onde a Cultura e a preocupação social ainda ocupa espaço e lugar. Deixo em imagem, e da região outrabandista, alguns sinais.
terça-feira, 18 de junho de 2013
Citações CXLII
William Shakespeare, in King Henry IV (II), III, 95.
Considerações subjectivas sobre o jornal que leio, desde a sua criação
Na sua ânsia salvífica de agradar a todos, a presente e actual Direcção do jornal Público tem-se preocupado, sobretudo na última página e talvez excessivamente, na distribuição equitativa e ideológica dos três cronistas que, semanalmente e dia após dia, lhe encerram as páginas. Do ponto de vista da justiça democrática, talvez seja um esforço meritório. Assim, e numa observação pessoal e simplista, temos, na última página, às segundas e quartas-feiras, a esquerda representada pelas crónicas de Rui Tavares; às terças e quintas, até há pouco tempo, escrevia Pedro Lomba que, entretanto, de direita e jurista, passou a integrar o Governo, desde a última remodelação. Finalmente, às sextas, sábados e domingos é a orgia total, o sósia ou clone historiador de Medina Carreira, o celebérrimo e provocante anarquista, que dá pelo nome artístico de Vasco Pulido Valente, alaga a última página, de vinagre e azia.
Mas a Direcção do jornal é de tal maneira sensível que, tendo Pedro Lomba ingressado no Governo, tentou arranjar um justo substituto. Pelo menos, em imagem, não foi feliz. Porque Pedro Lomba, na fotografia, tinha um porte fino e distinto - parecia elegante, e não escrevia mal. O seu sucessor, e novo cronista, não tem lá grande aspecto: é um sujeito mal-encarado, que parece bisonho, usa uns óculos foleiros, é bochechudo, e nem sequer faz a barba todos os dias. Para a Direita, não deve cumprir, esteticamente. E é tão agradável de ver quanto o Mário Nogueira, do Sindicato dos Professores, muito embora nos dias que correm, sejam úteis homens de barba rija para lutar contra as iniquidades deste Governo.
Uma estrela que faltava
Relativamente ao último "post" de APS sobre os produtos nacionais, faltou o azulejo da "estrelinha", infelizmente partido como se pode ver na imagem.
Estava escondido, algures numa "casinha de bonecas". Mas aqui está para completar a mostra anterior e fazer par com as florinhas.
Post de HMJ, dedicado a MR, que gostou das florinhas, e Maria A. pelo esclarecimento
Simbologia, cartas de jogar e heráldica (pela rama)
Antes de mais convém dizer, em abono da verdade, que nada percebo de heráldica (penitencio-me antecipadamente de alguma incorrecção), mas sempre gostei de jogar cartas - a Sueca, o King e o Poker eram os meus favoritos. Por outro lado, a simbologia sempre me interessou e, sobretudo, a sua evolução através dos tempos, na personificação actualizada dos próprios símbolos e no seu alargamento de espaço e significado, maleável e adaptado.
Do folhear de um livro, tese de licenciatura de Francisco de Simas Alves de Azevedo (Uma Interpretação Histórico-Cultural do Livro do Armeiro-Mor, 1966, Lisboa), rico em informações, veio-me o saber que os armoriais, normalmente, se iniciavam pela iconografia dos chamados "Nove da Fama" (Josué, o rei David, Judas Macabeu, Alexandre Magno, Heitor, Júlio César, o rei Artur, o imperador Carlos Magno e Godofredo de Bulhões), com os seus respectivos atributos (brasões, bandeiras e outros símbolos identificativos). No final do séc. XIV, juntou-se-lhes Bertrand du Guesclin, passando a ser os "Dez da Fama".
Desta simbologia religiosa e aristocrática, em Portugal, veio a seguir-se uma heráldica das corporações e ofícios de que, talvez um dos mais curiosos exemplos, seja o das siglas das famílias, nos barcos dos pescadores da Póvoa de Varzim, que A. Santos Graça abordou no seu estudo "O Poveiro". Mas não foi só por aqui, pelas corporações, que as personagens "da Fama" tiveram influência e continuidade. Também nas cartas de jogar, os Reis e os Valetes (embora só 8) são inspirados neles.
E como a simbologia se move, alarga e adapta, deixo em imagens, essa representação de reis e valetes de um baralho de cartas de jogar, da segunda metade do séc. XX. Aqui, os homens "da Fama" são ruanos e proletários, laicos tipos regionais das províncias portuguesas. Um longo caminho percorrido, sem dúvida.
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Filatelia LXVII : os mal amados
Há umas estampilhas, normalmente pouco atraentes, a que os coleccionadores em início de carreira dão pouca importância. Os ingleses, apropriadamente, chamam a estes selos os back of the book porque, nos álbuns e catálogos, só costumam aparecer nas últimas páginas. Apenas a Alemanha, que eu me lembre, os vai integrando, cronologicamente, no corpo principal da colecção.
