Nascido na Hungria, em 1811, Franz Liszt veio a morrer em Bayreuth, a 31 de Julho de 1886.
terça-feira, 31 de julho de 2012
Franz Liszt / Jorge Bolet
Nascido na Hungria, em 1811, Franz Liszt veio a morrer em Bayreuth, a 31 de Julho de 1886.
A distracção de Álvaro 2
Devido a mais uma falha de "serviço mínimo" não prestado pelo Metro de Lisboa, apresentei não uma, mas três reclamações em dias seguidos. Passado uma semana, recebi de resposta o seguinte "naco de prosa" que não resisto de partilhar com os leitores, muitos deles diariamente lesados:
"Recebemos o e-mail que nos enviou relativo às escadas
mecânicas que se encontram fora de
serviço.
O Metropolitano de Lisboa tem de assegurar a máxima
operacionalidade funcional de qualquer equipamento, designadamente das escadas
mecânicas observando sempre os devidos requisitos de segurança. Sempre que é
reportada qualquer anomalia as escadas mecânicas são imediatamente colocados
fora de serviço para verificação e reparação.
Assim sucedeu no caso que refere relativo às escadas
mecânicas da Baixa Chiado.
Não podendo a sua reparação ser assegurada por meios
internos, foi necessário recorrer, para o efeito a empresas especializadas. A
contratualização destes serviços obedece, todavia, a condicionalismos legais
próprios que, tendo em conta os montantes envolvidos, passam pela realização de
concursos públicos.
O concurso em causa foi lançado, encontrando-se a decorrer
os seus termos, estando a empresa a fazer os possíveis para que, tendo em
consideração o largo período de tempo em que os nossos cliente se têm visto
privados destes equipamentos, a respectiva conclusão com a adjudicação e o
início dos trabalhos ocorra com a maior brevidade possível,
Até lá resta-nos mais uma vez apelar à compreensão dos
nossos clientes, apresentando o devido pedido de desculpas pelos incómodos
causados.
Com os melhores cumprimentos"
De facto, o nosso Álvaro ando muito distraído, ocupado com o "Código do Trabalho", esqueceu-se de "modernizar" as empresas, sobretudo aquelas sob alçada e alimentadas com dinheiros públicos. Fica uma sugestão: e se ele pedisse à PT que, em vez da barulheira nos corredores do Metro, desse um "jeitinho" para empregar o dinheiro naquilo que é essencial ? Porque a "gente" pede pão e detesta caviar !
Post de HMJ
Da janela do aposento 14: Lições da História
A imagem acima reproduzida foi retirada de um artigo esclarecedor sobre o dia 31 de Julho de 1932, publicado, hoje, no jornal DIE ZEIT. Nesse dia, precisamente há 80 anos, os alemães votaram, maioritariamente, o NSDAP, ou seja, o partido de Hitler. Como esclarece o artigo, o povo alemão não votou na democracia, dando 37,3% dos votos ao NSDAP e 21,6% ao SPD, entre outros. Em algumas localidades, como Rotenburgo, a direita sanguinária alcançou 75,7% dos votos.
A imagem em epígrafe representa a corrida dos alemães aos depósitos bancários, em Julho de 1931, e faz recordar episódio recentes.
Nos comentários ao artigo do DIE ZEIT houve quem se lembrasse das medidas draconianas de reparação, estabelecidas pelo Tratado de Versalhes, em virtude da responsabilidade alemã no eclodir da 1ª Guerra Mundial. Embora com as devidas diferenças, as imagens e as circunstâncias sugerem semelhanças preocupantes.
Desse dia 31.7.1932, a melhor lição da História que alguns estadistas, no passado, aprenderam foi a ideia de uma Europa de paz e de democracia.
Post de HMJ
Depois da entrevista de António Costa...
Diz o bom malandro: "- O seguro morreu de velho."
Contraria o mau malandro: "- Mas não chega até lá!"
"- A ver vamos..." - diz o cego.
De Auden : Epitaph on a Tyrant
Perfeição, de algum modo, era o que ele buscava,
E a poesia que inventava era fácil de entender;
Conhecia a loucura humana como as costas da sua mão,
E interessava-se muito por exércitos e flotilhas;
Quando ria, respeitáveis senadores rompiam em gargalhadas,
E quando ele chorava pequenas crianças morriam pelas ruas.
