sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Mercearias Finas 153



Não fora a propósito, falávamos que, às vezes, perante uma enorme qualidade artística se perdoa ou esquecem proselitismos políticos demasiado indesculpáveis. Em grau muito diferente citáramos Céline, em grau mais brando, Almada...
Eu abancava frente a três bons nacos de Leitão morno, com o competente acompanhamento e meia de Dão Cabriz, tinto (2016). Do meu lado direito, e noutra mesa também acompanhado, estava o dono da Herdade do Rico Homem e que já foi  senhor da PT. Também começara como empregado de Eanes. Achei-o macilento.
Entrou depois, com a mulher, a segunda figura da nação, desempenado e sorridente. Cruzámo-nos à saída, com simpatia. Campo de Ourique é um mundo...

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Mata-Borrões (5)


Úteis, pelo menos até mais de metade do século passado, os mata-borrões são hoje uma relíquia do antigamente que, provavelmente, já quase nem são usados. Tal como as canetas de tinta permanente que eu utilizo, por exemplo, apenas em rituais de circunstância ou para dar nobreza a manuscritos de maior responsabilidade e valor.

Os mata-borrões eram, nos anos 50, marca e oferta deixada, sobretudo em consultórios de médicos, por delegados de propaganda de laboratórios de referência. Até porque os clínicos costumavam passar as receitas, aos seus, pacientes, com canetas e era conveniente secar a tinta.
Hoje, nalguns casos, oferecem-se viagens, aos médicos, para congressos em paraísos turísticos...
Seria decerto caricato e quase um insulto presenteá-los com dois ou três mata-borrões.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Do que fui lendo por aí... 34


Não dará para inteiramente eu o recomendar, mas se o tempo de leitura tiver sido vertiginoso (como este foi) o balanço é, para mim, sempre positivo. Li Todo-O-Mundo (2007), de Philip Roth (1933-2018) entre as 16h00, de ontem, e ainda não eram as 23h30, descontando as funções humanas essenciais (refeições, etc.).
O livro não tem tempos mortos, o fluxo narrativo é ágil não deixando de ser denso, e a tradução (Francisco Agarez) pareceu-me competente. Pelo meio é que a obra, talvez pelo excesso de referências clínicas, às vezes, mais parece um vade-mécum de cirurgias cardíacas e correlativos cenários hospitalares.
Não fora isso...

Citações CDXXV


Uma grande democracia é tanto mais sólida quanto ela consegue suportar um cada vez maior volume de informação de qualidade.

Louis Armand (1905-1971), in Plaidoyer pour l'avenir.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Uma fotografia, de vez em quando... (136)


Talvez atraído pelo lado marginal da sociedade, o fotógrafo sueco Anders Petersen (3/5/1944) consagrou uma parte da sua obra a fixar a fauna exótica do sub-mundo de Hamburgo, clientes frequentes dum café (Lehmitz) do centro da cidade. É uma amostra pequena que por aqui deixamos registada.


sábado, 25 de janeiro de 2020

Divagações 156 ( bibliográficas, também)


O rearrumo inesperado de livros, na biblioteca doméstica, para que me deu no final do ano passado e  que se tem vindo a prolongar, fez-me folhear alguns números antigos (1920, 1922 e 1932) da revista Anais das Bibliotecas e Arquivos (BNP), com proveito erudito, mas também aperceber-me, através de alguns catálogos recentes de casas leiloeiras, que compulsei em simultâneo, como o livro usado (tirando as raridades) tem vindo a baixar de preço de forma muito sustentada e inexplicável, ultimamente.


É sabido que só em muito raros períodos da História a economia acompanhou com afecto a literatura e as humanidades. O hoje comprova-o, ampla e barbaramente. Mas já nos anos vinte do século passado, o conceituado secretário da BN, Raúl Proença (1884-1941) se queixava e ameaçava, em encartes por ele assinados, que os almoços iam deixar de ser grátis e que a cultura custa sempre dinheiro.


Em compensação, contemplemos com prazer estético gratuito esta imagem de uma folha de um livro de Horas, dos Iluminados (nº 42) e manuscrito, que se guarda, preciosamente, na nossa Biblioteca Nacional... 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

W. B. Yeats (1865-1939)


The Four Ages of Man


Com o seu próprio corpo travou uma luta
Mas o corpo venceu; passou-lhe adiante.

Lutou depois contra o seu próprio coração;
A inocência partiu e com ela a paz.

