Livrinhos 4


Mais uma vez, aproveitando uma ideia de MR, no Prosimetron, lembrei-me também dos meus "livrinhos".
Não fossem as recentes arrumações de livros, estes pequenos "tesouros" permaneciam, esquecidos, num lugar pouco nobre. Ganharam uma nova vida na cidade e, até, uma publicidade inesperada.

Post de HMJ
Para MR, obviamente

Mercearias Finas 46 : almoço de fim de ano


O meu amigo H. N., quando vem, deixa sempre largos vestígios da sua enorme generosidade aquariana. Por isso, eu tinha quase a certeza que ainda havia, nas gavetas por baixo dos Cd's, alguma caixa de elegantes e esguias cigarrilhas Cohiba. Havia: com 3 exemplares sobrantes; e ficaram 2.
Porque depois de um polvo guisado "à açoreana" que se desfazia como pudim flan, e um nobre Encruzado da Quinta de Cabriz, branco na sua singeleza aristocrática, só o tabaco ilhéu de Cuba, estaria à altura deste último almoço de 2011. Pelo meio, a memória convocou o capitão Nemo, de Júlio Verne, e os Beatles...
Aéreas mercadorias espirituais cruzadas com o aroma e fumo da Cohiba, pelo ar.
Pouco antes, os mexidos à Minhota, enriquecidos de bom mel, pinhão, passas e 4 ou 5 gotas de Madeira, celestiais no seu todo, convidaram, depois do café (60% robusta/ 40% arábica) a uma Aguardente velha S. João, Reserva, nos seus 40º macios e apaziguadores.
Por isso, a cigarrilha Cohiba era apenas o elo que faltava, o remate, a chave de ouro. Obrigado, H. N., e um bom ano de 2012! 

Boas entradas para 2012, a Todos!


Embora as perspectivas não sejam as melhores, que haja saúde e alguma alegria!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Sombrios e luminosos


"Antes da queda do Muro, houve um período muito extraordinário em que todos os artistas e escritores, num clima de semi-ditadura, se dirigiam aos espectadores ou aos leitores que sabiam perfeitamente compreender e ler nas entrelinhas. Tudo encontrava um eco. Nessa época, a cultura desempenhava um papel social essencial. O que já não existe mais hoje na nossa sociedade de liberdade. Nós escreviamos numa zona que se situava entre o que era autorizado e o que era interdito. Chamávamos-lhe a «zona cinzenta». Os tempos da dissidência eram simultaneamente sombrios e luminosos. Até mesmo  os anos mais negros, os da prisão, me enriqueceram de certa maneira..." (2007)
Václav Havel (1936-2011).

Bibliofilia 56 : 4 folhetos do séc. XVIII



Estes 4 folhetos do séc. XVIII (1742, 1793 e 1800), dois deles desencadernados, provavelmente, de uma mesma e velha miscelânea, custaram-me, ontem, menos do que o preço que daria por um daqueles volumes estridentes que a montra da Bertrand, no Chiado, ostenta nos seus vermelhos berrantes com letras douradas em alto relevo.
Pelos menos, aos folhetos ainda lhes encontro alguma estética, e 2 tem muito boa qualidade de impressão. Os versos do Epicédio, com um soneto final, feitos pelo Fr. António de S. Caetano, não terão grande qualidade poética, mas documentam uma fase post-barroca anunciando o pré-romantismo.
O único folheto sem data e sem autor (Malos male perdet...), embora com certeza da mesma época, é muito informativo. Enumera todos os possíveis santos portugueses , as virtudes de alguns dos nossos reis e fornece alguns dados económicos que passo a transcrever, da pg. 20, com alguma actualização ortográfica:
"...El-rei Dom Afonso Henriques edificou 150 templos, & deixou no tesouro oitocentos & vinte mil cruzados em moedas de ouro. El-rei Dom Sancho quinhentos mil cruzados, & mil, & quatrocentos marcos de prata. El-rei D. Pedro oitocentas mil peças de ouro, & quatrocentos mil marcos de prata, & muitas moedas de ouro, & joias de grande preço. El-rei D. Manuel, & El-rei D. João o Terceiro tinham sempre na India, Africa, & outras partes vinte mil soldados, & mais de trezentos navios de toda a sorte, sem se valerem de aliados, nem de Principes estrangeiros, antes aos tais mandaram por muitas vezes socorrer; & em tempo Del-rei D. Manuel havia tanto ouro em Portugal que recusavam os homens, que lhe pagassem suas dividas em moedas de ouro finissimo, & queriam antes prata..."
Mesmo descontando algum possível exagero, quanto a Marinha e Finanças, bons tempos eram estes!...