Janeiro 1939
segunda-feira, 30 de julho de 2012
Bibliofilia 67 : Cruz e Silva - Odes Pindáricas
Nunca é demais repetir, até porque nunca percebi as razões, que, em livros antigos, há preços "à moda do Porto" e preços à moda de Lisboa - já Camilo, bibliófilo apaixonado, no séc. XIX, vinha do Norte à Capital, de propósito, para comprar alfarrábios. E, de uma forma geral, no séc. XXI, a situação mantém-se. Mas, agora, por uma questão de justiça, tenho que abrir uma nova alínea: os preços "à moda dos americanos"... Se não, veja-se esta fotocópia, em imagem, de um catálogo de Abril de 2012 (Special List 165) difundido por um conhecido alfarrabista português que vende, sobretudo, para as Américas. São, no mínimo, o que se pode chamar: preços milionários.
António Diniz da Cruz e Silva (1731-1799) que, na Arcádia Lusitana, tomou o nome de Elpino Nonacriense, é um poeta muito estimado por mim. As suas "Odes Pindáricas", na sua primeira edição (Coimbra, 1801), não são livro raro, e aparecem com alguma frequência em leilões, ou à venda em alfarrabistas de Portugal. O meu exemplar, de que se reproduz o frontispício, custou-me, no final dos anos 70, em Lisboa, Esc. 50$00 (cerca de 0,25 euros, em moeda actual). Tem pequenos defeitos nas páginas 241/2 e 257/8. Fora isso, está em bom estado e encadernado em carneira.
Quem será o cego e desafortunado americano que o irá comprar por 5.000 dólares? Não lhe gabo a sorte...
Retratos (7) : Maria de Lourdes
Ali estava ela, à minha frente, muito bem arranjada, de casaco de peles (era Janeiro), para a entrevista. Tinha prática do ramo, mas o emprego e o ordenado eram modestos para o aspecto que ela tinha - achei eu. E não lhe dei grandes esperanças. Dir-se-ia, hoje, que tinha "habilitações" excessivas para o lugar...
Mas aquela trintona, muito fresca, entre ingénua e sabida, deixou-me a ruminar. Falei nela ao Engenheiro: "...uma planturosa, de peles..." E ele: "E porque não experimenta? Não temos nada a perder."
Assim foi. Ainda para mais ela era do mesmo signo astrológico e decanato da Marilyn. E não me arrependi. A Lourdes era apenas um pouco desorganizada, frágil quando havia pressão, mas sobrava-lhe simpatia, era carismática e logo fez clientes fiéis, que lá iam só para a ver e falar com ela. Destoava, pela positiva, em suma.
Soube depois que não precisava de trabalhar: vivia com um Senhor, bastante mais velho e rico, numa vivenda da Praia das Maçãs. Mas Lourdes queria um mínimo de independência, mesmo que fosse só para os alfinetes. E, para minha surpresa, vinha diariamente de carro e motorista. Ficou quase 3 anos na empresa.
Quando se despediu, deixou saudades a todos, e nunca ninguém a esqueceu. Fez, depois, sociedade com um antigo colega, mas o negócio correu mal...
Encontrei-a, por acaso, um dia na Baixa. Estava na mesma, simpática, o sorriso maroto e, ao mesmo tempo, não perdera a candura adolescente. Lembrei-me do casaco de peles.
Nunca mais a vi, nem soube mais dela. Disseram-me que tinha emigrado para a Suiça.
domingo, 29 de julho de 2012
John Le Carré
Creio que um livro bem escrito resiste, quase sempre, a uma tradução, desde que honesta, mesmo que não seja mimética, nem muito genial.
Acho que nunca tinha lido este livro (O espião que saiu do frio, Minerva, 1973) de John Le Carré (1931). Mas vi o filme, de 1965, com Richard Burton e Claire Bloom, e gostei muito.
A obra, The spy who came in from the cold, que Graham Greene elogiou, entusiasticamente, teve o prémio Somerset Maugham e é um belíssimo livro da temática de espionagem, no tempo da Guerra Fria. John Le Carré que, por breve espaço, foi também espião, sabia do que falava. A atmosfera que consegue criar e transmitir, a descrição que faz destes homens sem alma, secos e estruturados na sua própria solidão, faz desta obra, de grande qualidade literária, um belo romance.
Incursões Culinárias 17: Sobremesa "fina"
Inesperadamente, como sempre, apareceram-nos estas pêras, vindas de uma quintinha perto de Constância. O aspecto rústico e de frescura vai enchendo o olho. E o que fazer com tanta pêra antes que se estraguem ?
Encontrei uma receita de "pêras bragantinas" e achei que o almoço de Domingo merecia uma sobremesa. E, assim, ficaram as pêras depois de assadas no forno, com recheio de geleia de limão, um pouco de água, vinho da Madeira e um pouco de manteiga.
Quem provou, aprovou e apelidou de sobremesa "fina".