Seguiu-se-lhe a luta com o espírito;
Deixando para trás o seu orgulhoso coração.

E agora começaram as guerras com Deus;
Ao bater da meia-noite, Deus vencerá.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Incursões culinárias 30: Aachener Printen - Ingredientes


Aproveitando o meu livro de receitas da Renânia, e completando o "post" de MR, no Prosimetron, apresento a foto com os ingredientes das ditas Aachener Printen, uma espécie de broa de mel, próprias para a época natalícia.

Ao lado encontra-se um molde, à moda antiga, altura em que os Printen eram maiores e tinham desenhos. 

Post de HMJ

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

De Inverno, o nº 8


Com a grande qualidade gráfica a que nos habituou, saiu recentemente o oitavo número da revista Electra. O núcleo duro desta edição aborda  a Memória e o Esquecimento, temas que me são caros e que, previsivelmente, serão tratados com a competência devida, por quem de direito.



terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Incursões Culinárias 29: Renânia - Himmel un Ääd



Himmel un Ääd

Em geminação com um "post" de MR, no Prosimetron, resta acrescentar que estamos a falar de um prato regional da Renânia, com algumas variações de umas terras para outras.

A presente imagem diz respeito ao modo como se faz e come em Colónia: "Himmel" - céu - são as maçãs, que faltam no texto de MR; e "Ääd" - terra em dialecto de Colónia -, que são as batatas. Por cima uma boa camada de cebola, frita juntamente com uma salsicha de sangue, cortada em fatias.

Bom proveito !

Post de HMJ

Interlúdio 72



Talvez excessivamente doméstica, desafinada, artesanal (basta reparar no estado do instrumento musical de Lead Belly...) e näif, para alguns, esta versão de um clássico da folk norte-americana poderá ser substituída, via Youtube, pela interpretação branca e mais sofisticada de Eric Clapton. A contento de outros alguns.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Filatelia CXXXV


Se o uso de sobrecargas em emissões filatélicas se destina, normalmente, a  actualizar ou dar conta de alterações institucionais em países ou nos próprios selos, as sobretaxas são usadas, muitas vezes, para suprir franquias que se esgotaram nos correios, de forma inesperada. Neste capítulo, os territórios de S. Tomé e Príncipe foram talvez a ex-colónia portuguesa onde mais sobretaxas foram usadas sobre emissões filatélicas anteriores.
Comecemos, então, pelo princípio. Por volta de 1890, apareceu por S. Tomé um cidadão inglês, de nome Burt, que resolveu comprar, nos correios da colónia, 2.500 selos da taxa de 5 réis, da emissão de D. Luís, de 1887, reproduzida, integralmente, na imagem inicial do poste. Não se sabe se o fez por gula filatélica, se para efeitos de especulação posterior. Nem sequer o que terá sido feito dessa enorme quantidade de selos.
Perante a emergência, logo Joaquim Augusto da Silva, administrador dos correios santomenses, oficiou ao Governador-geral no sentido de proceder à sobretaxa de alguns selos de 10 réis (mais tarde, de 20 réis e outros) da referida emissão de D. Luís, para substituir a taxa quase em falta. A sugestão foi aceite, superiormente.


Alguém, não satisfeito, e provavelmente com intuitos fraudulentos terá procedido de forma clandestina (?) à alteração das sobrecargas através de erros. Assim resultaram sobretaxas em posição invertida, duplas e outras variantes (como se pode ver na segunda imagem). E que, hoje, estão cotadas por altos preços quer em catálogos nacionais, quer internacionais.

domingo, 19 de janeiro de 2020

Eugénio


Creio que nunca disse tudo sobre Eugénio de Andrade (1923-2005). Talvez me guarde para o centenário, se eu chegar lá, e ainda for a tempo. Para já, são só 97 anos que o poeta faria hoje, a 19 de Janeiro, se ainda fosse vivo. E a última vez que o vi foi na Feira do Livro, no Parque Eduardo VII. Estranhamente lhe notei um grosso anel de prata (?) no dedo anelar da mão esquerda. Ele que não era nada de penduricalhos, sobretudo em poesia. Autografou-me os dois livros de histórias infantis, que ele escrevera para o afilhado Miguel, trocámos breves palavras formais e despedimo-nos, para sempre.