Um excerto de diálogo


Em 2012 completam-se 50 anos sobre o lançamento do filme "Jules et Jim", de François Truffaut (1932-1984), cujo argumento se baseava no "ménage à trois" que os pais de Stéphane Hessel (1917) personificaram, na vida real.
O papel feminino foi interpretado por Jeanne Moreau (1928). Le Nouvel Observateur juntou os dois, para dialogarem sobre o filme e os tempos que passam. Eis um breve excerto, em tradução livre:
Jeanne Moreau: "...Agora eu poderia trepar para as barricadas mas infelizmente já ultrapassei a idade de o fazer . Tornei-me revolucionária demasiado tarde. Os escândalos políticos ou financeiros acumulam-se. Fala-se sem cessar em transparência, enquanto tudo é obscuro: abuso de poder, cupidez pelo dinheiro."
Stéphane Hessel: "Nós vivemos num mundo que merece todas as revoltas. Se se considera como uma revoltada, é porque tem razão."

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Recomendado : vinte e três - "O Grande Livro dos Provérbios"


Sempre fui grande apreciador de provérbios, desde os transmitidos pelos escritores clássicos (Gil Vicente, Sá de Miranda, Francisco Manuel de Melo, Jorge Ferreira de Vasconcelos...) até aos que fui lendo em almanaques, rifoneiros, ou aqueles que ouvi, directamente, da boca de populares (por ex.: "Casa que não é ralhada, não é bem governada").
Não há muitas obras onde se agrupem e reúnam os provérbios portugueses. Refiram-se as principais:
- Adágios Portugueses, de António Delicado, de 1651. Há uma reedição de 1923, feita por Luís Chaves.
- História Geral dos Adágios Portugueses, de Ladislau Batalha, editada em Lisboa, no ano de 1924.
- Rifoneiro Português, de Pedro Chaves, impresso no Porto (1928, reeditado em 1945).
- Adagiário Português, reunido por Fernando de Castro Pires de Lima, editado em Lisboa, no ano de 1963.
Mas, por outro lado, estes livros estavam esgotados e raramente apareciam à venda em alfarrabistas, ou em leilões, e os preços eram altos, pela grande procura que tinham.
Por isso tenho que saudar a publicação (Novembro de 2011), em reedição da Casa das Letras, de "O Grande Livros dos Provérbios" de José Pedro Machado (1914-2005), para mais a preço que considero módico. Para quem se interesse por adágios, posso adiantar que o livro tem mais de 27.000 entradas e/ou ditados. É obra!

De René Char (1907-1988), em tradução livre


10

Como as lágrimas assomam aos olhos e assim nascem e se apressam, as palavras também fazem assim. Devemos unicamente impedir que se percam como as lágrimas, ou reprimi-las no fundo de nós mesmos.
Um leito é quem primeiro as acolhe: as palavras irradiam entre si. Um poema em breve se vai formar, e poderá por noites iluminadas, correr o mundo, ou consolar os olhos abrasados. Mas não renunciar.
16 Agosto 1982.

René Char, in Le Bâton de Rosier.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Considerações sôbolos tempos que passam


O século XX interrogou-se muito sobre o futuro do romance, como tema literário. Passou já tempo suficiente para supor e crer que o romance continua e há-de permanecer. Continua a haver romancistas e leitores - é um facto.
Quanto ao livro, como objecto de cultura, consulta e procura, tenho dúvidas que permaneça na forma como o conhecemos. Como as cartas, mensagens e veículo entre humanos, os livros assumirão outra forma, e passarão decerto a ser manuseados apenas por um nicho de curiosos, no futuro.
Não cabe no meu cânone de inteligibilidade o que observei hoje. De França vieram 2 visitas ao blogue, para consultar um poste que fiz, sobre Françoise Sagan. E um dos visitantes ainda deve ter sugado a iconografia que  lá tinha. No meu entender, seria o mesmo que eu ir ao Burkina Faso (ex-Alto Volta) à procura de informação e imagens de Luís de Camões. Irra!

Pinacoteca Pessoal 22 : Botero


Menos que uma opção incondicional pela obra - que me deixa normalmente dividido - de Fernando Botero (1932), nascido em Medellín, a escolha de hoje aplica-se, sobretudo, à época natalícia que atravessamos. A marca do pintor colombiano, quer na pintura, quer na escultura, é o excesso. Não o excesso na desconstrução como se observa em Francis Bacon ou, até, em José de Guimarães, mas uma reconstrução no abuso dos corpos e na sua exuberância carnal. O feio em Bacon é o horror, o feio de Botero é, habitualmente, obesidade, como se uma raíz cristã o impedisse de ir mais longe.
A obra "Nossa Senhora de Cajica", de 1972, pertence a uma colecção particular. Nada mais contrastante que a boçalidade facial e corporal da Madona, com o tratamento miniatural, fino, da hagiografia circundante na ramagem ou nas nuvens, e as pequenas frutas delicadas. Singular é, também, a longa e sinuosa serpente, parcialmente visível, aos pés da Virgem.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Da janela do aposento 6: Dia da Mentira