Post de HMJ
Post de HMJ
Desumanidades
Os números vêm na crónica de Fr. Bento Domingues, no jornal Público de hoje. São tão impressionantes e desmesurados que não carecem de comentário. Aí vão, na sua desumanidade:
a) "As três pessoas mais ricas do mundo possuem activos superiores a toda a riqueza dos 48 países mais pobres, onde vivem 600 milhões de pessoas;"
b) "257 pessoas sozinhas acumulam mais riqueza do que 3 biliões de pessoas, o que equivale a 45% da humanidade."
c) "No Brasil, cerca de cinco mil famílias possuem 46% da riqueza nacional."
P.S.: e há mais...A crónica merece ser lida, integralmente.
Regionalismos minhotos (19)
Mais 6 regionalismos da província do Minho, começados pela letra M, e retirados de "Vocabulário Minhoto II", de M. Boaventura. A foto, de Guimarães, foi tirada por H. N., a quem agradeço, cordialmente.
Seguem os vocábulos regionais:
2. Mondrulho - mulher gorda e mal vestida.
3. Morcar - dormitar.
4. Mormaço - chuva miúda; calor abafadiço.
5. Mousar - chover miúdo.
6. Mujeiro - aquele que fala por entre os dentes.
sábado, 28 de julho de 2012
Um soneto ao Visconde
Dos mais antigos primeiros-ministros de Portugal, lembro-me de muito poucos: Castelo-Melhor, Pombal... Porque a fama é breve e a memória, curta. Mas, às vezes, por uma mera circunstância acidental, ficamos a saber um nome, até ali desconhecido. Até há pouco, eu não sabia nada de Tomás Xavier de Lima Teles da Silva (1727-1800), não fora um soneto satírico de um anónimo poeta do séc. XVIII, que li hoje. Aquele senhor foi 14º Visconde de Vila Nova da Cerveira, exerceu o cargo de primeiro-ministro de 1 de Abril de 1786 a 15 de Dezembro de 1788, e sofria de estrabismo. Parece que não gozava de grande popularidade e um poeta desconhecido retratou-o, em palavras cruas, assim:
Os olhos vesgos, a cabeça torta,
Mil trejeitos fazendo a cada instante,
Por entre as partes cavaleiro andante
Dando a todos respostas d'Inês d'Horta;
Sempre em ar de parlenga, môsca morta
Que não vae para traz nem para diante,
Sabio nos ossos, mas enfim pedante,
Tão rombo como faca que não corta;
Com as contas na mão, missa e mais missa,
Joelho em terra a cada relicário,
Mas caíndo a pedaços de preguiça;
Este é um dos do nosso calendário,
Que os despachos do Reino nos enguiça,
Este o torto Visconde Secretário.
Entre Cila e Caríbdes
Entre o dossiê bem interessante do "Obs." desta semana, sobre a felicidade, e uma das crónicas mais pessimistas, que li até hoje, de Pacheco Pereira, no jornal Público, de sábado, o meu pensar balança...
É evidente que há, nos dois temas, uma diferença de tomo: é de dois países diferentes que se fala e escreve - França e Portugal. Mas se virmos um terceiro, como a Inglaterra, com as manifestações pela abertura dos Olímpicos, poderemos observar aquela sociedade sempre em festa, com multímodas boas almas populares gritando descontroladamente e regurgitando de "felicidade"... E já vão três mundos!
Tudo será uma questão de perspectiva, de cultura, de capacidade racional, maior ou menor. Pacheco Pereira diz-nos, em resumo, que, depois da silly season, lá para Setembro/Outubro, acordaremos todos (nós, portugueses) encostados à parede, constatando que não há futuro. O "Obs.", por entre Epicuro, Séneca, Leibniz, Bataille...tenta encontrá-lo. E, com ele, a felicidade. Não é coisa pouca, e, muito menos, fácil.
Porque, aqui pela terrinha, a questão para muita gente, na maior parte dos casos, é: como sobreviver com alguma dignidade ainda? Ou à boleia de Nietzshe ("Obs." dixit): "Há uma grande insónia, de ruminação, de sentido histórico que alimenta o ser humano e acaba por o aniquilar."
Idiotismos 3
Se a palavra "pingarelho", só por si, raramente se usa, já a expressão armar ao pingarelho é frequente. Socorrendo-me de Alexandre de Carvalho Costa e da sua obra (Gente de Portugal...), anteriormente referida, "pingarelho" é um pequeno pau utilizado para montar armadilhas, ou qualquer coisa pouco segura e prestes a cair. Houaiss, no seu dicionário, não o regista, pura e simplesmente.
Se a frase idiomática armar ao pingarelho, para mim, significava "fazer-se de fino" ou de importante, sendo embora pelintra ou um zé-ninguém, Carvalho Costa refere outras achegas. Com base no verbo pingar, e aludindo a expressões castelhanas, acrescenta o uso aplicado a porcos alimentados a bolota que pinga dos sobreiros e azinheiras, e que as procuram pelo chão. Neste caso, portanto, armar ao pingarelho teria um significado muito mais pejorativo. Seja.
sexta-feira, 27 de julho de 2012
A par e passo 4
...Poucas amizades completas. Raramente se é amigo na totalidade. É por isso que acontece termos vários amigos e de espécies muito diferentes. Ele tem tantos amigos quantas as pessoas que tem nele.