Em Portugal, são selos que foram usados, por exemplo, no envio do correio de instituições como a Cruz Vermelha, a Associação dos Atiradores Civis ou a Sociedade de Geografia que, com o correr dos anos, perderam essa benesse ou direito. Havia também estampilhas próprias para Encomendas Postais ou Correio Oficial (do Governo) que também deixaram de existir. Episodicamente, emitiram-se selos para apoio de Assistência a Pobres, para ajuda financeira à construcção do monumento ao Marquês de Pombal, ou, em 1913, para financiar as Festas de Lisboa (vão os 2 selos nas imagens).
Todos estes selos sempre despertaram pouco interesse junto dos filatelistas que, só quando a colecção já vai avançada, é que lhes dedicam alguma atenção. Por outro lado, e embora tenham vários erros (impressão, sobrecargas, etc.), raramente são objecto de estudo. E, hoje, apenas os selos de Multa (Porteado) continuam a existir. Para autuar e penalizar envios de correio com taxa insuficiente, por descuido do remetente ou pequena tentativa de fraude menor...
Produtos Nacionais 12 : os azulejos portugueses
De tanto os vermos, mal damos por eles, normalmente. Mas ainda estou para ver o primeiro estrangeiro que não admire ou não goste dos azulejos nacionais. E, quando vão ao Museu da Madre Deus, ficam, quase sempre, maravilhados.
Não teremos sido os primeiros a fazer azulejaria, mas demos-lhe, sobretudo a partir do séc. XVIII, um cunho muito pessoal que os distingue de todos os outros, que se fabricam noutros países.
Se tiveram início (?) no Egipto, foram os árabes que trouxeram a sua técnica para a Península Ibérica. Os portugueses fizeram o resto. E até os levaram para o Brasil. E, nos tempos mais recentes, há que citar como altos artífices: Jorge Barradas, Maria Keil, Almada, Carlos Botelho...
domingo, 16 de junho de 2013
Apontamentos 15: Fraternidade científica
O vídeo serve para recordar o incêndio que ocorreu, em 2004, numa biblioteca especializada em literatura e cultura, de um período multifacetado de 1800, a chamada "Herzogin Anna Amalia Bibliothek (HAAB)", de Weimar.
Lembro-me, perfeitamente, do enorme empenho da "sociedade civil" logo a seguir ao incêndio no sentido de contribuir, humana e financeiramente, para a recuperação do edifício e do espólio ardido.
E como há "males que vêm por bem", parece que houve também muitas contribuições que permitiram aperfeiçoar, do ponto de vista científico e técnico, todo o processo de recuperação dos livros afectados, prevendo-se a conclusão da intervenção para o ano de 2015.
De uma última iniciativa tive conhecimento através de um artigo publicado no "Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ)", enviado através de Coblença, de que se reproduzem as seguintes imagens:
Sucede que a Biblioteca de Anna Amalia (HAAB) digitalizou todas as obras em fase de restauro, colocando-as na sua página electrónica e solicitando, à sociedade civil e científica, a colaboração na identificação de exemplares truncados e "comidos" pelas chamas. O artigo do referido jornal permitiu, entre Maio e Junho do presente ano, a atribuição de 19 de 25 obras publicitadas e que, pelos danos causados, tinham perdido as partes mais importantes para a sua identificação, a saber, a portada e o cólofon, sobrevivendo, apenas, uma parte do miolo das edições.
Pois, não é apenas o ser humano que se reconhece pelo rosto ou "frontispício".
Post de HMJ
Ironias
Das últimas 100 visitas ao Arpose, 31 eram originárias do Google (Mountain View), que gastou nisto mais de 2 horas. O cego, mas vigilante irmanzão viu, registou, absorveu desde a mais útil receita para uma compota de pêssego ao dito espirituoso mais inocente, do poema mais lírico à frase mais assassina, da foto singular ao menos clássico quadro de pintor desconhecido. Das reticências à pequenina vírgula - é, realmente, um obsessivo, voraz e autêntico peixe-limpa-fundos!
Mas, entretanto, quando eu abro o computador, por baixo do rectângulo onde devo introduzir o nome do blogue para aceder ao Arpose, vem este singular slogan: "Security and privacy are not optional. Stand with a broad coalition to demand that the NSA stop watching us: stop watching.us." Isto, depois que Edward Snowden deu com a língua nos dentes...
Já parece o Luis Filipe Menezes, que baniu a sigla do seu partido (PSD) de todos os outdoors, encartes de propaganda e folhetos que publicitam a sua candidatura à Câmara do Porto. São uns cómicos...
Mas isto já vem de longe, na natureza hipócrita e humana: já Pedro tinha renegado Cristo, por três vezes, antes que o galo cantasse. Diz a Bíblia.