Na sequência da notícia, dada pelo PROSIMETRON, sobre a abertura, em 2012, da extensão do Metro até ao Aeroporto, entrei na página oficial da dita empresa que conhecemos pela excelência do serviço prestado.
Atesto aos nossos leitores, pela minha honra, que não me enganei naquilo que vi. Aqui vai o testemunho para memória futura:
Com efeito, uma empresa internacional, SGS, com sede no "insuspeitável" país que se chama Suiça, passou um certificado de excelência e qualidade ao Metropolitano de Lisboa.
Que o "chief executive officer", Chris Kirk na imagem abaixo, nunca tenha subido, à pata, os quatro lanços de escada rolante, avariados com frequência, da estação Baixa-Chiado, até se compreende.
Que a senhora administradora da SGS, Portugal, Ana Pina Teixeira, não o tenha feito, antes de assinar de cruz o relatório de excelência, constitui, no mínimo, desleixo, se não fosse ofensa a todos os utilizadores diários do Metro.
A dita senhora nem deve ter olhado bem para o mapa de rede do Metro que, como no Chiado, não tem elevador para a superfície. Sendo proibido, por norma nas cidades do centro da Europa, que as pessoas com carrinhos de bébé utilizem a escada rolante, sem pensar nas pessoas em cadeiras de rodas, pergunta-se como a empresa SGS empresta o nome para semelhante mentira, porque o destempero não tem outro nome !
Post de HMJ
No direito à indignação, consagrando este post a MR

Pequenino por pequenino...


...mais vale "motorizado", com veículo oferecido pelo Natal. O fotógrafo não era laico e, embora Padre (Carlos de Almeida), era um amador respeitado. E bondoso. O infante rechonchudo é que estava incomodado pelo sol de Inverno...

Marceneiro


Como umas quadrinhas paupérrimas podem ganhar altura e grandeza nesta voz especialíssima de Marceneiro!...

Uma história (natalícia) para criancinhas impúberes e mentecaptas


As andorinhas, antes da Primavera e inesperadamente, vieram chorar a sua morte, junto do seu memorial. As montanhas do país abriram uma fenda enorme entre si (para o recolherem?), por alturas da sua morte. Tudo isto contou uma pivot norte-coreana, com voz enfática, entre empolgada e comovida, pouco depois da morte de Kim Jong-il, na Tv do seu país. Faltou apenas que os norte-coreanos, além de carpirem fragorosamente, arrancassem os cabelos e dessem punhadas no peito.
Resta-me citar Fernando Assis Pacheco: "...não posso com tanta ironia." Fanatismo e estupidez humana.

Retro (5) : Brasil (3)




É, seguramente, a mais antiga revista de BD brasileira, em meu poder. Tem data de Abril de 1932 e não me lembro de como me veio parar às mãos: foi-me oferecida, provavelmente. O papel, já um pouco pardo, é de inferior qualidade e os desenhos, quase todos, um pouco rudimentares. Mas a revista tem um aspecto ingénuo e naïf, encantador. "O Tico-Tico" custava $500 réis no Rio de Janeiro, e $600 no restante território brasileiro. Muitos anúncios, da mais diversa índole, passatempos, muita banda desenhada primitiva, verso e prosa, também. E notícias mundanas, como havia nos jornais portugueses de província, ainda não há muito tempo. Ficamos a conhecer, por "O Tico-Tico" nº 1.386, os meninos Antoninho e José, do Rio de Janeiro, e as Marias, todas filhas do Sr. José Cavalcanti, de Olinda. E ficamos também a saber que o "travesso" menino Jayme, filho do Dr. Américo de Oliveira, fez 2 aninhos a 2 de Abril de 1932. Se for vivo, terá hoje 81 anos... 

Pedro e Domitília


Num compêndio de História, dita séria, Domitília é, quando muito, uma pequena nota de rodapé, mas ainda hoje há quem, no Brasil, lhe ponha, no túmulo, flores frescas e lhe atribua aura de santidade. Algumas prostitutas que, por exemplo, pondo os olhos na história da vida dela, pensem salvar a sua, no futuro. De seu nome completo, Domitília de Castro e Canto Melo, Marquesa de Santos por graça de D. Pedro IV, nasceu a 27 de Dezembro de 1797, de ascendentes açorianos. Tinha, ao que se diz, um corpo muito harmonioso, e era bonita.
Nem sempre se diz, no entanto, mas eu estou convicto que o primeiro Imperador do Brasil, além de ser arrebatado como o irmão Miguel, era também um pinga-amor. Pelo menos, pela quantidade de filhos que deixou no Brasil, para além de outro, que teve de uma senhora francesa (Adèle Bonpland?, Clemence Saisset?), e que veio para a Europa com a mãe. Só de Domitília, teve D. Pedro IV, cinco filhos, 2 deles mortos de tenra idade. Devia ser mulher fogosa, a Marquesa de Santos, e prolífica porque, de dois casamentos e uma ligação régia, teve nada menos do que 12 descendentes. Conta-se que Domitília, durante a relação (1822-1829) que teve com o Imperador, ainda disparou uma arma de fogo contra a irmã, Maria Benedita (Marquesa de Sorocaba) que também se entendia com D. Pedro e de quem teve um filho: Rodrigo Delfim. A relação da Marquesa de Santos com Pedro acabou pouco depois da morte da Imperatriz Leopoldina, quando o primeiro Imperador do Brasil resolveu casar com Amélia de Leuchtenberg.
Domitília voltou ainda a casar com um obscuro brigadeiro, Rafael de Aguiar, de quem veio a ter mais 4 filhos. A Marquesa de Santos morreu, pia e caridosa, a 3 de Novembro de 1867.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

António Osório


Os Calceteiros

Escrevem na rua:
juntam
cuidadosamente
palavras.