...
Não existe alguém capaz de amar outro ser tal como ele é. Pedem-se modificações, porque não se ama senão um fantasma. O que é real não pode ser desejado, porque é real. Eu adoro-te...mas esse nariz, mas esse hábito que tu tens.
...
O que nós vemos muito nitidamente, e que muitas vezes é difícil de exprimir, merece a pena que nos obriguemos a exprimi-lo.
Paul Valéry, in Tel Quel (pgs. 51, 55, 60).
Transmigrações improváveis
O homem sentou-se na mesa em frente, vi-o, e de imediato me senti transportado ao séc. XV, para o painel da Relíquia, do tríptico de Nuno Gonçalves. O mesmo enorme nariz, mais abatatado, na ponta, as grandes orelhas de abanador, que a ausência de chapéu acentuavam, os mesmos olhos fixos, bogalhudos. Uma expressão semelhante, apenas mais seco de carnes e, talvez, menos ilustrado. Mas mais activo, porque sacudia, com irritação e vigor, as moscas importunas e selvagens, que o rondavam, naquele restaurante modesto, à beira da estrada.
É bem possível que os genes matriciais e os traços fisionómicos se tenham perpetuado na espécie e atravessado cinco séculos, com pequenas alterações de pormenor, e sangues. Podia bem ser irmão do retratado por Nuno Gonçalves.
Comeu sardinhas assadas, como eu, aliás. Mas devia estar sequioso: depois do jarrinho de tinto, de meio litro, pediu mais outro, igual. Comeu sozinho e silencioso. E não trazia livro nenhum.
Filatelia LI : temática olímpica
Para destacar o início dos Jogos Olímpicos de Londres/ 2012, aqui fica, em imagem, a emissão portuguesa comemorativa dos Jogos Olímpicos de Tóquio/ 1964; e ainda a série inglesa, alusiva ao mesmo tema, de 1996, dos Jogos, em Atlanta (E.U.A.).
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Da janela do aposento 13: Seria cómico, se não fosse trágico
Não obstante a convicção de que o
distanciamento temporal poderá – aliado ao desejo de sobrevivência sã – apagar,
lentamente, memórias funestas, a criatura confronta-se, frequentemente, com os
velhos fantasmas, quer através de uma conversa elevada entre amigos, quer por
efeito de um dos raros artigos de opinião que se tem publicado na imprensa. Li
o excelente artigo de António Guerreiro, publicado na versão electrónica do Expresso com data de 23.7.2012 (?), e
resolvi “pronunciar-me”.
Sobre o “adestramento” de
professores e alunos para os exames, a enorme “industria editorial” que gravita
à volta desta máquina infernal de trabalhar – em vão – para a menorização da
inteligência em prol da estatística, o assassinato da subjectividade,
insubstituível, da literatura a favor de uma pretensa objectividade do
“avaliacionismo” – A. Guerreiro dixit
– nada acrescentarei. Recomendo, apenas, a leitura do artigo citado.
Aproveitando o título do artigo
de A. Guerreio, diria, como na epígrafe, que a “comédia de rigor” se revela,
mesmo à distância, mais trágica e sinistra do que parece.
O docente, “vilipendiado” e
amputado, administrativamente, da sua liberdade de pensamento próprio não
conseguirá, em consciência, atingir o seu objectivo, i.e., contribuir para o
desenvolvimento de um “pensamento crítico” que a escola deveria privilegiar.
O assassinato da leitura e da
literatura, a pretexto da objectividade, elimina o desenvolvimento da escrita,
substituindo-as por uma memorização de “chavões” metalinguísticas que perturbam
pela sua “incoerência, o desajuste e a inapropriação”.
Assim, o país empobrece, de uma
forma silenciosa, e a Europa vai formando uma geração de acéfalos para o
cumprimento de desígnios ainda pouco definidos. O trágico do artigo de A.
Guerreiro não se poderá confundir com o sentido último da Tragédia Clássica. A
Tragédia grega, como a literatura, alimentavam-se da nobreza de espírito, do
pensamento próprio e do ensinamento. Pelo contrário, uma má tragédia e uma péssima
encenação não contribuirão para a elevação do público.
Felizmente “posta em sossego”,
consegui ser “promovida a restauradora Olex” com extremo orgulho, proveito e
gosto.