Da sua poesia é que eu nunca me despedi. Como disse Óscar Lopes: " tudo em Eugénio de Andrade acaba por amanhecer de novo, alado, fresco, rumoroso e frágil de orvalho..."

sábado, 18 de janeiro de 2020

Apontamento 129: J.V. de Pina Martins - Centenário do Nascimento



A BNP fez bem, pela mão de João Alves Dias, evocar J.V. de Pina Martins no dia do seu centenário de nascimento.

Associando-me à evocação significa lembrar-me do Professor que, para além de literatura, transmitia esse universo ilimitado do livro, reunido também na sua Biblioteca de Estudos Humanístico e reproduzido acima.

Os ensinamentos recebidos durante um ano como discípula de J.V. de Pina Martins, de que falei aqui no Arpose a 30.4.2010, perduram ainda hoje, tanto nas releituras de obras que mencionava, como na dedicação ao seu objecto de eleição suprema, o livro.

Regresso, com proveito, ao “seu” Giovanni Pico della Mirandola (1463-1496) no Discurso sobre a Dignidade do Homem, e às palavras de J.P. de Pina Martins, no prefácio, relembrando-nos a Filosofia que se dedica à “valorização do homem na sua condição terrestre”.

Recentemente, porventura por estranha influência dos astros, retomei a leitura de um outro de seus autores citados nas longas conversas sobre literatura. Com efeito, de Petrarca (1304-1374) releio, de momento, De sui ipsius et multorum ignorantia. O livro constitui a invectiva contra pretensos amigos, que o acusaram de ignorância, invejosos, sobretudo, do renome e saber de Francesco Petrarca. Assumindo a sua própria ignorância nesta epístola, colocando a designação de “obra” entre aspas, as reflexões não podiam ser mais actuais. Rodeado de um mundo medíocre, ignorante e invejoso, Petrarca deseja apenas a “paz” e lamenta-se da “guerra” que os homens, indevidamente, lhe provocam.



Uma edição fac-similada, prefaciada por J.V. de Pina Martins, sobre o poeta Dante Allighieri, permite recordar também, para finalizar, as iniciativas de «O Mundo do Livro» dedicadas ao Livro Antigo.

Post de HMJ

Desabafo (52)


Há quem saiba reflectir, quem saiba simplesmente pensar. Quem pense mal. Afortunados os que têm sentido crítico sobre o que vêem, pois se poupam a muitos disparates. Depois, há os blogues abaixo de cão, os comentários burros ou disparatados, que se colam a postes bem intencionados - há que ter paciência e caridade e não re-comentar. Dos pobres de espírito há-de ser o reino dos céus, diz a Bíblia.
Metafisicamente, e  por prudência, evitei falar no inefável partido livre (livre?).

Aviso


Um poeta deve deixar traços da sua passagem, não provas. Só os traços fazem sonhar.

René Char (1907-1988), in La Parole en archipel.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Pinacoteca Pessoal 160


Nascido em Kiev, o pintor Vitaly Tikhov (1876-1939) cedo demonstrou uma especial atracção por temas marítimos e por banhistas femininas de fina execução, que por vezes fazem lembrar Renoir. Recentemente (2011) o seu quadro Banhistas, em leilão, alcançou o alto preço final de 17 milhões de rublos.


A partir dos anos 30, no entanto, incorporou na sua obra pictórica temas caros ao realismo soviético de propaganda do regime vigente na U. R. S. S.. Perdendo assim alguma da sua originalidade natural.


quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Adagiário CCCV (gastronómico)


Entrecosto com migas faz as pessoas amigas.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Retro (107)


Das variadíssimas edições das obras de Camilo, eu sempre preferi as impressões maneirinhas que foram produzidas na Travessa da Queimada 35, em finais do século XIX. Pese embora o facto de não contemplarem todos os títulos do escritor, mas apenas uma parte. Nem o papel usado pelo impressor ser de primeira qualidade.


De O Senhor do Paço de Ninães, a saborosa advertência inicial de Camilo traz uma competente e bem humorada informação sobre a palavra mulatos. Mas a edição não se fica por aí. Nas capas interiores se publicitam, de forma sugestiva e bem castiça múltiplas actividades relacionadas com livros e encadernações.


E não só...

sábado, 11 de janeiro de 2020

Citações CDXXIV


As cartas são como os ossos de dinossauros ou os fragmentos de velhas cerâmicas, que nos deixam estreitas pistas sobre as circunstâncias das suas origens.