Pegam-lhes
sílaba a sílaba,
escolhem, unem,
completam,
tocam
ao de leve por cima
e continuam.

Com o maço
e o suor
assinam.

António Osório (1933), in A Ignorância da Morte (1978).

Da Literatura, dita policial



Não tenho andado muito virado para a ficção, pura e dura, ultimamente. E, por isso, tenho um Faulkner a meio, já há uns tempos. Quando há fastio geral, de leitura, já sei o remédio: pego num Simenon...e tudo recomeça. Sempre foi o melhor aperitivo para continuar a ler.
Mas, aqui há uma semana, deu-me vontade de encetar um policial. Saíu na rifa "Morte em Roma (nº 393, da Colecção Vampiro), de Hartley Howard. Li-o depressa - é movimentado, bem escrito, e chega. Pertence, no entanto, aos inúmeros policiais, falsos para mim, onde não entra dedução, nem honestidade narrativa, ou seja, os conhecimentos do leitor, ao longo da leitura, são sempre inferiores ao do autor, que esconde sempre alguns factos importantes. Piores do que estes são os romances policiais de Peter Cheyney, de Mickey Spillane que são autênticos arraiais de pancadaria e violência, e as obras anódinas de Leslie Charteries, com o Santo aventureiro.
Tenho que confessar que, em matéria de romance policial, sou um purista conservador. Para mim um autêntico romance policial tem que ter descoberta, investigação e dedução analítica, articulação especulativa, e o leitor deve ter sempre, e honestamente, os mesmos conhecimentos do autor, ao longo da narrativa. No fundo e em resumo deve cumprir as "Vinte regras para escrever histórias policiais" que S. S. van Dine (Willard Huntington Wright) teorizou, para sempre quanto a mim, em 1928. Infelizmente, as editoras metem de tudo nas suas colecções de detectives, até mesmo na clássica e longeva "Vampiro".
Por isso, para mim, os verdadeiros autores policiais são muito poucos: Poe, Conan Doyle, E. S. Gardner, Agatha Christie, o próprio S. S. van Dine, e algum Rex Stout. Na primeira linha está, obviamente, Georges Simenon que é um caso à parte e único. Singulares, também, são Raymond Chandler e Dashiell Hammet, mas apelidá-los-ia de autores de romance negro - parece-me mais ajustado.
Nem os recentes, badalados e modernos Catherine Aird, Andrea Camillery, Ruth Rendell e Vázquez Montalbán fazem as minhas preferências, porque não cumprem as regras essenciais em relação ao leitor. Mas tenho que me conformar: vou iniciar, em breve, "Perfídia que mata" (nº 506, da colecção Vampiro), de Nicolas Freeling. Mas não tenho grandes ilusões, quanto a ser um verdadeiro clássico...

domingo, 25 de dezembro de 2011

Favoritos LIX : Cab Calloway


Cab Calloway nasceu a 25 de Dezembro de 1907.

Filatelia XXXII : Natal


A grande maioria dos países europeus emite, durante a quadra festiva, selos alusivos ao Natal. Em imagem, um bloco de selos da Bélgica, do final do ano de 1996, com temática natalícia.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Maurice Leblanc / Arsène Lupin


Como uma voz que regressa, vinda do silêncio e do tempo esquecido, numa data festiva, e nos enche de júbilo, há, muitas vezes, ressurreições felizes. Como a de Vivaldi, feita pela sensibilidade especial de Mendelssohn, que salvou o padre ruivo do esquecimento eterno.
Embora de menor importância, o ressurgimento de Maurice Leblanc (1864-1941) e do seu Arsène Lupin, noticiada por "Le Monde", deu-me algum contentamento. Caída no domínio público, a obra de Leblanc vai ser reeditada, em 2012. Arsène Lupin é um cavalheiresco ladrão elegante, um Robin Hood actualizado e culto, como figura de ficção, muito superior ao Santo, de Leslie Charteris, protagonizado em cinema, habitualmente, por Roger Moore.
É, por isso, uma boa notícia para os apreciadores de romances policiais.  

Citações LXXXV : Karl Kraus


1. A verdade é um criado desajeitado que parte os pratos quando os lava.
2. Um aforismo não precisa de ser verdadeiro, mas tem que sobrevoar a verdade. Deve ultrapassá-la um pouco.
Karl Kraus (1874-1936).