Post de HMJ
Curiosidades 57
Um estudo recente, que data de há poucos anos (o facto já aqui foi referido), concluiu que o adolescente médio americano tem um conciso vocabulário que não vai muito além das 50 palavras. Neste inquérito, não devem ter sido incluídos os grunhidos, naturalmente. ( Como é que estaremos, em Portugal?)
Por outro lado, um livro recente de Mark Pagel (Wired for Culture), citado pelo TLS, refere que, nas pouco mais de 7.000 línguas, com dimensão significativa a nível mundial, há apenas 100 a 200 palavras, e não mais, que conseguem ter correspondências exactas, nestes diversos idiomas. São vocábulos que preenchem as necessidades básicas comuns de todos os seres humanos. Independentemente da geografia particular e cultural de cada povo ou etnia.
Igloo, coco, broa, por exemplo, saem fora deste núcleo duro mundial.
Conversa de tolos
1. Diz a visita:
"emilio de sabregosa isso e uma figura"
O Google indica:
"Revivalismo Ligeiro XXV : Demis Roussos" (poste do Arpose, de 15/9/2010).
2. Pergunta o cibernauta:
"edmar arlindo rode"
O motor de busca encaminha para:
"Direito ao Contraditório: aos meus 4 amigos..." (poste colocado em 30/3/2010).
Obsv.: Voltamos aos Cancioneiros antigos, em que se replicava pelas consoantes...
Coisas de peso
Lembro-me que, na minha já remota juventude, uma das coisas que se aconselhava a quem fosse para a tropa era: tentar passar despercebido e nunca se oferecer, como voluntário, para nada.
Ultimamente, tenho reparado que as publicações estrangeiras, quando falam da crise e dos problemas da zona euro, referem sempre a Grécia, a Espanha, às vezes, a Irlanda e a Itália, mas esquecem, sistematicamente, Portugal. E ainda bem... Porque "andar nas bocas do mundo" só faz aumentar os juros da dívida que vamos pagando aos usurários.
A Alemanha, hoje, chegou-se, uma vez mais, à frente, com 2 notícias de peso:
- nasceu um elefante no Jardim Zoológico de Colónia;
- a agência de ratos Moody's desclassificou a nota de nada menos do que 17 bancos alemães.
Já lá dizia o nosso Camões, para continuarmos em metáfora zoológica: "Perdigão perdeu a pena/ não há mal que lhe não venha..."
Os anos de um Amigo
Aqui vão as meninas e o menino, em roda festiva (embora com caras bisonhas, ou tímidas?), para te cantarem os parabéns. De mim, vai o abraço. (Vai também uma menina a mais...nunca se sabe, e pelo seguro...)
quarta-feira, 25 de julho de 2012
De Alain, quase uma fábula
"Há duas experiências, uma que pesa e outra que aligeira. Como há o caçador feliz e o caçador triste. O caçador triste que falha a lebre e diz: «Lá se foi a minha oportunidade», e logo a seguir: «Estas coisas só me acontecem a mim.» O caçador alegre admira a esperteza da lebre, porque ele bem sabe que não está na vocação da lebre correr para a caçarola. ..."
Alain, in Propos sur le Bonheur (pg. 71).
Um poema de Henry Graham (1930)
1.
Há um pássaro preto de olhos
como a superfície de um lago,
fazendo troça de uma criança triste.
Os olhos da criança têm em si
o céu, as nuvens e largos espaços.
Mas a criança é sempre a última a rir.
2.
Ontem separei uma minhoca em duas
e elas afastaram-se. Esta manhã
quando olhei para fora, vi
uma criança tentando colar
as pontas endiabradas entre si.
terça-feira, 24 de julho de 2012
Comic Relief (52): Ai, que susto
Embora aproveitando uma imagem de uma campanha publicitária alemã, imagino que Angela Merkel deve ter ficado com "o cabelo em pé" ao saber que as agências de ratos também podem atacar os grandes depois de terem devorado os peixes pequenos.
Post de HMJ
Apontamento, para memória futura
Não eram tantos, como na imagem, mas eu nunca os tinha visto, assim outrabandistas, da varanda a leste. Seriam 20h30, a primeira esquadrilha teria uns 15 estorninhos, a segunda, pouco depois, 10 ou 11. Dois minutos depois, a retaguarda do pelotão era composta, apenas, por 3. Finalmente, o lanterna vermelha, a seguir, parecia perdido ou desasado... Iam em direcção ao mar.
A par e passo 3
A glória é uma espécie de doença que se apanha por ter dormido com o pensamento.
...
É preciso amar os seus inimigos.
Eu amo aqueles que me animam, e aqueles que eu animo. Os nossos inimigos animam-nos.
A cada instante, a alma do instante vem-nos do exterior.
...
Olhares.
Os olhares que se cruzam fazem nascer estranhas relações.