Michael Bird (1958), in Artists' Letters.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Lembrete 72


É o segundo número da Revista de Museus, editada pela Direcção-Geral do Património Cultural, e saído recentemente. O aparato gráfico é original, o design com alguma qualidade e recomenda-se. Os textos (teóricos) é que são um pouco repetitivos e pobrezinhos...

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Últimas aquisições (20), e primeiras de 2020


Não é que me faltasse leitura, mas alfarrabista que se me atravesse no caminho corre quase sempre o risco de vir a ser devassado. Desta vez foram 4 livros (3 livrinhos e um livrão [mais de 1.300 páginas]) que trouxe para casa, neste começo de ano. Esportulei 14 euros, bem aplicados, na Bizantina, à rua da Misericórdia. Até porque eu andava com vontade de ler uma biografia de Franz Schubert. Esta da Fayard deve ter alguma qualidade...


terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Sociedade e ilusão, segundo Valéry


A sociedade não vive senão de ilusões. Toda a sociedade é uma espécie de sonho colectivo.
Estas ilusões tornam-se ilusões perigosas quando começam a deixar de iludir.
O despertar deste género de sonho é um pesadelo.

Paul Valéry (1871-1945), in Mauvaises Pensées et Autres (pg. 814).

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Um CD por mês (9)


Contradigam-me se eu estiver errado, mas tenho como certo que o piano é o instrumento musical privilegiado, por excelência. Daí talvez algumas etiquetas discográficas terem criado colecções dedicadas aos grandes pianistas do século XX. A Philips não se excluiu desta iniciativa, editando uma série que abarca um grupo seleccionado de mais de 70 intérpretes que inclui, entre outros, Arrau, Brendel, Cortot, Gieseking, Gilels, Gould, Lipatti, Maria João Pires, Richter, Schnabel, Solomon. E Jorge Bolet (1914-1990).

Com Brendel, o pianista cubano Jorge Bolet é o meu preferido para ouvir a obra de Franz Liszt (1811-1886). Se o canadiano Lortie ou o húngaro Jandó me agradam, as execuções do australiano Howard são, no meu ignorante parecer, para esquecer, simplesmente.


A carreira de Jorge Bolet não foi linear nem isenta de percalços e de críticas, pelo seu aparente e excessivo virtuosismo. E apenas em 1974, depois do célebre concerto no Carnegie Hall, a excelência e qualidade do seu profissionalismo foi de facto reconhecida. Merecidamente, aliás.


O seu repertório era amplo, mas privilegiava sobretudo Bach e Chopin. E Liszt, naturalmente.

domingo, 5 de janeiro de 2020

Liszt Reminiscences de Norma Jorge Bolet 1980 French TV



Das múltiplas transcrições elaboradas por Franz Liszt (1811-1886), eu destacaria a mestria do seu trabalho sobre a Norma (1831), de Vincenzo Bellini (1801-1835). Que já aqui consta, no Arpose, numa execução de Alfred Brendel (1931). Esta interpretação de Jorge Bolet (1914-1990), com a sua pátina característica do tempo, foi gravada para a televisão francesa.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

António M. G. de Almeida Mattos (1944-2020)


Altas paredes brancas me contornam

E eu invento longas madrugadas
Doiro colinas calmas  espaçadas
e a dor de te matar cobre-as de neve

Bibliofilia 142


Ornado o frontespício com uma singela e ingénua gravura alusiva ao tema do texto (Hospital do Mundo), este opúsculo é apenas um dos 12 folhetos, correspondente a Dezembro, que José Daniel Rodrigues da Costa (1756-1832) fez editar através da Oficina de Simão Thadeo Ferreira, todos os meses, durante o ano de 1805.


Abstemo-nos de falar do autor leiriense pelas várias vezes que, já aqui, abordámos a sua vida e obra, que foi extensa*, embora não de primeira água. Os seus trabalhos destinavam-se a leitores pouco exigentes, mas eram  um eficaz instrumento divertido de leitura. 
O folheto custou-me, desencadernado de uma miscelânea, e quase na viragem do século: Esc. 3.000$00.

* Para se ter uma ideia da prolixidade de JDRC, posso informar que João Palma Ferreira no seu trabalho "Apontamentos sobre José Daniel Rodrigues da Costa e a Fortuna da Sátira", na bibliofilia (incompleta) activa do autor, contempla 87 entradas, de 1877 a 1830. A minha biblioteca conta com 21 títulos do escritor, dois dos quais não constam dessa lista. O que perfaz 89 obras...

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Adagiário CCCIV


Mão de mestre, não suja ferramenta.