Astrologias (8) : Capricórnio


O signo é representado pela cabra Amalteia que, sendo muito feia, segundo a Mitologia, era também bondosa e compassiva, tendo amamentado e criado Júpiter.
Seco de feitio, por vezes rude, muito organizado, o nativo do signo de Capricórnio tem, geralmente grande capacidade de trabalho e de concentração. Perfeccionista e um sólido profissional na actividade que exerce. Reservados e ambiciosos, são normalmente políticos seguros, persistentes e duros (Disraeli, Benjamim Franklin, Adenauer, Mao Tsé-Tung, Richard Nixon), nem sempre escrupulosos. Alguns dos grandes pintores nasceram neste signo (Cézanne, Utrillo, Portinari, Matisse). Poucos escritores ou poetas (Kipling, Poe, J. R. Jimenez, Eugénio de Andrade). São actores sóbrios, de grande qualidade, com uma aura de mistério que os torna carismáticos (Ava Gardner, Marlene Dietrich, Humphrey Bogart, Anthony Hopkins), e cientistas notáveis (Newton, Pasteur). Cantores: Nat King Cole, Elvis Presley, Janis Joplin. Ponto fraco dos nativos de Capricórnio: os joelhos. Cidades sob a influência deste signo: Oxford e Bruxelas. Paises: Grécia, Índia e México.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Feliz Natal!


Cartões de Boas Festas, através dos tempos (1958, 1972 e 2011), e de países (Alemanha e Holanda).

O Prato de Natal [=Weihnachtsteller]

O que se vê na imagem abaixo é um prato de Natal, podendo variar conforme o espaço geográfico, social e cultural dos fazedores do dito.

Faz parte da memória pessoal que se preparava a sala na noite anterior ao dia 24 de Dezembro, após as "infantas" se terem ido deitar. Dormir, claro que não adormecíamos logo, escutando os movimentos e tentando adivinhar a surpresa do dia seguinte.
No dia seguinte de manhã, a porta da sala estava, obviamente, fechada. Abrir-se-ia, ao cair da noite de 24.12., com o sininho a tocar e anunciar a vinda do Menino Jesus e, para os presentes, a passagem do "Weihnachtsmann".
Toda este "introito" pretende avisar os nossos leitores de que é altura para colocar as bolachas feitas pelos "anjinhos" no prato natalício, juntando, a gosto, chocolates vários e, no centro de Europa sem laranjeiras, as indispensáveis laranjas.
Aliás, em meados dos anos 50 do século passado, uma laranja era, só por si, um presente de Natal muito especial, dado pelo meu avô às suas netas.

Post de HMJ
Dedicado a MR, recordando o texto de Maria de Lourdes Modesto sobre as laranjas

Marcadores de livros (2)


Para MR, com os melhores votos de Boas Festas!

P. S. : há repetidos para a sua colecção, se os não tiver...

Cidade Capital de Cultura 2012 / Fastos vimaranenses XIV : fora de portas




Não ficaria de bem comigo, ao acabar esta rubrica, se não alertasse o eventual visitante de Guimarães, no próximo ano de 2012, em que será Capital Europeia de Cultura, para dois locais que, não estando integrados na cidade, lhe estão próximos e, por várias razões, também associados. Refiro-me à Montanha da Penha (cerca de 650 metros, acima do mar) com fauna e flora próprias, um sóbrio Santuário mariano, várias grutas interessantes e dois simbólicos monumentos: ao papa Pio IX e, outro, em homenagem aos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral. A Penha é um lugar ameníssimo, nos quentes dias de Verão, e tem um teleférico recente e moderno que transporta, rápidamente, os visitantes até ao cimo da montanha. Por outro lado, a cerca de 15 quilómetros de Guimarães, e pouco depois das Taipas, a Citânia de Briteiros, restos, reconstituídos em parte, do que foi um povoado primitivo (provavelmente datado de 200 ou 300 anos a. c.) que é o prolongamento prático do Museu Martins Sarmento. Foi, aliás, este arqueólogo vimaranense que descobriu a Citânia, e começou a pô-la a descoberto, em 1875. E os objectos, lá encontrados, constituem grande parte do acervo do Museu. Destaque para a estela funerária a que deram o nome de "Pedra Formosa", que é o ex-libris do Museu Martins Sarmento.

As delirantes traduções do Google


Não seria obrigação do Google oferecer um serviço de tradução aos utilizadores, sobretudo sendo este serviço de uma péssima qualidade e sem a mínima preocupação de rigor profissional. Assim como não é uma fatalidade que um usuário curioso se sirva destas "traduções"(?) delirantes que um "robot" mecânico e tolo faz, principalmente, neste nosso tempo de globalização.
Em tempos recuados da minha remota juventude, recebi, uma vez, uma carta escrita em polaco, de um filatelista. Na cidade, pequena, não havia ninguém que soubesse traduzir essa língua. Um familiar meu levou a carta ao Dom Prior da Colegiada; este, por sua vez, remeteu-o à comunidade monástica do Mosteiro da Costa. Daí a carta seguiu para Fátima onde, na mesma Irmandade, havia um padre polaco. Passadas menos de duas semanas, a carta voltou às minhas mãos, já traduzida para português - e, nessa altura, nem se sonhava ainda com a globalização...só que as pessoas eram mais expeditas a resolver problemas.
Ora, ontem, atraído talvez por um desenho de Otto Dix, um visitante alemão do Arpose pediu ao Google (ó Santa Inocência!) a tradução do poste "O pastelinho de bacalhau, o copinho de três e as «search words»", colocado no blogue, em 30/11/2011. Os dislates da tradução fornecida pelo Google bradam aos céus e diz-me, quem tem o alemão como língua materna, que o texto germânico parece ter sido escrito com os pés, tal a sua qualidade... Das asneiras surrealistas produzidas, aqui dou alguns (poucos dos muitos) exemplos:
1. Pastelinho de bacalhau foi traduzido por "Gebäck kabeljau" que, literalmente, significa: Bolacha de bacalhau...
2. Copinho de três, no título do poste, resultou no alemão mascavado da tradução em "drei der Tasse", ou seja: três da chávena.
3. (o nome do actor português) Santos Carvalho veio a dar "Heilige Eich", qualquer coisa como: Carvalho Sagrado.
4. Na "tradução"(?) é utilizada uma palavra, "lout", que nem sequer existe em alemão.
Creio que chega, por hoje...
Que a paz seja contigo!, ó Google, nesta caridade e benevolência natalícia para com os pobres de espírito, para com os maus profissionais, mesmo quando são americanos, para com os pantomineiros desajeitados. Amén.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Melancolias