Ninguém consegue pensar livremente se os seus olhos não puderem afastar-se do olhar de outros que os seguem.
Desde que os olhares se prendem, deixam com efeito de ser dois, e nasce a dificuldade de ficar sozinho.
Paul Valéry, in Tel Quel (pgs. 38/44/47).
Paul Valéry, in Tel Quel (pgs. 38/44/47).
As declarações de desamor
Este gráfico estatístico, em imagem e bem expressivo, vem no jornal Público, de hoje.
Chamo a atenção que, dos nossos PR's eleitos, depois do 25 de Abril, apenas Ramalho Eanes foi vaiado 2 ou 3 vezes. E na época do PREC - o que explica tudo...
Porque deve ser muito trabalhoso e difícil conseguir ser cabeça de lista.
P. S.: já agora, quem é o Pedro Silva Martins?
P. S.: já agora, quem é o Pedro Silva Martins?
Que se cuidem!...
Lembram-se de quando as iminências pardas (ou parvas) anunciaram, a dada altura, que iam legislar e morigerar os desmandos das Agências de ratos (Rating Agencies)? Claro, nunca mais fizeram nada...
Pois, um dos grupos de ratos (a Moody's) acaba de informar que pôs sobre observação nada menos que a Alemanha, a Holanda e o Luxemburgo. Ou seja, preparam-se para ir ao Gouda...
É o primeiro passo para lhes baixar o rating, obviamente...As cândidas almas dos governantes da Europa do Norte achavam que a questão era só com o Sul. Nunca leram, ou leram mal Bertolt Brecht. Agora, que se cuidem! Ou, in extremis, usem abundantemente raticidas para arrasar esses parasitas miseráveis.
segunda-feira, 23 de julho de 2012
Mercearias Finas 56 : em louvor das cozinheiras
Porque uma boa caldeirada pode, havendo restos, ainda dar um magnífico arroz de peixe, tal como o soro do leite, depois do queijo feito, já só filamentos esbranquiçados, pode vir a ser almece deleitoso; também esse molho rico e sápido, com sabor a mar, pode transformar-se, por inspiradas mãos femininas numa belíssima sopa de peixe, porque...
Não me chega a memória, nem a gratidão para as lembrar: A Maria, pelos seus folhados e pastéis de massa tenra, Mª. da L. pelos arrozes de estrugido apaladado, as costeletas de sardinha espalmada da Dª. M., a tarte de alho francês da M. E., as iscas de fígado de borrego da Dona Helena, os sonhos minhotos da Graça a escorrerem calda quase caramelizada, a encharcada doirada de H. e outras coisas que, como Midas, ela transforma em riqueza (gastronómica). Para não falar dos pudins do Abade de Priscos...
E tantos outros nomes anónimos e sabores que se escondem, tantas vezes, atrás de copas sombrias de restaurantes esquecidos, ou modestos, donde vieram para a minha mesa: perdizes maravilhosas, arroz de grelos verdinhos, vitelas estufadas tão macias que quase se desfaziam; línguas afiambradas num baptizado, em Vila Verde, rabanadas natalícias, leites-cremes rescendendo a limão, tostados a ferro quente, em almoços de domingo.
Não me chegam palavras para pagar as minhas dívidas de gratidão para com essas mãos de trabalho, quase celestiais, nas suas obras-primas.
Os Tempos que passam
Nem todas as visitas do Arpose, eu sei, terão pachorra para ver e ouvir estes 9,50 minutos de pensar inteligente sobre os tempos que vivemos - e é pena... (algumas vêm só para ver imagens sensacionalistas ou atraídas por títulos exóticos e inabituais, e demoram-se, apenas, um ou dois minutos, seguindo a correr para outros...)
Porque se nos depara, por aqui, uma síntese pertinente e lúcida de Eduardo Galeano (1940) e de Jean Ziegler (1934) sobre as grandes questões que nos rodeiam.
Faltam, porventura, os meios e a estratégia a seguir, para as combatermos. Mas já será um passo em frente, importante, darmo-nos conta, racionalmente, dos malefícios deste estado de sítio do Presente.
com grato reconhecimento a AVP.
Flash back : ontem, os veleiros
Os poucos cacilheiros, sobre as águas, circulavam incómodos, em zig-zag, por entre tantas velas enfunadas e silenciosas - lindas.
E se esquecessemos os telhados e o casario, para nos concentrarmos apenas sobre o Tejo, podíamos imaginar facilmente o que teria sido este rio, assim povoado de barcos à vela, do séc. XVI ao XVIII.
Valeu a pena!...
domingo, 22 de julho de 2012
Memória 72 : Mireille Mathieu
Quando esta jovem apareceu a cantar, disseram que seria uma nova Edith Piaf. Não chegou a sê-lo, no entanto.