Entre um puto que nos manda emigrar e um saloio estrangeirado que quer que o tratem pelo nome próprio, e fala um português gaguejante e mascavado, é difícil discernir alguma réstea de patriotismo, algum vestígio de pudor nacional a que se possa recorrer, como lenitivo a este Portugal descaracterizado, com pequenas bolsas de resistência activa no meio da abulia geral.
É um erro pensar-se que os "Vencidos da Vida" foi apenas a geração de Eça e Ramalho. O pequeno núcleo esclarecido de cada uma das gerações portuguesas, desde finais do séc. XIX, tem sido sempre, ou quase sempre, vencido por estes arrivistas do Poder, com a sua ganância pessoal, com a sua bajulice ao estrangeiro, com o seu deslumbramento pelo que vem de fora- capatazes por conta d'outrém- vergando a população ao servilismo e à "apagada e vil tristeza".
A China tirou hoje a sua desforra de Macau, comprando a EDP. Será isso o menos, porém, ou apenas o princípio. Venderão tudo a saldo para, no futuro e quando saírem do Poder, terem uma mordomia à espera para recompensa dos favores que prestaram.
Vem de fora, na paisagem, um nevoeiro sobre o rio, e as luzes parecem um incêndio de um navio que se afunda, à espera de um Turner que o registe para sempre. Uma ressaca melancólica inunda toda a esperança possível que ainda resta.

Giacomo Puccini (1858-1924)


Um dos passatempos preferidos de Puccini era a caça aos patos, que praticava no lago próximo da sua "Villa", não se esquecendo nunca de levar um lápis e um pequeno bloco de apontamentos para anotar alguma inspiração musical que lhe surgisse, no trajecto fluvial da caçada. Lembramos o grande compositor italiano, hoje, dia de aniversário do seu nascimento.

Divagações 18


A voz interrompeu a noite, e vinha da infância, reconhecível e amiga. Como, nessa altura, vinha da Costa ou da pequena colina de S. Roque, o musgo fresco, verde escuro, para o Presépio. Trazia-o a leiteira que, matinal e diariamente, sobre a rodilha à cabeça equilibrava também o grande cântaro de leite que vinha vender pela cidade. O que sobrasse levava-o para vender na dita "Feira do Pão" onde, pouco antes do Natal, aparecia algum (pouco) Pão de ovelhinha (que eu chamava, em corruptela: "de bilhinha"), ou o pão de Padornelo que era o melhor para fazer os mexidos natalícios.
A desconstrução da infância faz-se pela revelação dos segredos, pouco a pouco. Pela destruição dos heróis, pela explicação prosaica dos mitos. Pelo acabar dos medos. Ainda a lenha, o fogão que ardia cantante no estrelejar da carqueja e nos estalidos dos cavacos ressequidos, quando o Sidónio disse, triunfante: "Não há Menino Jesus! São os pais que põe os presentes de Natal, nos nossos sapatos, durante a noite..." Terá sido pouco antes do dia 25, pouco antes do fim da infância. Devia eu andar pelos 7 anos. Comecei a crescer, então, para dentro da realidade, com mais força. E desconfiança.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Um soneto de Tomás Pinto Brandão (1664-1743)


Queixam-se todos os defuntos, que houve na Epidemia, que padeceu Lisboa, no ano de 1723.

Nós abaixo assinados pela terra,
Chamamos, de quem em tanta mortandade
Não tenha entrado Médico, nem Frade;
E que só faça a morte aos pobres guerra!

Dirá a morte, que pouco, ou nada erra,
Em desviar de toda a enfermidade
A dous, que são da sua faculdade;
Porque o Médico mata, e o Frade enterra:

Replicamos; que as tumbas com frequências,
Andam cá por estreitos pecadores,
Sem subirem às largas consciências:

Dirá também, que os tais são matadores;
E é preciso, que tenha dependências
A morte com Ministros, e Senhores.

Nota: procedeu-se a pequenas actualizações ortográficas. O soneto pertence a "Pinto Renascido..."(1733), livro já aqui no blogue, anteriormente, referenciado.