Mas sempre foi uma voz fresca, agradável e intensa que, aqui acompanha, muito bem, Charles Aznavour.
Essa jovem, Mireille Mathieu, faz hoje 66 anos. Está uma Senhora...
Interlúdio 13
É tão bom ser pequenino
Ter mãe, ter pai, ter avós,
Ter esperança no destino
E ter quem goste de nós.
Nota pessoal: estes "versinhos" de Carlos Conde, que Marceneiro cantava e a que conseguia retirar, pela sua arte e milagrosamente, alguma parte do seu lado de supino quitche, servem para legendar este postal do início do séc.XX.
O postal pela mensagem, no verso, terá sido enviado pela menina Anália, ao seu Avozinho, de que não sabemos o nome, mas teria passado por alguma indisposição, porque a netinha deseja-lhe melhoras.
Divagações pessoais sobre E. Hopper
Há como que um segredo bem guardado em cada uma das pinturas de Edward Hopper, pintor americano, nascido a 22 de Julho de 1882. Segredo que provoca um estranho fascínio e curiosidade, em quem observa os seus quadros. Porque os seus cartazes são certeiros e objectivos. O seu interesse por Freud e o subconsciente talvez ajudem, um pouco, a explicar os seus trabalhos.
Nos quadros, há uma preocupação de centralizar o essencial e raros são os adereços secundários que nos possam distrair. E, o essencial é, para Hopper, verdadeiramente, a figura humana - a ler, esperando na noite, individualizada sempre na sua interioridade ou, se preferirmos, na sua solidão. Mesmo que, por vezes, se encontre integrada em grupo.
Mas, como ele disse: "A resposta inteira está nas telas."
Edward Hopper morreu no seu estúdio de N. Iorque, a 15 de Maio de 1967.
sábado, 21 de julho de 2012
Retro (13): Justiça brasileira em 1833
Aqui fica este caso e sentença brasileiros, sem comentários. A cada um, o seu parecer e veredicto...
com os melhores agradecimentos a AVP.
com os melhores agradecimentos a AVP.
Poema traduzido de Philip Larkin (1922-1985)
Dias
Para que servem os dias?
Os dias são para vivermos neles.
Eles chegam, acordam-nos
Tempo após tempo.
Existem para neles ser feliz:
Onde podemos viver senão nos dias?
Ah, para resolver esta questão
Traz o padre e o médico
Nos seus longos casacos
Correndo por sobre os campos.
O estado de sítio
Que me desculpem a colagem canhestra, que fiz, deste final de um artigo de António Pinto Ribeiro, que vinha no suplemento ípsilon, do jornal Público de ontem. O texto é de grande pertinência e rigor. Por isso, aqui fica.
sexta-feira, 20 de julho de 2012
Música e Poesia XLVII : Patxi Andión (mais uma vez)
Bibliofilia 66 : uma boa surpresa
O livro é excessivamente datado pela capa e contracapa, que contêm fotografias de David Mourão-Ferreira e Vasco da Graça Moura em trajes e cabelos marcados, pelos anos 70. Foi editado em 1978, pela Brasília Editora (Porto), e não é raro, até porque só me custou 4,00 euros, num alfarrabista aonde muito raramente vou. A boa surpresa, só dei por ela em casa. A páginas 73 vem uma dedicatória manuscrita de David - nem eu me apercebi, ao comprar o livro, nem o alfarrabista terá dado por ela. Se tivesse visto, o livro seria um pouco mais caro, de certeza. E aí vai, a jeito de bónus, um epigrama de Mourão-Ferreira, inédito, na altura. Tem por título Permanência:
Cantam em provençal os pássaros de Maio
Mas em grego e latim as cigarras de Julho.
para o António, de um poeta que é de sua Família.
Retrato de Malraux, em palavras
Em Malraux (1901-1976), prefiro "Les voix du silence" a "La condition humaine", ou seja, a sua ficção troco-a, de bom grado, pelos seus pensamentos sobre Arte, em geral. E tive o privilégio de ver, em televisão, vários programas em que ele discreteava sobre temas artísticos. Pesasse embora o facto de ser penoso vê-lo, pelos tiques físicos e esgares faciais que alguma doença nervosa (?) lhe provocou, nos últimos anos de vida.
Por outro lado, e já aqui o disse, aprecio muito os retratos por palavras. Ora, "Le Monde" de 13/7/12, a propósito do sucesso de "Journal 1918-1933", escrito por Hélène Hoppenot (1896-1990), trancreve o retrato que ela fez de André Malraux. E aqui fica, em tradução despreocupada que fiz:
"Magro e pálido, os olhos bugalhudos, cem por cento cerebral. As palavras, as frases, desarrumam-se na sua boca, os seus gestos bruscos transformam-se num fogo de artifício de tiques e a ginástica mental a que nos obriga, para segui-lo, deixa-nos exaustos, como se depois de uma forte gripe."