Roland Barthes e a Torre Eiffel


O suplemento de "Le Monde" de 16/12/2011, a propósito de ofertas literárias pelo Natal, faz um destaque especial, na primeira página, chamando a atenção para um pequeno (96 páginas) livro de Roland Barthes, publicado inicialmente, em 1964, com o título La Tour Eiffel. O livro foi reeditado, agora, pela Seuil. É um exercício de Barthes sobre o triunfo do "vazio". Passo a traduzir um pequeno excerto do texto de R. Barthes:
"A Torre não é nada, cumpre apenas uma espécie de grau zero do monumento; ela não participa de nada em matéria do sagrado, nem mesmo da Arte; não se pode visitar a Torre  como se visita um museu: não há nada para ver na Torre. Este monumento vazio recebe, no entanto, cada ano duas vezes mais visitantes do que o Museu do Louvre."

Cegueira irracional e fanatismo humano


A fotografia, em imagem, ilustra à saciedade a patética massificação emocional e a tendência acarneirada do ser humano. Para lá da intensa repressão, da parafrenália simbólica quitche do regime e de um populismo inacreditável, a Coreia do Norte é, talvez, o país mais fechado do mundo. Além disso, a "dinastia Sung", que acaba de ascender ao "trono" em terceira geração, subverteu crapulosamente a ideologia comunista por uma versão caseira, repressiva e corrupta. O recentemente falecido Kim Jong-il era um grande importador dos melhores e mais caros vinhos franceses, enquanto cerca de 3 milhões dos seus concidadãos morriam à fome.
Só por via irracional ou por um masoquismo doentio podemos perceber e ver esta multidão acéfala e carpideira, desesperada pela morte de um tirano. Realmente, não há razão fundada para termos grandes esperanças no progresso e racionalidade do ser humano, em geral.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Presépio 2011


Apresenta-se a versão sucinta e reduzida deste ano da (des)graça de 2011, pese embora a instalação, relativamente ao ano passado, ter sido acrescida de mais 3 músicos e um Santo Antoninho tonsurado, mai-lo seu Menino, ao colo. Também o tufo central de musgo é especial, e os rebentos terminam em estrelas verdes.

Canto


"...o objecto nunca será considerado como um objecto, mas sim como um símbolo de uma ideia percepcionada pelo sujeito."
Gabriel-Albert Aurier (1865-1892), citado por Neill Cox.

Livrinhos 3 : Clássicos


Dois clássicos da literatura: John Milton, em edição americana de 1906, com gravuras, e "Os Argonautas", escrito no séc. III a. c., por Apolónio de Rodes, na edição inglesa, miniatura, da Penguin, de 1971, traduzido por E. V. Rieu. Esta última obra tem versões, em português, traduzidas por Francisco Martins Sarmento e José Maria da Costa e Silva, ambas do séc. XIX.

Cozinha Natalícia

Na sequência das nossas notícias sobre a "cozinha celeste" e a feitura de bolachas de Natal, chegou, hoje, um presente inesperado.
Uma cozinha, em barro pintado, imitando uma cozinha e transmitindo o espírito natalício na feitura das bolachas. É a avó, a mãe e as criaturas numa azáfama que, no caso presente, esconde uma caixa de música debaixo da mesa. Temos, ainda, a árvore de Natal, a rodar, e uns cones de cheiros a deitar fumo pelos tachos do fogão.

Post de HMJ
Dedicado a uma avozinha especial e aos "seus infantes".

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Os melhores votos


.. de tranquilo e feliz Natal de 2011, aos Amigos, comentadores e aos estimados 37 seguidores do Arpose que nos estimulam a continuar. Não é por acaso esta imagem de um anjo, que encima o poste. Representa o equilíbrio difícil a que este tempo nos obriga. Entre uma chávena Vista Alegre e outra muito rústica que implica simplicidade, há que lutar pela esperança de melhores dias. Boas Festas fraternais! 

Palavras de ontem, para o amanhã


"...Gostei de ouvir o anúncio de que, na escola, se vai dar mais tempo à História, à memória colectiva, que é muito importante, porque se nós não temos consciência de nós próprios não seremos capazes de enfrentar o futuro. Nós somos uma memória projectada; se não há memória, não haverá projectos. Que seja um país mais humano."
D. Manuel Clemente, bispo do Porto, ao "Público" (18/12/2011).

Um novo cómico na "Science-fiction"


O que os portugueses nunca conseguiram, em mais de 300 anos de permanência consistente e de relações bilaterais luso-britânicas, raramente proveitosas para Portugal, prepara-se o novel David Cameron para fazer: repatriar os cerca de 55.000 ingleses para o Reino Unido, na eventualidade de colapso do euro. O plano de emergência contempla o uso de aviões e navios, em quantidade suficiente, para levar de regresso os súbditos de sua Majestade para Inglaterra. Nem Carr Beresford, com razões suficientes e de má memória, terá pensado neste plano de contingência...
Os jornais ingleses, na sua edição dominical, fazem-se eco deste êxodo previsto. Que irá ser do "nosso" Vinho do Porto? - pergunto-me eu. Mas, em relação ao futuro deste cómico político britânico, é de prever que, quando se retirar, se possa vir a dedicar à escrita de livros de ficção científica - dada a vocação demonstrada.
E quanto ao facto, em si, o melhor ainda é responder como um britânico, residente em Portugal, respondeu a um jornalista português, quando entrevistado sobre o assunto e "momentoso problema":
"- Mal por mal, com a bancarrota europeia e pobre, mais vale ficar em Portugal que é um país soalheiro, do que regressar à Inglaterra e passar um frio de rachar..." 