Os pés e sua linguagem
Os pés são coisa ao fundo, muito útil: fazem-nos chegar ao mundo. Quando afligidos por moléstia ou convalescença pedestre, deixam-nos paralisados, sentados ou deitados - imóveis, em suma. Já soube como era, em 83.
E os calos, deus meu! E os joanetes, que nunca tive!
Mas até podem ter um uso romântico, uma linguagem sibilina, como aqui se mostra, no postal - discretos sob a mesa. Quem nunca os utilizou assim, que atire a primeira pedra!... Aos pés, incansáveis servidores, ao fundo.
com os melhores agradecimentos a A. de A. M. .
quinta-feira, 19 de julho de 2012
Inventário sucinto, à chegada
Dos trinta e três outrabandistas, passei aos 31º capitais - foi só atravessar o rio. Na Ferin, a prosápia continua, embora "humildecida" pela crise, mas a eficácia e presteza não melhorou. Mas há muita genealogia iluminada, que terá os seus fanáticos sonhadores fiéis, e clientes certos. O passado vende sempre, ou quase. Não auguro (pena minha!...) grande futuro às centenas de livros franceses das estantes, ainda para mais com a FNAC, ali à beira. Como dizem, em linguagem informática, era avisado haver um "redireccionamento" pragmático e realista. Mas quem sou eu, para dar conselhos numa Livraria mais que centenária? E cheia de pergaminhos...
No coração de Lisboa, meia hora depois, compro a ração de tabaco e o " Obs." de hoje, ao som dos bonifrates que a PT paga ao Metropolitano, na estação Baixa-Chiado, para animar a malta. Se não há dinheiro para consertar as escadas rolantes, como poderia haver para pôr os saltimbancos no túnel, a "teatralizar" aos gritos e a dar porrada um no outro, enquanto duas crianças pasmadas olhavam para os bonecos ? Sejamos justos, papas e bolos... Quanto ao conserto das escadas, népia! Assim seja.
Na rua, e depois de sair do Multibanco, vejo, ao longe, H. N.. Acenei-lhe, e comecei de novo a sentir-me em casa.
Degas
De uma família da alta burguesia, Edgar Degas nasceu em Paris, a 19 de Julho de 1834, e aí veio a falecer em 1917. Talvez pelas origens, não foi, seguramente, um inovador, mas acompanhou, num classicismo actualizado, os seus pares do Impressionismo. Mas há, também, uma elegância estética em toda a sua obra. Colorista que acompanhava o traço, como ele disse por palavras próprias, tinha uma personalidade forte, embora fosse discreto e alguns contemporâneos o considerassem misantropo. O movimento é uma das suas marcas de água, sublinhado pelo traço dos seus desenhos.
O canónico seria, talvez, eu usar, nesta memória do seu aniversário, um quadro onde houvesse bailarinas... Mas como também gosto de cavalos, pelo seu nobre porte e elegância estética, preferi este desenho e esta tela, onde aparecem. É óbvio que aprecio muito a pintura de Degas.
O comer dos jerónimos
A minha ideia, de algum modo, era que, salvo em períodos (breves) de dura e pura ortodoxia e rigor, os religiosos não se tratavam mal, em matéria de comida e bebida. Mercê das prebendas e, às vezes, do cultivo das hortas, comia-se bem, para não dizer lautamente, nos conventos e paróquias de Portugal.
Em abono do facto, fui encontrar, improvavelmente, numa monografia (Belém e arredores através dos tempos, de José Dias Sanches, 1940), uns versinhos curiosos de Frei Simão de Santa Catarina, frade jerónimo, descrevendo uma ágape, no Convento dos Jerónimos, em pleno séc. XVIII. Aqui vai um excerto:
"Cobria o cuvilhete
um papel retalhado com acerto
que inda que pequenete
como grande queria estar coberto.
Na marmelada vinha, guaposito,
guarnecido de flores um palito.
Em cada assento havia:
garfo, faca, colher e guardanapo,
dois pães, com bizarria.
Melancia excelente, melão guapo,
figos, uvas, limões, pecegos, peras
sem graça, o cesto enchiam, muideveras.
A ilharga da salceira
um bom tassenho de presunto havia
tão magro e tão lazeira
que a mim me pareceu ser porcaria
também tinha azeitonas e alguém disse
que foram de Elvas.
Foi primeiro prato uma tijela
Cheia em demasia
de caldo de galinha com canela
que da galinha trouxe a propriedade
porque o caldo tinha ovo na verdade.
Foi o segundo prato
Uma bem feita sôpa à portuguesa
que dava de barato
Ofilis e o primor que há na francesa
..."