Cromos 24 : Jogadores da Bola




Maneirinha, esta colecção de jogadores de futebol, que vinham com caramelos, tinha uma impressão dos rostos dos futebolistas mais cuidada do que as congéneres. Posta a circular pela Fábrica de Confeitarias "A Francesa", sediada na Travessa de Santo António, 3 (à Lapa), em Lisboa (telefone 660482), era composta por 154 cromos de jogadores dos 14 clubes da 1ª Divisão. A colecção que eu tenho, muito incompleta, data dos anos 50 do século passado.
Os brindes, modestos como habitualmente, eram constituídos, na sua maior parte, por bolas de borracha de 3 tamanhos, emblemas dos clubes e ió-iós. O prémio supremo era uma bola de couro, igual à que se jogava nos relvados mas, para isso, era preciso entregar a colecção completa e com o "mais ruim", raríssimo, dado que só havia 1, em cada caixa. Reza a "lenda" que esse "mais ruim" estava colado ao fundo da caixa de lata dos caramelos, para que os compradores fossem comprando sempre, esperançados que lhe saísse o cromo mais difícil. E o vendedor pudesse, assim, esgotar o produto.
Esta colecção abria com os cromos do Sporting Clube de Portugal (na imagem), passando pelo Grupo Desportivo da C. U. F., Lusitano (de Évora) Ginásio Clube, Atlético, até ao Sporting Clube da Covilhã, que nessa época pertenciam todos à chamada Divisão de Honra do futebol português. 

Cidade Capital de Cultura 2012 / Fastos vimaranenses XIII : alguns monumentos e casas



Foram dois os principais núcleos irradiantes à volta dos quais cresceu e se desenvolveu a antiga Guimarães: o Castelo e a Colegiada ou Igreja de N. Sra. da Oliveira. Embora de fundação mais antiga, a sua traça deve a forma de base a Mumadona Dias que os reformulou no séc. X. O Castelo virá a ter o desenvolvimento de muralhas, circulando a Vila, nos reinados de D. Dinis, D. Fernando e D. João I, de que restam alguns vestígios (o principal, na primeira imagem). No perímetro do Castelo, situa-se a pequena Igreja de S. Miguel e, no séc. XV, viriam a construir-se os Paços dos Duques de Bragança. Junto à Colegiada, existiu em tempos remotos, a Igreja dos francos, companheiros do Conde D. Henrique, sob a invocação de S. Tiago, na praça que, hoje, tem o seu nome. No adro da Colegiada, o Padrão do Salado celebra a batalha em que D. Afonso IV tomou parte. A partir destes dois focos monumentais, cresceu Guimarães.
São inúmeras as Igrejas e Capelas dispersas pela cidade e seria ocioso nomeá-las a todas. Destaco apenas, para além da Igreja de N. Sra. da Oliveira, a Igreja de S. Francisco, cuja construção se iniciou no séc. XIV e que conta, no seu acervo, com uma bela imagem de N. Sra. das Dores da autoria de Soares dos Reis. De moradias, devo realçar a dita mas improvável casa de Egas Moniz (embora medieval, e na segunda imagem deste poste), situada na Rua Nova. A casa dos Carvalhos, no Largo João Franco, com a sua torre singular, onde funcionou a poética Academia Vimaranense, no séc. XVIII, sob o patrocínio do fidalgo Afonso Lourenço de Carvalho. Mais tarde, foi moradia da família Mota Prego. E, ainda, a casa dos Lobos Machados, na Rua da Raínha (D. Maria II). E, finalmente, o palacete Vila Flor pertença, hoje, da Universidade do Minho. Mas o melhor será passear, sem bússola e sem guia, pelo Centro histórico de Guimarães, porque há muita coisa para ver e descobrir, por exemplo, na Rua de Sta. Maria...

sábado, 17 de dezembro de 2011

Salão de Recusados XXXIX : Filinto Elísio


Epigrama

Perguntei hoje a um sécio peralvilho
Porque unhas grandes traz, por guapa moda,
Tanta alta dama, tanto audaz casquilho.
«A nobreza - me diz - que a agência toda
Perdeu de atassalhar a pobre gente,
De ao mérito e à virtude obstar, potente,
Pode perder brasões, placas, alcunhas,
Mas guardou sempre de leão as unhas».

Nota: Filinto Elísio foi o pseudónimo que Francisco Manuel do Nascimento (1734-1819), poeta neo-clássico português, escolheu para publicar em França, no seu longo exílio, as suas obras e traduções.